PLANO DE INTERVENÇÃO PARA IMPLEMENTAÇÃO DO PRÉ NATAL ODONTOLÓGICO NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE CEDRAL-MA

INTERVENTION PLAN FOR IMPLEMENTATION OF DENTAL PRENATAL CARE IN THE FAMILY HEALTH STRATEGY IN THE MUNICIPALITY OF CEDRAL-MA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202506182117


Fernanda Caroline Leite Dias Moraes1
Gabriella Borges Lima Santos1
Suene Teixeira Jansen França1
Karime Tavares Lima da Silva2


Resumo

A gravidez representa uma fase singular e valiosa no ciclo de vida de uma mulher, marcada por uma série de transformações complexas e interligadas. Durante esse período, ocorrem mudanças emocionais significativas, desencadeadas por fatores hormonais e psicológicos, que moldam a experiência da gestante. Dada a importância do pré-natal odontológico o objetivo deste trabalho é propor um plano de intervenção para a implementação do pré-natal odontológico na Estratégia de Saúde da Família (ESF) do município de Cedral-MA. Sendo assim é essencial estabelecer um compromisso efetivo com os programas existentes para garantir a ampliação do acesso e a qualidade da assistência odontológica no pré-natal. Para implementar o pré-natal odontológico em Cedral, propomos um plano de intervenção que inclui a capacitação contínua dos profissionais de saúde, especialmente aqueles atuantes na Estratégia de Saúde da Família (ESF). Essa capacitação deve incluir treinamentos sobre a importância da saúde bucal durante a gestação e abordagens seguras para o atendimento às gestantes. Assim concluímos a literatura revisada destaca que a saúde bucal durante a gestação não pode ser negligenciada, pois tem implicações diretas no bem-estar materno e perinatal.

Palavras-chave: Cuidado pré-natal. Saúde bucal. Serviços de saúde materna

Abstract

Pregnancy represents a unique and valuable phase in a woman’s life cycle, marked by a series of complex and interconnected transformations. During this period, significant emotional changes occur, triggered by hormonal and psychological factors, which shape the pregnant woman’s experience. Given the importance of dental prenatal care, the objective of this study is to propose an intervention plan for the implementation of dental prenatal care in the Family Health Strategy (ESF) of the municipality of Cedral-MA. Therefore, it is essential to establish an effective commitment with existing programs to ensure the expansion of access and the quality of dental care during pregnancy. To implement dental prenatal care in Cedral, we propose an intervention plan that includes the continuous training of health professionals, especially those working in the Family Health Strategy (ESF). This training should include training on the importance of oral health during pregnancy and safe approaches for caring for pregnant women. Thus, we conclude that the reviewed literature highlights that oral health during pregnancy cannot be neglected, as it has direct implications for maternal and perinatal well-being.

Keywords: Prenatal care. Oral health. Maternal health services.

1 INTRODUÇÃO

A gravidez representa uma fase singular e valiosa no ciclo de vida de uma mulher, marcada por uma série de transformações complexas e interligadas. Durante esse período, ocorrem mudanças emocionais significativas, desencadeadas por fatores hormonais e psicológicos, que moldam a experiência da gestante. Além disso, as alterações comportamentais e físicas também desempenham um importante papel, impactando não apenas a saúde da mãe, mas também a do feto (Botelho et al., 2016).

Um aspecto muitas vezes subestimado é a influência dessas transformações no estado bucal da gestante. As flutuações hormonais podem tornar a gestante mais suscetível a problemas odontológicos, destacando a importância de cuidados em saúde bucal adequados durante a gravidez. Cabe ao cirurgião dentista compreender e abordar essas mudanças de forma detalhada para garantir uma gravidez saudável e bem-sucedida no aspecto da saúde bucal (Pereira et al., 2019).

