PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE OBRAS SUSTENTÁVEIS:  INTEGRANDO SEGURANÇA DO TRABALHO E PRESERVAÇÃO DO MEIO  AMBIENTE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11669986


André Luiz Fernandes da Silva;
Igor Martinelli de Castro;
Orientador: Luiz Fernando Rocha Penna


RESUMO 

O presente trabalho tem como objetivo avaliar os benefícios econômicos, sociais e  ambientais do planejamento e gerenciamento de obras sustentáveis na construção  civil, com foco na integração da segurança do trabalho e da preservação do meio  ambiente, investigando as barreiras e desafios enfrentados na implementação de  diversos modelos utilizados em empresas sustentáveis. A metodologia adotada foi  uma revisão de literatura narrativa com abordagem qualitativa. Os resultados revelam  que a abordagem da sustentabilidade na construção civil envolve diversos  componentes, como a reciclagem de pavimentos e a gestão de resíduos. A reciclagem  de pavimentos oferece vantagens significativas, como a reutilização quase total dos  materiais, resultando em menor consumo de energia e recursos naturais não  renováveis. Além disso, a gestão adequada dos resíduos sólidos, conforme  estabelecido pela legislação, é essencial para conferir sustentabilidade ao processo.  A integração da segurança do trabalho e da sustentabilidade é destacada como  essencial, visto que ambas compartilham os mesmos pilares econômicos, ambientais  e sociais. A adoção de práticas seguras no ambiente de trabalho contribui para  alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável, demonstrando uma estreita  relação entre segurança no trabalho e sustentabilidade. A implementação de  conceitos de construção enxuta e sustentabilidade pode reduzir desafios recorrentes  na construção civil, como a questão ambiental e a ineficácia na produção. A  racionalização dos processos construtivos está intrinsecamente ligada à segurança  do trabalho e à sustentabilidade ambiental, fornecendo uma base sólida para  abordagens que visam melhorar a qualidade de vida presente e futura. 

Palavras-chave: Gerenciamento de Obras. Segurança no Trabalho.  Sustentabilidade. 

ABSTRACT 

The present work aims to evaluate the economic, social and environmental benefits of  planning and managing sustainable works in civil construction, focusing on the  integration of work safety and environmental preservation, investigating the barriers  and challenges faced in the implementation of various models used in sustainable  companies. The methodology adopted was a narrative literature review with a qualitative approach. The results reveal that the approach to sustainability in  construction involves several components, such as pavement recycling and waste  management. Pavement recycling offers significant advantages, such as the almost  total reuse of materials, resulting in lower consumption of energy and non-renewable  natural resources. Furthermore, the adequate management of solid waste, as  established by legislation, is essential to ensure sustainability of the process. The  integration of occupational safety and sustainability is highlighted as essential, as both  share the same economic, environmental and social pillars. The adoption of safe  practices in the workplace contributes to achieving sustainable development  objectives, demonstrating a close relationship between workplace safety and  sustainability. The implementation of lean construction and sustainability concepts can  reduce recurring challenges in construction, such as environmental issues and  production inefficiency. The rationalization of construction processes is intrinsically  linked to occupational safety and environmental sustainability, providing a solid basis  for approaches that aim to improve present and future quality of life. 

Keywords: Construction Management. Safety at Work. Sustainability.

1 INTRODUÇÃO 

A indústria da construção civil desempenha um papel fundamental no  progresso social, sendo responsável pelo fornecimento da infraestrutura necessária  visando a qualidade de vida das pessoas. Porém, esse setor enfrenta importantes  desafios relacionados aos impactos sobre o meio ambiente e à proteção dos  trabalhadores. 

Nos últimos tempos tem havido um crescente reconhecimento da importância  de adotar práticas sustentáveis e garantir um ambiente de trabalho seguro. Para tanto,  é fundamental enfatizar a importância da colaboração de todas as partes envolvidas  na organização da empresa (alta administração, funcionários, consumidores e órgãos  governamentais) para alcançar efetivamente as metas baseadas no conceito de  desenvolvimento sustentável (Chiaretto; Silva, 2020). 

