WHY IS THERE LOW IUD ADHERENCE AMONG YOUNG WOMEN?
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202412130804
Malta, D. S. 1; Santos, F.C.F.F. 1; Maximiano, I.C 1; Costa, L. F. 1; Messora, M. C. 1; Ferneda, M. E. B. G. R 1
1- Resumo
O presente artigo tem como objetivo a discussão sobre a baixa adesão ao método contraceptivo DIU, uma vez provado o alto Índice de PEARL. Foi realizado uma pesquisa com mulheres jovens de 18 a 25 anos, para assim entendermos os fatores que levam a escolha de outro método contraceptivo.
Palavras-chave: DIU. Método contraceptivo.
Abstract
This article aims to discuss the low adherence to the IUD contraceptive method, once the high PEARL Index has been proven. A survey was carried out with young women aged 18 to 25, to understand the factors that lead to the choice of another contraceptive method.
Keywords: IUD. Contraceptive method.
2- Introdução
O índice de gravidez indesejada vem crescendo ao passar dos anos desde aadolescência até a fase adulta e por isso ainda se faz importante a discussão sobre os métodos contraceptivos mais eficazes (3). No Brasil, no ano de 2018 nasceram 432.460 bebês de mães adolescentes, representando 14,94% de todos os nascimentos no país neste ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A negligência em relação a prática da contracepção e a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis tem exposto as mulheres ao HIV/AIDS, entre outras doenças, como também à gravidez não planejada (3).
No Brasil a realidade da anticoncepção envolve desde aspectos sociais (desigualdade de direitos, de oportunidades e de recursos financeiros) até aspectos políticos (programas de atenção a saúde da mulher)(5). No país a alta taxa de gravidez não desejada é desproporcional em relação a taxa de mulheres que usam métodos contraceptivos . Os principais aspectos que contribuem para esta divergência são: a inadequação da oferta dos métodos contraceptivos nos serviços de atenção básica à saúde (principalmente os reversíveis de longa duração, como o dispositivo intrauterino (DIU) e o implante) e a falta de ações educativas e de aconselhamento por parte do médico (1). O conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais direcionaria a mulher para a escolha mais confortável e adequada ao seu comportamento sexual. As mulheres tendo esse conhecimento evitariam a alta taxa de gravidez não planejada, o aborto, a mortalidade materna, como também, outros agravos a saúde reprodutiva (6).
Dentre todos os métodos contraceptivos existentes, o DIU tem uma elevada taxa real de eficácia, sendo um método reversível de longa duração (LARC), e pode ser mantido no útero por cinco anos e ser removido quando desejado (2). Os tipos disponíveis no Brasil são: Cobre, cobre com prata e DIU medicado com levonorgestrel (Mirena ou Kyleena). Apesar de todas suas vantagens, há uma baixa taxa de adesão a este método. Alguns tipos de dispositivos são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e possuem uma alta taxa de satisfação entre as usuárias, por ter uma maior durabilidade, eficácia e poucos efeitos colaterais (1).
Pelo fato de ser um dispositivo com uma boa resposta ao que as mulheres desejam, basta entender o porquê não há uma maior aceitação, adesão e alcance do mesmo, para uma melhor qualidade de vida, evitando muitas vezes transtornos no cotidiano da mulher. Com isso, criando novas políticas de saúde, dando oportunidades e igualdade de direito as mesmas. Sabe-se que há muitos tabus e medos em relação ao uso dos DIUs, o que leva inúmeras mulheres a não optarem por tal método.
3- Objetivo
O objetivo do trabalho é avaliar como as mulheres jovens, nuligestas, universitárias, de 18 a 25 anos entendem os métodos contraceptivos reversíveis de longa duração e principalmente sua aceitação, a orientação que receberam e o conhecimento construído, com destaque para o DIU (dispositivo intra uterino), levando em consideração as vantagens e desvantagens de cada método e a preferência de cada paciente.
4- Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo misto envolvendo um questionário realizado de forma online com mulheres jovens, nuligestas, universitárias, de 18 a 25 anos. Os dados obtidos como resposta ao questionário serão comparados com as informações da literatura. O mesmo possui como questão norteadora: Uma vez que o DIU possui alta eficácia, maior durabilidade e poucos efeitos colaterais, porque há uma baixa aceitação e adesão deste método entre as mulheres jovens?
Segue anexo do formulário que será objeto de pesquisa: https://forms.gle/ToJeX7RYSZoY71H56
5- Fundamentação teórica
O DIU é um dispositivo intrauterino pequeno, composto de material plástico associado a cobre ou prata e que possui o formato em “T” ou “Y”, ele é inserido pelo médico no interior da cavidade uterina que atua como um método anticoncepcional de longa duração e é reversível. Possui um dos menores índices de falha segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), sendo a sua eficácia de 99% (DIU, 2016a; Organização, 2007).
