REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10214097
Autor: Geisa do Vale Moreira¹
Coautor: Lucas Fernandes Flores Ferraz²
Coautor: Lorrana do Vale Moreira³
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O aleitamento materno é a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil. Permite ainda um grandioso impacto na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e regozijo de toda a sociedade. Se a manutenção do aleitamento materno é vital, a introdução de alimentos seguros, acessíveis e culturalmente aceitos na dieta da criança, em época oportuna e de forma adequada, é de notória importância para o desenvolvimento sustentável e equitativo de uma nação, para a promoção da alimentação saudável em consonância com os direitos humanos fundamentais e para a prevenção de distúrbios nutricionais de grande impacto em Saúde. (BRASIL, 2008).
Segundo o Ministério da Saúde (MS), o leite materno é capaz de reduzir em até 13% os índices de mortes de crianças menores que 5 anos. Além disso, confere proteção a algumas doenças como doenças respiratórias e alergias, e evita o risco de desenvolvimento de algumas comorbidades na vida adulta como: hipertensão, dislipidemia e obesidade ( BRASIL, 2009). A proteção vinculada a amamentação em relação a mortalidade infantil é maior quanto menor a criança, sendo a mortalidade em crianças menores que 2 meses não amamentadas 6 vezes maior por causas infeciosas. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000)
A recomendação do MS é a amamentação até os 2 anos de idade ou mais, e de forma exclusiva até os 6 meses. A partir dos seis meses de idade, a alimentação complementar tem a função de prover a criança complemento de nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento saudável. Contudo, um dos problemas mais comuns nessa fase é a desnutrição. (BRASIL, 2015)
Dessa forma, a desnutrição é uma complicação preocupante, visto que prejudica o crescimento e desenvolvimento infantil. Tal situação faz parte do contexto mundial, haja vista que a cada cinco crianças, três não estão recebendo suporte nutricional adequado para crescer (UNICEF, 2019). Tendo em vista essa alta prevalência, as consequências da desnutrição são cada vez mais investigadas na ciência. Ela ocorre principalmente devido à interrupção do aleitamento materno precoce e/ou introdução alimentar de maneira equivocada pelos familiares nos primeiros dois anos de vida. (PEREIRA, 2017)
De acordo com relatório realizado em 2021 pela ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), mais de 149 milhões de crianças possuem desnutrição no mundo. Essa fragilidade nutricional acarreta prejuízos no crescimento infantil, como é observado no acometimento do desenvolvimento neuropsicomotor, uma vez que a desnutrição na região cerebral pode acarretar deficiências no aprendizado e na elaboração de atividades psicomotoras (Mansur.et 2006). Além dos impactos negativos na vida desses indivíduos, uma má nutrição é um dos fatores responsáveis pela mortalidade infantil. De acordo com estudos, a amamentação abaixo do ideal, resulta em 1,4 milhões de mortes no mundo (Black. et al, 2008).
Dentre as consequências além das mencionadas anteriormente temos aumento de doenças infecciosas, menor aproveitamento escolar e menor capacidade produtiva da vida adulta. (Monteiro et. al, 2009).
Essa situação também se faz presente no Brasil, de modo a colocar em risco a qualidade de vida das próximas gerações e por isso tem-se a necessidade de monitoramento para introdução de medidas interventivas, principalmente em regiões de menor porte. Por isso, a atuação de programas sociais que estimulem o aleitamento materno e a dieta infantil adequada é essencial para a melhoria do perfil nutricional das crianças. Tal incentivo tem relevância principalmente localidades com pequeno número de habitantes, tendo em vista o menor aporte financeiro destinado a esses municípios em comparação as regiões de grande número populacional, de forma que a participação ativa da atenção primária se torna um agente imprescindível para diminuir o problema.
Individualmente, em todas as faixas etárias na Unidade Básica de Saúde (UBS) devem ser realizados: anamnese clínica e nutricional, exame físico detalhado acompanhado das medidas antropométricas, da velocidade de crescimento e avaliação neuropsicomotora. Deve-se também avaliar antecedentes pessoais e familiares, dentre os quais destacam-se a prática de atividade física, horas de sono, consumo de álcool e outras drogas, nível socioeconômico, condições de habitação e saneamento (BRASIL, 2009). Essa anamnese minuciosa é importante na consulta pediátrica da UBS, uma vez que a análise desses dados permitirá ao profissional identificação de fatores de risco bem como diagnóstico de distúrbios nutricionais, possibilitando sua prevenção e seu tratamento precoce. Dessa forma, percebe-se que o acompanhamento efetivo da atenção primária é uma ferramenta essencial na contribuição do pleno desenvolvimento infantil.
