PLANTAS MEDICINAIS VOLTADAS PARA O TRATAMENTO DA ANSIEDADE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

MEDICINAL PLANTS FOR TREATMENT OF ANXIETY: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11965968


Allison Vieira Cavalcante1
Danilo Lima Medeiros2
Lucas Soares Guimarães3
José Lopes Pereira Junior 4


Resumo

A ansiedade representa um importante problema de saúde pública mundial, sendo considerada ainda o mal do século. Esta é definida pela ocorrência de um sentimento desagradável de medo, inquietação, marcado por tensão ou desconforto decorrente da sensação de perigo de algo desconhecido ou estranho. Diante disso, existem várias formas de tratamento, entre elas, o uso de plantas medicinais onde demonstrou efeitos promissores como ansiolíticos. A exemplo disso, as espécies Piper methysticum e Valeriana officinalis L são apontadas como importantes fontes de compostos eficazes no tratamento de distúrbios psíquicos, como a depressão e a ansiedade. O estudo foi realizado com o objetivo de promover uma revisão integrativa da literatura, acerca dos efeitos das plantas medicinais Kava kava, Camomila, Cannabis sativa, Valeriana e Passiflora incarnata, em pacientes com ansiedade. Trata-se de uma Revisão

Integrativa da Literatura (RIL). O levantamento bibliográfico foi realizado nas bases de dado da Literatura Científica LILACS, MEDLINE e SCIELO. Foram incluídos na pesquisa artigos em língua portuguesa, espanhola e inglesa compreendidos entre os anos de janeiro de 2014 a janeiro de 2020. Além disso, a coleta de dados se deu entre os meses de agosto de 2021 a abril de 2022. Os resultados demonstram que as espécies estudadas apresentam efeito ansiolítico reportado na literatura, com raros efeitos adversos reportados, nos últimos anos, contribuindo para o tratamento da ansiedade. 

Palavras-chave: Terapias Complementares. Ansiedade. Plantas Medicinais.

1   INTRODUÇÃO

A ansiedade representa um importante problema de saúde pública mundial, sendo considerada ainda o mal do século. Esta é definida pela ocorrência de um sentimento desagradável de medo, inquietação, marcado por tensão ou desconforto decorrente da sensação de perigo de algo desconhecido ou estranho (LOPES & SANTOS, 2018). Segundo a Organização Mundial de Saúde a ansiedade afetou 264 milhões de pessoas em todo o mundo, em 2015 (WHO, 2017). No Brasil, cerca de 9,3% da população do país sofre com esse distúrbio mental (WHO, 2017; MOURA et al., 2018). 

No geral, a ansiedade relaciona-se a ocorrência de sintomas que ocasionam prejuízos no trabalho, saúde, finanças e demais questões da vida do indivíduo. Nesse sentindo, observa-se que pessoas ansiosas apresentam pensamentos negativos e de impotência sobre determinadas atribuições, falta de concentração, enxergando-se situações as quais não se dará conta de realizar, ou ainda pensamentos sobre uma tragédia que poderá acontecer. Nesse caso, alerta-se para a ocorrência de um quadro de ansiedade patológica (MOURA et al., 2018; LOPES & SANTOS, 2018).   

As bases neurofisiológicas da ansiedade estão relacionadas com a redução dos níveis de importantes neurotransmissores, como a serotonina, além do aumento do cortisol (ROCHA, MYVA & ALMEIDA, 2020; BORTOLUZZI, SCHMITT & MAZUR, 2020). A ansiedade não escolhe gênero, faixa etária ou classe social, sendo assim um problema comum, que acomete diversos indivíduos, tais como estudantes universitários (CARDOZO et al., 2016; MAIA & DIAS, 2020), a comunidade adulta em geral, sobretudo as mulheres (COSTA et al., 2019), profissionais de saúde (MOURA et al., 2018) e docentes do ensino infantil e fundamental (FERREIRA-COSTA & PEDRO-SILVA, 2019). Além disso, representa ainda uma causa de afastamento de trabalho (RIBEIRO et al., 2019).  

Por apresentar reflexos negativos na vida dos indivíduos, a ansiedade corresponde a uma patologia que merece intervenção terapêutica realizada, na maioria das vezes, com medicamentos da classe dos benzodiazepínicos e não benzodiazepínicos, que inclui os barbitúricos, propranolol e buspirona (LIMA et al., 2020). Entretanto, devido a ocorrência dos efeitos colaterais de tais medicamentos, a busca por novas opções terapêuticas é uma prática constante, de maneira que as plantas medicinais se destacam como importantes alternativas nas indústrias farmacêuticas, no desenvolvimento de fitoterápicos para a ansiedade (YEUNG et al., 2018; BORTOLUZZI, SCHMITT & MAZUR, 2020; SILVA et al., 2020).