A busca pela sustentabilidade envolve alcançar um ponto de harmonia entre  três pilares essenciais: o ambiental, o econômico e o social. Reconhece-se cada vez  mais a importância das empresas nesse cenário, pois dependem de mercados  estáveis e devem possuir habilidades tecnológicas, financeiras e de gestão para  promover a transição em direção ao desenvolvimento sustentável (Sartori; Latrônico;  Campos, 2014). 

Para isso, é necessário melhorar a comunicação, aumentar a fiscalização,  seguindo as normas regulamentadoras aplicadas pelo Ministério do Trabalho, promover conscientização e divulgar meios que busquem a otimização dos recursos  utilizados pelas empresas com base na sustentabilidade (Chiaretto; Silva, 2020). Na atividade da construção civil, a geração de resíduos sólidos ocorre durante  a construção, demolição e reformas, levando ao descarte de diversos materiais, como  gesso, argamassa, madeira, concreto, tijolos, entre outros. Esses resíduos  representam cerca de metade do total produzido em áreas urbanas no Brasil e em  outros países, o que resulta na presença de aterros clandestinos e depósitos  irregulares em muitas cidades. No âmbito das soluções construtivas que visam  promover a sustentabilidade, há uma variedade de abordagens, algumas focadas na  economia de espaço, outras na seleção de materiais ou na redução da geração de  resíduos (Keeler; Burke, 2010, Ângulo et al., 2011). 

O planejamento e gerenciamento de obras sustentáveis surgem como uma  abordagem estratégica para conciliar a eficiência construtiva com a preservação do  meio ambiente e a segurança do trabalho através dos princípios da Lean Construction (Silva; Mello, 2021). 

Essa abordagem visa, dentro da construção civil, eliminar atividades  desnecessárias, melhorar o produto a partir das necessidades dos clientes, reduzir  inconsistências, diminuir tempo gasto, simplificar os processos e torna-lo mais  transparente, implementar melhorias contínuas, equilibrar otimização do fluxo e  conversação e realizar comparações com melhores práticas (Silva; Mello, 2021). 

Além disso, as pesquisas mostram que a adoção de um sistema de construção  enxuto (Lean Construction) tem benefícios notáveis, particularmente na melhoria da  qualidade, segurança, redução de custos, aumento de produtividade e impacto  ambiental positivo. Segundo Ahmed (2019), ao implementar a construção enxuta, é  possível reduzir de forma significativa os efeitos negativos no meio ambiente. 

A geração excessiva de resíduos sólidos, juntamente com a falta de  infraestrutura e políticas eficientes de gestão, resulta em problemas como a  contaminação do solo e dos recursos hídricos, acúmulo de lixo em áreas públicas,  além de impactos negativos na saúde pública e no meio ambiente. No Brasil, a Política  Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.305/2010, busca estabelecer a  responsabilidade das empresas pelos resíduos sólidos por elas gerados até a sua  destinação final (Camilo et al., 2022). 

Considerando que a indústria da construção civil registra um alto número de  incidentes relacionados à saúde, acidentes e impactos no meio ambiente e possui características únicas que a distinguem de outros setores industriais, é de suma  importância a realização de estudos e pesquisas direcionados a essa área, abordando  especialmente a segurança e o bem-estar dos trabalhadores (Peinado et al., 2019). 

A integração entre segurança do trabalho e preservação do meio ambiente na  construção civil é fundamental para garantir o bem-estar dos trabalhadores e a  sustentabilidade ambiental. Ao considerar aspectos como a prevenção de acidentes  e doenças ocupacionais, a gestão adequada de resíduos, o uso de materiais  sustentáveis e a eficiência energética, é possível obter resultados positivos tanto para  a saúde e segurança dos trabalhadores quanto para a proteção do meio ambiente  (Nunes, 2017). 

