PRÁTICAS DE ENSINO EM SALA DE AULA: IMPACTO DAS ATIVIDADES INTERATIVAS NO APRENDIZADO DE BIOLOGIA

CLASSROOM TEACHING PRACTICES: IMPACT OF INTERACTIVE ACTIVITIES ON BIOLOGY LEARNING

PRÁCTICAS DOCENTES EN EL AULA: IMPACTO DE LAS ACTIVIDADES INTERACTIVAS EN EL APRENDIZAJE DE LA BIOLOGÍA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411031713


Jucelino Gimenez;
Breno de Moura Gimenez


Resumo

Este artigo busca investigar o impacto das atividades interativas proposta em sala de aula no aprendizado de biologia de alunos do ensino médio integrado do IFMT campus Várzea Grande. A metodologia envolveu observação participante direta e indireta, com objetivo de descrever o comportamento, modos de alimentação, reprodução e interações de animais observados no quintal da casa desses estudantes.  Os resultados indicaram um aumento no engajamento e compreensão dos conceitos estudados em sala de aula e que o ambiente do quintal se mostrou um pequeno ecossistema próprio, adaptado às condições e às espécies que ali habitam.

Palavras-chave: Observação. Ecossistema. Educação Ambiental Crítica.

Summary

This article investigates the impact of interactive activities proposed in the classroom on the biology learning of integrated high school students at the IFMT Várzea Grande campus. The methodology involved direct and indirect participant observation, with the aim of describing the behavior, feeding methods, reproduction and interactions of animals observed in the backyard of these students’ homes.  The results indicated an increase in engagement and understanding of the concepts studied in the classroom and that the backyard environment proved to be its own small ecosystem, adapted to the conditions and species that live there.

Keywords: Observation. Ecosystem. Critical Environmental Education.

Resumen

Este artículo investiga el impacto de las actividades interactivas propuestas en el aula en el aprendizaje de la biología de estudiantes de secundaria integrada del IFMT campus Várzea Grande. La metodología involucró la observación participante directa e indirecta, con el objetivo de describir el comportamiento, métodos de alimentación, reproducción e interacciones de los animales observados en el patio trasero de las casas de estos estudiantes.  Los resultados indicaron un aumento en el compromiso y la comprensión de los conceptos estudiados en el aula y que el ambiente del patio trasero demostró ser su propio pequeño ecosistema, adaptado a las condiciones y especies que viven allí.

Palabras clave: Observación. Ecosistema. Educación Ambiental Crítica.

1 INTRODUÇÃO

O estudo do comportamento animal em ambientes domésticos oferece uma oportunidade única de explorar as interações ecológicas e a adaptação de diversas espécies ao espaço urbano. No quintal de uma casa, é comum encontrar uma variedade de espécies de pequenos animais, como aves, insetos, répteis e mamíferos, que coexistem e interagem entre si. Observar esses animais permite compreender suas rotinas diárias, seus hábitos alimentares, e seus possíveis padrões de reprodução. Além disso, analisar as interações entre as espécies pode revelar relações simbióticas, de predação ou competição que ocorrem nesse microambiente.

Esse tipo de estudo pode não apenas enriquecer o conhecimento do estudante sobre a biodiversidade presente em áreas urbanas, mas também ajudar a entender como os animais se adaptam às mudanças nos ecossistemas, especialmente em áreas que sofrem com queimadas e a perda de habitats naturais.

Problema

Apesar de existirem muitos estudos focados na vida selvagem em habitats naturais, ainda há uma lacuna na pesquisa sobre como os animais interagem e se comportam em ambientes urbanos, como quintais e jardins residenciais. Esses espaços, muitas vezes, oferecem refúgio e recursos alimentares para diversas espécies, porém, o impacto dessas interações e adaptações, especialmente no que se refere aos hábitos alimentares e padrões de reprodução, é pouco compreendido. Qual é o comportamento típico desses animais em um ambiente doméstico? Como eles interagem entre si e com o espaço urbano que os cerca? E como essas interações impactam sua sobrevivência e adaptação?

Objetivos

Objetivo Geral:

Observar e descrever o comportamento, os hábitos alimentares, os possíveis padrões de reprodução e as interações entre os animais encontrados no quintal da residência do estudante.