Nesse sentido, muitas plantas medicinais já demonstraram efeitos promissores como ansiolíticos. A exemplo disso as espécies Piper methysticum e Valeriana officinalis L, conhecidas popularmente como Kava-kava e Valeriana, são apontadas como importantes fontes de compostos eficazes no tratamento de distúrbios psíquicos, como a depressão e a ansiedade (HAMID, RAMLI & YOUSOLF, 2017). Adicionalmente, em um estudo duplo cego controlado por placebo, o extrato etanólico de P. methysticum demonstrou efeito significativo no tratamento da ansiedade em pacientes idosos, reforçando assim seu potencial terapêutico (KUCHTA, NICOLA & SCHMIDT, 2017). 

De maneira semelhante, ações ansiolíticas também foram atribuídas à espécie V.

officinalis, inclusive em pacientes com HIV/AIDS, conforme apresentado por Ciniglia, Fiorelli & Vianna (2020), e o estudo das propriedades farmacocinéticas, farmacodinâmicas e físicoquímicas de compostos obtidos a partir desta espécie, reforça sua ação farmacológica no tratamento da ansiedade (LIMA et al., 2020). Outras espécies também integram o arsenal de plantas medicinais usadas nos distúrbios mentais, como a Cannabis sativa, a qual além de uma atividade anti-inflamatória, também é apresentada com efeitos consideráveis no controle da ansiedade, demonstrando menor recorrência de efeitos colaterais quando comparada aos benzodiazepínicos (SANGIOVANNI et al., 2019; PEIXOTO et al., 2020). 

 Resultados satisfatórios também são listadas para a espécie Matricaria recutita, conhecida popularmente como Camomila. Um estudo clínico randomizado demonstrou, que a longo prazo, a Camomila é capaz de reduzir os sintomas da ansiedade generalizada (MAO et al., 2016). Esta planta medicinal é listada por seus efeitos positivos no controle da ansiedade, além de reduzir os sintomas depressivos (LIMA, LIMA-FILHO & OLIVEIRA, 2019).   Lopes et al. (2021), chamam atenção para fitoterápicos já estudados no controle da ansiedade, incluindo a espécie Passiflora incarnata, conhecida popularmente como maracujá, que traz algumas vantagens como eficácia, baixo custo e menores efeitos colaterais quando comparados aos benzodiazepínicos. 

Portanto, diante do exposto, é possível observar que as espécies citadas acima representam importantes alternativas para o tratamento da ansiedade. Desse modo, a discussão de tais efeitos frente a esse distúrbio mental, é de suma importância haver respostas aos seguintes questionamentos através do diálogo com a literatura, onde identifica que as plantas medicinais: Kava-kava, Camomila, Cannabis sativa, Valeriana e Passiflora incarnata, atuam nos ganhos terapêuticos dos pacientes com ansiedade. 

 Dessa forma, elenca-se a relevância de atualizações sobre esse tema e justifica-se a realização deste estudo pela aproximação dos pesquisadores à temática, sendo discutido anteriormente em trabalhos elaborados no decorrer na academia e sendo debatido como um mecanismo para usabilidade na prática clínica. Nesse contexto, justifica-se a compreensão desse fenômeno que é a contribuição das plantas medicinais Kava kava, Camomila, Cannabis sativa, Valeriana e Passiflora incarnata em pacientes com ansiedade, no sentido de oportunizar diálogos de prevenção, promoção e reabilitação da saúde dessa população acometida por esse processo de adoecimento.

Com base nisso, objetiva-se analisar, por meio de revisão integrativa da literatura, os principais efeitos destas plantas medicinais em pacientes que apresentam ansiedade. Encara-se que, a partir da análise de publicações científicas sobre o tema, será possível entender de que maneira estas plantas medicinais podem colaborar no tratamento de pacientes ansiosos.

2   METODOLOGIA 

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL). Este método possibilita sumarizar pesquisas publicadas e obter conclusões a partir da pergunta norteadora. Uma Revisão Integrativa bem realizada exige os mesmos padrões de rigor, clareza e replicação utilizada nos estudos primários (MENDES, SILVEIRA & GALVÃO, 2008).

A revisão integrativa da literatura é desenvolvida a partir de material já elaborado e publicado, constituído principalmente de revistas e artigos científicos. A finalidade da pesquisa é colocar o pesquisador em contato com que foi produzido a respeito do tema de pesquisa (LAKATOS & MARCONI, 2010). Neste sentido foi realizado um estudo de natureza descritiva, com abordagem qualitativa, de modo a realizar uma integralização e síntese das informações obtidas em importantes estudos publicados na literatura.  

Dessa forma incide como questão de pesquisa: De que forma as plantas medicinais Kava kava, Camomila, Cannabis sativa, Valeriana e Passiflora incarnata contribuem nos ganhos terapêuticos dos pacientes com ansiedade?  

O levantamento bibliográfico foi realizado nas bases de dado da Literatura Científica e Técnica da América Latina e Caribe (LILACS), Sistema Online de Busca e Análise de

Literatura Médica (MEDLINE) e da biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online

(SCIELO). Os descritores foram selecionados com base na plataforma dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), sendo eles: Terapias Complementares; Ansiedade; Plantas

Medicinais, e os termos não controlados: Kava kava, Camomila, Cannabis sativa, Valeriana e Passiflora incarnata. Tais descritores foram combinados por meio do operador booleano “AND”, que permitiu realizar uma intercessão entre os termos. 

