POTENCIAL TERAPÊUTICO DAS CÉLULAS-TRONCO – UMA REVISÃO ATUAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10034332


Gabrielly Gonçalves Dias
Giullia Athanasio
Rebeca Paes de Moura
Samyra Ciota
Orientador: Prof. Dr. Itamar Souza de Oliveira Junior 


RESUMO

As células-tronco têm um grande potencial terapêutico para a prevenção e tratamento de diferentes doenças, sendo capazes de se diferenciarem em células com funções muito especializadas e são aptas a recompor tecidos danificados, auxiliando na renovação, na melhoria e até mesmo na cura de diversas patologias. Neste trabalho de conclusão de curso de Biomedicina, os autores discutem todos os achados para que seja possível ocorrer a terapia com o uso de células-tronco, além disso, os mesmos reveem os principais estudos científicos de anos recentes sobre o que são as células- tronco, suas diferentes classificações e atuações como terapêutica, sua viabilidade para que haja tratamentos, os métodos de análise destas células após o transplante, os critérios de rejeição, a aptidão das células e do paciente e por fim, a utilização de células-tronco para o tratamento de patologias com o foco maior em diabetes mellitus, doença cardíaca (infarto agudo do miocárdio) e doença de Parkinson.

Palavras-chave: células-tronco, doença, patologia e tratamento.

ABSTRACT

Stem cells have great therapeutic potential for the prevention and treatment of different diseases, being capable of differentiating into cells with very specialized functions and are able to restore damaged tissues, helping to renew, improve and even cure diseases. various pathologies. In this Biomedicine course conclusion work, the authors discuss all the findings so that therapy can occur with the use of stem cells, in addition, they review the main scientific studies of recent years on what stem cells are. stem, its different classifications and actions as therapy, its viability for treatments, the methods of analyzing these cells after transplantation, the rejection criteria, the suitability of the cells and the patient and finally, the use of stem cells to the treatment of pathologies with a greater focus on diabetes mellitus, heart disease (acute myocardial infarction) and Parkinson’s disease.

Keywords: Mettzer; formatting; academic work.

1. INTRODUÇÃO

As células-tronco são células indiferenciadas ou de baixa diferenciação que possuem capacidade proliferativa de longo prazo ou ilimitada e formam diferentes tipos de tecidos no organismo, possibilitando auxílio no tratamento de diversas patologias. As células-tronco embrionárias (CTE) são células que têm a capacidade de se diferenciar na maioria dos tecidos e são derivadas da massa celular interna dos blastocistos e podem ser cultivadas em cultura sem perder seu potencial. As células-tronco adultas (CTA), localizadas em vários tecidos do corpo, são encontradas principalmente na medula óssea e no cordão umbilical, estas são utilizadas principalmente no tratamento de doenças que afetam o sistema hematopoiético (APPELBAUM, 2007). O objetivo deste trabalho é introduzir células- tronco como terapia para diversas patologias, como diabetes, infarto agudo do miocárdio e doença de Parkinson. Este tratamento ainda está em fase de testes e vem sendo estudado ao longo dos anos, pois as propriedades das células-tronco são cada vez mais inovadoras, mas ainda extensas.

2. CÉLULAS-TRONCO

2.1 O que são células-tronco

As células-tronco são um grupo de células indiferenciadas ou pouco diferenciadas. Definidas por sua capacidade de auto-renovação, ou seja, se proliferam amplamente, tendo uma multiplicação prolongada ou ilimitada, definidas também pela sua característica clonal (geralmente ser derivada de uma única célula), e por fim, pelo seu grande potencial de se diferenciar em diferentes tipos de células, compondo diferentes tecidos do corpo, esta habilidade permite a contribuição no tratamento de diferentes patologias (KOLIOS e MOODLEY, 2012; ZORZANELLI et al, 2015).