Objetivos Específicos:

1. Identificar as espécies presentes no quintal.

2. Observar e descrever os hábitos alimentares das espécies.

3. Verificar e registrar padrões reprodutivos, como a presença de ninhos e comportamentos de cuidado parental.

4. Analisar as interações entre as espécies, incluindo comportamentos de predação, competição ou cooperação.

5. Relacionar as observações com estudos anteriores sobre ecologia urbana e comportamento animal.

Justificativa

A proposta aos alunos do curso médio integrado em Logística ao observar o comportamento e os hábitos alimentares dos animais encontrados em quintais é relevante, pois oferece uma perspectiva sobre como uma diversidade de espécies se adaptam a ambientes urbanos, que têm se tornado cada vez mais comuns devido aos impactos climáticos antrópicos. Além disso, na proposta de Driver (1994),  a compreensão dessas interações pode fornecer insights importantes para a conservação da biodiversidade em áreas urbanas e para a criação de políticas públicas que incentivem a preservação e conservação de habitats urbanos para essas espécies.

Esse tipo de pesquisa também pode conscientizar seus familiares e moradores da vizinhança   sobre a presença da biodiversidade ao seu redor, promovendo uma coexistência harmoniosa e incentivando práticas sustentáveis que beneficiem tanto os animais quanto os seres humanos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A observação de animais no ambiente doméstico, como jardins, quintais ou parques urbanos, oferece uma oportunidade única para estudar aspectos fundamentais da biologia, ecologia e comportamento animal. Essa prática pode enriquecer a compreensão dos estudantes sobre os ciclos de vida, interações ecológicas e adaptações evolutivas dos seres vivos, além de promover uma maior conexão com a natureza e a valorização da biodiversidade.

Na percepção de McKinney(2006), o ambiente urbano é geralmente percebido como um espaço pobre em biodiversidade, mas pesquisas têm mostrado que muitas espécies de animais conseguem se adaptar e coexistir em áreas urbanizadas. Quintais e jardins podem servir como habitats importantes para pequenos mamíferos, aves, insetos e répteis, que interagem em complexas cadeias alimentares e redes ecológicas.

De acordo com Collinge (1996), a fragmentação de habitats causada pelo desenvolvimento urbano não elimina completamente a fauna local, mas pode promover a “urbanização ecológica”, onde os animais ajustam seu comportamento e hábitos alimentares para sobreviver nesses novos ambientes. Espécies como aves, abelhas e pequenos predadores, como lagartos e aranhas, são exemplos comuns de fauna observável em quintais.

O estudo do comportamento animal (etologia) é uma área central na biologia, focando em como os animais interagem com o ambiente e com outros seres vivos (Tinbergen, 1963). A observação direta de animais em seu habitat natural, mesmo que seja um quintal ou jardim, oferece aos alunos a oportunidade de aplicar conceitos fundamentais da etologia, como comportamento de forrageamento, territorialidade, comunicação e reprodução.

Outro aspecto relevante na observação de Odum(1983), é que animais em um quintal envolve o estudo dos ciclos de vida e das relações tróficas (cadeias e teias alimentares). A partir da observação de espécies em diferentes estágios de desenvolvimento, como larvas de insetos, filhotes de aves ou até mesmo plantas e seus polinizadores, os alunos podem compreender os ciclos reprodutivos e o papel de cada organismo na manutenção do equilíbrio ecológico.

Esses ciclos de vida são integrados nas cadeias alimentares, onde os animais observados em um quintal podem ocupar diferentes níveis tróficos, como herbívoros (lagartas, abelhas), carnívoros (aranhas, lagartos) ou decompositores (fungos, formigas). Essa abordagem ajuda a ilustrar a interdependência entre os organismos e a importância da biodiversidade para o funcionamento dos ecossistemas.

Para Orr (1992), a atividade de observação de animais no quintal pode também ser vista como uma prática educativa que estimula a alfabetização ecológica. Segundo Louv (2005), a crescente desconexão das pessoas com o mundo natural, especialmente entre os jovens, levou ao que ele chama de “déficit de natureza”. Proporcionar a observação de animais no ambiente doméstico pode reverter essa tendência, promovendo uma consciência ambiental e incentivando a curiosidade sobre a biodiversidade local.