No que diz respeito aos critérios de inclusão, foram incluídos na pesquisa artigos em língua portuguesa, espanhola e inglesa, compreendidos entre os anos de janeiro de 2014 a janeiro de 2020. A escolha do período entende-se pela necessidade de estudos de relevância e período próximo ao ano de desenvolvimento do estudo. Foram excluídos do estudo artigos em forma de relatos de casos, monografias, dissertações, teses, ou aqueles que estiverem fora do período estabelecido. 

 A coleta de dados ocorreu entre os meses de Agosto de 2021 a Abril de 2022. Esta foi realizada em duas etapas: a primeira fase compreendeu a pré-análise, que consistiu na escolha dos artigos que foram analisados; observando os objetivos inclusos em cada estudo, inicialmente. A segunda fase, por sua vez, correspondeu à seleção dos artigos, onde foram observadas algumas características dos estudos, tais como identificação do artigo (autores, delineamento, objetivos, fenômeno estudado e resultados). A síntese dos dados extraídos dos artigos é apresentada de forma descritiva em tabelas, reunindo o conhecimento produzido sobre o assunto investigado na pesquisa integrativa.

  A análise do tema foi realizada de modo a considerar para o presente estudo fases analíticas, envolvendo: uma pré-análise, com seleção do material, formulação das hipóteses e objetivos da pesquisa; seguida da etapa de exploração do material, onde técnicas específicas são aplicadas de modo a atender aos objetivos e, posteriormente, o tratamento dos resultados e suas interpretações (BARDIN, 2016). 

3   RESULTADOS 

Considerando o delineamento metodológico aplicado, a princípio foram encontrados 273 artigos com o marcador TERAPIAS COMPLEMENTARES (TC) AND ANSIEDADE. Destes, 55 foram localizados na plataforma LILACS, 215 no MEDLINE e 3 na plataforma

SCIELO. A busca utilizando o marcador TC AND PLANTAS MEDICINAIS permitiu localizar 330 artigos: 85 na plataforma LILACS, 239 no MEDLINE e 6 artigos no SCIELO. Ao empregar a combinação ANSIEDADE AND PLANTAS MEDICINAIS, 361 artigos foram encontrados, sendo 29 na plataforma LILACS, 330 no MEDLINE e 2 no SCIELO. 

 A combinação ANSIEDADE AND KAVAKAVA localizou 89 publicações: 7 na plataforma LILACS e 82 no MEDLINE. Para esta combinação, não foram encontrados artigos na plataforma SCIELO. Ao utilizar do marcador ANSIEDADE AND CAMOMILA, 18 artigos foram localizados: 4 na plataforma LILACS, 12 no MEDLINE e 2 no SCIELO. A combinação

ANSIEDADE AND CANNABIS localizou o maior número de artigos, totalizando 789 publicações: 25 na plataforma LILACS, 740 no MEDLINE e 6 no SCIELO, enquanto que 53 artigos foram encontrados utilizando o marcador ANSIEDADE AND VALERIANA (9 da plataforma LILACS, 44 do MEDLINE e 0 no SCIELO). Usando TC AND PASSIFLORA INCARNATA foram encontrados 21 artigos no MEDLINE. Para o marcador ANSIEDADE AND PASSIFLORA INCARNATA, 7 artigos foram encontrados, 3 na plataforma LILACS, 1 no MEDLINE e 3 no SCIELO. A Tabela 1 apresenta o número de publicações encontradas, de acordo com as combinações entre os descritores definidos para a busca e seleção das publicações. 

Tabela 1. Total de publicações localizadas a partir da busca realizada no presente estudo, por marcador e base de dados.

  BUSCA  
EQUAÇÃO DE BUSCALILACSMEDLINESCIELOTOTAL
TC AND ANSIEDADE552153273
TC AND PLANTAS MEDICINAIS852396330
ANSIEDADE AND PLANTAS MEDICINAIS293302361
ANSIEDADE AND KAVAKAVA782089
ANSIEDADE AND CAMOMILA412218
ANSIEDADE AND CANNABIS257406789
ANSIEDADE AND VALERIANA944053
TC AND PASSIFLORA INCARNATA021021
ANSIEDADE AND PASSIFLORA INCARNATA3137

Fonte: autores (2022).

 Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, um total de 19 artigos foram selecionados para compor o quadro amostral do presente estudo. Destes, 12 (63,16%) estudos foram oriundos das buscas realizadas na plataforma MEDLINE, quatro estudos (21,05%) dos estudos foram selecionados na Scielo e três (15,79%) na LILACS.

 Dada a seleção de tais publicações, estas foram analisadas quanto às suas principais informações tais como título, autoria, periódico, base de dados e resumos. Estas informações compuseram os dados apresentados na Tabela 2. 

Tabela 2. Identificação geral das publicações selecionadas no presente estudo.

