PRÁTICA DE AUTOMEDICAÇÃO ENTRE ACADÊMICOS DE FISIOTERAPIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SANTA FÉ DO SUL

PRACTICE OF SELF-MEDICATION AMONG PHYSIOTHERAPY STUDENTS AT THE UNIVERSITY CENTER OF SANTA FÉ DO SUL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10698043


Bruna Dirce Dourado Gonçalves1
Gabriele de Lourdes Garcia Villa1
Heitor Eduardo da Silva Taliari2
Gabriel Pereira da Silva2
Robert Willian Pires2
Gabriela Rotella Rota2
Rogério Rodrigo Ramos3
Henry Marlon Coelho Pires3
Jean Donizete Silveira Taliari3*


Resumo

A automedicação é o ato errado de tomar medicamentos sem receita médica ou sem o conhecimento de profissional habilitado, envolvendo graves riscos, trazendo consequências para a saúde de quem a pratica, desde o uso inadequado da dose, o tempo de uso, o tempo de aplicação de medicamentos inadequados. População com essas características, não é surpreendente que no meio acadêmico essa prática seja comum. Ressalta-se que a automedicação em universitários tem sido estudada em diversos países da América, Ásia e Europa. No Brasil, como em vários países em desenvolvimento, ainda existe um déficit de informações adequadas para estruturar meios eficazes de controle da automedicação, bem como orientações sobre o uso correto de medicamentos. Em razão dessa realidade, este trabalho tem como objetivo investigar a automedicação em acadêmicos de fisioterapia do Centro Universitário de Santa Fé do Sul e avaliar o uso dos diferentes tipos de medicamentos, traçando um perfil epidemiológico do uso de medicamentos utilizados por estudantes. Serão estudados 160 alunos do curso de fisioterapia do UNIFUENC. Os critérios de inclusão serão alunos maiores de 18 anos, matriculados e cursando do primeiro ao décimo semestre. Já os critérios de exclusão serão estudantes que não assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, alunos com doença crônica ou aguda que possibilitou o uso de prescrição médica para tratamento e menores de 18 anos. Será utilizado o questionário de automedicação. O questionário será aplicado pelo Google Forms, explicando a importância do trabalho, bem como a orientação quanto ao devido preenchimento e a autorização pelo TCLE. O tempo estimado para aplicação do questionário será de 20 a 30 minutos. Estima-se que alunos do primeiro e do segundo termo fazem uso da prática da automedicação por desconhecimento sobre os riscos da medicação sem orientação médica. Quanto ao uso de medicamentos, espera-se que os anti-inflamatórios e analgésicos mais utilizados sejam encontrados devido ao fácil acesso sem prescrição e à recorrência dos efeitos colaterais.

Palavras-chaves: Fisioterapia, Estudantes de fisioterapia, Automedicação, Riscos à Saúde.

Abstract

Self-medication is the wrong act of taking medication without a doctor’s prescription or without the knowledge of a qualified professional. It involves serious risks, with consequences for the health of those who practice it, from the inappropriate use of the dose, the time of use, the time of application of inappropriate medication. With such a population, it is not surprising that this practice is common in academic circles. Self-medication among university students has been studied in various countries in America, Asia and Europe. In Brazil, as in many developing countries, there is still a lack of adequate information to structure effective means of controlling self-medication, as well as guidance on the correct use of medicines. Given this reality, the aim of this study is to investigate self-medication among physiotherapy students at the Centro Universitário de Santa Fé do Sul and to evaluate the use of different types of medication, drawing up an epidemiological profile of the use of medication by students. 160 students from the physiotherapy course at UNIFUENC will be studied. The inclusion criteria will be students over the age of 18, enrolled and studying from the first to the tenth semester. The exclusion criteria will be students who do not sign the Free and Informed Consent Form, students with a chronic or acute illness that allowed the use of a doctor’s prescription for treatment and those under the age of 18. The self-medication questionnaire will be used. The questionnaire will be administered via Google Forms, explaining the importance of the work, as well as providing guidance on how to fill it in and authorization via the ICF. The estimated time taken to administer the questionnaire will be 20 to 30 minutes. It is estimated that first and second term students use self-medication because they are unaware of the risks of taking medication without medical advice. As for the use of medication, it is expected that the most commonly used anti-inflammatories and analgesics will be found due to easy access without a prescription and the recurrence of side effects.

Keywords: Physiotherapy, Physiotherapy students, Self-medication, Health risks.

