FELINE POLYORCHIDISM: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10001640
Claudivani Aparecida Pires Soares1
Joryda Gomes dos Santos1
Denise de Fátima Rodrigues2
Resumo
Triorquidismo ou Poliorquidismo é uma afecção congênita que define a presença de três ou mais testículos. A presença de testículos supranumerários (poliorquidismo) é pouco relatada na medicina veterinária e o mecanismo exato para seu desenvolvimento permanece ainda inexplicado. Um felino afetado por essa patologia está disposto a diversas alterações fisiológicas e comportamentais, portanto o veterinário deve estar atento em seu exame clinico para diagnosticar esta afecção e evitar problemas futuros e até mesmo o abandono deste animal. Este artigo vem com o objetivo relatar o caso de um felino macho que 4 meses após a castração apresentou a descida de um terceiro testículo encontrado na bolsa escrotal.
Palavras-chave: Castração, felino, poliorquidismo, testículos, triorquidismo.
Abstract
Triorchidism or Polyorchidism is a congenital condition that defines the presence of three or more testicles. The presence of supernumerary testicles (polyorchidism) is little related in veterinary medicine and it’s developments remain unexplained. A feline affected by this pathology is willing to several physiological and behavioral changes, so the veterinarian must be attent in his clinical examination to diagnose its and avoid future problems even the abandonment of this animal. This article comes with the objective of reporting the case of a male feline that 4 months after a castration presented the descent of a third testicle found in the scrotum.
Keywords: Castration, feline, polyorchidism, testicles, triorchidism.
1 INTRODUÇÃO
Poliorquidismo é uma afecção congênita rara que define a presença de três ou mais testículos (Roca-Ferrer et al, 2015). Esta patologia pode ser diagnosticada através de ultrassonografia, exame intraoperatório, exame histopatológico, e no caso de felinos, também através da presença de espiculas penianas persistentes após a castração. As espiculas penianas são dependentes de testosterona, e testículos criptorquidicos mesmo dentro da área do abdômen produzem esse hormônio (Lohr et al, 2022).
A presença de testículo supranumerário deve ser considerada como diagnostico diferencial para neoplasia e hidrocele (Roca-Ferrer et al, 2015). A remoção cirúrgica do testículo retido é recomendada devido ao risco de formação de uma neoplasia ou torção (Lohr et al, 2022).
O poliorquidismo pode ser classificado através da sua anatomia: Tipo I, o testículo supranumerário não possui epidídimo ou canal deferente e não possui apego ao testículo usual; Tipo II, o testículo supranumerário drena para o epidídimo do testículo usual, e compartilham um ducto deferente comum; Tipo III, o testículo supranumerário tem seu próprio epidídimo e ambos os testículos drenam para um canal deferente comum; Tipo IV, há uma duplicação completa do testículo, epidídimo e vaso deferentes (Leung,1988).
Felinos com testículo supranumerário que não tem o mesmo removido irão apresentar todos os comportamentos normais de um macho inteiro, tais como, libido, marcação de território e agressividade (Norsworthy, Gary D et al, 2011) Portanto, tutores que procuram atendimento veterinário por conta de comportamentos indesejados devem servir de alerta para um possível caso de poliorquidismo. Não há nenhum tratamento comprovado que faça com que um testículo retido desça para o escroto, portanto, além de ser importante o diagnóstico para evitar possíveis problemas futuros na saúde do felino, também é importante a localização e remoção de todos os testículos para evitar comportamentos indesejados que possam levar ao abandono deste animal (Susan Little, 2011).
2 RELATO DE CASO
Um felino da raça British shorthair, de coloração cinza e branco, macho, com 4 meses de idade, adquirido de um gatil especializado da raça, devidamente testado para FIV/FeLV sendo negativo para ambos e com duas doses da vacina V5. O animal passou por avaliações físicas e complementares pré-cirúrgicas para a realização de orquiectomia.
Durante a avaliação física foi constatado a presença do testículo esquerdo normalmente dentro da bolsa escrotal, enquanto o testículo direto foi localizado na área inguinal, caracterizando assim um caso de criptorquidismo. Posteriormente, o animal foi preparado para a cirurgia, na qual foi realizada a remoção de ambos os testículos.
