PLANEJAMENTO ESCOLAR: UMA REALIDADE OU MERA UTOPIA?

SCHOOL PLANNING: A REALITY OR MERE UTOPIA?

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10521062


Elen Aparecida Nunes Barbosa1, Idemar Magalhães dos Passos2, Luiz Carlos Ferreira3


RESUMO

O plano de ensino que norteará o trabalho docente visa dentre outros, o desenvolvimento das competências escolares do aluno, buscando a previsão global para as atividades de determinada disciplina durante o período do curso, sendo semestral ou anual; Objetivando o embasamento das contextualizações que refletem acerca do processo legitimo na elaboração dos planejamentos que concebemos na contemporaneidade a partir das novas pedagogias de ensino como planos, os processos estruturais em sua construção e o que alguns teóricos/estudiosos apontam acerca deles.

Palavras-chave: educação; planejamento; aprendizagem; disciplina;

SUMMARY

The teaching plan that will guide the teaching work aims, among others, at developing the student’s academic skills, seeking a global forecast for the activities of a given subject during the course period, whether semesterly or annually; Aiming to support the contextualizations that reflect on the legitimate process in the elaboration of the plans that we conceive in contemporary times based on new teaching pedagogies such as plans, the structural processes in their construction and what some theorists/scholars point out about them.

Keywords: education; planning; learning; discipline;

INTRODUÇÃO

Para dar embasamento as contextualizações que refletem acerca do processo legitimo na elaboração dos PLANEJAMENTOS que concebemos na contemporaneidade a partir das novas pedagogias de ensino como PLANOS, faremos uma prévia definição do que são eles, os processos estruturais em sua construção e o que alguns teóricos/estudiosos apontam acerca deles.

O plano de ensino que norteará o trabalho docente visa também no desenvolvimento das competências escolares do alunado. Além disso, ao elaborá-lo professor deve se questionar: O que eu quero que meu aluno aprenda? Quais ferramentas de ensino devo aplicar na teoria e prática de sala de aula? Para isso, esse documento deve ser norteado pelo perfil do aluno. O planejamento também deve ser elaborado de acordo com as concepções do projeto pedagógico de um curso. O plano de ensino é um tipo de planejamento que busca a previsão mais global para as atividades de uma determinada disciplina durante o período do curso podendo ser de nível de semestralidade ou anualidade. Os professores necessitam considerar o conhecimento do mundo, o perfil dos alunos, para então tratar dos elementos básicos que constituem o plano de ensino.

No processo de construção de um Plano de Ensino ou mesmo de Aulas requer uma reflexão docente e este deve indagar-se, partindo desses pressupostos: 01) O que fazer? 02) Como fazer? 03) Quando fazer? 04) Com que fazer? 05) E com quem fazer? Diante desses questionamentos, o professor detém preliminarmente como construir um planejamento real e dinâmico, não pautando apenas nos aspectos de legalidade, todavia em seu público-alvo.

Agora que já fizemos algumas abordagens acerca da construção de Planos de Trabalhos, sejam de curta, média ou de longa duração, que tal conceituarmos e fazer apontamentos técnicos em conformidade as concepções de alguns estudiosos?

CONCEITUAÇÕES DE ESTUDIOSOS ACERCA DO PLANEJAMENTO/PLANO DE ENSINO

Segundo o que versa Aurélio Buarque de Holanda no dicionário mais popular da Língua Portuguesa no Brasil que é o Aurélio Buarque de Holanda, 2º edição, 1986 o PLANEJAMENTO em termos de significados é:

PLANO – (Do latim planu) projeto ou empreendimento com fim determinado. Conjunto de métodos e medidas para a execução de um empreendimento (…).

PLANEJAR. – V. T. D. 1. Fazer o plano de; projetar; traçar. Um bom arquiteto planejará o edifício. 2. Fazer o planejamento de; elaborar um plano ou roteiro de; programar, planificar: planejar um roubo. 3. Fazer tenção ou resolução de; tencionar, projetar (…).

