Family planning and contraception methods: an
integrative literature review
REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10373058
Jéssica Pessoa Rodrigues1
Keyla Luany de Souza Corrêa Lima2
Marileusa Pantoja Marques3
Amanda Bezerra Carvalho4
Anne Cristine Gomes de Almeida5
Introdução: O planejamento familiar é um aglomerado de ações para educação em saúde que oferecem acompanhamento e informação, além da oferta de métodos e técnicas para concepção e a anticoncepção em um contexto de livre escolha. A orientação farmacêutica contribui para uma melhor qualidade de vida, garantindo uma eficaz terapia medicamentosa, promovendo atendimento humanizado, personalizado e científico. Objetivos: Analisar o planejamento familiar e os métodos contraceptivos disponibilizados no Brasil; apontar os fatores que podem interferir na execução do planejamento familiar; apresentar os riscos associados ao uso indiscriminado da pílula do dia seguinte; destacar a importância farmacêutica na orientação dos métodos contraceptivos. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Foram incluídos artigos científicos que abordem o planejamento familiar e os métodos contraceptivos no Brasil. As buscas literárias foram realizadas através das plataformas digitais científicas (SCIELO, LILACS, BVS e PUBMED), onde as publicações deverão ser entre os anos de 2015 e 2023. Resultados: Os estudos evidenciaram que o planejamento familiar bem estruturado é eficaz para controle populacional. No Brasil, os métodos contraceptivos disponibilizados incluem pílulas anticoncepcionais, preservativos masculinos e femininos, dispositivos intrauterinos (DIU), implantes hormonais, entre outros. A idade, saúde física e mental, estabilidade financeira, apoio social, valores pessoais e culturais, acesso a métodos contraceptivos e preferências individuais são fatores que podem interferir no planejamento familiar. Além disso, a utilização descontrolada da pílula do dia seguinte e inúmeros abortos induzidos contribuem para taxa de mortalidade materna, traumas psicológicos, disfunções hormonais, dentre outras situações indesejadas. A atuação farmacêutica é essencial para promoção da saúde e controle reprodutivo, através dessas orientações profissionais mulheres e homens podem escolher pelo método mais eficaz de contracepção. Conclusão: Concluiu-se que é importante o planejamento familiar para prevenção de situações gravidez indesejada. O profissional farmacêutico possui a capacidade de dar assistência adequada aos usuários de métodos contraceptivos, orientando-os sobre os riscos e benefícios destes.
Palavras-chave: Planejamento familiar; Anticoncepção; Assistência farmacêutica.
ABSTRACT
Introduction: Family planning is a cluster of health education actions that offer monitoring and information, in addition to offering methods and techniques for conception and contraception in a context of free choice. Pharmaceutical guidance contributes to a better quality of life, ensuring effective drug therapy, promoting humanized, personalized and scientific care. Objectives: Analyze family planning and contraceptive methods available in Brazil; point out the factors that may interfere with the execution of family planning; present the risks associated with the indiscriminate use of the morning-after pill; highlight the pharmaceutical importance in guiding contraceptive methods. Methodology: This is an integrative review of the literature. Scientific articles that address family planning and contraceptive methods in Brazil were included. Literary searches were carried out through scientific digital platforms (SCIELO, LILACS, BVS and PUBMED), where publications should be between 2015 and 2023. Results: The studies showed that well-structured family planning is effective for population control. In Brazil, the contraceptive methods available include contraceptive pills, male and female condoms, intrauterine devices (IUDs), hormonal implants, among others. Age, physical and mental health, financial stability, social support, personal and cultural values, access to contraceptive methods and individual preferences are factors that can interfere with family planning. Furthermore, the uncontrolled use of the morning-after pill and numerous induced abortions contribute to maternal mortality rates, psychological trauma, hormonal dysfunctions, among other unwanted situations. Pharmaceutical action is essential for promoting health and reproductive control. Through these professional guidelines, women and men can choose the most effective method of contraception. Conclusion: It was concluded that family planning is important to prevent unwanted pregnancy situations. The pharmaceutical professional has the ability to provide adequate assistance to users of contraceptive methods, advising them about their risks and benefits.