A hierarquia das células-tronco existe diferenciando suas origens e seu grau de potencialidade variado. Elas são categorizadas de acordo com seu potencial de diferenciação em dois grandes grupos, células-tronco embrionárias (totipotentes e pluripotentes) e células-tronco adultas que são constituídas após estágios posteriores ao desenvolvimento e encontradas em diferentes regiões do corpo (multipotentes, oligopotentes e unipotentes), suas subdivisões em grupos são:

3. CLASSIFICAÇÕES DAS CÉLULAS-TRONCO

3.1 Células Embrionárias

Células-tronco Totipotentes: são as células encontradas no início do desenvolvimento do zigoto, estas são o ovócito fertilizado e as células de origem das duas primeiras divisões. São as mais indiferenciadas, formando a camada extraembrionária e a camada germinativa embrionária, estruturando o embrião e a placenta (KOLIOS e MODLEY, 2012).

Células-tronco Pluripotentes: São células embrionárias que se originam da massa celular interna do blastocisto quatro a cinco dias após a fertilização. Estas têm a capacidade de formar as três camadas germinativas, dando origem aos tecidos da endoderme, mesoderme e ectoderme (KOLIOS e MODLEY, 2012).

3.2 Células-tronco Adultas

Células-tronco Multipotentes: são as células que se diferenciam e dão origem apenas a uma camada germinativa, responsáveis pela renovação celular, principalmente encontradas na medula óssea e no cordão umbilical, as mais conhecidas são as células-tronco mesenquimais, que formam o tecido adiposo, cartilagem e osso. (KOLIOS e MODLEY, 2012).

Células-tronco Oligopotentes: são as células que residem nos tecidos, tem capacidade de se auto renovar e formam duas ou mais linhagens de células diferenciadas em um tecido específico, como exemplo, as células-tronco hematopoiéticas que dão origem as células mielóides e linfóides (KOLIOS e MODLEY, 2012).

Células-tronco Unipotentes: são células com capacidade também de auto renovação, mas sem a capacidade de diferenciação, pois se diferenciam em apenas uma linhagem específica de célula, do tecido ao qual pertence, como as células- tronco musculares, dão origem somente a células musculares maduras (KOLIOS e MODLEY, 2012).

3.3 Células-tronco pluripotentes induzidas (induced pluripotent stem cells, iPS)

Células-tronco pluripotentes induzidas são formadas após a reprogramação das células somáticas adultas para uma condição semelhante à de uma célula tronco embrionária, com capacidade de pluripotência. Foram feitas pela primeira vez em 2006 no laboratório do cientista japonês Shynia Yamanaka. As iPS passou por um processo de reprogramação no qual foram adicionados vírus contendo alguns genes (oct-4, sox-2, Klf-4 e c-Myc). Esses genes são inseridos no DNA da célula adulta e o código genético é reprogramado com fatores relacionados à pluripotência. Com este

método, as células-tronco voltam ao estágio de uma célula-tronco embrionária e possuem características de autorrenovação e a capacidade de se diferenciarem em qualquer tecido (ZORZANELLI et al, 2015; KOLIOS e MODLEY, 2012).

O cientista Yamanaka e sua equipe relatam após um ano em testes com células de camundongos, a geração de iPS humanas a partir de fibroblastos dérmicos de adultos, com a inserção dos mesmos 4 fatores, revelaram semelhança com as células-tronco embrionárias em relação a capacidade de distinguir três camadas germinativas in vitro de acordo com a morfologia, proliferação, antígenos de superfície, expressão gênica, status epigenético de genes específicos de células pluripotentes e atividade da telomerase. (KOLIOS e MODLEY, 2012).