No contexto da Atenção Primária a Saúde (APS), o atendimento à mulher se dá como uma das principais portas de entrada através do pré-natal e esta inclui a assistência odontológica. Contudo, o acesso aos serviços odontológicos apresenta várias limitações, como o baixo conhecimento das gestantes sobre a importância dos cuidados com a saúde bucal, a falta de profissionais capacitados para oferecer esse tipo de atendimento e estrutura inadequada para a assistência integral e satisfatória (Silva; Santos; Costa, 2020).

Nesse contexto a promoção da saúde bucal da gestante e sua inclusão em programas de atenção odontológica devem ser incorporadas como práticas rotineiras da equipe de Saúde Bucal no Sistema Único de Saúde (SUS). É muito importante que nenhum aspecto relacionado à saúde bucal das gestantes seja negligenciado por parte dos cirurgiões-dentistas, evitando qualquer receio de comprometer a saúde da mãe e bebê (Da Silva et al., 2017).

Manter um diálogo constante com o obstetra e com toda a equipe envolvida no prénatal, combinado com o conhecimento sobre procedimentos seguros apropriados para cada fase da gestação e situação específica da gravidez, proporcionará ao cirurgião-dentista a confiança necessária para prestar cuidados e resolver as principais necessidades em saúde bucal das gestantes. (Cardoso et al., 2021).

Para atender essa demanda, em 2000, o Ministério da Saúde implementou o Programa de Humanização do Pré-Natal e do Nascimento, uma iniciativa destinada a promover o atendimento humanizado baseado no modelo de atenção integral e aprimorar as condições de assistência às gestantes na rede pública de saúde. O principal objetivo desse programa era reduzir a taxa de mortalidade materna e perinatal no Brasil (Andreucci et al., 2015).

Estudo recente indica baixa adesão das gestantes ao pré-natal odontológico, correlacionando a fatores complicadores acerca do acesso ao serviço, os quais são, em sua maioria, relacionados a aspectos socioeconômicos, sociais e culturais (Paglia, 2017)

Portanto o objetivo deste trabalho é propor um plano de intervenção para a implementação do pré-natal odontológico na Estratégia de Saúde da Família (ESF) do município de Cedral-MA, com base nas evidências científicas disponíveis.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Saúde bucal e a gestação

As gestantes frequentemente passam por alterações hormonais e comportamentais que desempenham um papel significativo na sua saúde bucal. Esses são os principais fatores que podem influenciar a condição bucal das mulheres durante a gravidez (Martinelli et al., 2020).

Essas mudanças, por sua vez, aumentam a probabilidade de a gestante enfrentar problemas bucais, com destaque para o desenvolvimento de cárie dentária e a ocorrência de doença periodontal. Esses desafios bucais podem ser mais acentuados durante a gravidez devido às transformações hormonais e comportamentais específicas a esse período (Guimarães et al., 2021). 

A maior suscetibilidade da gestante à cárie dentária está associada a um aumento na frequência de consumo de alimentos, em particular aqueles ricos em açúcares. Essa ingestão, combinada a mudanças nos hábitos de higiene bucal, resulta em um aumento na presença de bactérias cariogênicas na boca e na redução do pH bucal. Quanto aos problemas periodontais, que são comuns durante a gestação, surgem devido às alterações hormonais características desse período. Essas mudanças hormonais levam a uma maior vascularização do periodonto e favorecem o crescimento de cepas bacterianas com maior potencial patogênico (Bernardi et al., 2021).

Na Atenção Primária à Saúde (APS), o cuidado integral e multidisciplinar às gestantes é proporcionado por meio do pré-natal, que também engloba o pré-natal odontológico (PNO) (Saliba et al., 2019). 

Essa prática é prevista pela Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) e envolve o encaminhamento das gestantes para consulta odontológica. Essas consultas incluem, no mínimo, a orientação sobre a possibilidade de atendimento durante a gestação, o exame dos tecidos moles da boca, a identificação de riscos para a saúde bucal, o diagnóstico de lesões de cárie e/ou doença periodontal, bem como a determinação da necessidade de tratamento. Além disso, são fornecidas orientações sobre hábitos alimentares e de higiene bucal, visando à promoção de uma saúde bucal adequada durante a gravidez (Brasil, 2022).

