PNEUMONIA SECUNDÁRIA À ARTRITE SÉPTICA DE TORNOZELO: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7079267


Autores:
Deusimar Romeu Cavalcante Filho1
Paulo Marcelo Sá Palácio Câmara2
Gustavo Sá Palácio Câmara2
Samuel Machado Romeu3
Ana Déborah Costa Prado3
Plínio José da Silva Câmara4


Resumo

A artrite séptica é uma infecção osteoarticular causada por um microrganismo piogênico em que ocorre uma reação inflamatória aguda podendo causar destruição permanente das articulações. Essa enfermidade acomete mais o sexo masculino e crianças, e está associada a diversas complicações como deformidades, comprometimento funcional e disseminação da infecção por via hematogênica para outros sítios podendo causar pneumonia e sepse. A pneumonia é uma doença infecciosa aguda que acomete as vias aéreas terminais e o parênquima pulmonar. Esse artigo possui o objetivo de relatar um caso de um paciente de 14 anos que adquiriu pneumonia secundária à artrite séptica de tornozelo.

Palavras-chave: Artrite Séptica; Pneumonia; Infecção.

Abstract

The septic arthritis is an osteoarticular infection caused by a pyogenic microorganism that occurs a acute inflammatory reaction which can cause permanent destruction of the joints. This disease affects more males and children, and is associated with several complications such as deformities, functional impairment and the spread of infection by hematogenous route to other places causing pneumonia, sepsis. Pneumonia is an acute infection disease that affect the lung parenchyma. This article aims to report a case of a 14 year old who acquired pneumonia secondary to septic ankle arthritis.

Keywords: Septic arthritis; Pneumonia; Infection.

Introdução

A artrite séptica é uma infecção osteoarticular causada por microrganismo piogênico em que ocorre uma reação inflamatória causada pela invasão de microrganismo no tecido sinovial podendo causar uma destruição permanente de forma rápida no local acometido (1). Cerca de 10 a 32% dos pacientes que adquirem artrite séptica sofrem redução da sua mobilidade a longo prazo(2). É considerada uma infecção incomum, acometendo com mais frequência população mais carente em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, e tem característica por estados orgânicos carenciais (3).

Essa enfermidade acomete mais o sexo masculino e pode ocorrer em pacientes de diversas idades, porém, possui maior prevalência em crianças com idade inferior a 3 anos e idosos, representando cerca de 31 a 49% dos casos. Um dos locais mais acometidos é o quadril, seguido pelo joelho, ombro e cotovelo (3).

A pneumonia é uma doença infecciosa aguda que acomete as vias aéreas terminais e o parênquima pulmonar causando inflamação e anormalidade das trocas gasosas a nível alveolar (4). Essa doença pode ser causada por bactérias, fungos, vírus e parasitas, sendo a pneumonia bacteriana causada por Streptococcus pneumoniae, considerado o agente infeccioso mais comum. A colonização dos alvéolos acontece, principalmente, por microaspiração de material proveniente das vias aéreas superiores, no entanto, mais raramente, essa colonização pode ser resultante de uma disseminação por via hematogênica de patógenos causadores de doenças de base, como no caso da artrite séptica, tendo como principal agente infeccioso Staphylococcus aureus (4, 5).

Esse artigo tem o intuito de descrever um caso de um paciente de 14 anos que adquiriu pneumonia secundária à artrite séptica de tornozelo.

Relato de Caso

Paciente 14 anos, sexo masculino, branco, solteiro, foi atendido inicialmente pelo Sistema Local de Saúde de Baturité, no dia 26/09/2018, com uma história de trauma no tornozelo esquerdo, evoluindo com edema, hiperemia, calor e dor em toda a extensão do membro inferior esquerdo. Cinco dias após o início do quadro procurou novamente atendimento médico devido a presença de desconforto respiratório importante e anúria associado ao quadro anterior, sendo encaminhado e admitido no dia 01 de outubro de 2018 para o Instituto Dr. José Frota (IJF) em Fortaleza.

Ao exame físico, apresentava estado geral comprometido, febre (38,5 graus) taquipneico (55 incursões respiratórias por minuto), dispneico, taquicárdico (120 batimentos por minuto), saturação de oxigênio de 84%, diminuição do murmúrio vesicular no hemitórax esquerdo com crepitações bilaterais nos terços inferiores do tórax durante a ausculta pulmonar. Na avaliação ortopédica, paciente apresentou dor à movimentação do tornozelo esquerdo, edema e hiperemia em toda a extensão da tíbia do membro inferior esquerdo. Diante do quadro apresentado, foi levantado a hipótese diagnóstica de artrite séptica associada a pneumonia e sepse.

Paciente realizou exames complementares e ficou sob observação rigorosa na UTI com início de antibioticoterapia (cefepime e oxacilina), uso de máscara de venturi com melhora da saturação de oxigênio para 95% e de sonda vesical para avaliação da diurese. Aos exames laboratoriais do dia 01/10/2018, foi observado níveis de TPTA de 30,8, proteína C reativa (PCR) de 206,1, anemia hipocrômica e microcítica (hemoglobina de 9 g/dL), plaquetopenia (119.000) e hiponatremia (129 mmol/L). No dia 02 de Outubro de 2018, o paciente foi submetido a radiografia simples de tórax (figura 1), sendo constatado opacidade bilateral nas bases pulmonares, confirmando o diagnóstico de pneumonia secundário à artrite séptica.