Keywords: Family planning; Contraception; Pharmaceutical care
INTRODUÇÃO
O cuidado com a anticoncepção é algo presente na humanidade há muito tempo. Civilizações antigas utilizavam variados métodos para tentarem impedir a gravidez. Esses cuidados contribuíram para evolução desses métodos além de criar outros procedimentos anticoncepcionais com o avanço científico (Siqueira; Alves Filho, 2022).
O planejamento familiar é um aglomerado de ações para educação em saúde que oferecem acompanhamento e informação, além da oferta de métodos e técnicas para concepção e a anticoncepção em um contexto de livre escolha. Esse planejamento é considerado como um sistema de orientação e suporte às famílias (Mozzaquatro; Arpini, 2017). Brandt, Oliveira e Burci (2018) corroboram ressaltando que o planejamento familiar auxilia no controle do quantitativo de filhos e em que momento é a melhor ocasião para concepção, utilizando de métodos contraceptivos para que seja evitado uma gravidez indesejada.
Os métodos de contracepção podem ser classificados em reversíveis e irreversíveis. Os métodos irreversíveis são considerados definitivos, onde a concepção não será mais possível, podendo ser realizada tanto em homens quanto em mulheres, já os métodos reversíveis são considerados temporários, pois a mulher poderá engravidar se deixar de utilizá-los (Brandt; Oliveira; Burci, 2018).
Um outro método citado por Rebelo et al., (2021) é a contracepção de emergência (CE). É conhecido como pílula do dia seguinte ou mesmo anticoncepcional pós-coito que, na maioria das vezes, tem como finalidade prevenir a gravidez após relação sexual desprotegida. Por ser de fácil acesso, a busca pela CE teve um notável aumento na última década e a maioria das mulheres utilizam esse método como única contracepção, utilizando de forma inadequada.
É importante ressaltar que o planejamento familiar é um programa que também possui diretrizes para orientar e tornar os métodos contraceptivos mais acessíveis. O desconhecimento dos métodos leva a um dos problemas que a população enfrenta hoje, que é a gravidez indesejada e a gravidez precoce, que em muitos casos leva ao aborto inseguro e coloca em risco a vida da mãe e do filho, o que poderia ser evitado usando planejamento familiar e métodos contraceptivos (Siqueira; Watzko, 2018).
De acordo com Silva e Garcia (2019), o índice de gestações indesejadas no Brasil e em outros países que estão em desenvolvimento é alto. Nestes locais estima-se que cerca de 25% dos casos terminam em abortos, realizados em sua grande maioria por meio de procedimentos inseguros, que levam mais de 60 mil mulheres à óbito por ano. Das mães que optam por seguir com a gestação indesejada, há um grande risco da não aceitação da criança e a elevada probabilidade de graves problemas familiares e sociais.
A frequência de uso de contraceptivos tem aumentado tanto em homens quanto em mulheres. Entretanto, a falta de orientações e informações levam a sua utilização de maneira incorreta, pondo em risco a própria saúde com IST’s e/ou elevando a probabilidade de gestações não programadas (Brandt; Oliveira; Burci, 2018). Esta situação justifica a necessidade de estudos que abordem e atualizem sobre essas questões, pois há um constante aumento do índice de uso indevido de contraceptivo sem orientação adequada, cabendo também ao profissional farmacêutico orientar as mulheres e homens por meio de consultas especializadas.
Diante disso, este trabalho teve como objetivo analisar o planejamento familiar e os métodos contraceptivos disponibilizados no Brasil para então apontar os fatores que podem interferir na execução do planejamento familiar, apresentar os riscos associados ao uso indiscriminado da pílula do dia seguinte e do aborto ilegal e destacar a importância farmacêutica na orientação dos métodos contraceptivos.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura.