A estrutura das Redes de Atenção à Saúde no que diz respeito a gestação foi desenvolvida como uma estratégia para reorganizar e integrar os serviços de saúde, visando superar a fragmentação do atendimento. Seu principal objetivo é garantir a integralidade do cuidado, promovendo um acesso mais eficiente e coordenado entre os diferentes níveis de atenção (Santos et al., 2025).

 Entretanto, apesar do reconhecido valor do período gestacional, é lamentável que poucas mulheres tenham acesso a orientações e cuidados em saúde bucal durante o acompanhamento pré-natal de rotina (Gonçalves et al., 2020). 

Além disso, a prestação de serviços odontológicos a esse grupo de gestantes representa um desafio, tanto para as próprias gestantes quanto para os profissionais de saúde. Essa situação é frequentemente cercada por mitos e crenças equivocadas, o que pode criar barreiras para a obtenção de atendimento odontológico adequado durante a gravidez. (Pereira et al., 2019). 

Nesse contexto, a assistência odontológica à gestante deve ser integrada entre os diferentes níveis de cuidado, baseando-se em abordagens educativas, preventivas e reabilitadoras. Essa integração visa garantir um acompanhamento contínuo e eficaz, promovendo a saúde bucal da gestante e contribuindo para o bem-estar geral durante o período gestacional (Martinelli et al., 2020).

2.2 Pré-natal odontológico no âmbito do SUS

As consultas odontológicas durante a gestação desempenham um papel muito importante na promoção da educação em saúde tanto para as gestantes quanto para seus futuros bebês. Durante a gravidez, as mulheres estão naturalmente mais focadas no autocuidado, tornando esse um momento ideal para sensibilizá-las e orientá-las sobre a promoção da saúde bucal pessoal e das crianças na primeira infância (Rigo et al., 2016). 

Essas orientações abrangem vários aspectos relacionados tanto à mãe quanto ao bebê, destacando a importância da higienização bucal. Elas visam educar as gestantes sobre a necessidade de manter uma boa higiene oral para si mesmas, prevenindo problemas dentários durante a gravidez. Além disso, enfatizam a importância de estender esses cuidados ao bebê desde os primeiros dias de vida, promovendo a saúde bucal desde o início. Dessa forma, tanto a mãe quanto o bebê podem colher os benefícios de uma higiene oral adequada (Azimi et al., 2018). 

De acordo com De Araújo Souza et al., (2021) o acompanhamento odontológico das gestantes pode proporcionar inúmeros benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê. No entanto, infelizmente, nem todas as gestantes no Brasil têm acesso ao pré-natal odontológico, apesar de a atenção integral à saúde ser uma prioridade durante o período gestacional. É essencial que sejam feitos esforços para garantir que todas as gestantes tenham acesso a cuidados odontológicos adequados como parte integrante do pré-natal, de modo a promover a saúde bucal e o bem-estar geral durante a gravidez.

Municípios com menor cobertura de saúde bucal apresentam maior probabilidade de registrar uma menor proporção de gestantes com atendimento odontológico. Diante desse cenário, é fundamental estabelecer um compromisso efetivo com os programas existentes, garantindo a ampliação do acesso e a qualidade da assistência odontológica no pré-natal (De Fátima Cota et al., 2025).

No Brasil, a Política Nacional de Saúde Bucal estabelece que as gestantes devem ser encaminhadas para uma consulta odontológica assim que iniciam o pré-natal na Atenção Básica em Saúde. A Estratégia Saúde da Família (ESF) tem como um dos seus objetivos prestar cuidados às gestantes ao longo de todo o período gestacional, com o intuito de promover a saúde da mãe e do bebê. Além disso, a ESF oferece orientações sobre os cuidados com o recémnascido e nos meses subsequentes ao nascimento (Gonçalves et al., 2018). 