1 – INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define automedicação como o uso de medicamentos para tratar doenças autodiagnosticadas, que se caracterizam como um conjunto de ações de autocuidado. Porém, para a Vigilância Sanitária (ANVISA), a automedicação é caracterizada pelo uso de determinado medicamento baseado na própria experiência, sem orientação de profissional habilitado. Essa prática é muito comum em todos os tipos de classes de pessoas e seu uso é muito diversificado, indo desde uma cefaleia até o uso de anti-inflamatórios. Segundo a OMS, o uso racional de medicamentos ocorre quando há acompanhamento médico, e as doses e o tempo de uso são adequados às necessidades do indivíduo. Nesse panorama, o Brasil tem a automedicação como prática comum no cotidiano brasileiro (CORREIA; TRINDADE; ALMEIDA, 2019).

A realidade no Brasil é comum, embora poucos estudos sustentem esta tese. A automedicação continua a ser alimentada por alguns fatores, como a redução da qualidade dos serviços, associada a perturbações sistêmicas de saúde pública, campanhas publicitárias de medicamentos isentos de prescrição, excesso de pontos de venda de medicamentos, são exemplos que contribuem para a automedicação no país (ARRAIS et al., 2016).

Esta prática, embora possa trazer resultados positivos, como o alívio de sintomas, pode revelar-se extremamente perigosa, apresentando risco para a saúde, pois pode resultar na ocultação de doenças evolutivas, resistência a medicamentos, dependência, agravamento de sintomas ou doença inicial, reações de hipersensibilidade, doenças iatrogênicas e em alguns casos, morte (GAMA; SECOLI, 2017; MATOS et al., 2018). Em relação a este último fator, em 2017 o Ministério da Saúde destaca 200 mortes registradas por intoxicação no Brasil. Além disso, foram notificados 76.115 casos de intoxicação medicamentosa (SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TÓXICO-PHARMACOLOGICA, 2017).

Convém salientar que esta prática também é recorrente em pessoas com níveis de escolaridade mais elevados, estando diretamente relacionada ao melhor nível sociocultural e econômico desses indivíduos, conferindo-lhes maior confiança e acessibilidade à prática da automedicação. Outro ponto que merece atenção é que essa conduta também é observada em estudantes universitários da área de ciências da saúde, com prevalência no uso de analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios, contrariando as orientações dos respectivos conselhos de classe e, também sua formação, pois as orientações continuam reduzindo esses índices, contribuindo para a redução desse problema de saúde pública (LIMA et al., 2021). Para confirmar os dados mencionados, os resultados do estudo de Behzadifar et al. (2020) relatam que a prevalência da automedicação em estudantes universitários em todo o mundo é alta, e que os jovens universitários representam a classe mais vulnerável à automedicação, devido ao maior nível educacional adquirido durante o ensino-aprendizagem (BEHZADIFAR et al., 2020).

Pode-se observar também que, embora os estudantes da área da saúde tenham maior conhecimento sobre farmacocinética e farmacodinâmica, isso não influencia na redução da taxa de automedicação, mas sim no aumento da prática do autoconsumo (da SILVA; SOARES; MUCCILLO-BAISCH, 2012), gerando preocupação na gestão do ensino no sentido de controlar esta prática. Em decorrência dessa realidade, destaca-se a importância de uma proposta pedagógica educacional sobre a automedicação, a fim de reduzir essa prática e também formar profissionais cada vez mais qualificados (TOGNOLI et al., 2019).

Portanto, é importante enfatizar e fortalecer os estudos sobre a prática da automedicação, pois pode permitir o reconhecimento da necessidade de educação em saúde e implementação de intervenções educativas durante a graduação. Devido à necessidade de educação sobre o tema, o objetivo desta pesquisa foi investigar o perfil da automedicação entre estudantes do curso de fisioterapia, questionando a finalidade da realização desta prática, buscando assim uma forma de conscientização, na tentativa de redução de problemas relacionados à saúde pública.

2 – METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, com abordagem qualitativa e quantitativa de natureza descritiva, realizada com o auxílio de um questionário contendo 33 questões. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Santa Fé do Sul (UNIFUNEC) sob o parecer 4.895.175 e CAAE: 47401221.0.0000.5428. Foram estudados 160 alunos de fisioterapia do UNIFUNEC, Campus II de Santa Fé do Sul / SP. A pesquisa foi realizada no período de março a dezembro de 2022.