Nesse contexto, o projeto de intervenção ocorrerá na Unidade Básica de Saúde de Localizada em área distrital da cidade de Santana do Acaraú, Ceará. A área fica localizada a 10 quilômetros do município.São 664 famílias cadastradas, com um total de 1690 pessoas, em sua maioria vivendo do meio agrícola. Dessas, 100 são crianças de 0 a 5 anos, sendo 32 % de 0 a 24 meses, que será nosso objeto de intervenção.
O município de Santana do Acaraú conta como principal porta de entrada da saúde a UBS, em casos de necessidade de atendimentos na atenção secundária, alguns especialistas atuam na cidade como: ortopedistas, ginecologia e obstetrícia, urologia e oftalmologia. As demais especialidades, é necessário referenciar para região de saúde do município através de uma guia de referência para Policlínica Bernardo Félix da Silva ou Centro de Especialidades Médicas em Sobral.
Para execução do projeto de intervenção será necessário recursos econômicos oriundos de secretaria de saúde para compras de materiais para ordenha de leite materno e folders para capacitação de funcionários e conscientização dos responsáveis. Além disso, recursos organizacionais para organização de visitas domiciliares dos agentes comunitários de saúde e de consultas para enfermeira, médica e nutricionista bem como cognitivos com informações acerca do aleitamento materno, alimentação e estratégia de comunicação.
2. OBJETIVO GERAL
Diminuição da desnutrição, em crianças de 0 a 24 meses, em distrito de Santana do Acaraú, Ceará.
2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Conscientização dos responsáveis acerca da importância das consultas de puericultura para detectar anormalidades do peso e crescimento:
- Aumentar o índice de consultas de puericultura na unidade a fim de realizar intervenção precoce em crianças com quadro de desnutrição;
- Diminuição do abandono precoce da amamentação:
- Estimular o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade;
- Diminuição da desnutrição causada por alimentação mal planejada:
- Orientar as famílias em relação a alimentação infantil, hábitos de higiene e perigos da desnutrição;
3. METODOLOGIA:
Para elaboração do plano de intervenção na comunidade foi realizado um levantamento bibliográfico sobre amamentação e desnutrição infantil. Esse levantamento foi realizado através de pesquisas em sites Scielo e Pubmed, utilizando os seguintes descritores: amamentação, desmame precoce, desnutrição infantil e magreza na infância. Realizada a leitura dos resumos dos artigos, caso fossem selecionados, ocorreria a sua leitura e análise completa sendo utilizados para compor os elementos textuais do trabalho.
O trabalho contempla duas intervenções: Projeto Amamentação e Programa Nutre Criança. O projeto Amamentação objetiva o aumento do aleitamento materno exclusivo em bebês de até 6 meses de vida, através de campanhas de conscientização no posto para gestantes e lactantes, endossando a importância do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida e acompanhamento da agente de saúde na amamentação, tendo maior enfoque no puerpério e retorno da mãe ao trabalho. Será necessário colaboração da agente de saúde da área para as visitas além de médica e enfermeira que atuarão na conscientização e consultas nesse período. Para realização desta ação será necessária aquisição de folhetos educativos para auxiliar na capacitação dos agentes bem como a organização das visitas domiciliares feitas por eles.
O projeto Programa Nutre Criança terá como meta promoção de aumento de cobertura de puericulturas e orientação nutricional as famílias com crianças com desnutrição, isso se dará através de campanha educacional na UBS para os familiares, busca ativa dos agentes de saúde em caso de não comparecimento ao agendamento, realização de visitas multiprofissionais em domicílio para aferição de medidas em pacientes de alto risco e com má adesão à puericultura e consulta de enfermagem, médica e nutricional . Dentre os profissionais envolvidos estarão: ACSs, médica, nutricionista, enfermeira e técnica. Para realização desta ação será necessário aquisição de folhetos educativos para serem utilizados nas reuniões com os responsáveis, além de um colaborador responsável pela organização e marcação de consultas, médica da área, enfermeira e nutricionista do município para realização das consultas.