Nesse contexto, encaixa-se o programa Rede Cegonha que é uma estratégia do Ministério da Saúde criada para fortalecer a atenção materno-infantil no Brasil. Instituído pela Portaria nº 1.459, de 2011, e fundamentado nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), o programa visa garantir assistência adequada às gestantes, parturientes e crianças até dois anos de idade. Suas ações incluem o acompanhamento da gestação, parto e puerpério, além do incentivo ao aleitamento materno e ao desenvolvimento infantil saudável, sempre pautadas nos princípios de acolhimento, acesso e resolutividade dos serviços de saúde (SANTOS et al., 2025).

Nessa perspectiva, a assistência odontológica no pré-natal, no contexto do (SUS), busca garantir um cuidado integral e multidisciplinar às gestantes. (PNO) faz parte dessa abordagem, assegurando o acompanhamento das gestantes por cirurgiões-dentistas. Essa estratégia está prevista na Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), instituída em 2004, que recomenda o encaminhamento das gestantes para consulta odontológica assim que iniciarem o pré-natal na Atenção Primária à Saúde (APS) (De Fátima Cota et al., 2025).

O atendimento odontológico durante a gestação é considerado um indicador da qualidade do acompanhamento pré-natal. Diante disso, o Ministério da Saúde (MS) incluiu a consulta odontológica da gestante entre os critérios avaliados pelo Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB). Em 2019, a “proporção de gestantes com atendimento odontológico realizado” foi estabelecida como um dos indicadores de desempenho do novo modelo de financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS) (Harzheim et al., 2022).

Para fortalecer e consolidar a atenção à saúde bucal durante a gestação, o Ministério da Saúde (MS) lançou, em 2022, o Plano Nacional de Garantia do Pré-Natal Odontológico (PNO) no SUS. Essa iniciativa segue as diretrizes da Prática Clínica Odontológica na Atenção Primária à Saúde (APS), que recomenda a realização de pelo menos uma consulta odontológica durante o pré-natal (Ministério da Saúde, 2022b).

Tal medida está alinhada com as orientações da Rede Cegonha que estrutura a atenção à saúde materno-infantil no país. Além disso, o MS enfatiza a importância da captação precoce das gestantes e da qualificação do atendimento (Ministério da Saúde, 2022a), destacando o papel do cirurgião-dentista em todos os níveis de atenção e no trabalho interprofissional.

Nesse sentido, os cirurgiões dentistas devem se articular, reorientando o processo de trabalho no acompanhamento à gestante, a fim de viabilizar a assistência pré-natal humanizada e de qualidade, efetivando o princípio da integralidade (De Sá et al., 2020).

2.3 Impactos do pré-natal odontológico na vida da gestante

De acordo com Guimarães et al. (2021) o cuidado pré-natal odontológico é de suma importância para as gestantes e é recomendável iniciar assim que a gravidez é detectada, preferencialmente durante o primeiro trimestre. Isso visa estabelecer prontamente hábitos essenciais de higiene bucal e fornecer orientações sobre a dieta ao longo do pré-natal e da gestação. No entanto, é relevante considerar que o cenário ideal seria que as mulheres já mantivessem uma saúde bucal adequada no início da gravidez, favorecendo uma gestação saudável e minimizando a necessidade de intervenções odontológicas durante esse período. O acompanhamento contínuo seria então direcionado para a manutenção da saúde bucal, evitando tratamentos odontológicos significativos durante a gestação.

 Estudos como o de Bernardi et al. (2019) demonstraram o quão se faz necessário o acompanhamento odontológico durante a gestação, quando ele afirma que há evidências que indicam que determinadas alterações podem ocorrer com a saúde bucal das gestantes, especialmente no periodonto, que desempenha um papel fundamental na sustentação e proteção dos dentes. Nas gestantes esses problemas podem ocorrer com maior frequência. Essas mudanças são atribuídas a uma combinação de fatores, incluindo deficiências nutricionais, elevados níveis de estrógeno e progesterona, presença de placa bacteriana e o estado transitório de imunodepressão. 