PLANEJAMENTO – S. M. 1. Ato ou efeito de planejar. 2. Trabalho de preparação para qualquer empreendimento, seguindo roteiro e métodos determinados; planificação: o planejamento de um livro, de uma comemoração (…).

PROJETO – (do lat. Projectu, lançado para diante) S. M. Ideia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro, plano, intento, desígnio. 2. Empreendimento a ser realizado dentro de um determinado esquema. (…).

TURRA (1995), assim define planejamento numa vertente geral e por áreas de usualidade, vejamos:

PLANEJAMENTO: é um conjunto de ações coordenadas entre si, que concorrem para a obtenção de um certo resultado desejado. É um processo que consiste em preparar um conjunto de decisões tendo em vista agir, posteriormente, para atingir determinados objetivos. É uma tomada de decisões, dentre possíveis alternativas, visando atingir aos resultados previstos de forma mais eficiente e econômica.

Planejamento Educacional: é o processo de abordagem racional e científica dos problemas de educação, incluindo definição de prioridades e levando em Conta a relação entre os diversos níveis do contexto educacional.

Planejamento Curricular: é uma tarefa multidisciplinar que tem por objeto a organização de um sistema de relações lógicas e psicológicas dentro de um ou vários campos de conhecimento, de tal modo que se favoreça ao máximo o processo ensino-aprendizagem. É a previsão de todas as atividades que o educando realiza sob a orientação da escola para atingir os fins da educação.

Planejamento do Ensino: é a previsão inteligente e bem articulada de todas as etapas do trabalho escolar que envolvem as atividades docentes e discentes, de modo a tornar o ensino seguro, econômico e eficiente. É a previsão das situações específicas do professor com a classe. É o processo de tomada de decisões bem informadas que visam a racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação ensino-aprendizagem, possibilitando melhores resultados e, em consequência, maior produtividade.

Na visão de FREIRE (1996), não existe docência sem discência, pensamento esse sintetizado e registrado em uma das suas obras pedagógicas “PEDAGOGIA da AUTONOMIA”. Afirma veemente que escola e aluno estão entrelaçados no campo ensino-aprendizagem, pois quem ensina aprende a ensinar e que aprende ensina ao aprender. O planejamento só possui justificação a partir da ação participativa do aluno.

Para Libâneo (1993) o planejamento é um instrumento que sistematiza todos os conhecimentos, atividades e procedimentos que se pretende realizar numa determinada classe e/ou sala de aula.

 Numa perspectiva educacional, Vasconcellos (2000) aborda o conceito de planejar como: “Planejar é antecipar mentalmente uma ação ou um conjunto de ações a serem realizadas e agir de acordo com o previsto. Planejar não é, pois, apenas algo que se faz antes de agir, mas é também agir em função daquilo que se pensa.” (p.79).

Ressalta que o educador deve compreender a relação planejamento-escola-ensino, os objetivos que pretende atingir e possua domínio dos contextos que ministra. A definição de planejamento é algo bem amplo que pode ser explicitado de várias formas sendo que também pode ser compreendido como define Vasconcellos (2000, p. 79):

O planejamento enquanto construção-transformação de representações é uma mediação teórica metodológica para ação, que em função de tal mediação passa a ser consciente e intencional. Tem por finalidade procurar fazer algo vir à tona, fazer acontecer, concretizar, e para isto é necessário estabelecer as condições objetivas e subjetivas prevendo o desenvolvimento da ação no tempo.

Na dinâmica do planejamento educacional, temos que ter uma visão mais ampla e vê-lo como uma ação global de ensino. Assim, pautaremos na definição da estudiosa Joana Coaracy (1972, p. 79) que menciona:

Processo contínuo que se preocupa com o para onde ir e quais as maneiras adequadas para chegar lá, tendo em vista a situação presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da educação atenda tanto às necessidades do desenvolvimento da sociedade, quanto as do indivíduo.

Libâneo (1994, p.222) faz menção da importância da aplicação da metodologia de um planejamento salientando:

A ação de planejar, portanto, não se reduz ao simples preenchimento de formulários para controle administrativo, é, antes, a atividade consciente da previsão das ações político – pedagógicas, e tendo como referência permanente às situações didáticas concretas (isto é, a problemática social, econômica, política e cultural) que envolve a escola, os professores, os alunos, os pais, a comunidade, que integram o processo de ensino.