Foram inclusos neste estudo de revisão integrativa da literatura artigos científicos que abordem o planejamento familiar e os métodos contraceptivos no Brasil. As buscas literárias foram realizadas através das plataformas digitais científicas SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e PUBMED, onde as publicações deveriam ser entre os anos de 2015 e 2023 em língua inglesa ou portuguesa. Os artigos científicos encontrados foram classificados por ordem de ano de publicação e estão presentes na tabela de resultados.
Para realização desta revisão integrativa foram utilizadas seguintes estratégias de buscas: para buscas em língua inglesa a estratégia foi, (“family planning“) AND (“Contraception“) AND (“Pharmaceutical care“); para buscas em língua portuguesa a estratégia utilizada foi, (“Planejamento familiar”) AND (“Anticoncepção”) AND (“Assistência farmacêutica).
Para esta pesquisa foram adotados os seguintes critérios de elegibilidade. Os critérios de inclusão foram: todas as categorias de artigos (original, revisão de literatura, relato de experiência, revisões sistemáticas, etc.) na língua inglesa e na língua portuguesa publicados entre os anos de 2015 e 2023; artigos com textos e resumos completos com disponibilidade para análise; artigos que contenham em seus títulos e/ou resumos os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS):
Planejamento familiar, anticoncepção, assistência farmacêutica. Como critérios de exclusão foram: artigos incompletos, artigos não gratuitos, dissertações; teses e monografias.
A análise dos dados coletados foi realizada em duas etapas: a primeira, de caráter mais descritivo, irá observar o período de produção científica dos artigos, descrição dos textos contidos nos artigos, entre outros fatores. A segunta etapa consistiu na síntese, comparação e discussão dos resultados dos estudos encontrados para esta pesquisa, esta etapa de análise foi realizada em concomitante com o check-list realizado no quadro de seis itens que sintetizam todas as informações dos estudos.
RESULTADOS
O fluxograma representado na Figura 1 a seguir mostra as etapas que esta revisão integrativa seguiu.
Os estudos selecionados foram alocados em um quadro de resultados, cujos itens são autores, ano de publicação, título, abordagem metodológica, objetivo do estudo, resultados e conclusão.
Figura 1. Fluxograma da revisão integrativa no modelo PRISMA. Fonte: Autores
Tabela 1. Resumo dos principais artigos avaliados para esta revisão integrativa
Em 1983, foi lançado pelo Ministério da Saúde o Programa de Saúde da Mulher (PAISM), anunciado como uma nova e diferenciada abordagem da saúde da mulher, e pela primeira vez, o Estado brasileiro propôs de forma oficial, um programa que incluía o planejamento familiar dentre suas ações, ou seja, um programa que visa o controle da reprodução. Porém, o processo pelo qual se constituiu o programa faz dele, ainda hoje, um constante objeto de estudo e discussão (Fonseca; Gomes; Barreto, 2015).
Com o PAISM, a saúde da mulher passou a ser vista em sua integralidade e em todas as fases de seu ciclo vital, dando relevância, a partir de então ao planejamento familiar, englobando a infertilidade e a anticoncepção. O planejamento familiar e a anticoncepção passaram a ser desenvolvidos com o objetivo de oferecer às mulheres os conhecimentos necessários para a escolha e posterior utilização do método anticoncepcional mais adequado, através de ações educativas (Fonseca; Gomes; Barreto, 2015).
O planejamento familiar, conforme a Lei Federal 9.263 de 1996, é direito de todo o cidadão e se caracteriza pelo conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal. Consiste em dar à família o direito de ter quantos filhos quiser, no momento que lhe for mais conveniente, com toda a assistência necessária para garantir integralmente o exercício do direito ao planejamento familiar (Ferreira; Andrade, 2022).