Buscou-se relacionar questões que revelam a forma como surgiu a  necessidade de desenvolver práticas construtivas e utilizar novas tecnologias na  construção civil. Destacam-se as dificuldades em mudar padrões e métodos de  construção e alterar a forma como os edifícios são projetados e pensados para reduzir  os danos ao meio ambiente e o modo como a inovação tecnológica, a globalização e  a fabricação de novos produtos mais sustentáveis e menos nocivos à natureza podem  contribuir para o processo de construção do desenvolvimento sustentável (Agopyan;  John, 2011). 

Os desafios desse processo de mudança de paradigma são significativos. Por  meio de pesquisas em livros e artigos científicos, foram identificadas diversas  inovações, nas novas práticas, na integração dos profissionais da construção,  fornecedores e produtores de materiais e nos desafios que devem ser superados para  adotar novos sistemas e visões holísticas da construção. Um novo olhar e uma nova  maneira de agir e planejar pode ajudar, levando assim as técnicas de construção para  o próximo nível e servindo como um veículo para ensinar, aprender e compartilhar  informações. 

Considerando a problemática, este artigo tem como objetivo geral identificar a  correlação entre segurança do trabalho e preservação do meio ambiente na  construção civil. Os objetivos específicos são trazer exemplos de alternativas  sustentáveis na construção civil, apontar os aspectos relacionados à segurança do  trabalho na construção civil e contextualizar os benefícios econômicos, sociais e  ambientais do planejamento e gerenciamento de obras sustentáveis na construção  civil.

2 METODOLOGIA 

No que diz respeito aos procedimentos técnicos, trata-se de uma revisão de  literatura narrativa. A metodologia de pesquisa adotada é qualitativa, permitindo uma  análise para além dos dados quantitativos, requerendo uma interpretação subjetiva  dos significados e sentidos presentes em um contexto específico, como produzidos  por um determinado grupo.  

Esta abordagem é de natureza aplicada, pois busca desenvolver conhecimento  para resolver problemas específicos na prática, direcionando-se para encontrar  respostas em situações particulares.  

O foco deste trabalho são as fontes bibliográficas, artigos eletrônicos,  periódicos e documentos acadêmicos. Os artigos foram escolhidos após uma revisão  inicial dos resumos, com o propósito de comparar os pontos propostos, utilizados e  discutidos por cada autor. Posteriormente, foi realizada uma leitura seletiva dos artigos  para organizar as informações encontradas, seguida de uma análise para destacar os  temas e tópicos mais relevantes, selecionando as informações que melhor atenderiam  aos objetivos da pesquisa de forma abrangente. 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A abordagem a respeito da sustentabilidade no âmbito da construção civil  envolve diversos componentes, considerando a variedade de tipos de obras, com  seus respectivos impactos ao meio ambiente. Um exemplo nesse sentido refere-se às  obras viárias, considerando a construção e manutenção de estradas. Segundo Cunha  et al. (2018), na execução e manutenção de pavimentos, há uma priorização  crescente de materiais e técnicas que visam a sustentabilidade.  

Em meio ao impulso pelo crescimento sustentável, autoridades de gestão estão  explorando soluções ecológicas como alternativas economicamente viáveis e  socialmente aceitáveis. Um exemplo é a prática da reciclagem de pavimentos  existentes, que oferece vantagens significativas, como a reutilização quase total dos  materiais da via restaurada, resultando em menor consumo de energia e recursos  naturais não renováveis (Cunha et al., 2018).  

Diante da crescente importância dessa prática, especialmente diante do  esgotamento dos recursos naturais e da necessidade de evitar a saturação dos locais de despejo de resíduos, a reciclagem de revestimento asfáltico está se tornando uma  medida rotineira (Cunha et al., 2018). Desse modo, faz-se importante a pesquisa e  desenvolvimento relacionados aos materiais adequados aos preceitos de  sustentabilidade, tanto nos pavimentos rígidos quanto nos pavimentos flexíveis. 

Diante da consideração dos princípios de sustentabilidade, é observado que um pavimento é considerado sustentável quando alcança seus objetivos funcionais,  que incluem atender às necessidades básicas humanas, utilizar recursos de forma  eficiente e preservar ou restaurar os ecossistemas ao redor da via (Van Dam, 2015). 