Esta intervenção concedida pelas células-tronco pluripotentes induzidas, se encaixam no panorama de pesquisa da “medicina regenerativa” ou “medicina personalizada”. A utilização destas células poderá oferecer alternativas inovadoras aos problemas que têm dificultado o sucesso dos tratamentos com células-tronco embrionárias. Tendo como conhecimento a dificuldade para obtenção de células embrionárias, especialmente por questões éticas e legais, e o obstáculo de rejeição do paciente após um transplante, risco no qual com as iPS são reduzidos pela baixa possibilidade de serem confundidas como células invasoras, já que são geradas a partir de uma célula somática do próprio paciente (ZORZANELLI et al, 2015)

Atualmente, uma parte significativa do investimento na investigação de células-tronco tem destino para alternativas na produção de células pluripotentes sem manipulação genômica, pois, embora as células-tronco pluripotentes induzidas possuírem características idênticas às de uma célula-tronco pluripotente, não é de conhecimento se na prática clínica, essas células se diferem significativamente. Além disso, os vetores retrovirais e oncogenes utilizados para reprogramação das células adultas, são fatores que limitam o uso de iPS em estudos clínicos, visto que podem ser cancerígenos (KOLIOS e MODLEY, 2012).

4. ATUAÇÃO DAS CÉLULAS-TRONCO COMO TERAPÊUTICA

A terapia celular consiste na restauração de tecidos ou órgãos que sofreram com a perda de células, causadas por alguma enfermidade. Ou na substituição de células que perderam sua função devido a problemas genéticos, vasculares ou iatrogênicos.

Para que essas células se enquadrem no termo “células estaminais”, precisam conter duas características importantes. Devem possuir a capacidade de auto renovação ilimitada para que possam produzir uma célula exatamente igual à original. Além disso, as células-tronco devem ser capazes de dar origem a uma célula específica para que possa se tornar uma parte saudável. A utilização das CT na restauração ou substituição de tecidos tem obtido um crescimento marcante. Enfermidades do sistema hematológico, nervoso e cardiovascular são os principais alvos dessa terapia.

4.1 Condições necessárias para o transplante/tratamento com células tronco

Pacientes submetidos a intensos tratamentos de quimioterapia ou radioterapia para várias formas de câncer sofrem a destruição de suas células. Nesse contexto, o transplante de células-tronco se revela uma importante estratégia, podendo utilizar células do próprio paciente (autólogas) ou de um doador (alogênicas), que podem ser obtidas a partir do sangue ou da medula óssea. (HERTL, 2020)

Para se obter as células no sangue é realizado um preparo. Alguns dias antes da coleta, o doador recebe administração de medicamentos que irão estimular a medula óssea a liberar mais células tronco na corrente sanguínea, esse processo é chamado de fatores estimuladores de colônia. O sangue é extraído através de um cateter e uma máquina que realiza a extração das CT. São realizadas cerca de seis sessões com duração de 2 a 4 horas para obter a quantidade necessária de células.

No caso do transplante pela medula óssea, o doador recebe anestesia geral ou local e é realizada a extração da medula no osso do quadril, dura aproximadamente 1 hora. Após o transplante são administrados medicamentos para prevenir complicações.

Outra forma de transplante se dá pelas células tronco do cordão umbilical, apesar de não serem encontradas em grande quantidade, elas apresentam vantagens proliferativas maiores e são mais tolerantes. Nos últimos anos, ocorreu a crescente popularidade da coleta e preservação de células-tronco de cordão umbilical. O sangue do cordão umbilical pode ser coletado a qualquer momento e enviado de hospitais e maternidades para centros especializados que processam e congelam o material.

4.2 Análise de viabilidade das células-tronco

A análise dessas células é feita por citometria de fluxo, método que tem como principal objetivo a análise simultânea das características das células individualmente. O uso da citometria de fluxo quantifica células que expressam o antígeno de superfície CD34, encontrado em células-tronco hematopoiéticas com a capacidade de regenerar a medula óssea para todas as linhagens. Isso é alcançado por meio de anticorpos monoclonais anti-CD34 marcados com fluorocromos, que permitem a identificação e análise dessas células de forma precisa. (SANTOS, 2013)

É crucial garantir a viabilidade das células por meio do transporte e armazenamento adequados. Após o processamento da amostra e a marcação com o anticorpo monoclonal anti-CD34, a aquisição da amostra no citômetro de fluxo deve ser imediata para evitar a perda de populações celulares. Além disso, a fixação da amostra com paraformaldeído 1% após a marcação com o anticorpo monoclonal é um procedimento usado para prolongar a estabilidade celular até o processamento no citômetro de fluxo. Isso destaca a importância do manuseio cuidadoso das amostras para garantir sua preservação eficaz.