Nessa perspectiva compreende-se que a maior suscetibilidade à doença periodontal durante a gestação é atribuída às alterações nos níveis dos hormônios sexuais, como estrógeno e progesterona. Esses hormônios parecem influenciar a vascularização do tecido periodontal, resultando no aumento do fluido gengival e do exsudato em casos de inflamação. Além disso, observa-se um aumento nos níveis de periodonto-patógenos, contribuindo para a susceptibilidade a problemas periodontais durante a gravidez (Lopes et al., 2019). 

Embora seja reconhecido como seguro, o tratamento odontológico durante a gestação frequentemente é adiado, tanto pelas gestantes quanto pelos cirurgiões-dentistas e médicos. Provavelmente, mitos, receios e desconhecimento das implicações das condições de saúde bucal na gravidez são os principais motivos para adiar o tratamento, mesmo quando problemas bucais já estão presentes (Bernardi et al., 2021). 

Saliba et al. (2019) em seu trabalho sobre pré-natal odontológico citaram que se deve desmitificar os tratamentos odontológicos, visto que, a prestação de cuidados odontológicos durante a gestação não apenas contribui para a promoção de hábitos saudáveis para a gestante, mas também desempenha um papel fundamental ao trabalhar a importância da amamentação e, por conseguinte, promover o crescimento e desenvolvimento orofacial adequado do bebê. Esse acompanhamento pode ter impactos positivos não apenas na saúde bucal da gestante, mas também na saúde oral do recém-nascido. 

Nesse contexto, fica evidente que a saúde bucal desempenha um papel crucial na vida das pessoas, assumindo uma importância particularmente significativa durante a gravidez, no pós-parto e no desenvolvimento do bebê. A gestação representa uma fase em que os cuidados com a saúde bucal devem ser tratados com maior rigor, dado que a atenção odontológica muitas vezes é negligenciada. Essa negligência pode ter impactos diretos na saúde do bebê (Guimarães et al., 2021). 

No ciclo da atenção à saúde da gestante, a atenção ao pré-natal desempenha funções significativas, incluindo a promoção da saúde, o rastreamento e diagnóstico de doenças, bem como a prevenção de enfermidades (Saliba et al., 2019).

3 METODOLOGIA 

Em relação aos métodos empregados, este trabalho trata-se de uma revisão de literatura narrativa. Para realização deste trabalho foram acessadas as bases de dados eletrônicas da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e da Scientific Electronic Library Online (Scielo), além da plataforma U.S. National Library of Medicine (PUBMED). Uma combinação de termos de busca foi empregada, como “cuidado pré-natal”, “saúde bucal”, e “serviços de saúde materna”, entre outros, garantindo uma busca abrangente.

Os critérios de inclusão são: trabalhos publicados em português ou inglês e totalmente disponíveis em formato eletrônico pertinentes ao assunto e com datas de publicação no período de 2015 a 2025. Os critérios de exclusão são: artigos com duplicidade ou que não estivessem alinhados aos descritores, objetivos, tempo ou a temática estabelecida, além de trabalhos indisponíveis gratuitamente e com texto indisponível na íntegra.

4 DISCUSSÃO

A construção e implantação de um atendimento odontológico efetivo para gestantes em pequenos municípios requer um envolvimento político e multidisciplinar além de uma abordagem que considere as necessidades e desafios enfrentados por essas mulheres, conforme defendido por diversos autores na literatura revisada.

A saúde bucal durante a gestação é um tema que vem ganhando destaque na literatura, uma vez que evidências sugerem que a saúde bucal da gestante pode impactar sua saúde geral e a saúde do bebê (Moraes, 2025).

Segundo Da Silva et al. (2017), é fundamental que os cirurgiões-dentistas estabeleçam um diálogo constante com obstetras, garantindo que a saúde bucal não seja negligenciada durante o acompanhamento pré-natal. Cardoso et al. (2021) corroboram essa ideia ao afirmar que o conhecimento sobre procedimentos seguros para cada fase da gestação é crucial para que os dentistas se sintam confiantes em prestar cuidados adequados às gestantes.