Tabela 1: Vantagem e desvantagens do DIU
Fonte: Métodos Contraceptivos Volume 2: Eficácia, Vantagens e Desvantagens – Capítulo 17; LOPES, Mariana Moraes; HASSUNUMA, Renato Massaharu; GARCIA, Patricia Carvalho; MESSIAS, Sandra Heloisa Nunes
Seu funcionamento é baseado no bloqueio do espermatozoide para que o mesmo não se fecunde no óvulo, mediante a liberação de particulas de cobre , prata ou hormonio dependendo do tipo de DIU escolhido sendo eles:
DIU de cobre:
Conhecido também como DIU não-hormonal, corresponde a uma haste maleável de polietileno revestida de cobre, ele age liberando pequenas quantidades de cobre no útero alterando as caracteristicas do endométrio (promovendo alterações morfológicas), muco cervical (deixando-o mais espesso) e motilidade das trompas. Logo, ocorre uma reação inflamatória, que não leva a prejuizo no organismo, diminuindo a motilidade do espermatozoide induzindo a sua morte e assim, previnindo a gravidez. Tem como desvantagem o aumento do fluxo menstrual e como vantagem ele pode permanecer no corpo da mulher por 10 anos e o mesmo é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
DIU de cobre com prata:
Esse dispositivo é composto pela mesma estrutura plástica do DIU de cobre, mas possui suas hastes revestidas de prata e a base revestida por uma mistura de cobre e prata. Como o mesmo possui uma quantidade muito menor de cobre, isso faz com que diminua o processo inflamatório na região uterina reduzindo o fluxo menstrual e cólicas (7).
DIU medicado com levonorgestrel (Mirena ou Kyleena):
Trata-se de um dispositivo intrauterino em formato de “T” composto por levonorgestrel, um tipo de progesterona, que é liberado dentro do útero e atua impedindo o espessamento do endometrio, tornando o muco cervical mais espesso o que dificulta a movimentação do espermatozoide e, consequentemente a fertilização do óvulo.
O DIU mirena e Kyleena agem da mesma maneira, porém o Kyleena contém uma menor dosagem de levonorgestrel e é menor.
A principal vantagem desse dispositivo é que ele diminui o fluxo menstrual e cólicas. Como desvantagem, ele não pode ser usado em mulheres com contraindicação para o uso de hormônio.
6- Resultados
Foram coletadas informações de 101 mulheres que possuem idade entre 18 e 25 anos, residentes na região sul e sudeste, universitárias (68,3% estudam a área da saúde, 21,8% área humanas e 9,9% área exatas), sendo que dessas mulheres 95% iniciaram a vida sexual.
Nenhuma das entrevistadas já engravidou e 90,1% usam algum método contraceptivo atualmente que será descrito na tabela abaixo.
Tabela 2: métodos contraceptivos utilizados pelas entrevistadas
Método Contraceptivo | % |
Anticoncepcional Oral | 37,4 |
Preservativo | 36,3 |
Coito interrompido ou tabelinha | 22,0 |
DIU levonorgestrel | 19,8 |
DIU de Cobre | 12,1 |
Implante contraceptivo | 6,6 |
Contraceptivo hormonal injetável | 2,2 |
Foi interessante notar, também, que 42,6% responderam que estão insatisfeitas ou sentem-se inseguras com o método utilizado e desejam conhecer outras alternativas.
Nenhuma paciente usuária de DIU (medicado ou não) relatou insatisfação ou insegurança com o método.
O score mais utilizado para avaliar a eficácia de um método contraceptivo e sua capacidade de proteção contra uma gravidez não desejada é o índice de Pearl, que avalia o número de gravidez para cada 100 mulheres, no primeiro ano de uso, como descrito abaixo na tabela 3.
Tabela 3: índice de Pearl
Método Anticoncepcional | Uso consciente e correto | Uso típico (rotineiro) |
Anticoncepcional Oral | 0,3 | 0,8 |
Preservativo | 2 | 15 |
Coito interrompido | 4 | 27 |
DIU levonorgestrel | 0,2 | 0,2 |
DIU de cobre | 0,6 | 0,8 |
Implante contraceptivo | 0,05 | 0,05 |
Contraceptivo hormonal injetável | 0,05 | 3 |
Tabelinha | 5 | 20 |
Sabe-se que na prática, o uso incorreto da pílula oral é uma situação frequente e apontada pela maioria das entrevistas como uma preocupação que envolve o medo de falha do método, o que muitas vezes gera uma preocupação que leva a pensar na possibildade de troca de método.
Mas por que não optamos por um método de longa duração e com baixo índice de PEARL como é o caso do DIU?
Consideramos 2 varíaveis importante a serem exploradas: a primeira foi de que forma as pacientes tomaram conhecimento a respeito do DIU como opção contraceptiva e a segunda quais os medos e receios construídos a respeito do método.
Atraves do questionário, foi possível perceber que a príncipal forma de conhecimento sobre o DIU advém de informações obtidas por amigos e família, seguido de mídias sociais e instituições educacionais (escola e faculdade) (Gráfico 1) .Os profissionais de saúde, apesar de aparecerem, não são os principais fornecedores de conhecimentos sobre o DIU.