TítuloAutoriaDados da Publicação Base de DadosResultados/Conclusões
Eficácia das abordagens complementares e integrativas na promoção do envolvimento e do bem-estar geral para a prevenção do suicídio em veteranosVITALE, A. et al., 2021J Altern Comple- ment Med; 27 (S1): S14-S27, 2021MEDLINEOs dados de 15 coortes (N = 126) demonstram resultados favoráveis associados à participação no programa desenvolvido abrangente, como evidenciado por uma redução na ideação suicida, depressão e desesperança.
Comparação da eficácia e segurança de terapias complementares e alternativas para doença cardíaca coronária complicada com transtorno de ansiedade ou depressão: um protocolo para meta-análise de rede BayesianaHAN, X. et al., 2021.Medicine (Baltimore); 100(12): e25084, 2021MEDLINEA partir de um estudo de meta-análise, os autores verificaram que as terapias suplementares e de reposição desempenham um papel essencial na melhora da doença coronariana complicada com transtorno de ansiedade ou depressão. 
Abordagens integrativas ao estresse, ansiedade e resiliênciaBROWN, M.             L, 2019.Pediatr   Ann. 2019;     48                 (6): e226-e230.MEDLINETratamentos integrativos no cenário de gerenciamento de ansiedade e estresse podem ser usados junto com abordagens convencionais para evocar a resposta de relaxamento. As abordagens integrativas também podem ensinar às crianças e jovens ferramentas que podem servir para ajudá-los a aprender a controlar melhor os sintomas de ansiedade e desenvolver resiliência ao longo da vida.
Tratamento Complementar Alternativo e Integrativo para Transtornos por Uso de Substâncias.VAN KA- NEGAN, G; WORLEY, J., 2018.J Psychosoc Nurs Ment Health Serv ; 56 (6): 16-21, 2018MEDLINEOs autores sugerem que as intervenções por meio das práticas complementares de medicina alternativa e integrativa podem melhorar os sintomas comumente vistos em pacientes com SUDs, como estresse, ansiedade, depressão e dor.
Plantas medicinais para insônia relacionadas à ansiedade: uma revisão atualizada.BORRÁS, S.; MARTÍNEZ- SOLÍS, I.; RÍOS,        J. L., 2021Plant Med ; 87 (10-11):        738- 753, 2021.MEDLINEAo realizar uma revisão de literatura, concentrada principalmente em ensaios clínicos, e incluindo pesquisas sobre o efeito ansiolítico de 23 plantas medicinais e suas combinações, os autores concluíram que as 3 plantas com maior potencial são valeriana, passiflora e ashwagandha. 
Política de saúde versus kava (Piper methysticum): A eficácia ansiolítica pode ser fundamental para restaurar a reputação de uma importante safra do Pacífico Sul. THOMSEN, M.; SCHMIDT, M., 2021J Ethnopharma- col        ;        268: 113582, 2021. MEDLINE.A eficácia nas indicações aprovadas ‘ansiedade nervosa, tensão e inquietação’ foi atribuída ao extrato com a marca ‘WS 1490’, que se presumiu ter sido preparado com acetona como solvente de extração. 
Kava diminui o comportamento estereotipado induzido por anfetaminas em camundongosKRUM, B. N. et al., 2021J Ethnopharma- col;                265: 113293, 2021MEDLINEO extrato de Kava exibiu efeitos ansiolíticos no teste do labirinto em cruz, aumentou a atividade locomotora de camundongos no teste de campo aberto e diminuiu a atividade da MAO-A (no córtex) e MAO-B (no hipocampo) dos camundongos. 
Efeito antidepressivo putativo do extrato oral de camomila (Matricaria chamomilla L.) em indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada comórbida e depressão. AMSTER- DAM, J. D. et al., 2020. J Altern Complement Med ; 26 (9): 813-819, 2020. MEDLINEM. chamomilla L. pode produzir efeitos antidepressivos clinicamente significativos, além de sua atividade ansiolítica em indivíduos com TAG e depressão comórbida. Futuros ensaios clínicos controlados em indivíduos com transtorno depressivo maior primário são necessários para validar esta observação preliminar.
Eficácia terapêutica e segurança da camomila para ansiedade-estado, transtorno de ansiedade generalizada, insônia e qualidade do sono: uma revisão sistemática e meta-análise de estudos randomizados e quase-randomizados. HIEU, T. H. et al., 2019Phytother      Res; 33     (6):     1604- 1615, 2019. MEDLINEA partir de um ensaio de meta-análise, os autores verificaram uma melhora significativa na qualidade do sono após a administração de camomila. A camomila parece ser eficaz e segura para a qualidade do sono e no transtorno de ansiedade generalizada. 
Ansiedade social e uso de maconha de risco: O papel da subutilização de estratégias comportamentais de proteçãoBUCK- NER, J. D; MORRIS, P. E.; ZVOLENSKY, M., 2021J. Addict Behav; 123: 107078, 2021MEDLINEOs resultados melhoram a compreensão das altas taxas de problemas relacionados com a cannabis, entre aqueles com ansiedade social elevada, destacando a importância da subutilização de estratégias complementares de proteção, como um fator de risco potencial para um maior consumo máximo de cannabis. Isso por sua vez, pode desempenhar um papel importante na experiência de problemas relacionados com a cannabis entre este grupo de risco. 