A implementação do Programa de Humanização do Pré-Natal e do Nascimento pelo Ministério da Saúde em 2000 teve como objetivo não apenas humanizar o atendimento, mas também integrar as várias áreas da saúde, incluindo a saúde bucal, no cuidado à gestante (Andreucci et al., 2015).

Apesar dos avanços, Paglia (2017) comenta que ainda existe baixa adesão das gestantes ao pré-natal odontológico, o que pode ser atribuído a diversos fatores socioeconômicos e culturais que dificultam o acesso.

A revisão de literatura destaca a necessidade de compreender essas barreiras, especialmente as que estão enraizadas em crenças e mitos sobre o atendimento odontológico durante a gestação (Pereira et al., 2019).

Gonçalves et al. (2020) também relatam que, mesmo em situações de alta valorização do período gestacional, muitas mulheres não recebem orientações adequadas sobre saúde bucal no pré-natal, evidenciando uma lacuna significativa no atendimento.

A assistência odontológica à gestante deve ser abordada de forma integrada, envolvendo não apenas o tratamento odontológico, mas também a educação em saúde. Isso inclui a orientação sobre práticas de prevenção e cuidados bucais durante a gravidez, conforme destacado por Martinelli et al. (2020). Essa abordagem visa promover a saúde bucal da gestante e, consequentemente, contribuir para a saúde geral da mãe e do feto.

As Redes de Atenção à Saúde, conforme SANTOS et al. (2025), têm sido fundamentais para promover um atendimento mais integral e coordenado às gestantes, porém, ainda há desafios na implementação dessa integração.

De acordo com Lopes et al. (2019), uma questão relevante é a percepção das gestantes em relação ao pré-natal odontológico, que frequentemente não é reconhecido como um componente fundamental do cuidado pré-natal. Essa falta de valorização pode contribuir para a baixa adesão às consultas odontológicas durante a gravidez, comprometendo a saúde bucal das gestantes e, consequentemente, a saúde geral da mãe e do feto.

Para promover uma mudança significativa nesse cenário, é fundamental que os profissionais de saúde, incluindo os cirurgiões-dentistas, invistam em sua capacitação contínua e desenvolvam habilidades para oferecer um atendimento integral, adequado e humanizado, conforme destacado por Harzheim et al. (2022). Isso envolve não apenas a atualização de conhecimentos técnicos, mas também a desenvolvimento de competências em comunicação, empatia e cuidado centrado no paciente. Essa capacitação deve incluir não apenas habilidades técnicas, mas também uma sensibilização para as questões socioculturais que afetam as gestantes.

A literatura também aponta que a integração de práticas educativas é uma maneira eficaz de melhorar a aceitação do pré-natal odontológico (Cardoso et al., 2021).

É fundamental que a equipe de saúde utilize estratégias de comunicação que desmistifiquem crenças errôneas sobre o atendimento odontológico na gravidez, o que pode aumentar a adesão ao serviço (Pereira et al., 2019).

Além disso, estudos como o de Andreucci et al. (2015) sugerem que iniciativas comunitárias podem desempenhar um papel essencial na promoção da saúde bucal durante a gestação. Já Gonçalves et al. (2020) afirmam que a comunicação entre a equipe de saúde e as gestantes pode ser um fator determinante para quebrar barreiras e garantir que elas recebam orientações e cuidados adequados. 

Moraes (2025) ressalta que um plano de intervenção bem estruturado pode contribuir para superar alguns dos desafios enfrentados pelas gestantes ao buscar atendimento odontológico. Já santos et al. (2025) entendem que a articulação entre os serviços de saúde e a realização de campanhas sobre a importância do pré-natal odontológico são práticas recomendadas para aumentar a conscientização, por fim, o incentivo à pesquisa e à formação continuada dos profissionais de saúde pode trazer avanços significativos na implementação do pré-natal odontológico na ESF.