Os métodos contraceptivos podem ser divididos em: comportamentais, baseados nas mudanças que ocorrem no próprio organismo durante o ciclo menstrual; de barreira, onde são utilizados obstáculos químicos ou mecânicos à penetração dos espermatozoides no canal cervical (preservativos masculino e feminino, diafragma, geleias espermicidas); hormonais, que impedem a concepção (pílula, injetável e implante); dispositivo intrauterino (DIU), que impede a fecundação; cirúrgicos ou esterilização (ligadura das trompas e a vasectomia); e contracepção de emergência, método hormonal oral, que deve ser ingerido até 72 horas após a relação sexual desprotegida a fim de evitar a gravidez, conhecido popularmente como pílula do dia seguinte (Parmejiani et al., 2021; Okano; Pellicciotta; Braga, 2022; Siqueira; Alves Filho, 2022).
Atualmente os Serviços de Saúde ofertam métodos contraceptivos a população, com fácil acesso e informações ao casal auxiliando-os na escolha daquele que melhor se adapta a sua realidade, salientando também a importância do conhecimento dos profissionais de saúde que virão a expor essas informações (Brandt; Oliveira; Burci, 2018).
A escolha do método pode ser influenciada por fatores tais como: a história pessoal, vulnerabilidade a infecções de transmissão sexual, condições clínicas, custo e acesso, comunicação com o parceiro, intenções reprodutivas e questões culturais e mitos sobre a contracepção (Santos et al., 2019; Couto et al., 2020; Trindade et al., 2021).
De acordo com os estudos selecionado para esta revisão, foi possível elencar em tópicos os achados relevantes na literatura científica a serem apresentados seguintes.
FATORES QUE PODEM INTERFERIR NA EXECUÇÃO DO PLANEJAMENTO FAMILIAR
O planejamento familiar é compreendido como a regulação da fertilidade e a garantia de direitos de constituição, limitação ou aumento da prole. Faz parte do atendimento integral à saúde da mulher e do homem, e deve ser oferecido por todas as esferas do Sistema Único de Saúde (SUS). Sua implantação requer a organização de práticas educativas e superação de problemas relacionados à oferta de métodos contraceptivos (Santos et al., 2019; Trindade et al., 2021).
Segundo Santos et al., (2019) e Couto et al., (2020), a realização do planejamento familiar promove redução de mortalidade materna e infantil, previne gravidez na adolescência, aumenta o tempo entre uma gravidez e outra, além de evitar o aborto inseguro. Ainda, há evidências de que bebês nascidos com intervalo menor que dois anos têm maior possibilidade de evoluir a óbito no primeiro ano, quando comparados aos nascidos após esse período, mostrando a importância de planejar uma gravidez.
Na pesquisa qualitativa de Pedro et al., (2021), foi constatado que os fatores que podem interferir no planejamento familiar são o nível escolar, situação conjugal e experiência reprodutiva. Essa comprovação veio por conta das 208 puérperas que participaram do estudo onde 65,3% das mulheres que não planejaram a gravidez possuíam baixa escolaridade, 95,6% não tinham companheiro fixo e 74,4% eram multíparas.
O planejamento familiar é influenciado por diversos fatores. A idade, saúde física e mental, estabilidade financeira, apoio social, valores pessoais e culturais, acesso a métodos contraceptivos e preferências individuais são alguns desses fatores. É importante considerar todos esses aspectos ao tomar decisões sobre o planejamento familiar (Fonseca; Gomes; Barreto, 2015; Ferreira; Andrade, 2022).
Segundo informações obtidas nos estudos de Lima, Lima e Silva (2021) e Gozzo (2023), a idade é um fator importante a ser considerado no planejamento familiar. Mulheres mais jovens têm uma fertilidade geralmente maior, enquanto mulheres mais velhas podem enfrentar desafios para conceber naturalmente. Além disso, a idade dos pais pode afetar a saúde e o desenvolvimento do bebê, pois pais mais velhos têm maior probabilidade de ter problemas genéticos e aumentam o risco de complicações na gravidez, como parto prematuro e baixo peso ao nascer.