A educação ambiental, conforme Sauvé (2005), baseada na vivência e na observação direta, desperta nos alunos o senso de responsabilidade em relação à conservação da natureza. Além disso, ainda conforme o autor, ajuda a reforçar a noção de que, mesmo em ambientes altamente modificados, como quintais urbanos, a natureza está presente e desempenha um papel crucial na manutenção da qualidade de vida humana.

3. METODOLOGIA 

Planejamento e Introdução

A metodologia utilizada neste trabalho envolveu a observação direta, registro e análise de dados, estimulando os estudantes a compreenderem a biodiversidade presente no ambiente local.

Primeiramente, em sala de aula, foi explicado os objetivos da atividade e como será realizada. Discutimos brevemente sobre a importância da biodiversidade e o conceito de ecossistema. Foi apresentado os tipos de animais que podem ser encontrados no quintal (insetos, pássaros, répteis, etc.). Levamos em consideração que nem todos os alunos têm quintais em casa; a atividade pode ser então realizada em espaços verdes públicos ou no campus.

Atividade de Campo: Observação dos Animais

Material utilizados:

-Caderno de campo ou fichas de observação.

-Lupa (se disponível).

-Aplicativos de identificação de animais, como iNaturalist (opcional).

-Celular.

Método: Instruções para os alunos:

– Definir um espaço no quintal ou área verde para observação.

– Observar por pelo menos 20 a 30 minutos, anotando:

1. Espécie (ou descrição, caso não conheçam o nome).

2. Comportamento (por exemplo, alimentação, interação social).

3. Localização no ambiente (árvores, solo, em plantas).

4. Interações ecológicas (predação, polinização, etc.).

-Estimulamos o silêncio para não assustar os animais.

Registro e Relatório

– Duração: 1 aula (50 minutos).

– Após a observação, os alunos devem sistematizar as informações:

– Descrever os animais observados.

– Fazer um pequeno relatório sobre as interações observadas (quem predou quem, animais se alimentando de plantas, etc.).

– Se possível, tentar identificar as espécies com a ajuda de livros, aplicativos ou pesquisa online.

Avaliação

– A avaliação foi feita por meio de relatório de observação e da participação nas discussões em sala.

– Foi levado em conta a capacidade dos alunos de fazerem registros detalhados, de interpretar comportamentos e de associar as observações com conceitos biológicos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Discussão e Reflexão

– Duração: 1 aula (50 minutos).

– Promovemos uma discussão reflexiva em sala sobre as descobertas:

– Quais foram os animais mais comuns?

– Algum comportamento específico chamou a atenção?

– Qual a importância desses animais no ecossistema do quintal?

– Como a presença de diferentes espécies pode refletir sobre a saúde do ambiente?

– No final das discussões, solicitamos que relacionassem as observações feitas com conceitos ecológicos como nicho ecológico, teias alimentares e relações interespecíficas.

Apresentação dos dados

Tabela 1

Nome do animalFrequência de observaçãoHorário das observaçõesComportamentoLocal da observação no quintal
Galinha e galo (Gallus gallus domesticus)Manhã e tardeEntre as 05:00 da manhã e as 16:00 da tardePiquetagem, cantar para marcar territórioEm baixo da sombra do jambeiro.
Aranhas-pernasde-pau (Pholcus phalangeoidi)A tardeEntre as 12:30 h às 17:20 hFicavam imóveis em suas teias irregulares à espera de presasNo teto do gatil
Mariposa melancre ( Melanchroia chephise)A tardeEntre 13:00 h às 16:00 hAtraídas por flores com néctar abundanteEsta observação foi feita na parte externa da casa do vizinho
Formigas-defogo (Solenopsis invicta)A tardeEntre as 13:00 h e às 17:00 hColetar alimentos e defender o formigueiroO jardim é plano, pequeno, não tem água e muito quente
Borboleta (Hermeuptychia hermes )Na parte da tardeEntre as 12:00 h  e às 16:00 hFoi difícil observar porque ela aparecia de vez em quandoEm um canto do jardim sombrado
Jabuti-piranga (Chelonoidis carbonária )Na parte da tardeEntre as 13:00 h e às 16:00 hCaminham o tempo todo no quintalO quintal é parte cimentado e parte de chão e o jabuti as vezes fica em baixo do pé de amora