Plantas medicinais no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada: uma revisão dos estudos clínicos controlados  FAUS- TINO, T. T.; ALMEIDA, R. B. DE; ANDREA- TINI, R., 2010.Rev. Bras. Psiquiatr.; 32(4): 429-436, dez. 2010.LILACS Ao realizar um levantamento envolvendo uma análise de estudos com plantas medicinais utilizadas no transtorno de ansiedade, os autores identificaram que Ginkgo biloba, Galphimia glauca, Matricaria recutita (camomila), Passiflora incarnata e Valeriana officinalis indicaram potencial efeito ansiolítico no transtorno de ansiedade generalizada. Apesar do potencial terapêutico dos fitoterápicos no transtorno de ansiedade generalizada, poucos ensaios clínicos controlados foram identificados, com a maioria apresentando limitações metodológicas.
O papel controverso da kava (Piper methysticum G. Foster), uma erva ansiolítica, na hepatite tóxica.AMORIM, M. F. D. et al., 2007.Rev. Bras. Farmacogn ; 17(3): 448-454, jul.-set. 2007.LILACSOs autores trazem que embora kava kava seja utilizada como um ansiolítico, a substância apresenta efeito hepáticos tóxicos, e que a possível toxicidade hepática pela kava ainda deve ser investigada e que algumas medidas antes e durante o seu uso são importantes, dada a possibilidade de disfunção hepática grave.
Eficácia e tolerabilidade do extrato de kava-kava WS 1490 em estados de ansiedade: estudo multicêntrico brasileiro.TONIOLO NETO, J., 1999.RBM Rev. Bras. Med; 56(4): 280-4, abr. 1999.LILACSEste estudo mostrou que o uso isolado do extrato de kava-kava WS 1490 apresenta resultados positivos na abordagem dos estados ansiosos, reduzindo, de forma significativa, o humor ansioso, os quadros de tensão, insônias e sintomas de origem muscular, tais como dor e fadiga.
Levantamento etnobotânico de plantas medicinais utilizadas pelos moradores do povoado de Manejo, Lima Duarte – MG.  OLIVEIRA, E.R; MENINI NETO, L., 2012Revista              Brasileira de Plantas Medicinais 2012,      Volume 14 Nº 2 Páginas 311 – 320.SCIELODe modo a realizar um levantamento etnobotânico de plantas medicinais utilizadas pela população do povoado de Manejo, na cidade de Lima Duarte (MG), foi observado que as doenças mais tratadas com as plantas medicinais em Manejo são gripes e resfriados, problemas estomacais, cólicas menstruais e infecções no útero, verminose, problemas renais, ansiedade e estresse.
Plantas medicinais e seus constituintes bioativos: uma revisão da bioatividade e potenciais benefícios nos distúrbios da ansiedade em modelos animais. SOUSA, F. C. F. et al., 2008.Revista Brasileira de Farmacognosia, Volume 18 Nº 4 Páginas 642 – 654, Dez 2008. SCIELOUm considerável número de constituintes herbários cujos efeitos comportamentais e ações farmacológicas têm sido bem caracterizados podem ser bons candidatos para futuras investigações que podem resultar em uso clínico, merecendo, portanto, uma maior atenção em estudos posteriores.
Consumo de Canábis: craving e a relação com ansiedade, stresse e depressão.  VASCONCELOSRAPOSO, J. et al., 2018.Actualidades en Psicología, Volume 32 Nº 125 Páginas 1 – 18, Dez 2018.SCIELOOs resultados permitem concluir que a emocionalidade, a intencionalidade e a compulsividade relacionaram-se positivamente com o nível do craving, bem como, com o stresse e a depressão. Quanto ao número de anos de consumo, constatou-se um efeito significativo, de dimensão média, na ansiedade.
Uso terapêutico dos canabinoides em psiquiatria. CRIPPA, J. A. S.; ZUARDI, A. W.; HALLAK, J. E. C., 2010.Brazilian Journal of Psychiatry, v. 32, p. 556–566, maio 2010.SCIELOO canabidiol demonstrou apresentar potencial terapêutico como antipsicótico, ansiolítico, antidepressivo e em diversas outras condições. O Δ9-tetraidrocanabinol e seus análogos demonstraram efeitos ansiolíticos, na dependência de cannabis, bem como adjuvantes no tratamento de esquizofrenia, apesar de ainda carecerem de mais estudos. O rimonabanto demonstrou eficácia no tratamento de sintomas subjetivos e fisiológicos da intoxicação pela cannabis e como adjuvante no tratamento do tabagismo. Os potenciais efeitos colaterais, de induzir depressão e ansiedade limitaram o uso clínico deste antagonista CB1.
Efeitos de Passiflora incarnata e midazolam para controle de ansiedade em pacientes submetidos à exodontiaDANTAS, L. P. et al., 2017Medicina Oral, Patología Oral y Cirugía Bucal, v. 22, n. 1, p. e95e101, jan. 2017.MEDLINEEm pacientes submetidos à extração de terceiros molares inferiores, Passiflora incarnata apresentou efeito ansiolítico semelhante ao midazolam. Entretanto, diferente do midazolam que ocasionou amnésia em 20% dos pacientes, P. incarnata não interferiu na formação de memória dos pacientes.
Passiflora incarnata in Neuropsychiatric Disorders—A Systematic ReviewJANDA, K. et al., 2020Nutrients, volume 12, número 12, página 3894, 2020.MEDLINEPassiflora incarnata reduz ansiedade, com efeito menos evidente em pacientes com sintomas leves. Não provoca efeitos adversos, tais como perda de memória e alteração nas funções psicométricas. Assim, P. incarnata pode ser útil para tratar pacientes com ansiedade.