Para coleta dos dados foi utilizado o questionário automedicação, padronizado por Servidoni et al. (2006) e Santos et al. (2010) e adaptado pelos autores responsáveis pelo projeto. Após consentimento e assinatura do TCLE, as coletas de dados foram realizadas nas salas de aulas do 1º ano (34 alunos – segundo semestre), 2º ano (16 alunos – quarto semestre), 3º ano (27 alunos –sexto semestre), 4º ano (29 alunos –oitavo semestre) e 5º ano (32 alunos – décimo semestre) do curso de fisioterapia de acordo com a Resolução CNS 466/2012. O tempo estimado para a aplicação do questionário foi de 20 a 30 minutos.

Os critérios de inclusão foram alunos maiores de 18 anos, matriculados e cursando do primeiro ao nono semestre do referido curso. Os critérios de exclusão foram os alunos que não assinaram o TCLE, portadores de doença crônica ou aguda que viabiliza a utilização de prescrição médica para o tratamento e menores de 18 anos.

Para apresentação dos resultados e tratamento estatístico, como frequência, média e desvio-padrão, foi utilizado o software Microsoft Excel (versão 2016). Os dados foram apresentados em Tabelas abordando os agrupamentos das análises descritivas dos dados.

3 – RESULTADOS

Com base nos resultados obtidos envolvendo 132 estudantes do primeiro ao quinto ano do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Santa Fé do Sul – UNIFUNEC, será apresentada uma distribuição em percentual do quanto cada semestre do curso colaborou na formação do grupo estudado. O 2º semestre representa 24,6% da amostragem total, enquanto o 4º semestre 11,6% dos estudantes, o 6º semestre 19,6%, o 8º semestre 21% e o 10º semestre 23,2% dos alunos de fisioterapia (Tabela 1).

O estudo constatou que 80,3% dos estudantes não possui nenhuma formação anterior, contudo, 15,2% dos alunos relataram formação pregressa na área da saúde e outros 4,5% fora da referida área (Tabela 1).

Avaliou-se a casuística quanto a prevalência de gênero e faixa etária da amostra. Quanto ao gênero, obteve-se o equivalente a 81,8% dos sujeitos do sexo feminino e 18,2% do sexo masculino. Ao analisar a faixa etária do grupo verificou-se a prevalência de indivíduos mais jovens, sendo 44,3% dos estudantes com idade entre 18 a 20 anos, enquanto que 34,4% estavam entre 21 a 23 anos, outros 6,6% entre 24 a 26 anos, 13,1% entre 27 a 30 anos e, finalmente, 1,6% da amostra que encontravam-se acima dos 30 anos de idade, esses dados estão descritos na Tabela 1.

Para finalizar a caracterização da amostra, verificou-se o estado civil e a existência de algum plano de saúde. Com relação ao estado civil e/ou conjugal, 55,3% estavam solteiros, 34,8% encontravam-se namorando, 9,1% eram casados e apenas 0,8% da amostra relatou ser viúvo. Quanto à existência de um plano de saúde, 36,4% declarou possuir enquanto a maioria do grupo, o equivalente a 63,6% declarou não possuir nenhum tipo de plano.

Tabela 1: Características epidemiológicas dos estudantes de fisioterapia (valores absolutos e relativos).

Dentre os dados apresentados na tabela 2 encontram-se: o que fazer caso sinta alguma dor? Já realizou a compra de medicamentos sem receituário médico? Em resposta a primeira pergunta, 21,2% relataram procurar o médico, outros 17,4% relataram aguardar até a melhora da dor, 9,1% relataram utilizar de tratamentos naturais (chás, sucos e vera) e a maior parte do grupo, 52,3% declararam realizar a automedicação. Quanto a compra sem receituário, 24,2% negaram essa prática, 15,9% dos estudantes relataram já ter realizado a compra, inclusive dos medicamentos que exigem o receituário e a maioria dos estudantes, um total de 59,8%, declararam ter adquirido o medicamento quando o mesmo não necessitava de prescrição médica.

Sobre já ter utilizado algum fármaco sem prescrição médica, 12,1% da amostra negou utilizar-se dessa prática, 25.8% declarou fazer uso, porém, o receituário medico não era uma exigência e 62,1%, a maior parte da amostra, declarou ter utilizado dessa prática, mesmo que a prescrição médica fosse obrigatória.

 Ainda na Tabela 2, foi demonstrado quanto a utilização de prescrições médicas antigas, sendo que 42,1% declarou a utilização de receituários próprios, 33,1% utilizaram receituários antigos utilizados por terceiros e 24,8% relatou não se basear em nenhuma prescrição médica.