As hipóteses que elaboramos para justificar esta observação podem estar relacionadas ao receio por parte do profissional de saúde dos efeitos adversos do método.
Esta hipótese foi construída observando algumas respostas obtidas em nosso estudo.
Notamos que apenas 20% das pacientes entrevistadas que são usuárias de DIU utilizam preservativo durante as relações sexuais, um hábito perigoso pois o dispositivo é um facilitador para ascenção de bacterías como a Clamídea, envolvidas na doença inflamatória pélvica .
Este dado contribuiu para justificar o receio do profissional de saúde em ofertar o método.
Gráfico 1: Como você ouviu falar sobre os métodos contraceptivos de longa duração, principalmente o DIU?
Fonte: Formulário do Projeto de Pesquisa, encontrado no link https://forms.gle/ToJeX7RYSZoY71H56
Além disso, notam-se outros medos e receios referidos pelas pacientes em relação ao DIU.
De acordo com as respostas das participantes do projeto de pesquisa, foi observado que o maior medo em relação ao DIU é a falha contraceptiva, seguido das complicações pós inserção e o medo da dor durante o procedimento.
Gráfico 2: Medos e Tabus em Relação ao DIU
Fonte: Formulário do Projeto de Pesquisa, encontrado no link https://forms.gle/ToJeX7RYSZoY71H56
O receio da falha contraceptiva , o medo da dor durante a inserção e risco de complicações não infecciosas aparecem em primeiro lugar, o que não justifica a recusa do método.
A disparidade encontrada entre a idéia de risco das entrevistadas e as reais complicações que envolvem o uso de DIU expõe claramente a falha de comunicação que existe entre o profissional de saúde e as usuárias.
7- Conclusão
Conclui-se que apesar do alto índice de Pearl relacionado ao uso de DIU como método contraceptivo e alta taxa de satisfação encontrada entre as usuárias, não são suficientes para que muitas mulheres, mesmo insatisfeitas com seus métodos optem pelo uso do DIU quando a intenção é uma contracepção de longa duração.
As dúvidas e os medos apontados como principais motivos para a não aceitação do DIU não estão verdadeiramente relacionados a sua principal complicação que é o risco infeccioso decorrente da falta do uso de condom durante as relações sexuais.
Esta observação, pode justificar o medo do profissional de saúde em ofertar o método.
Portanto apontamos que a falha de comunicação entre pacientes e profissionais de saúde é um ponto importate a ser trabalhado com o objetivo de ofertar um método contraceptivo mais eficaz agregado a um comportamento sexual seguro.
8- Referências bibliográficas
1. BORGES, Ana Luiza Vilela; DOS SANTOS, Osmara Alves; ARAÚJO, Karina Simão; GONÇALVES, Renata Ferreira Sena; ROSA, Patricia Lima Ferreira Santa; DE NASCIMENTO, Natália Castro; Escola de Enfermagem. Universidade São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. Rev. Bras. Saude Mater.Infant. vol.17 no.4 Recife out./dez. 2017. Diponivel em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292017000400749>
2. LOPES, Mariana Moraes; HASSUNUMA, Renato Massaharu; GARCIA, Patricia Carvalho; MESSIAS, Sandra Heloisa Nunes; Bauru, SP, Métodos Contraceptivos Volume 2: Eficácia, Vantagens e Desvantagens. Disponível em: <https://canal6.com.br/livros_loja/Ebook_Metodos_contraceptivos_Volume_2.pdf>
3. VIEIRA, Leila Maria; SAES, Sandra de Oliveira; DÓRIA, Adriana Aparecida Bini; GOLDBERG, Tamara Beres Lederer; Jardim Brasil. Bauru, SP, Brasil, Reflexões sobre a anticoncepção na adolescência no Brasil. Rev. Bras. Saude Matern. Infant. Vol.6 no.1 Recife Jan./Mar.2006. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292006000100016>
4. CARVALHO, Marta Lucia de Oliveira; SCHOR, Néia; Londrina, PR, Brasil, Motivos de rejeição aos métodos contraceptivos reversíveis em mulheres esterilizadas. Rev. Saúde Pública vol.39 no.5 São Paulo Oct. 2005. Disponivel em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102005000500014>
5. PRADO, Daniela Siqueira; SANTOS, Danielle Loyola; Rev. Bras. Ginecol. Obstet. Contracepção em usuárias dos setores público e privado de saúde. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Disponivel em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032011000700005>
6. PENNA, Ivan Andrade de Araujo; BRITO, Milena Bastos; Niterói, RJ, Brasil, A importância da contracepção de longo prazo reversível. Departamento Materno Infantil da Universidade Federal Fluminense (UFF). Disponível em: < http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2015/v43nsuppl1/a4848.pdf>
7. CLAF, 12 de fevereiro de 2021, Métodos Contraceptivos, 0; DIU de prata e cobre: entenda as diferenças. Disponível em: <https://clinicadafamiliadf.com.br/diu-de-cobre-e-prata-entenda-as-diferencas/>