Fonte: autores (2022).

Os estudos elencados na Tabela 2 demonstram que, nos últimos anos, as terapias complementares vêm sendo amplamente estudadas para tratamento da ansiedade. Vitale et al. (2021), demonstraram redução na ideação suicida, depressão e desesperança, após o uso de TC como abordagem para tratamento da ansiedade. Da mesma forma, ao comparar a eficácia de terapias complementares e alternativas, Han et al. (2021) concluíram que as metodologias alternativas eram essenciais para melhora da doença coronariana complicada com transtorno de ansiedade ou depressão.

Brown (2019) demonstrou a importância de tratamentos integrativos no cenário de gerenciamento de ansiedade e estresse, que também podem ser usados junto com abordagens convencionais. No estudo, os achados apontam que as abordagens integrativas também podem servir para ajudar crianças e jovens a controlar melhor os sintomas de ansiedade e desenvolver resiliência ao longo da vida. Outro estudo sobre o tema demonstrou que as intervenções por meio das práticas complementares de medicina alternativa e integrativa podem melhorar os sintomas comumente vistos em pacientes com ansiedade (VAN KANEGAN & WORLEY, 2018).

De acordo com os dados da Tabela 02,o uso de plantas medicinais pode ser considerado outro tratamento alternativo para sintomas relacionados à ansiedade. O estudo de Borrás, Martínez-Solís & Ríos (2021) aponta efeito ansiolítico de 23 plantas medicinais e suas combinações, no qual os autores concluíram que as 3 plantas com maior potencial são valeriana, passiflora e ashwagandha. Thomsen & Schmidt (2021) estudaram e aprovaram a eficácia ansiolítica da planta Kava kava nos casos de ansiedade nervosa, tensão e inquietação. Neste estudo, a atividade ansiolítica foi atribuída especificamente a um extrato preparado com acetona como solvente extrator.

Piper methysticum (Kava) também foi alvo do estudo de Krum et al. (2021), que testaram o efeito ansiolítico da planta em modelo animal, utilizando o teste do labirinto em cruz e o teste de campo aberto. Após a realização dos testes, o extrato de kava apresentou atividade ansiolítica e diminuiu a atividade da MAO-A (no córtex) e MAO-B (no hipocampo) dos camundongos. Além dessa espécie, Matricaria chamomilla L. (camomila) também foi avaliada quanto ao seu potencial para o tratamento da ansiedade. Assim, Amsterdam et al. (2020) e Hieu et al. (2019) mostraram atividade ansiolítica em indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada e depressão comórbida, bem como melhora significativa na qualidade do sono e segurança na administração.

Vasconcelos-Raposo et al. (2018) estudaram o consumo de Cannabis sativa e sua relação com ansiedade e constataram um efeito significativo, de dimensão média, na ansiedade. O canabidiol, substância extraída da C. sativa demonstrou apresentar potencial terapêutico como antipsicótico, ansiolítico, antidepressivo e em diversas outras condições. O Δ9tetraidrocanabinol e seus análogos, também extraídos da C. sativa demonstraram efeitos ansiolíticos, bem como adjuvantes no tratamento de esquizofrenia (CRIPPA, ZUARDI & HALLAK, 2010). 

O uso de Passiflora incarnata também é citado na Tabela 02 para controle de ansiedade em pacientes submetidos à exodontia, precisamente extração de terceiros molares inferiores. O estudo de Dantas et al. (2017) compara o efeito de P. incarnata ao efeito do midazolam, mas chama atenção para ausência de perca de memória como efeito colateral, que aconteceu em 20% dos pacientes que usaram midazolam. O estudo de Janda et al. (2020) corrobora com o anterior ao concluir que Passiflora incarnata reduz ansiedade, mas não provoca efeitos adversos, tais como perda de memória e alteração nas funções psicométricas.