3.1. Programa Amamentação
O projeto se iniciará com profissionais da unidade, médica e enfermeira dando capacitações com áudio-visual sobre amamentação para Agentes Comunitários de Saúde (ACS) da área, enfocando em benefícios e técnicas de amamentação, técnicas de ordenha e conservação em geladeira. Os encontros ocorrerão durante 1 mês semanalmente em um turno vespertino , após essa fase, esses profissionais irão realizar visitas domiciliares às famílias que possuem crianças com idade até 28 dias, conscientizando os parentes sobre a amamentação e ensinando a técnica correta da amamentação bem como os erros mais comuns. Já em lactentes de 4 a 6 meses, as visitas aos cuidadores, terão o propósito de explicar a importância da manutenção da amamentação nesse período em que a maioria das genitoras retornam ao trabalho. Nessa ocasião, ocorrerá orientação de ordenha e métodos de conservação em geladeira e freezer. Na Unidade Básica de Saúde ( UBS) a enfermeira organizará rodas de conversa com gestantes, incentivando a amamentação, listando seus benefícios e os malefícios da não realização, vantagens e desvantagens do leite não humano, possíveis dificuldades da amamentação e como preveni-las. Além disso, nesse momento as gestantes poderão tirar suas principais dúvidas sobre o assunto. Nesse evento, também será realizado explanação com equipamento áudio- visual e demonstrações em mama de crochê.
3.2. Programa Nutre Criança:
Na puericultura será realizado periodicamente o acompanhamento de peso, estatura, ( Índice de Massa Corporal) IMC e perímetro cefálico, analisando o crescimento e desenvolvimento infantil, atuando na prevenção e diagnóstico precoce de desnutrição. Com a ajuda do ACS, que fará o levantamento de todas as crianças até 2 anos de idade e verificação da regularidade na frequência das consultas de puericultura.
A assiduidade deverá ser no mínimo a recomendada pelo Ministério da Saúde (MS), previsto no Caderno de Atenção Básica -Saúde da Criança: crescimento e desenvolvimento. São, no mínimo, sete consultas no primeiro ano de vida (1ª semana, 1º mês, 2º mês, 4º mês, 6º mês, 9º mês e 12 º mês), no segundo ano, serão realizadas duas consultas semestrais. Em caso de falta de assiduidade, o profissional realizará a conscientização da importância do programa para familiares responsáveis e marcará consulta de rotina. O programa será coordenado pela médica da unidade que ficará a cargo de fiscalizar o comparecimento da consulta. Durante as consultas de puericultura, as crianças de 0 a 24 meses serão classificadas de acordo com índice de Massa corpórea (IMC), com base na classificação da Caderneta da Saúde da criança (FIG. 1). As crianças que forem classificadas em: magreza (Escore z > -3 e < -2) e magreza acentuada (Escore z < – 3) terão maior quantidade de consultas de puericulturas mensais (FIG. 2). Além disso, seus responsáveis serão convidados a participarem de palestras sobre desnutrição infantil e suas repercussões na saúde da criança e oficinas sobre alimentação com intuito de ensinar aos cuidadores preparos de alimentação nutritiva utilizando vegetais disponíveis na região, uma vez que a maioria das famílias vivem da agricultura e ensinando a consistência correta da comida na introdução alimentar. Os eventos acontecerão na unidade e contará com o apoio da enfermeira e nutricionista da cidade. O segundo passo seria o acompanhamento das crianças pelo ACS entre os intervalos das consultas. A importância desse profissional se dá por pertencer ao local, contribuindo para diminuir eventuais resistências da comunidade. Nas visitas domiciliares, serão realizadas pesagens, aferição de altura e orientação a situação vacinal e a alimentação adequada.
A avaliação da intervenção será realizada em consultas mensais alternadas entre médica e nutricionista, utilizando como método da avaliação o IMC nas curvas da Caderneta da Criança. Ademais, a nutrição ficará também responsável por fazer cardápio adaptado para cada paciente durante as consultas, que as famílias deverão seguir.