Ressalta-se que um pavimento sustentável deve ser aprimorado em relação ao  seu ciclo de vida, que é prolongado através da implementação adequada de  operações de manutenção. Essas ações estão relacionadas tanto com o fim da vida  útil do pavimento quanto com a produção de novos materiais (Miranda et al., 2009,  Van Dam, 2015). 

Reza e Wilde (2017) afirmam que não só os resíduos provenientes do próprio  pavimento podem ser empregados de forma sustentável na pavimentação, mas  também os materiais podem ser compostos por resíduos da construção e demolição,  que resultam em agregados reciclados de qualidade adequada para serem utilizados  nas obras de pavimentação.  

Destaca-se especialmente o agregado de concreto reciclado, que é  deliberadamente triturado para produzir agregados utilizáveis em aplicações como  sub-base, base ou revestimento asfáltico ou de concreto (Reza; Wilde, 2017). 

Dentre as inovações provenientes de pesquisas direcionadas à  sustentabilidade na construção civil, destacam-se os materiais termoativos. Estes são  concebidos para o isolamento térmico e o armazenamento de energia, fazendo uso  de parafinas microencapsuladas dispersas em revestimentos de reboco. Tal  abordagem possibilita alcançar conforto térmico e diminuir o consumo energético nas  edificações (Octaviano, 2010). 

Outro exemplo é a implementação de coberturas verdes, que consiste na  substituição das tradicionais telhas por vegetação. Essa prática favorece a mitigação  das ilhas de calor urbanas, contribuindo para a redução das emissões de gases do  efeito estufa provenientes de veículos e melhorando a qualidade do ar (Octaviano,  2010). Observa-se, de modo geral, que a busca por iniciativas sustentáveis no âmbito  da construção civil tem como objetivo essencial a melhoria da qualidade de vida presente e futura. Ressalta-se, no entanto, a importância da correlação entre os  elementos intrínsecos à sustentabilidade e a segurança do trabalho na construção. As iniciativas voltadas à sustentabilidade na construção civil envolvem outros  aspectos, como sistemas construtivos industrializados. Um exemplo é o sistema  parede de concreto (Vieira; Silva; Goliath, 2021).  

As investigações na área da construção civil estão cada vez mais direcionadas  para abordagens que visam a produção de concreto de forma sustentável. Um caso  exemplar é mencionado por Vieira e Dal Molin (2004), que sugerem a análise da vida  útil estimada dos agregados reciclados em comparação com os naturais,  demonstrando a viabilidade técnica de sua aplicação. 

O método de construção denominado sistema paredes de concreto exemplifica  adequadamente os objetivos da industrialização na construção e sua atualização.  Estes objetivos não se limitam apenas às técnicas de construção, mas também  abrangem outras atividades, como a integração crescente da tecnologia no  planejamento. Neste contexto, a adoção de sistemas destinados ao controle e  planejamento na construção civil emerge como um dos indicadores da modernização  do setor, notável através de abordagens como o Modelo de Informação da Construção  (BIM – Building Information Model). Conforme descrito por Ruschel, Andrade e Morais  (2013), essa abordagem se concentra na gestão dos aspectos essenciais do projeto  e dos dados relacionados à construção ou empreendimento em formato digital ao  longo de todo o ciclo de vida do edifício. 

O gerenciamento de resíduos na construção civil se divide em etapas bem  definidas, que são a caracterização, a separação, o acondicionamento e o transporte.  Antes, no entanto, da descrição dessas etapas, faz-se importante a indicação da  classificação dos resíduos sólidos quanto à sua origem de acordo com a Política  Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei nº 12.305, de dois de agosto de  2010, conforme pode ser observado no Quadro 1: 