Outro dado importante encontrado e demonstrado na Tabela 2 é o período de utilização do fármaco sem a devida prescrição. Com relação a esse assunto 46,2% da amostra relataram ter utilizado do fármaco por um período de um a dois dias, 35,6% entre três a quatro dias e 8,2% acima de cinco dias. Observou-se ainda por qual motivo os estudantes realizavam a automedicação? Dentre as respostas, 22,7% relataram a influência de amigos e familiares, 6,1% por não gostar de ir ao médico, 17,4% por não terem tempo para ir ao médico, 9,1% relataram apresentar dificuldade para conseguir um atendimento médico e 44,7, ou seja, a grande maioria, relataram entender que não havia necessidade de recorrer ao médico.

Tabela 2: Resultados com base na automedicação dos estudantes de fisioterapia.

A Tabela 3, foi demonstrado a influência da farmácia na venda de medicamentos e a destinação do fármaco. Ao indagar os sujeitos desse estudo sobre ter recebido algum tipo de conselho, não solicitado, da farmácia sobre aquisição de fármacos, 63,6% dos indivíduos relataram ter recebido algum tipo de aconselhamento, enquanto 36,4% disseram nunca ter recebido tal influencia. Quanto a finalidade do medicamento, 58,3% dos indivíduos relataram que foram para uso próprio, 12,1% relataram uso por familiares ou amigos e 29,5% para ambos.

Ao serem questionados sobre a necessidade de informações adicionais para realizar a automedicação 77,3% responderam sim, enquanto que 22,7% responderam não. Desses, 15,9% realizaram a automedicação por conta própria, 34,8% responderam procurar informações no bulário, 6,8% procuraram ajuda de um enfermeiro, 6,1% de familiares e amigos e 19,7% procuram informações na internet.

A maioria da amostra, 65,9% relataram que quando a orientação é própria a mesma é fundamentada em ter usado outras vezes e resolvido o problema, ter conhecimento sobre o fármaco foi a resposta dada por 22,0% da amostra e para 12,1% dos estudantes foi necessário que o fármaco tivesse resolvido o problema de um familiar ou amigo.

Outro dado apresentado na Tabela 3 foi como os alunos faziam uso do bulário e, nesse contexto, observou-se que para fazer uso do remédio 18,2% costuma-se sempre fazer a leitura breve da bula, 28,8% às vezes, 43,2% raramente e 9,8% relataram nunca fazer a leitura do bulário.

Tabela 3: Variáveis descritivas da prevalência da automedicação entre os estudantes.  

Os estudantes, quando questionados sobre a automedicação ser uma prática que pode trazer riscos à saúde, 84,1% responderam que sim e 15,9% disseram que não. Com relação a automedicação poder causar dependência, 74,2% dos indivíduos responderam que sim, 25,8% responderam que não. Foi solicitado aos estudantes se os mesmos já haviam indicado fármacos para alguém e, segundo os dados obtidos, 56,1% estudantes já indicaram, enquanto 43,9% não indicaram (Tabela 4).

Quanto ao costume de ter os fármacos mais utilizados em seu domicílio, 78,8% dos estudantes responderam que sim, esse número contrasta com 12,1% da amostra que disseram comprar apenas quando tem algum sinal ou sintoma e 9,1% dos estudantes que relataram procurar o médico quando apresentam algum tipo de sinal e sintoma. Entre os fármacos mais utilizados pelos estudantes encontram-se os contraceptivos orais 4,1%, analgésicos 9,1%, antitérmicos 3,0%, anti-inflamatório 6,6%, expectorantes 5,1%, broncodilatadores 0,4%, antibióticos 8,1%, corticoides nasais 1,6%, descongestionantes 1,4%, antialérgicos 4,1%, gotas otológicas 1,2%, fármacos para resfriados 12,7%, antigripais 8,1%, antiácido 2,0%, relaxantes musculares 11,6%, vitaminas 8,3%, laxantes 2,4% e outros fármacos 10,1% (Tabela 4).  

Tabela 4: Fármacos utilizados pelos alunos de fisioterapia da universidade de Santa Fé do Sul, São Paulo, que se automedicaram.