Este estudo foi motivado pela percepção de que, em ambientes urbanos, as crianças têm menos contato direto com a natureza, o que pode limitar seu conhecimento sobre a biodiversidade ao seu redor. A observação de animais no quintal de casa foi escolhida como estratégia para despertar nos alunos a curiosidade e o respeito pelo meio ambiente, além de promover uma maior compreensão da diversidade de seres vivos em ambientes urbanos e suburbanos.

Para investigar esta questão, foram coletados dados dos alunos sobre as observações de animais em seus quintais, incluindo a espécie, o comportamento, o local e o local de observação. Essas informações permitiram uma análise detalhada sobre a percepção dos estudantes em relação aos animais que integram o ambiente com elas.

Os dados coletados (Tabela 1) mostram que a observação foi pouco  diversificada em seus  quintas. Esse dado é significativo, pois demonstra que não há uma presença frequente de pássaros e répteis, com observação mais para insetos, indicando áreas verdes inadequadas ou falta de adaptação desses animais ao ambiente humano.

A predominância de espécies de insetos e a escassez de aves,  mamíferos ou répteis entre as observações indicam uma percepção limitada da biodiversidade ao redor. Isso sugere que, apesar da presença de algumas espécies, o contato das crianças com uma variedade mais ampla de animais ainda é restrito. Esse resultado nos leva a refletir sobre a importância de aumentar as áreas verdes nas cidades podem e sobre como os espaços domésticos serão melhorados para promover a presença de uma fauna mais diversificada. Além disso, o fato de muitos alunos não observarem animais à noite pode indicar que eles não têm consciência de comportamentos noturnos, o que abre caminho para futuras investigações sobre a percepção temporal da fauna.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A observação de animais no quintal oferece uma rica oportunidade para integrar teoria e prática no ensino de biologia. Além de promover a compreensão dos princípios ecológicos e comportamentais, essa atividade estimula a educação ambiental, o desenvolvimento de habilidades científicas e a valorização da biodiversidade local. Assim, a prática de observação no ambiente doméstico não apenas amplia o conhecimento dos estudantes sobre os seres vivos, mas também os engaja em uma reflexão crítica sobre sua interação com o mundo natural.

Em conclusão, os dados revelam que, embora haja uma consciência sobre a fauna urbana entre os alunos, essa percepção ainda é limitada a poucos tipos de animais e horários de observação. Isso reforça a necessidade de iniciativas educacionais que incentivem o contato mais amplo e diversificado com o meio ambiente, mesmo que sejam pequenos, como quintais e jardins. A criação de atividades que exploram diferentes espécies e seus hábitos, como a observação noturna ou em diferentes épocas do ano, pode ajudar a expandir o conhecimento do estudante sobre a biodiversidade urbana.

REFERÊNCIAS

– COLLINGE, S. K. Consequências ecológicas da fragmentação de habitats: implicações para arquitetura e planejamento de paisagens. Paisagismo e Urbanismo,  p. 59-77, 1996.

– DRIVER, R.; ASOKO, H.; LEACH, J.; MORTIMER, E.; SCOTT, P. Construindo o conhecimento científico em sala de aula.  p. 5-12, 1994.

– LOUV, R. A última criança na natureza: salvando nossas crianças da síndrome de déficit de natureza. Algonquin Books, 2005.

– MCKINNEY, M. L. A urbanização como uma das principais causas da homogeneização biótica. Conservação biológica,  p. 247-260, 2006.

– ODUM, E. P. Ecologia Básica. Publicação da faculdade Saunders, 1983.

– ORR, D. W. Letramento ecológico: educação e a transição para um mundo pós-moderno. SUNY Press, 1992.

– SAUVÉ, L. Correntes na educação ambiental: mapeando um campo pedagógico complexo e em evolução. Canadi Editora,  p. 11-37, 2005.

– TINBERGEN, N. Sobre os objetivos e métodos da etologia. Editora Aquacultura,  p. 410433, 1963.