Quadro 1 – Classificação dos resíduos sólidos quanto à origem

Domiciliares Originários de residências urbanas e atividades domésticas
Resíduos de limpeza urbanaOriginários de varrição e limpeza de vias e logradouros  públicos
Resíduos sólidos urbanos É o conjunto dos resíduos domiciliares e de limpeza urbana
Resíduos de estabelecimentos  comerciais e prestadores de  serviçosResíduos gerados nestas atividades, exceto, os classificados  como resíduos sólidos urbanos, os produzidos dos serviços  públicos de saneamento básico, dos serviços de saúde, da  construção civil e dos serviços de transporte
Resíduos dos serviços públicos de  saneamento básicoGerados nestas atividades, menos os resíduos sólidos  urbanos
Resíduos industriais Gerados nos processos de produção nas instalações  industriais
Resíduos dos serviços de saúde Gerados nos serviços de saúde, segundo regulamento ou  normas definidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS
Resíduos da construção civil Gerados nas construções, reformas, reparos e demolições  de obras
Resíduos agrossilvopastoris Gerados nas atividades silviculturais e agropecuárias,  incluindo os insumos utilizados em tais atividades
Resíduos de serviços de transporte Estes são os originários de portos, aeroportos, terminais  alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de  fronteira.
Resíduos de mineração Gerados nas atividades de extração, beneficiamento ou  pesquisa de minérios

Fonte: Brasil (2010) 

No Quadro 1 é possível identificar os resíduos da construção civil, que são  produzidos pelas construções, reformas, reparos e demolições de obras. A Política  Nacional de Resíduos Sólidos instituiu o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que é  um dos objetivos da política em comento, determinado pelo Decreto nº 7.404/2010 e  voltado ao estabelecimento de normas para a execução da Política Nacional de  Resíduos Sólidos. O mesmo indica as responsabilidades dos geradores de resíduos  sólidos e do Poder Público.  

A importância social da construção civil é evidente, tanto em termos de geração  de empregos e renda quanto no seu papel em adotar práticas sustentáveis. Embora  historicamente associada à degradação ambiental, o setor tem testemunhado um  avanço em direção a práticas mais sustentáveis. No entanto, os sistemas de  certificação de empreendimentos, apesar de contribuírem para melhorias ambientais, não abordam completamente o desempenho ambiental ao longo do ciclo de vida de  uma construção (Techio; Gonçalves; Costa, 2016). 

Desde a seleção de materiais e sistemas construtivos até questões como  logística, perdas, consumo energético, durabilidade, manutenção e gestão de  resíduos, há uma necessidade de abordagem integrada para garantir melhorias  efetivas (Techio; Gonçalves; Costa, 2016). Nesse sentido, importa compreender a  importância da adequada destinação dos resíduos produzidos. 

A destinação responsável dos resíduos sólidos na construção civil é essencial  para conferir sustentabilidade ao processo. A Resolução Conama nº 307/2002  estabelece que a destinação dos resíduos é determinada pela sua classe. Resíduos  de cimento, argamassas e componentes cerâmicos devem ser levados a áreas de transbordo e triagem para serem separados, armazenados temporariamente e  destinados de forma adequada, visando à preservação da saúde e segurança.  Materiais como metal, plástico, papel, papelão e vidro são encaminhados para usinas  de reciclagem. Madeiras podem ser reutilizadas na própria obra se estiverem isentas  de contaminantes, ou como matéria-prima para outras empresas. Resíduos da classe  C, sem meios de reciclagem, podem ser destinados a aterros para resíduos não  perigosos e não inertes, enquanto resíduos perigosos devem ser encaminhados a  aterros industriais com tecnologia para minimizar danos (Brasil, 2002). 

A relevância da análise sobre a sustentabilidade e eficiência na produção no  cenário atual da construção é notável ao considerar a capacidade de impacto  ambiental desta indústria, bem como sua importância econômica e social. Estudos  são necessários para compreender melhor essas questões. O impacto ambiental  causado pela produção e descarte de resíduos da construção civil é significativo, tanto  pela quantidade descartada diariamente quanto pelo uso excessivo de recursos  naturais. Grande parte desses resíduos advém do desperdício de materiais em  construções novas, devido a projetos mal elaborados, especificações inadequadas de  materiais e falta de planejamento na execução das obras (Baptista Júnior; Romanel,  2013). 