4.3 Critérios de rejeição para não realização do procedimento/transplante

A probabilidade de encontrar doadores compatíveis para transplantes de células-tronco hematopoéticas (TCTH) varia de 50% a 80%. Essa probabilidade é maior quando o doador e o paciente compartilham a mesma origem étnica ou racial. Encontrar um doador idêntico é mais provável quando o paciente possui dois haplótipos e um genótipo de HLA em comum. (“Células-Tronco Hematopoéticas – Ministério da Saúde, Instituto Nacional José Alencar Gomes da Silva (INCA) 2012”).

Um dos principais desafios associados aos transplantes de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) é a Doença do Enxerto Contra Hospedeiro (DECH), uma condição comum em transplantes alogênicos, originada por problemas no sistema imunológico. A DECH progride rapidamente e afeta órgãos como pele, fígado e intestinos. Ela se manifesta de duas maneiras: de forma aguda (DECHa) nas primeiras semanas após o transplante, sendo mais comum e grave quando os antígenos de histocompatibilidade (HLA) não são idênticos ou em transplantes não relacionados. Anteriormente, a DECHc era definida se os sintomas persistissem após 100 dias, mas agora se reconhece que a DECHa pode ocorrer após três meses, e os sintomas da DECHc podem surgir ao mesmo tempo que os da DECHa, ou seja, ambas as formas podem ocorrer simultaneamente. A DECH representa um desafio considerável nos TCTH, podendo causar danos sérios aos órgãos e requer tratamento adequado.

O tratamento da Doença do Enxerto Contra Hospedeiro Crônica (DECHc) normalmente envolve o uso de corticosteroides sistêmicos, medicamentos anti- inflamatórios potentes, juntamente com outros imunossupressores conforme necessário. Em muitos casos, esses tratamentos são parte de ensaios clínicos para garantir eficácia e segurança. Além dos medicamentos, o cuidado de suporte é fundamental no manejo da DECHc, incluindo a prevenção de infecções, fisioterapia para manter a mobilidade e função dos pacientes, atenção à nutrição, controle da dor e monitoramento rigoroso dos medicamentos para evitar interações e lidar com efeitos adversos relacionados aos medicamentos. Essas abordagens visam melhorar a qualidade de vida e os resultados do tratamento para pacientes com DECHc. (“Doença do enxerto contra o hospedeiro – Sintomas, diagnóstico e tratamento | BMJ Best Practice”)

5. TERAPÊUTICA COM CÉLULAS-TRONCO NA DIABETES MELLITUS

5.1 Diabetes mellitus

O diabetes mellitus é uma doença crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e representa um desafio crescente para a saúde pública. É caracterizada por um alto nível de glicose no sangue devido a alterações na produção ou ação da insulina, onde apesar dos avanços no tratamento, a cura definitiva ainda não foi alcançada (MUZY, 2021).

No Brasil, o diabetes é reconhecido também como um importante problema de saúde pública, com sua prevalência autorreferida de 6,2%, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 (PNS 2013). Entre os seus principais sintomas, destacam-se neuropatia, nefropatia, cegueira, retinopatia, pé diabético e amputações (COSTA, 2017).

5.2 Terapia com células-tronco

A terapia de células-tronco é uma abordagem emergente para o tratamento do diabetes mellitus, onde a pesquisa demonstra que as células-tronco podem desempenhar um papel crucial na regeneração das células beta-pancreáticas e na restauração da homeostase glicêmica, abrindo caminho para uma nova esperança na cura da diabetes, este método visa restaurar a função do pâncreas, produzindo células que podem secretar insulina e outros hormônios (LOJUDICE, 2008).