4   DISCUSSÃO

 Estímulos estressantes, experimentados ao longo da vida, podem levar ao aparecimento de sentimentos ou sensações ruins, medos e incertezas, que por muitas vezes estão relacionados à ansiedade. Este distúrbio apresenta-se como um problema psicológico bastante comum, sendo a desordem psiquiátrica mais prevalente, nos dias atuais. Além da terapia comportamental, fármacos como benzodiazepínicos, barbitúricos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina podem ser usados para o tratamento farmacológico da ansiedade, entretanto muitos efeitos colaterais podem ser associados ao uso contínuo desses fármacos. Neste contexto, as terapias complementares e a fitoterapia (uso de plantas medicinais) surgem como alternativa na busca por novos tratamentos ou abordagens eficazes, e com menos efeitos adversos (NALOTO et al., 2016; NIKFARJAM; BAHMANI & HEIDARI-SOURESHJANI, 2017; BANDELOW, MICHAELIS & WEDEKIND, 2017).

 Vitale et al. (2021) reportam redução da ideação suicida, com melhoria significativa da ansiedade, a partir da criação de um Centro de Resiliência e Bem-Estar (Resilience and Wellness Center – RWC). No programa RWC, os profissionais utilizam diversas abordagens complementares como intervenção terapêutica em pacientes com risco de suicídio: utilização de técnicas para libertação emocional, meditação, terapia musical, terapia narrativa, prática de atividade física, acompanhamento da dieta/nutrição, uso da criatividade, Yoga, acupuntura, higiene do sono, espiritualidade e controle de estresse. Os autores também relatam a dificuldade de comprovar qual abordagem contribuiu mais para os resultados obtidos e ressaltam a importância de intervenções que levem em consideração os fatores de risco e os perfis de estilo de vida de cada indivíduo.

 A ansiedade pode ser um fator complicador de outras enfermidades, tendo correlação com o desenvolvimento, piora e aumento da taxa de mortalidade das doenças coronarianas. Além disso, as drogas utilizadas para o tratamento da ansiedade podem provocar efeitos colaterais prejudiciais ao funcionamento cardíaco, podendo piorar o prognóstico de pacientes com doença coronariana. Dessa forma, as terapias complementares, no caso de doença coronariana complicada com transtorno de ansiedade ou depressão, desempenham um papel cada vez mais positivo (HAN et al., 2021). Van Kanegan & Worley (2018) também apontam a importância das práticas complementares de medicina alternativa e integrativa para o tratamento de pacientes com sintomas de ansiedade.

 Além das terapias complementares, o uso de plantas medicinais, ricas em metabólitos secundários, tem se difundido para o tratamento de ansiedade e outros distúrbios associados, como a insônia que é bastante presente, principalmente, em transtorno de ansiedade generalizada. Benzodiazepínicos, hipnóticos, antipsicóticos e antidepressivos podem ser utilizados para tratamento farmacológico de insônia crônica, mas apresentam diversos efeitos colaterais a partir do uso continuado. Assim como na ansiedade, outras abordagens não farmacológicas podem ser utilizadas para tratamento de insônia, tais como terapia cognitivocomportamental, meditação e uso de plantas medicinais. Vale ressaltar que, para garantir o uso seguro de plantas medicinais, o conhecimento tradicional deve ser associado aos resultados de ensaios clínicos. Dessa forma, a literatura indica que os princípios ativos das plantas medicinais sedativas geralmente têm efeitos sobre o GABA ou sobre a via dopaminérgica. Valeriana officinalis, Passiflora edulis, Piper methysticum, Galphimia glauca e ashwagandha (Withania somnifera) têm se mostrado eficazes para amenizar insônia ligada à ansiedade (BORRÁS, MARTÍNEZ-SOLÍS & RÍOS, 2021). 

 O extrato de Piper methysticum (kava), rico em kavaína (que é capaz de melhorar a atividade de GABA A), tem potencial reconhecido para tratar ansiedade, com menos efeitos adversos em relação aos benzodiazepínicos, apenas hepatotoxicidade foi reportada para um extrato à base de acetona. Apesar da necessidade de padronização das preparações para uso medicinal, as publicações nem sempre são claras quanto a esse aspecto. Existem estudos que utilizam extrato à base de acetona, extrato etanólico, sozinho ou associado a uma mistura racêmica de kavaína, extrato metanólico, extrato aquoso e kavalactonas isoladas, que são as moléculas responsáveis pela eficácia clínica demonstrada. A literatura reporta ainda a eficácia de um extrato etanólico com autorização de comercialização: “WS 1490”, vendido como Laitan (BORRÁS, MARTÍNEZ-SOLÍS & RÍOS, 2021; THOMSEN & SCHMIDT, 2021). 

 Krum et al. (2021) utilizaram modelo animal e realizaram o teste de labirinto em cruz elevado e o teste do campo aberto para comprovar a atividade ansiolítica de Kava, onde puderam observar diferença significativa no número de entrada nos braços abertos e no tempo de permanência dos animais nestes braços; e aumento no número de entradas no centro do campo aberto. Estes resultados confirmam o potencial ansiolítico do extrato de Kava. Também foi observado um efeito significativo na diminuição da atividade de monoamino oxidase A MAO-A no córtex e MAO-B no hipocampo, estas enzimas catalisam a desaminação oxidativa de monoaminas importantes (dopamina, norepinefrina). Portanto, além do efeito ansiolítico, o estudo sugere que o extrato de Kava tem um potencial terapêutico nos sintomas psicóticos, diminuindo o comportamento estereotipado na mesma dose que poderia ajudar a aliviar os sintomas de ansiedade nos pacientes.