Pautando no aspecto características majoritárias de um plano de ensino coeso, Ricardo Nervi (1967, p. 56) assim descreve:

COERÊNCIA: as atividades planejadas devem manter perfeita coesão entre si de modo que não se dispersem em distintas direções, de sua unidade e correlação dependerá o alcance dos objetivos propostos.

SEQUÊNCIA: deve existir uma linha ininterrupta que integre gradualmente as distintas atividades desde a primeira até a última de modo que nada fique jogado ao acaso.

FLEXIBILIDADE: é outro pré-requisito importante que permite a inserção sobre a marcha de temas ocasionais, subtemas não previstos e questões que enriqueçam os conteúdos por desenvolver, bem como permitir alteração, de acordo com as necessidades ou interesses dos alunos.

PRECISÃO E OBJETIVIDADE: os enunciados devem ser claros, precisos, objetivos e sintaticamente impecáveis. As indicações não podem ser objetos de dupla interpretação, as sugestões devem ser inequívocas.

Menegola e Sant’Anna (2001, p. 43), explicitam que uma gama de nosso professorado possui resistência e, portanto, não simpatizam como o ato ou objeto de PLANEJAR. Muitos cumprem com a tarefa, para eles árdua, apenas para cumprir com os parâmetros legais e não vislumbrando sua eficácia na vida do educando. Na íntegra as visões explicitadas destes: 

Parece ser uma evidência que muitos professores não gostem e pouco simpatizem em planejar suas atividades escolares. O que se observa é uma clara relutância contra a exigência de elaboração de seus planos. Há uma certa descrença manifesta nos olhos, na vontade e disposição dos professores, quando convocados para planejamento.

Outro mecanismo que temos que atentar-se para o planejamento é que ele deve ser flexível, principalmente no que tange a realidade do trabalho docente, de sua clientela e ambiência educativa. Planejamento rígido, inflexível está fora de cogitação conforme prescreve as novas diretrizes educacionais, principalmente quando mencionamos constantemente o sistema de ensino participativo, dinâmico e democrático. Contudo, flexibilidade não significa FROUXIDÃO. Cuidado e coerência ética em seu ambiente de trabalho são primordiais na funcionalidade dos planos de trabalhos e vivência de aprendizagem discente.

A partir da visão de Vasconcellos (2000, p. 159), ele nos atenta para um ponto importante na flexibilidade dos planos:

Precisamos distinguir a flexibilidade de frouxidão: é certo que o projeto não pode se tornar uma camisa de força, obrigando o professor a realizá-lo mesmo que as circunstâncias tenham mudado radicalmente, mas isto também não pode significar que por qualquer coisa o professor estará desprezando o que foi planejado.

E concluindo este estudo que descreve a importância do ato de planejar em todas as esferas de um Estabelecimento Educacional, assim como em outras esferas de nossa vida cotidiana, analisaremos outro conceituado estudioso que possui inúmeros estudos publicados e abordagens com focalização no Planejamento e na Avaliação. 

LUCKESI (1992) entende o planejamento como um ato pelo o qual decidimos construir. Não sendo um ato apenas de cunho técnico, também não deve ser encarado como um ato meramente político-filosófico. Não basta pensar nos meios e bases tecnológicas. Para ele, planejar deve extrapolar os níveis educacionais curricular e de ensino ultrapassando as questões técnicas e integrar a dimensão político-social.

O professor enquanto um personagem fomentador de ideias na educação requer sempre aptidão no que tange a quebra de rotinas e paradigmas em suas vidas pessoais e profissionais e saber fazer individualmente o que muitas vezes foram discutidos na coletividade. É aplicar as tecnologias quando necessário, observando, por exemplo, questões sociais que o alunado são oriundos e as realidades político-social que eles estão inseridos.