Estas células-tronco podem ser derivadas de fontes de células adultas, como osso medular, tecido adiposo ou sangue do cordão umbilical, bem como de células embrionárias. O uso de células-tronco para que seja realizado o tratamento da diabetes mellitus tem sido objeto de estudos em animais e em seres humanos.

Estudos em animais sugerem que as células-tronco podem restaurar a produção de insulina e melhorar a homeostase glicêmica, como no caso onde foram utilizados, camundongos, foi verificado que células-tronco embrionárias são capazes de ser estimuladas e com isso se diferenciam em células beta, sendo assim, capazes de produzir insulina, além disso, outras pesquisas mostram que esta tática também pode se ocorrer quando utilizando-se células-tronco embrionárias humanas. Deste modo, estas células seriam uma nova forma para que fosse anulado o transplante de pâncreas/ilhotas alogênicas em pacientes que tenham diabetes, utilizando-as de forma diferente as células produtoras de insulina (LOJUDICE, 2008).

No Brasil, de acordo com o médico endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, o transplante de células-tronco para o tratamento de diabete tipo 1 possibilita um reset imunológico. Onde no estudo, os pacientes tiveram o sistema imunológico desligado quase completamente, foi realizado diversas quimioterapia e reiniciado do zero, após isso foi realizado a infusão pela veia, com células-tronco da medula óssea do próprio doente (que haviam sido coletadas e congeladas antes do início do procedimento), sendo assim ele conseguiu concluir que o sistema imunológico para de agredir as células produtoras de insulina localizadas no pâncreas. (VIDAL, 2018)

5.3 Andamento das pesquisas.

Foi realizado um estudo, para saber a eficácia da terapêutica com células tronco, onde durante oito anos 144 pacientes tinham a diabetes foram observados e destes pacientes 24 aceitaram realizar transplante de células tronco no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (VIDAL, 2018).

Quando comparado, é possível concluir que 84% dos doentes que se submeteram a terapêutica de células-tronco ficaram livres das injeções de insulina em algum momento. Além disso, também foram avaliadas sequelas da diabete em outros órgãos como nos olhos, rins e nervos dos pés, onde o grupo transplantado não apresentou problemas (VIDAL, 2018)

6. TERAPÊUTICA COM CÉLULAS-TRONCO NO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM).

6.1 Infarto Agudo do Miocárdio (IAM).

As doenças relacionadas ao coração são uma das principais causas de morte no Brasil e em outros lugares do mundo. O coração humano é, aproximadamente, do tamanho de um punho, mas mesmo assim é um músculo muito forte. Quando ocorre o batimento cardíaco, o coração realiza a distribuição de sangue e transporta oxigênio e nutrientes para todas as partes do corpo. Os cardiomiócitos são estruturas pequenas e altamente especializadas. Nos primeiros anos de sua existência, eles param de se reproduzir, de modo que o desenvolvimento do coração ocorre como resultado de um aumento no tamanho destas células (hipertrofia), e não de um aumento no número de células (LOPES et al., 2015).

O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é uma condição de suspensão da circulação local de sangue no miocárdio, que consequentemente representa a morte de cardiomiócitos devido a um desequilíbrio na oferta e demanda de nutrientes teciduais, resultando em oclusão do fluxo coronariano, que pode ser transitória ou permanente. O tamanho da área infartada e a localização que pode ocorrer um infarto são dependentes de diferentes fatores. O motivo mais comum desta patogênese está associado à constrição da artéria coronária por ateroma, embolia ou trombo, aterosclerose e coágulos sanguíneos, causando a isquemia cardíaca (LOPES et al., 2015).