Elevadas taxas de desperdício na indústria da construção são observadas, o  que estimula o desenvolvimento de estratégias para sua redução. O conceito de  construção sustentável sugere que uma edificação bem-sucedida é aquela que  enfrenta desafios com eficácia e, ao mesmo tempo, oferece soluções para questões  ambientais, sem negligenciar o uso da tecnologia ou a consideração de aspectos  socioeconômicos. As abordagens de sustentabilidade na construção compartilham a  preocupação com a preservação dos recursos naturais, encarando essa ação como  crucial para manter a qualidade das construções (Ceotto, 2006, Vitorino, 2017). 

Nesse contexto, importa compreender que as iniciativas integram os objetivos  para o desenvolvimento sustentável, principalmente o objetivo n° 11, que busca tornar  as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e  sustentáveis. Uma das metas é de, até 2030, diminuir o impacto ambiental negativo  per capita nas cidades, promovendo melhorias quanto aos índices de qualidade do ar  e no que diz respeito à gestão de resíduos sólidos. Além disso, busca-se a garantia  de que todas as cidades com mais de 500 mil habitantes possuam sistemas de monitoramento de qualidade do ar e planos de gerenciamento de resíduos sólidos  (Ipea, 2019). 

Conforme Ferreira, Pereira e Silva (2022), a indústria da construção civil  desempenha um papel essencial no contexto social do Brasil, uma vez que oferece  amplas oportunidades de emprego e o tema da qualidade de vida é amplamente  discutido nesse contexto e na sociedade contemporânea de modo geral.  

A conquista da qualidade está intrinsecamente ligada à melhoria das condições  de segurança e higiene no local de trabalho. É inegável que uma empresa possa  alcançar a excelência em seus produtos ou serviços, negligenciando a qualidade de  vida de seus colaboradores que os produzem. A construção civil engloba uma  variedade de obras, desde residenciais e comerciais até industriais, bem como  projetos destinados a atividades sociais, culturais, de lazer e esportivas (Ferreira;  Pereira; Silva, 2022).  

No entanto, essa área é caracterizada pelo uso de métodos tradicionais,  apresentando diversas peculiaridades que a distinguem de outras atividades  econômicas. O lucro de um empreendimento é determinado pela relação entre  receitas e custos. Toda empresa incorre em custos com o objetivo de gerar renda.  Seja através da construção de edifícios, instalações, aquisição de maquinário ou  contratação de mão de obra assalariada, isso reflete a capacidade de serviço, na qual  se espera a geração ou preservação de receitas para a empresa (Ferreira; Pereira;  Silva, 2022). Diante dessa realidade, verifica-se a importância de que os aspectos  inerentes à segurança no trabalho sejam abrangentes, sendo, inclusive, possível  estabelecer sua correlação com o meio ambiente do trabalho e a sustentabilidade. 

O ambiente laboral envolve todos os elementos, interações e condições que  impactam o bem-estar físico e psicológico do trabalhador, assim como seu  comportamento e valores dentro do local de trabalho. O ambiente de trabalho é a  esfera circundante da atividade laboral, sendo moldado pela ação humana. Dessa  forma, o ambiente de trabalho apresenta uma variedade de perigos e estresses que  podem influenciar a saúde e a integridade física e mental do trabalhador de diferentes  maneiras, dependendo do setor e da ocupação. Esses riscos têm variado conforme  as mudanças nos métodos de produção e na organização do trabalho, resultando na  elaboração e atualização contínua das normas de proteção (Rocha, 2002). 

Além disso, não se trata apenas de produzir materiais e componentes de forma  sustentável, mas também de garantir que seu uso atenda às exigências ambientais. 

Os princípios do desenvolvimento sustentável, que são a sustentabilidade econômica;  sustentabilidade ambiental; sustentabilidade social, são aplicados em todas as etapas,  desde a extração de matérias-primas até a gestão de resíduos, visando restaurar a  harmonia entre o natural e o construído, enquanto promove assentamentos que  respeitam a dignidade humana e promovem a equidade econômica (Barros; Padilha,  2016). 