A maior parte dos estudantes de fisioterapia, 68,9% do espaço amostral, relatam que os medicamentos utilizados sempre ajudam no alívio dos sintomas, enquanto que para 9,8% isso nunca ocorre e para 21,2% eventualmente os medicamentos são eficientes no alívio dos sintomas. Os sintomas específicos que levaram a automedicação desses estudantes foram: cefaleia, relatado por 13,7% dos estudantes, dores musculares 8,1%, dor de estômago 3,4%, dor intestinal 5,9%, náuseas 3,6%, alergias 4,7%, gripes/resfriados 12,2%, febre 5,1%, sinusite 6,8%, rinite 7,6%, lesões orofaciais 0,8%, lesões de pele 1,4%, refluxo 2,0%, amigdalites 7,2%, otites 1,7%, afecções odontológicas 2,3% e outros sintomas 13,5% (Tabela 5).

Quando questionados sobre quais sintomas teve após a prática de automedicação: 2,8% responderam palpitação, 14,3% queimação no estômago, 1,9% refluxo, 15,8% hipotensão, 3,7% hipertensão, 1,9% taquicardia, 13,0% cefaleia, 1,6% pele fria, 7,1% transpiração, 0,6% sincope, 4,7% agitação, 19,9% sonolência e 12,4% nunca apresentou nenhum dos sintomas descritos anteriormente (Tabela 5).

Tabela 5: Quadro clínico que levou os estudantes a automedicar-se.

Com relação a afecções odontológicas, a maioria dos estudantes 57,6% não acham comum automedicar-se, enquanto 42,4% responderam que sim. Desses, 26,5% já compraram fármacos sem prescrição para a referida dor e 73,5% responderam não (Tabela 6). Quando questionado sobre quais fármacos eram utilizados no tratamento da referida sintomaatologia, obteve-se o seguinte resultado: 18,5%relataram fazer uso de dipirona, 4,8% de diclofenaco, 21,5% ibuprofeno, 19,2% nimesulida, 23,8% paracetamol e 12,2% relataram fazer uso de outros fármacos. Sobre a eficácia no alívio dos sintomas de dor, 9,8% dos alunos relataram melhora, 21,1% disseram que não resolveu e 68,9% não responderam. Mesmo com a automedicação, 21,1% sentiram a necessidade de procurar o consultório odontológico, 9,8% responderam que não e 68,9% não responderam (Tabela 6).

Tabela 6: Automedicação sobre dor de dente com os estudantes de fisioterapia.

4 – DISCUSSÃO

Atualmente, o Brasil passa por muitas transformações na área da saúde, que exige investimentos financeiros e de infraestrutura para aumentar a oferta de serviços de saúde, principalmente na área da atenção primária, com a Estratégia Saúde da Família, e na área da assistência farmacêutica para garantir o acesso gratuito e uso racional dos medicamentos pelos profissionais e comunidade em geral. Essas transformações ocorrem de forma diferente entre as regiões, mas, mesmo com as desigualdades regionais expostas, o maior acesso aos serviços médicos pode estar promovendo menor automedicação. Esse estudo avaliou 132 estudantes do Curso de Fisioterapia do UNIFUNEC, apresentando uma prevalência de indivíduos do sexo feminino, solteiras, com idade entre 18 e 20 anos, realizando a sua primeira graduação e desprovidas de um plano de saúde privado.

Arraias et al. (2016) e Xavier et al. (2021) relataram em seus estudos que as mulheres tendem a apresentar uma prevalência maior a prática da automedicação, quando comparada aos homens. Tal dado, estaria relacionado a questões laborais, assim como, aos sintomas periódicos inerentes a dismenorreia, elevando-as a procurar por analgésicos para alivio da dor, sem consulta médica prévia.

Após o levantamento de dados, coletados a partir da utilização do questionário, observou-se que a maior parte do grupo estudado respondeu que ao sentir dor, pratica a automedicação, realizando a aquisição dos fármacos independente de prescrição médica, uma vez que a mesma não é uma exigência nas farmácias. Outro dado que merece muita atenção é que a aquisição de fármacos que exigem receituário médico também são adquiridos sem a devida apresentação do mesmo, ou ainda, com a apresentação de receituário antigos. Os indivíduos que relataram tal prática, em sua maioria, realizam a automedicação por períodos de 1 a 2 dias e justificam esses atos por não verem necessidade em recorrer ao médico. Segundo Arraias et al. (2016), isso pode ser explicado pelo fato de os medicamentos mais consumidos serem de baixo custo, de fácil acesso e de prescrição frequente, inclusive aqueles disponíveis tanto pelo Sistema Único de Saúde, de forma gratuita, como subsidiado na Farmácia Popular, como ocorre com a dipirona, o paracetamol e o ibuprofeno.