6.2 Terapia com células-tronco

A oportunidade de rejuvenescer os tecidos através de tratamento com a medicina regenerativa gerou grande entusiasmo tanto na comunidade científica como no público, em específico onde ocorre a situação de perda irreversível de tecido, associado com dano miocárdico (POVSIC et al., 2016). O transplante de células-tronco está sendo cada vez mais usado para tratar doenças cardíacas, grande parte da pesquisa em humanos é realizada com células-tronco adultas e autólogas, em vez de células embrionárias. Alguns pacientes apresentam tipos de insuficiência cardíaca que impossibilitam a realização de um transplante cardíaco, portanto essas condições também limitam as opções de tratamento. A terapia celular tem sido uma das escolhas mais significativas nos casos em que não existem outras opções, especialmente porque permite a utilização de células purificadas de origem autóloga da medula óssea ou impulsionada do sangue periférico, permitindo a diferenciação em miócitos cardíacos, além disso, as células-tronco podem promover a angiogênese, fornecendo nutrientes às áreas isquêmicas, assim, se possível, permitindo a recuperação total do tecido. (ICHIM et al., 2010).

6.3 Classificação de células-tronco utilizadas e possível mecanismo de ação.

Dos estudos pioneiros já realizados, os métodos de entrega de células-tronco para o coração incluem a injeção das células através da artéria coronária (via intracoronária), introdução das células pela camada externa do coração, no epicárdio (via epicárdica) e também diretamente na veia do paciente (via intravenosa). As células-tronco usadas até o momento são células mononucleares da medula óssea, células-tronco do sangue periférico, células tronco mesenquimais autólogas e células-tronco mesenquimais alogênicas da medula óssea e da placenta. (ICHIM el al., 2010).

Os possíveis mecanismos terapêuticos no tratamento com células-tronco após infarto agudo do miocárdio abrangem o que pode se considerar uma maior diferenciação de células transplantadas em células cardíacas, também uma possível fusão de células progenitoras injetadas com cardiomiócitos hospedeiros, além da secreção de fatores de crescimento e citocinas pelas células-tronco enxertadas, os efeitos da neovascularização e antiapoptóticos, ajudando a não comprometer os cardiomiócitos, e por fim, o potencial fator de crescimento endotelial vascular, entre outros possíveis mecanismos (LIN et al., 2014).

6.4 Andamento das pesquisas.

O Instituto do Coração (Incor) e a Universidade de São Paulo (USP) realizaram um estudo onde foi feita a injeção de células-tronco em nove pacientes com insuficiência cardíaca. Eles usaram diferentes métodos de injeção para introdução das células, utilizaram também células-tronco isoladas do corpo do paciente ou um hormônio que tem a capacidade de promover a liberação de células- tronco da medula óssea na corrente sanguínea. Entre os nove pacientes, três retiraram-se do estudo, pois realizaram transplante cardíaco, um paciente do faleceu, com relação ao estado de saúde grave que se encontrava antes participação do estudo e sem nenhuma relação com a terapia de células-tronco, e os cinco pacientes restantes expressaram uma melhora clínica relevante. Um dos cardiologistas coordenadores da pesquisa aponta que mesmo com número restrito de pacientes os resultados mostram um cenário de melhora significativa nessa doença altamente grave (ZORZETTO, 2003).

Em um estudo realizado com utilização de modelo animal (in vivo) as células- tronco mesenquimais foram administradas em ratos após indução ao infarto do miocárdio. Foi possível verificar uma melhoria significativa na migração celular para a área infartada, bem como uma redução na erosão da parede cardíaca e na fibrose em comparação com os animais tratados com placebo (ICHIM et al., 2010).

Em um estudo de fase l realizado na China foi realizado um transplante combinado de via intracoronária e intravenosa de células-tronco mesenquimais derivadas do cordão umbilical, com intenção de reparar o tecido cardíaco em pacientes com função ventricular esquerda prejudicada. Os resultados mostraram um potencial benéfico de melhoria na função sistólica cardíaca e nos sintomas de insuficiência cardíaca, durante até 12 meses após o tratamento, além de demonstrar ser uma técnica segura e viável. Entretanto, os pesquisadores reforçam que como foi o primeiro ensaio de transplante de células-tronco por via dupla, será necessário à realização de novos estudos, maiores e de fase ll, com controle de pacientes placebo, assim podendo comprovar a eficácia dessa nova abordagem (HSIAO et al., 2022).