Nessa perspectiva, para efetivar a implementação do pré-natal odontológico no município de Cedral (MA), propõe-se um plano de intervenção que envolva a capacitação contínua dos profissionais de saúde, especialmente aqueles atuantes na ESF.

Essa capacitação deve incluir treinamentos sobre a importância da saúde bucal durante a gestação, abordagens seguras para o atendimento às gestantes e estratégias de comunicação eficaz para desmistificar mitos que cercam o tratamento odontológico nesse período. Além disso, é fundamental desenvolver campanhas educativas que informem as gestantes sobre a relevância do pré-natal odontológico, suas implicações na saúde da mãe e do bebê, e os cuidados preventivos que podem ser realizados durante a gravidez, alinhando-se às diretrizes do Programa de Humanização do Pré-Natal e do Nascimento, do Ministério da Saúde (Martinelli et al., 2020).

Outra vertente do plano deve ser a articulação entre os serviços de saúde locais, favorecendo um trabalho multidisciplinar onde cirurgiões-dentistas, obstetras e outros profissionais da saúde possam colaborar de forma integrada.

 Essa conexão pode ser facilitada por reuniões periódicas entre as equipes, além de criar um fluxo de encaminhamentos claro que assegure que todas as gestantes sejam devidamente atendidas em suas necessidades de saúde bucal. A implementação de grupos de apoio e acompanhamento psicológico pode ser uma estratégia adicional para superar barreiras culturais e emocionais, garantindo que as gestantes se sintam acolhidas e motivadas a participar do prénatal odontológico (Gonçalves et al., 2020)

Com essas ações, objetiva-se incrementar a adesão ao pré-natal odontológico em Cedral-Ma, proporcionando assim um atendimento integral, personalizado e de alta qualidade às gestantes, garantindo sua saúde bucal e geral durante a gravidez.

5 CONCLUSÃO

Concluímos que a saúde bucal durante a gestação é fundamental para o bem-estar materno e perinatal. No entanto, a baixa adesão ao pré-natal odontológico é um desafio. Para superar isso, é necessário implementar o pré-natal odontológico na Estratégia de Saúde da Família, capacitar profissionais de saúde e desenvolver estratégias de comunicação eficazes, promovendo assim a saúde bucal das gestantes e melhorando a saúde geral da mãe e do bebê.

REFERÊNCIAS

ANDREUCCI CB, CECATTI JG. Desempenho de indicadores de processo do Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento no Brasil: uma revisão sistemática. Cad Saúde Pública 2015; 27(6):1053-64

AZIMI S, TAHERI JB, TENNANT M, KRUGER E, MOLAEI H, GHORBANI Z. Relationship Between Mothers’ Knowledge and Attitude Towards the Importance of Oral Health and Dental Status of their Young Children. Oral Health Prev Dent. 2018; 16(3):26570

BERNARDI C, OLIVEIRA JB, MASIERO AV. Assistência odontológica à gestante: conhecimento e práticas de dentistas da rede pública e seu papel na rede cegonha. Arq em Odontol. 2019; 55: e18.

BOTELHO DLL, LIMA VGA, BARROS MMAF, Almeida JRS. Odontologia e gestação: a importância do pré-natal odontológico. SANARE. 2019; 18(2): 69-77.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Saúde da Família. Diretriz para a prática clínica odontológica na atenção primária à saúde: tratamento em gestantes. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Nota técnica nº 3/2022-SAPS/MS. Brasília, 2022.

CARDOSO, Lucas Santana et al. Conhecimento dos cirurgiões-dentistas sobre atendimento odontológico em gestantes. Research, Society and Development, v. 10, n. 1, p. e24510111701e24510111701, 2021.

DA SILVA, Angela Maria Firmino et al. Tratamento odontológico durante a gestação. Caderno de Graduação-Ciências Biológicas e da Saúde-UNIT-ALAGOAS, v. 4, n. 2, p. 125125, 2017. 