Mafalda uma personagem revolucionária, contestadora, inquieta e heroína criada pelo cartunista argentino Quino (1932-2020) busca sempre recusar a comodidade e questiona o mundo visando mudar as realidades sociais. Essa tirinha inserida nesse contexto em abordagem, ilustra muitas realidades que vislumbramos nos GT (Grupos de Trabalhos) e GE (Grupos de Estudos):

CUIDADO…. para não tornarmos uma Mafalda que planejamos nossas tarefas profissionais e, às vezes, não há clareza no seu executar. Não é apenas preocupar no ato de planejar, no entanto, não chegar a lugar nenhum com esse planejamento proposto.

DADOS CONCLUSIVOS

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9.394/96) versa que uma das incumbências do profissional do magistério não é apenas ministrar os dias letivos e as horas aulas conforme prevê alguns dos seus artigos e incisos, porém é função essencial desse indivíduo participar de forma integral das etapas dedicadas ao planejamento, além de participar quando convocado da construção da Proposta Pedagógica institucional, reuniões e outras festividades celebrativas propostas pela escola. Planejar não deve ser uma ação isolada, todavia uma construção coletiva. Outras legislações também prevê o planejamento como uma ação necessária na vida profissional de qualquer cidadão, isto porque o ato de planejar vem desde os primórdios e o praticamos involuntariamente. Um exemplo clássico e que está implicitamente em cada um de nós é quando ao acordarmos e levantarmos tomamos decisões de como será nossa rotina com locais, horários, pessoas que necessitamos encontrar, cumprir uma carga-horária no trabalho… tudo isso é planejamento. Mesmo que não percebamos, estamos a todo instante praticando o ato de planejar, porém como na nossa vida, na escola também há necessidade de planejamento com eficácia e pautando pela responsabilidade, moral e ética. Na escola o planejamento deve pautar pelo viés da postura e do comprometimento coletivo ou individual e o professor como o maestro na execução deste mecanismo de trabalho, deve zelar pela polidez de suas ações em seu processo de execução, sendo “rígido” no contexto de manter as etapas previstas quando está nos padrões de funcionalidade e flexível as mudanças nos raros momentos que julgar pertinente. Nessa conjuntura, PLANEJAR torna-se um mecanismo de suma fundamentalidade, executar uma tarefa profissional e zelar pela aprendizagem discente um ato de amor e humanidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 9394 – Diretrizes e Base da Educação Nacional. Brasília, 1996. Disponível em: Acesso em abril de 2023.

COARACY, Joana. O planejamento como processo. Revista Educação. 4º Ed., Brasília. 1972.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, pp. 23-28.

HOLANDA, Aurélio Buarque: Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2º Ed. Editora Nova Fronteira. 1986.

LIBÂNEO, José Carlos, Didática. São Paulo. Editora Cortez. 1994.

MENEGOLLA e SANT’ANA, Maximiliano e Ilza Martins. Porque Planejar? Como Planejar? Currículo e Área-Aula. 11º Ed. Editora Vozes. Petrópolis. 2001.

NERVI, J. Ricardo. Introducción. Prólogo. In: PESTALOZZI, Johann H. Como Gertrudis enseña a sus hijos. Buenos Aires: Centro Editor de America Latina, 1967, p. 5-37. Publicação: Série Ideias n. 15. São Paulo: FDE, 1992 p.115-125

TURRA, Clódia Maria Godoy et al. Planejamento de ensino e avaliação. 11a ed. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzatto, 1995.

VASCONCELLOS, Celso dos S: Planejamento Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico Ladermos Libertad-1. 7º Ed. São Paulo, 2000.

FREIRE, Madalena: Plano Municipal de Educação, Anguera. Disponível em:  www.educacaoanguera.ba.gov.br. Acesso em Janeiro de 2024.


1Licenciada em Ciências Biológicas eanb@aluno.ifnmg.edu.br M Sc em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos pela Universidade Santa Cecília

2Professor Orientador do Ensino Médio Integrado ao Técnico em Meio Ambiente (IFNMG) Idemar.Passos@ifnmg.edu.br Drs em Ciências de Alimentos pela UFMG

3Professor Orientador do Curso de Graduação em Licenciatura em Ciências Biológicas (IFNMG) luiz.ferreira@ifnmg,edu,br