Com base nas pesquisas já realizadas, a terapia celular com células-tronco é uma fonte adequada para utilização no tratamento regenerativo de pacientes com infarto, pois a terapêutica mostra a capacidade de reduzir os efeitos isquêmicos do IAM e melhorar a atividade dos ventrículos para o sangue. Com os avanços da ciência, em especial no campo regenerativo baseado em células-tronco, a questão da transição entre o transplante cardíaco para a terapia celular, fica ainda mais próxima se considerarmos o percentual de pacientes que se beneficiaram com esse tratamento, o objetivo agora será responder as dúvidas decorrentes de qual tipo de célula é melhor, em qual local será mais eficaz, qual a concentração ideal entre outras, para que todos os pacientes cardiopatas possam ser aceitos na terapêutica com células-tronco após IAM.

7. TERAPÊUTICA COM CÉLULAS-TRONCO NA DOENÇA DE PARKINSON.

7.1 Doença de Parkinson.

A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurológica degenerativa progressiva do sistema nervoso central que afeta principalmente o sistema motor. Atualmente afeta cerca de uma pessoa na população com mais de 60 anos (MÜNCHAU e BHATIA, 2000). Entretanto, a doença afeta muitos adultos mais jovens e, em casos genéticos raros, pode se desenvolver antes mesmo dos primeiros anos de vida (LANG e LOZANO, 1998). A principal característica observada nos pacientes é uma perda grave de neurônios cerebrais dopaminérgicos, principalmente na substância nigra, componente do sistema motor extrapiramidal diretamente envolvido na coordenação dos movimentos. Vários e muitos mecanismos têm sido propostos para a morte de neurônios dopaminérgicos, mas a DP muitas vezes ocorre sem causa óbvia e pode resultar de danos cerebrais prévios como isquemia cerebral, encefalite viral, trauma mecânico, além de exposição a toxinas (RANG et al., 200 ). Apesar do otimismo anterior e da extensa pesquisa, ainda não foi encontrada uma cura definitiva para a doença. Muitas drogas usadas clinicamente atuam como miméticos da dopamina, precursores da dopamina (levodopa) e/ou agonistas dos receptores dopaminérgicos, como o pramipexol ou a bromocriptina (MÜNCHAU e BHATIA, 2000; DRUKARCH e van MUISWINKEL, 2000). Infelizmente, o tratamento com estes medicamentos não afeta a progressão da doença, razão pela qual cada vez mais cientistas em todo o mundo procuram novos tratamentos que possam abrandar, ou melhor, impedir a degeneração dos neurónios dopaminérgicos. Também foram desenvolvidas pesquisas para restaurar nervos perdidos por meio da adição de células-tronco, que recentemente se tornaram populares em nosso país.

7.2 Terapia com células-tronco.

Como a DP é caracterizada por uma relativa seleção seletiva de neurônios dopaminérgicos em uma região do cérebro definidos (MINGUEZ-CASTELLANOS e ESCAMILLA-SEVILLA, 2005) é considerado um forte candidato à terapia móvel. Além disso, os tratamentos farmacológicos e cirúrgicos que proporcionam alívio sintomático ainda são limitados e não impede a progressão da doença. Os primeiros testes com células produtoras de dopamina foram substituídas. Na década de 1970, o transplante de células negras mesencefálicas em modelos animais (BJORKLUND e STENEVI, 1979) e células cromafins da medula adrenal (FREED et al., 1981). Nos seres humanos, a investigação está a progredir rapidamente, mas está em fase de desenvolvimento. Um estudo realizado em 2001 pacientes com DP avançada submetidos a transplante de órgãos neurônios dopaminérgicos embrionários humanos (FREED et al., 2001), encontraram melhora em pacientes com menos de 60 anos. Infelizmente, em pacientes mais velhos, nenhuma melhora foi observada, como em outros estudos posteriores (ARJONA et al., 2003; OLANOW et al., 2003). Cerca de 10-15% dos pacientes. Foi demonstrado que o transplante de órgãos reproduz problemas induzidos pela levodopa, como discinesias (FREED et al., 2003) e perda de desempenho após algumas sessões.