A simples contratação de um bom colaborador não é suficiente para garantir o  máximo desempenho esperado pela empresa. Preocupar-se com a segurança e  saúde dos funcionários é uma obrigação estabelecida em diversos dispositivos legais  trabalhistas, civis e previdenciários. A legislação é frequentemente atualizada e torna se cada vez mais rigorosa no sentido de garantir a prevenção de acidentes e a  preservação da saúde ocupacional, exigindo que todas as empresas,  independentemente de seu porte, invistam em recursos em segurança do trabalho  (Ferreira; Pereira; Silva, 2022).  

A ideia de sustentabilidade em todas as áreas econômicas precisa incluir o  fomento ao emprego e a garantia de um ambiente de trabalho saudável. Assim, uma  estratégia para construção sustentável deve introduzir medidas que transformem a  atual situação inaceitável em algo melhor. A construção sustentável envolve uma  abordagem abrangente na concepção e administração do ambiente construído, com  foco no ciclo de vida. Isso implica não apenas em projetos de construção orientados  para o meio ambiente, mas também em práticas operacionais e de manutenção  ecológicas (Barros; Padilha, 2016). 

Silva et al. (2023) afirmam que a sustentabilidade e a segurança do trabalho  estão diretamente correlacionadas. A segurança do trabalho e a sustentabilidade  compartilham os mesmos pilares, que incluem economia, meio ambiente e sociedade. 

Um estudo da OIT (2012) ressalta que a transição para uma abordagem mais  ambiental no setor da construção civil implica em alterações nos processos de  produção e nas condições de trabalho, inclusive na construção. Isso não significa  necessariamente que as condições de trabalho se tornem mais seguras em projetos  de construção sustentável em comparação com os métodos tradicionais.  

Na verdade, eles compartilham riscos semelhantes aos da construção  convencional, além de introduzir novas situações, como a instalação de equipamentos  de energia renovável em alturas elevadas ou a integração de redes elétricas  inteligentes. O uso de novos materiais de construção, como azulejos, isolantes e tintas contendo nanomateriais, também pode representar fontes adicionais de riscos e  perigos (OIT, 2012). 

Peinado (2019) afirma que são diversos os componentes que fazem com que  a construção civil seja uma atividade com tantos riscos, destacando a elevada  quantidade de mão de obra terceirizada, as alterações no tipo de serviço de acordo com a demanda apresentada, os efeitos do clima e também a exposição necessária  aos riscos para a execução das atividades, como o trabalho em altura e os riscos de  desabamentos, choques elétricos e outros. Soma-se a esses fatores a pouca  qualificação de mão de obra e o elevado turnover, que é a rotatividade entre os  trabalhadores. 

Nesse contexto, Almeida e Picchi (2018) indicam a interação entre a construção  enxuta e a sustentabilidade, que é predominantemente examinada do ponto de vista  do Lean, em direção à sustentabilidade. As abordagens são voltadas principalmente  aos impactos positivos para a sustentabilidade resultantes da implementação da  construção enxuta.  

O Lean Construction é uma abordagem de produção na indústria da construção  civil, inspirada no Modelo Toyota de Produção. O objetivo principal é entregar o  produto otimizando o valor e reduzindo o desperdício. No contexto do Lean  Construction, a construção deve ser vista como um fluxo composto por dois processos  principais: projeto e construção. No processo de construção, há dois fluxos distintos:  o de materiais e o de trabalho, sendo essenciais para determinar custo, duração e  valor para o cliente (Magalhães; Melo; Bandeira, 2018). 

O Lean Construction não se limita apenas aos processos de produção, mas  também se aplica aos processos gerenciais, sendo que o planejamento e controle da  produção devem considerar a necessidade de gerenciar os fluxos de montagem,  materiais, informações e concentrar-se na eliminação das atividades que não  agregam valor (Magalhães; Melo; Bandeira, 2018). 