DE ARAÚJO SOUZA, Georgia Costa et al. Atenção à saúde bucal de gestantes no Brasil: uma revisão integrativa. Revista Ciência Plural, v. 7, n. 1, p. 124-146, 2021.

DE FÁTIMA COTA, Eliane et al. Saúde bucal na primeira infância: conhecimento de gestantes e sua associação com o risco familiar. Cuadernos de Educación y Desarrollo, v. 17, n. 1, p. e7415-e7415, 2025.

DE SÁ, F. N. N. O.; DE ALMEIDA, M. I.; CÂNDIDO, J. A. B.; VIEIRA, L. B.; DE SOUSA LOPES, N. M. Fatores associados ao acesso à saúde bucal das gestantes na estratégia saúde da família. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 8, p. 62355-62369, 2020

GONÇALVES KF, GIORDANI JMAG, Bidinotto AB, Ferla AA, Martins AB, Hilgert JB. Utilização de serviço de saúde bucal no pré-natal na atenção primária à saúde: dados do PMAQ-AB. Cien Saude Colet. 2020; 25(2): 519-32.

GONÇALVES PM, SONZA QN. Pré-natal odontológico nos postos de saúde de Passo Fundo/RS. J Oral Investig. 2018;7(2):20.

GUIMARÃES, Kelly Alves et al. Gestação e Saúde Bucal: Importância do pré-natal odontológico. Research, Society and Development, v. 10, n. 1, p. e56810112234- e56810112234, 2021.

HARZHEIM, E.; D’AVILA, O. P.; PEDEBOS, L. A.; WOLLMANN, L.; COSTA, L. G. M.; CUNHA, C. R. H. D.; MOURA, L. N.; MINEI, T.; FALLER, L. A. Primary health care for 21st century: first results of the new financing model. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 2, p. 609-617, 2022.

LOPES, I. K. R.; PESSOA, D. M. d. V.; MACÊDO, G. L. d. Autopercepção do pré-natal odontológico pelas gestantes de uma unidade básica de saúde. Ciência Plural, v. 4, n. 2, p. 60-72, 2019.

MARTINELLI, K. G.; BELOTTI, L.; POLETTO, Y. M.; DOS SANTOS NETO, E. T.; OLIVEIRA, A. E. Fatores associados ao cuidado de saúde bucal durante a gravidez. Arquivos de Odontologia, v. 56, 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes para a atenção à saúde bucal no pré-natal. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.

PAGLIA, L. Caring for baby’s teeth starts before birth. Eur J Paediatr Dent. 2017

PEREIRA, A. C.; et al. Relação entre doenças periodontais e complicações obstétricas: uma revisão de literatura. Revista de Saúde Pública, 2019.

PEREIRA, Nadia Capuço et al. Saúde bucal na Rede Cegonha. Archives of health investigation, v. 7, 2019

RIGO L, DALAZEN J, GARBIN RR. Impact of dental orientation given to mothers during pregnancy on oral health of their children. Einstein (São Paulo). 2016; 14(2):219-25.

SALIBA TA, CUSTÓDIO LBM, SALIBA NA, MOIMAZ SAS. Dental prenatal care in pregnancy. RGO, Rev Gaúch Odontol. 2019; 67: e20190061.

SANTOS, Júlia Vitória Andrade et al. As condições do nascer: perfil da saúde materno infantil em indígenas no Amazonas. Observatório de la economía latinoamericana, v. 23, n. 1, p. e8607-e8607, 2025.

SILVA, L. R.; SANTOS, A. F.; COSTA, M. A. Desafios da saúde bucal no pré-natal: uma análise da atenção básica em municípios brasileiros. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, 2020.


1Discente do Curso Superior de odontologia Faculdade Edufor Campus Turu e-mail: fernanda.caroline.leite.dias.moraes@alunoedufor.com.br

2Docente do Curso Superior de odontologia Faculdade Edufor Campus Turu e-mail: karime.silva@edufor.edu.br