O elevado uso de analgésicos na prática da automedicação reflete a alta prevalência de dor na população em geral, motivada por tensão, situação estressante ou demanda física, prejudicando a qualidade de vida das pessoas. Frente a esse dado a indústria farmacêutica, associada as farmácias e drogarias, investem fortemente na produção e comercialização dos fármacos que tratam/aliviam os sintomas anteriormente descritos. Nesse sentido, notou-se no presente estudo uma tendência por parte dos profissionais que atendem os balcões de farmácias e drogarias em indicar e/ou induzir a compra de medicamentos, cujo efeito esteja diretamente relacionado ao alívio de quadros álgicos.

Apesar de a grande maioria dos medicamentos consumidos serem isentos de prescrição, não se pode menosprezar as possíveis intoxicações e efeitos adversos que eles podem causar a seus usuários. No caso dos analgésicos e AINES, pode-se citar, entre outros, os distúrbios gastrointestinais, reações alérgicas e efeitos renais (MARTINEZ et al., 2014).

Diante do mercado competitivo e extremamente lucrativo, a indústria farmacêutica tem investido expressivamente em novas marcas de MIPs (medicamentos de venda livre, sem receituário) e em sua divulgação para o público por mídias variadas disponíveis. Lima et al. (2021) descreveu em sua pesquisa que universitários da área de ciências da saúde, tendem a apresentar um autoconsumo excessivo de medicamentos e, dentre eles, a prevalência de analgésicos, antitérmicos, antipiréticos e anti-inflamatórios. Esse dado contrapõe à sua formação, pois, durante os anos de graduação esse público é submetido aos critérios e prerrogativas da prescrição e uso de fármacos, alertando para os riscos à saúde e sanções descritas em leis que regem as respectivas classes profissionais.

Dentre os resultados analisados os sintomas que mais levaram a automedicação são: gripes, dor de cabeça, dores musculares e dores intestinais; medicamentos em maior uso são: anti-histamínicos, relaxantes musculares, analgésicos, vitaminas, suplementos e antibióticos; os efeitos colaterais mais comuns são: sonolência, pressão baixa, queimação estomacal e dor de cabeça.

Durante a coleta de dados foi questionada a automedicação em casos de dores de dente. Os alunos utilizaram os analgésicos ibuprofeno, paracetamol e dipirona. Neste caso, a maioria dos alunos nega a prática de automedicação. Interessantemente, aos que a fizeram, uma parcela significativa relatou não ter resolvido a dor, precisando comparecer a uma clínica odontológica.

Os quadros álgicos inerentes a odontologia tem importância considerável em saúde coletiva, em decorrência de sua capacidade de gerar impactos econômicos diretos, quando referentes aos serviços de saúde, ou indiretos, como falta ao trabalho e despesas necessárias para o tratamento da doença associada (ALVES et al., 2018).

Vale ressaltar a necessidade da realização de estudos futuros, a partir dos dados aqui apresentados, principalmente estudos inferenciais com objetivo de testar as possíveis associações na amostra, as quais permitiriam fazer afirmações mais contundentes. Além disso, seria de grande importância a realização de um estudo de coorte para avaliação do uso de medicações, e se sempre que a automedicação é realizada, ela é uma prática que traz mais riscos do que benefícios.

Assim, diante desta pesquisa, pode-se constatar que é comum a prática de automedicação entre acadêmicos da saúde, por meio deste, em especial, os da fisioterapia. Gerando assim preocupação para a gestão do ensino no sentido de controlar essa prática. Em decorrência dessa realidade, ressalta-se a importância de uma proposta pedagógica educativa sobre a automedicação, a fim de diminuir essa prática e também formar profissionais cada vez mais qualificados (TOGNOLI et al., 2019).

5 – CONCLUSÃO

Pode- se concluir, diante dos resultados obtidos, que em sua maioria os estudantes de fisioterapia do Centro universitário de santa Fé do Sul se automedicam com frequência, e os medicamentos principais usados foram: anti-histamínicos, relaxantes musculares, analgésicos, vitaminas e suplementos e antibióticos.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Referências

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1Graduando em Fisioterapia, Centro Universitário de Santa Fé do Sul (UNIFUNEC), Brasil

2Graduando em Medicina, Centro Universitário de Santa Fé do Sul (UNIFUNEC), Brasil

3Docente do Centro Universitário de Santa Fé do Sul (UNIFUNEC), Santa Fé do Sul, Brasil
*Autor de Correspondência: jdstaliari@funecsantafe.edu.com