De diferentes formas, os conceitos de construção enxuta e de sustentabilidade  servem de base para abordagens, instrumentos e procedimentos destinados a reduzir  ou atenuar desafios recorrentes no setor, tais como a significativa questão ambiental  e a ineficácia na produção (Almeida; Picchi, 2018). A racionalização dos processos  construtivos relaciona-se, entre outros pontos, à segurança do trabalho e à  sustentabilidade ambiental.

Após examinar 37 Normas Regulamentadoras (NRs), Silva et al. (2023)  constataram que as práticas organizacionais que aprimoram as condições de  segurança no trabalho têm uma boa probabilidade de alcançar ou até mesmo superar  as metas de desenvolvimento sustentável. Isso ocorre porque o gerenciamento de  riscos ocupacionais e a gestão da saúde podem desempenhar um papel significativo  na realização dos objetivos de sustentabilidade em nível organizacional. Os achados  deste estudo corroboram a estreita relação entre segurança no trabalho e  sustentabilidade. A segurança no trabalho pode fornecer um alinhamento operacional  para a sustentabilidade, já que ambas as áreas compartilham os mesmos  fundamentos, incluindo aspectos econômicos, ambientais e sociais. 

Segundo Silva, Rezende e Taveira (2019), a sustentabilidade tem como objeto  o ambiente e sua influência, tendo como meta beneficiar também o ser humano como  o protagonista do desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, a segurança do  trabalho desempenha um papel essencial, visando proteger a saúde e segurança dos  trabalhadores, e assim, garantir o equilíbrio social e econômico. Ela é considerada  uma componente integral da sustentabilidade. Atualmente, o conceito de segurança  do trabalho evoluiu além do mero cumprimento das exigências legais, incorporando  também preocupações ambientais e de sustentabilidade. Muitas organizações  reconheceram essa necessidade, muitas vezes por imperativos de sobrevivência  empresarial. Esse novo paradigma tem motivado muitos empregadores a  implementarem sistemas de gestão integrados, abrangendo normas de qualidade,  meio ambiente, saúde e segurança do trabalho. 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O presente trabalho teve como objetivo geral identificar a correlação entre  segurança do trabalho e preservação do meio ambiente na construção civil,  analisando exemplos de alternativas sustentáveis, aspectos relacionados à segurança  do trabalho, e os benefícios econômicos, sociais e ambientais do planejamento e  gerenciamento de obras sustentáveis. 

Ao longo da pesquisa, diversas iniciativas e práticas sustentáveis foram  destacadas, evidenciando a importância da integração entre os aspectos ambientais,  sociais e econômicos na construção civil. Exemplos como a reciclagem de  pavimentos, uso de agregados reciclados, materiais termoativos e coberturas verdes demonstram o potencial de redução de impactos ambientais e melhoria da qualidade  de vida proporcionada por soluções sustentáveis. 

Além disso, foi ressaltada a importância do gerenciamento adequado dos  resíduos na construção civil, conforme estabelecido pela legislação vigente, visando  à preservação da saúde e segurança dos trabalhadores e do meio ambiente. A relação  entre sustentabilidade e segurança do trabalho foi enfatizada ao longo do trabalho,  destacando-se a necessidade de considerar ambos os aspectos de forma integrada.  Estudos demonstram que práticas organizacionais que promovem a segurança no  trabalho têm grande probabilidade de contribuir para o alcance dos objetivos de  desenvolvimento sustentável, evidenciando a estreita relação entre esses dois  campos. 

Portanto, fica evidente que a busca por práticas sustentáveis na construção  civil não apenas contribui para a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento  econômico, mas também para a promoção da segurança e saúde dos trabalhadores,  garantindo um ambiente de trabalho mais seguro e saudável para as gerações  presentes e futuras. Assim, é fundamental que empresas e organizações do setor  adotem uma abordagem integrada que considere tanto a sustentabilidade quanto a  segurança do trabalho em todas as etapas dos projetos e atividades 

REFERÊNCIAS 

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