Outros fatores observados nos estudos de Souza, Borges e Mourão (2018) e Trindade et al., (2021) é a saúde física e mental que também desempenha um papel fundamental no planejamento familiar. É importante garantir que tanto a mulher quanto o homem estejam em boas condições de saúde para conceber e cuidar de um filho. Condições médicas préexistentes, histórico familiar de doenças genéticas e bem-estar emocional devem ser considerados ao decidir ter um filho.
A estabilidade financeira é outro fator significativo apontado Fonseca,Gomes e Barreto (2015) no planejamento familiar. Ter recursos financeiros adequados para sustentar um filho é essencial para garantir seu bem-estar e qualidade de vida. Isso inclui despesas com alimentação, moradia, educação, cuidados médicos e outras necessidades básicas.
O apoio social desempenha um papel importante no planejamento familiar. Segundo Santos et al., (2019) e Okano, Pellicciotta e Braga (2022), ter uma rede de apoio sólida, como familiares, amigos e comunidade, pode oferecer suporte emocional e prático durante a jornada da parentalidade. Além disso, ter acesso a programas de apoio governamentais ou comunitários pode ser benéfico para garantir recursos adicionais e assistência quando necessário.
Os valores pessoais e culturais também têm influência no planejamento familiar. Crenças religiosas, visões sobre o papel da família na sociedade, preferências individuais em relação ao tamanho da família e outros aspectos culturais podem orientar as decisões sobre a concepção e criação de filhos (Pedro et al., 2021).
RISCOS ASSOCIADOS AO USO INDISCRIMINADO DA PÍLULA DO DIA SEGUINTE
O anticoncepcional de emergência (AE) é indicado para emergências após sexo desprotegido, agressão sexual ou falha contraceptiva. Porém, o uso deste método tem se tornado comum, sem considerar os malefícios à saúde da mulher causados pelo uso indiscriminado, como o câncer de mama e de colo de útero, que também pode causar infertilidade. (Silveira; Santos; Morais, 2022).
A procura pelo AE e u uso incontrolável aumentaram significativamente nos últimos anos. Isso pode ser justificado pela facilidade de compra deste método contraceptivo em farmácias e pela não necessidade de prescrição médica para obtê-los. Devido à fácil disponibilidade desse medicamento, muitas mulheres utilizam essa pílula como único método contraceptivo, que se caracteriza pelo uso irracional. (Brandão et al., 2016; Silveira; Santos; Morais, 2022).
Os AE a base de levonorgestrel não possuem tantos efeitos colaterais quando comparados com outros contraceptivos de emergência. Porém, as reações mais comuns são alterações no ciclo menstrual, náuseas, tonturas, depressão, sensibilidade mamária, vômitos, diminuição da libido, dor de cabeça, etc. O uso descontrolado deste medicamento pode causar ciclos menstruais alterados e mudanças significativas na fertilidade e, nos casos mais graves, a infertilidade (Silveira; Santos; Morais, 2022).
Segundo Silveira, Santos e Morais (2022), essa prática representa um problema de saúde pública, pois expressa diversos aspectos negativos, como efeitos colaterais, reações alérgicas, intoxicações, podendo retardar o diagnóstico de alguma patologia. No Brasil, cerca de 35% dos medicamentos vendidos, prescritos ou distribuídos são utilizados de forma inadequada, e cerca de 20 mil pessoas morrem por causa disso todos os anos.
Ainda sobre o estudo de Brandão et al. (2016) envolvendo balconistas de farmácias, ficou evidente a preocupação destes profissionais em relação ao efeitos do uso indevido e constante da pílula do dia seguinte, pois eles a definem como uma “bomba hormonal”, em alusão aos seus efeitos explosivos e destrutivos a longo prazo.