 Outra espécie citada nos estudos, a camomila (Matricaria chamomilla L) também possui potencial efeito ansiolítico no transtorno de ansiedade generalizada e depressão (AMSTERDAM et al., 2020). Hieu et al. (2019) chamou atenção para melhora significativa na qualidade do sono após uso da camomila, com raros efeitos adversos leves. A partir dos dados obtidos, supõe-se que a camomila possa ser usada de maneira segura e eficaz para melhoria da qualidade do sono e tratamento de transtorno de ansiedade generalizada. Entretanto, mais estudos clínicos devem ser realizados para confirmar estes achados. 

 Em relação à Cannabis sativa, precisa-se considerar a ansiedade social elevada como fator importante para a subutilização de estratégias complementares de proteção, o que pode se tornar um fator de risco potencial para um maior consumo de Cannabis. Distúrbios como ansiedade e depressão são frequentemente reportados como efeitos do consumo de cannabis (agudo ou continuado), mas podem ser atribuídos à abstinência. Embora a manutenção do uso de Cannabis sativa esteja associada à depressão e ansiedade em adultos jovens, os canabinoides podem ter potencial terapêutico para o tratamento de transtornos psiquiátricos (CRIPPA, ZUARDI & HALLAK, 2010; VASCONCELOS-RAPOSO et al., 2018; BUCKNER, MORRIS & ZVOLENSKY, 2021).

 A literatura demonstra que os efeitos ansiolíticos dos canabinoides vêm sendo estudados tanto em humanos, como em modelos animais, uma vez que a sinalização endocanabinoide é importante no controle emocional. Os achados demonstram que o canabidiol apresenta potencial terapêutico como antipsicótico, ansiolítico e antidepressivo. Outros canabinoides, como o Δ9-tetraidrocanabinol e seus análogos também apresentam efeitos ansiolíticos, na dependência de Cannabis, bem como podem funcionar como adjuvantes no tratamento de esquizofrenia, apesar de mais estudos serem necessários (CRIPPA, ZUARDI & HALLAK, 2010; VASCONCELOS-RAPOSO et al., 2018; BUCKNER, MORRIS & ZVOLENSKY,

2021). 

 Uma planta medicinal bastante comum, Passiflora incarnata, também foi reportada como uma espécie que pode ser utilizada no tratamento complementar da ansiedade. Dantas et al. (2017) testaram o efeito dessa planta em pacientes submetidos à extração do terceiro molar, tendo em vista que pacientes de consultórios odontológicos, frequentemente, sofrem com sintomas de ansiedade. Nessas situações, os benzodiazepínicos como midazolam podem ser utilizados, todavia, além dos efeitos adversos, os pacientes ficam limitados a não exercer atividades que exigam um certo nível de atenção, e necessitam de companhia para ir ao consultório. Neste contexto, a fitoterapia surge como alternativa de baixo custo e baixa toxicidade. De acordo com Janda et al. (2020), os efeitos ansiolíticos de P. incarnata ainda não têm mecanismo de ação estabelecido, entretanto os estudos citam evidências que os efeitos são mediados por modulação do sistema GABA e são menos pronunciados em pacientes com ansiedade leve.

5   CONCLUSÃO

As plantas medicinais (Kava, Camomila, Cannabis sativa, Valeriana e Passiflora incarnata) e seus derivados abordados neste estudo demonstraram potencial terapêutico para tratamento de sintomas relacionados à ansiedade, atuando como adjuvante ao tratamento farmacológico. Raros ou nenhum efeito adverso têm sido associados ao uso desses fitoterápicos e os mecanismos de ação mais citados foram ação têm efeitos sobre o GABA ou sobre a via dopaminérgica. 

O estudo do uso de plantas medicinais tem importância social, pois busca demonstrar à população se o uso etnofarmacológico da espécie pode ser confirmado cientificamente. Apesar disso, algumas dificuldades são percebidas, como a padronização dos extratos vegetais utilizados, portanto pesquisas futuras que abordem aspectos mais específicos desses extratos e correlacionem a composição química, incluindo concentração dos ativos, com a atividade ansiolítica devem ser realizados.

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  1. Discente do Curso Superior de Medicina do Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde Do Piauí (FAHESP) – Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (IESVAP). E-mail: alisson_vieira_cavalcante@hotmail.com.
  2. Discente do Curso Superior de Medicina do Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde Do Piauí (FAHESP) – Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (IESVAP). E-mail: dlimamedeiros@hotmail.com
  3. Discente do Curso Superior de Medicina do Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde Do Piauí (FAHESP) – Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (IESVAP). E-mail: lucassoaresg88@gmail.com
  4. Docente do Curso Superior de Medicina do Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde Do Piauí (FAHESP) – Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (IESVAP). E-mail: josejrfarmaceutico@gmail.com