QUADRO 1: INTERVENÇÃO NA DESNUTRIÇÃO DE CRIANÇAS DE 0 A 24 MESES EM DISTRITO DE SANTANA DO ACARAÚ.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS | METAS | AÇÕES | RESPONSÁVEIS | RECURSOS |
– Aumento da cobertura em consultas de puericulturas; -Orientação Nutricional às famílias; | – Aumento da frequência em consultas de puericulturas; – Diminuição da desnutrição infantil devido a erros alimentares; | – Campanha educacional no posto de saúde; -Busca ativa dos Agentes (ACS) Comunitários de Saúde; – Realização de visitas multiprofissionais em domicílio para pesagem, verificação de altura e IMC em pacientes de alto risco e com má adesão á puericultura; – Consulta com profissional nutricionista para pacientes desnutridos; | – ACS, médica, enfermeira e técnica; | – Aquisição de folhetos educativos para serem utilizados nas reuniões; – Responsável para marcação e organização de horários de consultas agendadas; |
– Aumento do aleitamento materno | – Aumento do aleitamento materno exclusivo em bebês até os 6 meses de vida; | -Campanha de conscientização no posto para gestantes e lactantes endossando a importância do AME até os 6 meses de vida; -Acompanhamento da agente de saúde na amamentação, com maior enfoque no puerpério e no retorno da mãe ao trabalho; | – Agente de Saúde, médica e enfermeira; | – Aquisição de folhetos educativos; – Organização de visitas domiciliares pela agente de saúde; |
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos dados analisados, fica evidente que a desnutrição infantil é um problema de saúde pública que merece discussão em cenário nacional. Tendo em vista sua relevância, o trabalho aqui proposto tem como objetivo reduzir a desnutrição em crianças de até 2 anos de idade no distrito de Sapó, a partir da implementação de projetos que visam estimular a amamentação, por meio de uma rede de apoio ás genitoras e o acompanhamento do desenvolvimento infantil mais efetivo, para a monitorização do crescimento. Portanto, coma melhoria do suporte nutricional, espera-se obter uma redução no número de hospitalizações por desnutrição e assim reduzir a morbimortalidade.
Desse modo, o envolvimento efetivo da atenção primária com a população do distrito no âmbito nutricional pode resultar no desenvolvimento infantil adequado, e com isso garantir uma qualidade de vida as crianças da região.
5. REFERÊNCIAS
BLACK RE, Allen LH, Bhutta ZA, Caulfield LE, de Onis M, Ezzati M, Mathers C, Rivera J; Maternal and Child Undernutrition Study Group. Maternal and child undernutrition: global and regional exposures and health consequences.Lancet. 2008 Jan 19;371(9608):243-60. doi: 10.1016/S0140-6736(07)61690-0. PMID: 18207566.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamentoe Atenção Básica. Brasília: Ed. do Ministério da Saúde, 2009.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança : crescimento e desenvolvimento. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012.
MANSUR SS, NETO FR. ol. 10 No. 2, 2006. Desenvolvimento
Neuropsicomotor de Lactentes Desnutridos 185. Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 185-191. ISSN 1413-3555.
Monteiro et al. Causas do declínio da desnutrição infantil no Brasil, 1996-2007. Rev Saúde Pública. 2009; 43 (1): 35-43.
Pereira, M. A. F. (2017). Promoção da saúde alimentar no enfrentamento à desnutrição infantil no município de Curralinhos, Piauí. 2017, p. 8 .
UNICEF. Situação Mundial da Infância 2019. UNICEF Office of Global Insight and Policy.ISBN: 978-92-806-4999-4.
6. ANEXOS
FIGURA 1: CADERNETA DA CRIANÇA, 2020
FONTE: BRASIL, Ministério de Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Coordenação de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, 2020;
FIGURA 2: GRÁFICO DE IMC PARA IDADE 0 A 2 ANOS
FONTE: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. Secretaria de Atenção à Saúde, 2012.
¹ Universidade Federal do Ceará. Email: geisadovale93@gmail.com
² Universidade Federal de Juiz de Fora. Email: lukas-450@hotmail.com
³ Universidade Federal do Ceará. Email: lorranadovale22@gmail.com