Além do uso descontrolado de AE, os abortos inseguros aumentam a taxa de mortalidade materna, as crianças nascem muitas vezes em lares desestruturados, causando traumas mentais, abuso sexual e outras situações não desejadas. (Madeiro; Rufino, 2017).
A criminalização do aborto reforça as desigualdades sociais e aumenta a vulnerabilidade às suas complicações, inclusive às mortes, atingindo preferencialmente mulheres negras, jovens, de baixa escolaridade, sem companheiro, estudantes ou trabalhadoras domésticas (MADEIRO; RUFINO, 2017).
Nos estudos encontrados nessa revisão, o aborto foi induzido predominantemente através do uso isolado do misoprostol por via oral ou vaginal. Houve relatos de uso de chás de boldo, canela e buchinha na tentativa de também interromper a gravidez (Borges et al., 2015; Madeiro; Diniz, 2015; Madeiro; Rufino, 2017; Ferrari; Peres, 2020).
Madeiro e Diniz (2015) em seu estudo envolvendo 39 mulheres profissionais do sexo de três cidades do Brasil, constataram que após o uso do misoprostol, 22 mulheres apresentaram sangramento vaginal e/ou dor abdominal. Ainda evidenciaram que estas mulheres, que não tinham experiência anterior com aborto medicamentoso, aprenderam a usar o misoprostol com balconistas de farmácia, vendedores clandestinos ou com outras profissionais do sexo.
O aborto induzido é um assunto complexo e controverso na literatura. Existem diversos estudos que abordam os motivos que levam as mulheres a optarem pelo aborto induzido, como questões socioeconômicas, falta de suporte emocional, gravidez indesejada, problemas de saúde, entre outros. No entanto, é importante ressaltar que as motivações podem variar de acordo com cada caso individual (Borges et al., 2015; Madeiro; Diniz, 2015).
Na área do aborto, é comum encontrar relatos sobre julgamento moral, atraso no procedimento de curetagem e falta de controle adequado da dor no atendimento diário. O atendimento inicial institucional é descrito como um momento tenso e de muito medo pelas mulheres, inclusive pela possibilidade de “descobrirem o comprimido na vagina” (Madeiro; Rufino, 2017).
No estudo de Madeiro e Rufino (2017) foram reveladas práticas discriminatórias em mulheres que procuraram o hospital por complicações de aborto induzido (como julgamento moral), tratamento não digno (ameaças de denúncia à polícia, uso de linguagem ríspida e grosseira e internação conjunta com puérperas), negligência (longa espera para realização do esvaziamento uterino), ausência de consentimento (procedimentos médicos realizados sem explicação), além de violação da privacidade e confidencialidade (entrevista e exame físico realizados com outras pacientes).
Ainda sobre o mesmo estudo, as narrativas de ameaça de denúncia à polícia são perturbadoras, convertendo o cenário do serviço de saúde, que deveria ser acolhedor, em espaço de ameaça para as mulheres. A enunciação, pelos profissionais, de que as mulheres cometeram um “assassinato”, um “crime” ou “um pecado contra a sociedade” foi descrita por elas como uma situação de intenso sofrimento (Madeiro; Rufino, 2017).
IMPORTÂNCIA FARMACÊUTICA NA ORIENTAÇÃO DOS MÉTODOS CONTRACEPTIVOS
Os farmacêuticos têm demonstrado maior atenção e interesse em cuidados de saúde sexual e reprodutiva, domínio que ainda carece de participação ativa da profissão de farmácia. Reconhecer e atender às necessidades das pessoas em saúde sexual e reprodutiva são tão importantes quanto fornecer assistência farmacêutica em outras disciplinas. A saúde sexual e reprodutiva não deve ser negligenciada pela profissão da farmácia, pois se expande de seu papel tradicional de dispensação para serviços mais centrados no paciente (Silva; Pinto, 2021).