Os pesquisadores geraram células iPS a partir de células da pele e do sangue de pacientes saudáveis e daqueles com doença de Parkinson. Eles então mantiveram essas células vivas em laboratório e as induziram a se transformar em células progenitoras dopaminérgicas, ou seja, células nervosas com capacidade de produzir dopamina. O próximo passo foi transplantar essas células em um modelo de macaco com doença de Parkinson. Com isso, após o transplante dessas células- tronco, os movimentos espontâneos dos animais melhoraram e nenhum tumor foi encontrado dois anos após a cirurgia (RIBEIRO, 2017).

No entanto, os efeitos positivos demonstrados em estudos pré-clínicos em potencialmente substituir neurônios dopaminérgicos, poupar circuitos neurais e aliviar sintomas, levantam questões que precisam ser investigadas antes que a terapia celular possa ser estabelecida como uma alternativa de tratamento para pessoas com esta doença (PEREIRA et. al., 2007 apud PEREIRA, Liana Costa 2012). Para solicitar a terapia com células-tronco induzidas, o paciente deve ter recebido todos os tipos de tratamentos convencionais, pois os efeitos colaterais do tratamento são desconhecidos e o paciente arca com os riscos que podem advir do tratamento (RIBEIRO, 2017).

8. CONCLUSÃO

A terapêutica com células-tronco é um campo emocionante e promissor da área biomédica que oferece inúmeras possibilidades para o tratamento de uma ampla variedade de condições médicas. Sua aplicação responsável pode levar a avanços significativos na cura de doenças e lesões, À medida que as pesquisas continuam avançando, é evidente que as células-tronco têm o potencial de revolucionar a medicina regenerativa e melhorar a qualidade de vida de inúmeras pessoas em todo o mundo.

As células-tronco são fundamentais para o desenvolvimento e manutenção de todos os organismos vivos. Sua capacidade única de se auto-renovar e se diferenciar em uma variedade de tipos celulares as tornam valiosas em uma série de aplicações. Primeiramente, na pesquisa básica, as células-tronco desempenham um papel fundamental no entendimento dos processos de desenvolvimento, regeneração e envelhecimento, oferecendo insights profundos sobre a biologia celular e a genética.

Além disso, as células-tronco têm um potencial transformador. Elas oferecem a possibilidade de regenerar tecidos danificados ou substituir células perdidas devido a doenças ou lesões, abrindo portas para tratamentos inovadores de condições como doenças cardíacas, diabetes, Parkinson e muitas outras. Sendo assim, o uso de células-tronco em terapias de substituição celular tem o potencial de reduzir a dependência de órgãos doadores e, portanto, solucionar problemas críticos de escassez de órgãos para transplante.

No entanto, a importância das células-tronco vai além do tratamento direto de doenças. Elas também são fundamentais na pesquisa de novos medicamentos e testes de toxicidade, permitindo a avaliação de substâncias químicas e drogas de forma ética e mais precisa, porém, a terapia com células-tronco tem potencial não apenas para curar doenças, mas também para melhorar a qualidade de vida de muitos pacientes, reduzir custos de saúde em longo prazo e promover avanços substanciais na medicina regenerativa.

Em resumo, as células-tronco desempenham um papel crucial e multifacetado na pesquisa biomédica e na medicina, oferecendo a promessa de tratamentos revolucionários e uma melhor compreensão dos processos biológicos. Seu potencial impacto na saúde humana e no progresso científico é inegável, e sua importância continuará a crescer à medida que avançamos no conhecimento e nas aplicações dessas células incríveis.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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