FIGURA 1 – RADIOGRAFIA DE TÓRAX EVIDENCIANDO OPACIDADE BILATERAL NAS BASES PULMONARES

Além disso, foi feita a solicitação de uma fasciotomia do membro inferior esquerdo e o acompanhamento de novos exames laboratoriais mostrando melhora das alterações citadas anteriormente, PCR de 199,7 mg/dL , neutrofilia (7.422 mm3), TPTA de 32,2 hipocalcemia (8 mg/dL), hipoalbuminemia (2,7 g/dL) e hiperbilirrubinemia as custas de bilirrubina direta.

Paciente continuou o uso de antibióticos e, posteriormente, realizou fasciotomia do membro inferior esquerdo no dia 15/10/2018, sem intercorrências, com melhora progressiva do quadro clínico e laboratorial, principalmente redução da PCR para os níveis de normalidade, tendo alta e continuou sendo acompanhado no IJF pelo ambulatório de ortopedia para avaliação do membro inferior esquerdo.

Discussão

A artrite séptica, inicialmente descrita por Thomas Smith em 1874, é definida como uma infecção osteoarticular causada por microrganismo piogênico. Essa doença pode acometer qualquer idade, mas com maior prevalência em crianças (1).

A incidência varia de 5,5 a 12 casos por 100.000 crianças, e o sexo masculino é três vezes mais afetado que o feminino. Os joelhos, quadris, cotovelos e ombros são os sítios mais acometidos, ocorrendo acometimento em mais de uma articulação em 20% dos pacientes (7).

A maioria dos casos de artrite séptica ocorre por infecção bacteriana, mas podem ocorrer, com menos frequência, por fungos e micobactérias. Esse acometimento acontece quando tais organismo patógenos invadem tecido sinovial causando reação inflamatória aguda que pode levar à destruição permanente de forma rápida da articulação acometida (2).

Clinicamente, caracteriza-se como uma doença aguda fulminante, apresentando sinais flogísticos, como dor, edema, hiperemia e calor, de forma localizada ou por todo o membro da articulação, redução da amplitude de movimento da articulação acometida, febre, taquicardia, irritabilidade e sinais de toxemia (7).

Outras doenças articulares possuem sinais e sintomas que podem se sobrepor aos da artrite séptica, como osteoartrite, gota, artrite reumatoide e artrite reumatoide juvenil, e, além disso, essas enfermidades podem aumentar o risco de desenvolver a artrite séptica. Com isso, o seu diagnóstico torna-se desafiador e necessário que seja realizado o mais rápido possível (2).

É considerada uma emergência ortopédica, e o possível atraso no diagnóstico e tratamento podem levar ao dano da cartilagem articular, resultando em sequelas muito graves que irão comprometer o futuro da articulação envolvida e podendo resultar na disseminação da infecção para outros sítios, podendo originar em um caso de infecção secundária, como pneumonia e/ou sepse (1).

A pneumonia, por definição, é uma infecção do pulmão ou do parênquima pulmonar ocorrendo através da microaspiração de agentes infecciosos das vias aéreas superiores ou por disseminação hematogênica, em que o agente é proveniente de outros sítios infecciosos, como a artrite séptica (2).

A resposta inflamatória à infecção é a principal responsável pelos vários achados clínicos. São eles: febre alta, tosse; dor no tórax; alterações da pressão arterial; confusão mental; falta de ar; secreção de muco purulento de cor amarelada ou esverdeada; toxemia; prostração (1, 2).

O tratamento da artrite séptica é baseado em artroscopia e/ou antibiótico por via parenteral, sendo caracterizado por drenagem da secreção purulenta e remoção de debris inflamatórios, protegendo a articulação. Logo, é importante a confirmação precoce da artrite séptica e o estabelecimento rápido do tratamento, uma vez que além de prevenir as complicações da doença, evita-se o acometimento de outros órgãos, como evidenciado no relato de caso em questão (6, 7).

Referências Bibliográficas

1 – Kotzias Neto, A., Oliveira, M. A., & Stipp, W. N. Avaliação do tratamento da artrite séptica do quadril. Revista Brasileira de Ortopedia. 2011;46(4):14-20.                                                                                   

2 -Costales, C., & Butler-Wu, S. M. A real pain: diagnostic quandaries and septic arthritis. Journal of Clinical Microbiology. 2018;56(2).

3 – Matos, M. A., Guarniero, R., & Godoy Júnior, R. M. D. Artrite séptica do quadril. Revista brasileira de ortopedia. 2006;41(6):187-194.

4 – Corrêa RA, Costa AN, Lundgren F et al. Recomendações para o manejo das Pneumonias Adquiridas na Comunidade 2018 – J Bras Pneumol 2018.44(5) 403-423.

5 – Hardgrib N, Wang M, Jurik AG et al. Life-threatening MRSA sepsis with bilateral pneumonia, osteomyelitis, and septic arthritis of the knee in a previously healthy 13-year-old boy: a case report. Acta Radiologica Open. 2016. DOI: 10.1177/2058460116677180.

6 – Assunção, J. H., Noffs, G. G., Malavolta, E. A., Gracitelli, M. E. C., Lima, A. L. M., & Neto, A. A. F. Artrite séptica do ombro e do cotovelo: análise epidemiológica de uma década em um hospital terciário. Revista brasileira de ortopedia. 2018;53(6):707-713.

7 – Jana Neto, F. C., Ortega, C. S., & Goiano, E. D. O. Epidemiological study of osteoarticular infections in children. Acta ortopedica brasileira. 2018;26(3):201-205.


1Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Christus, Fortaleza, Brasil.
E-mail: romeuceara27@gmail.com
2Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Christus, Fortaleza, Brasil.
3Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Inta, Sobral, Brasil.
4Médico do Hospital Geral Doutor Cesar Cals de Oliveira, Fortaleza, Brasil.