Os mesmos autores do parágrafo anterior afirmam que que entre as diversas atribuições do farmacêutico, a orientação em relação à farmacoterapia favorece a qualidade de vida e eficácia na terapia medicamentosa. Isso tudo faz com que o farmacêutico seja o profissional de saúde mais indicado e preparado para a orientação quanto ao uso de medicamentos contraceptivos.
Silveira, Santos e Morais (2022) corroboram dizendo que A atenção farmacêutica define-se como uma importante ferramenta de assistência à saúde que previne a recorrência de doenças e automedicação. A intervenção farmacêutica possibilita o uso racional farmacológico através do conhecimento da eficácia e segurança. A assistência farmacêutica é um serviço profissional onde o farmacêutico desempenha um papel primordial na relação “clientemedicamento”, ajudando-o a escolher a medicação ideal.
A assistência farmacêutica é fundamental para reduzir problemas relacionados à automedicação, pois este profissional possui conhecimento técnico para orientar o consumidor na administração farmacológica. (Fonseca; Gomes; Barreto, 2015).
Segundo Ferreira e Andrade (2022) é papel do farmacêutico mostrar às pacientes, que fazem uso prolongado (ou até mesmo de curto prazo) de algum método contraceptivo hormonal, o que este medicamento pode causar. Os autores ainda afirmam que como agentes de saúde, os farmacêuticos devem oferecer o método mais seguro, que não cause tantos danos à saúde da mulher, usado não só na prevenção de gravidezes não planejadas, mas na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis também.
O profissional farmacêutico desempenha um papel fundamental no planejamento familiar, pois é responsável por orientar e fornecer informações sobre métodos contraceptivos, ajudando as pessoas a fazer escolhas seguras e adequadas para o controle da fertilidade (Fonseca; Gomes; Barreto, 2015).
O farmacêutico atua na educação sexual por meio da orientação sobre métodos contraceptivos, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, saúde reprodutiva e promoção da sexualidade saudável (Silva; Pinto, 2021). Eles podem fornecer informações precisas, tirar dúvidas, oferecer aconselhamento e recomendar produtos adequados às necessidades individuais. Além disso, podem realizar campanhas educativas e participar de programas de conscientização em escolas e comunidades (Ferreira; Andrade, 2022).
CONCLUSÃO
Foi possível observar que a implantação do planejamento familiar requer a organização de práticas educativas e a superação de desafios relacionados à oferta de métodos contraceptivos.
Mais estudos nessa temática se fazem necessários para que possam mostrar um planejamento familiar com estratégias eficazes, sem uso de meios contraceptivos indiscriminados e/ou realização de abortos induzidos, evitando colocar em risco a saúde materna e do feto, além de mais estudos mostrando a importância da atuação farmacêutica nessa questão.
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1Acadêmica de Farmácia. Centro Universitário FAMETRO Endereço: Av. Constantino Nery, 3204 Chapada, Manaus – AM, 69.050-000 Email: jessypeople7@gmail.com
2Acadêmica de FarmáciaCentro Universitário FAMETROEndereço: Av. Constantino Nery, 3204Chapada, Manaus – AM, 69.050-000Email: Keylaluany18@gmail.com
3Acadêmica de Farmácia.Centro Universitário FAMETRO Endereço: Av. Constantino Nery, 3204– Chapada,Manaus – AM, 69.050-000Email:marileusamarques@hotmail.com
4Professora Mestre.Centro Universitário FAMETROEndereço: Av. Constantino Nery, 3204– Chapada, Manaus – AM, 69.050-000Email:amanda.carvalho@fametro.edu.br
5Professora Doutora.Centro Universitário FAMETROEndereço: Av. Constantino Nery, 3204– Chapada, Manaus – AM, 69.050-000Email: anne.almeida@fametro.edu.br