Após 4 meses da cirurgia, o tutor retorna com o animal questionando sobre uma possível presença de um testículo na bolsa escrotal direita, bolsa escrotal essa que inicialmente deveria ter abrigado o testículo que anteriormente foi retirado da área inguinal.
O animal passou mais uma vez por avaliação física, na qual foi identificada a presença de um terceiro testículo, evidenciando agora um caso de Poliorquidismo/Triorquidismo. Após a constatação, o animal foi novamente preparado para a cirurgia de orquiectomia, sendo assim realizada a remoção do testículo supranumerário. O ultrassom não foi realizado antes da primeira cirurgia pois os dois testículos estavam palpáveis, portanto, o testículo supranumerário não foi encontrado nesta época já que o mesmo ainda se encontrava dentro da cavidade abdominal.
Figura I. À esquerda, testículo esquerdo removido da bolsa escrotal. À direita, testículo direito removido da área inguinal. II. Testículo supranumerário na bolsa escrotal direita.
3 DISCUSSÃO
O caso relatado teve como diagnostico primeiramente o criptorquidismo, e posteriormente o poliorquidismo/triorquidismo.
O criptorquidismo acontece quando o testículo fica retido no percurso entre sua localização inicial na cavidade abdominal até seu local correto de armazenamento que é a bolsa escrotal, podendo ter como local de retenção a cavidade abdominal, na qual se denomina criptorquidismo abdominal e no anel inguinal, denominado criptorquidismo inguinal. (Santos & Alessi, 2016) O animal do relato se enquadra no criptorquismo abdominal unilateral
As chances de um testículo criptorquídico desenvolver neoplasias como o sertolioma e seminoma, são dez vezes maiores do que um testículo que se encontra na bolsa escrotal, podendo ser esse desenvolvimento neoplásico através do testículo criptorquidico mais precoce comparado com o testículo escrotal, portanto a indicação está de acordo com o que foi realizado no caso da remoção cirúrgica (Santos & Alessi, 2016).
O poliorquidismo se caracteriza pela presença de mais de dois testículos e é uma anomalia congênita rara. Apesar de ser frequentemente correlacionando com o criptorquidismo, o testículo supranumerário pode ser localizado na região escrotal (Roca-Ferrer et al, 2015), exatamente como foi observado nesse caso, cujo testículo supranumerário desceu para a bolsa escrotal após 4 meses da cirurgia.
Na avaliação de um animal com suspeita de poliorquidismo é necessário realizar o exame clinico juntamente com o exame de imagem, entretanto, o diagnostico através do exame de imagem não pode ser considerado confiável mesmo que seja realizado com alta definição, pois esse não é capaz de fazer uma diferenciação de massas intra-escrotais/intra-abdominais de possíveis testículos supranumerários. (Roca-Ferrer et al, 2015)
Mesmo em animais já castrados, o poliorquidismo deve ser considerado como diagnostico diferencial para achados de massas intra-abdominais. (Roca-Ferrer et al, 2015)
O criptorquidismo é mais comum de ser encontrado, diferente do poliorquidismo que até o presente momento tem poucos relatos, principalmente em felinos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Relatos publicados de poliorquidismo são incomuns na literatura veterinária e incluem relatos em 2 gatos, 2 cães, 3 cavalos e 1 beija-flor; no entanto, apenas 4 desses relatórios incluíram histologia. (Lohr et al, 2022)
Estudos sobre a anomalia abordada neste trabalho são inexistentes na literatura brasileira na área da medicina veterinária, consequentemente, o trabalho em questão é o primeiro relato de caso sobre poliorquidismo em felinos no Brasil.
REFERÊNCIAS
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Lohr, R, B., Lieske, E, D.,Parry, M,N. (2022)Polyorchidism in a cat. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, Vol. 34 Doi: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/10406387221127883
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Little, Susan E. The Cat: Clinical Medicine and Management. (2012)
SANTOS, R. L.; ALESSI A. C. Patologia veterinária. Rio de Janeiro: Roca, 2016