REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504081118
Amanda Cintya Nogueira Pinheiro
Débora Sâmoa Machado Alves Bonfim
Ivone Rodrigues de Sousa
Thaíssa Thauanne Ferreira de Sousa
Wellington de Sousa Lima Filho
Orientadores: Msc. Emanuel Osvaldo de Sousa
Msc. Carlos Antonio da Luz Filho
RESUMO
O lábio glenoidal é uma estrutura fibrocartilaginosa que envolve um dos ossos do ombro e tem como função aprofundar a glenóide para receber a cabeça do úmero. Nessa estrutura podem ocorrer lesões por trauma ou desgaste. Para um bom diagnóstico, é necessário conhecimento a respeito da articulação glenoumeral e lábio glenoidal, já que essa patologia geralmente vem associada a outras alterações. Entre as formas de tratamento conservador, a mobilização articular tem se mostrado eficaz trazendo alívio nos sintomas e ganhos funcionais.O objetivo desse estudo foi analisar os efeitos da mobilização articular em pacientes com lesão de SLAP. Esse trabalho é uma revisão bibliográfica realizada por meio de levantamentos de artigos científicos sobre a temática em questão, a fim de responder à seguinte indagação: A mobilização articular pode ajudar no tratamento não cirúrgico das lesões Slap? As bases de dados utilizadas foram Bireme, PubMed, PEDro, Scielo e Google Acadêmico. Nesse trabalho foram selecionados inicialmente 21 artigos e após seguir alguns critérios de exclusão e inclusão foram utilizados 11 artigos. Entende-se, portanto, que a mobilização articular se apresenta como um tratamento fisioterapêutico que pode trazer benefícios para os pacientes que apresentam a lesão Slap.
Palavras-chaves: Lesão Slap. Mobilização articular. Fisioterapia
ABSTRACT
The glenoid labrum is a fibrocartilaginous structure that surrounds one of the shoulder bones and serves to deepen the glenoid to receive the humeral head. Injuries due to trauma or wear can occur in this structure. For a correct diagnosis, knowledge about the glenohumeral joint and glenoid labrum is necessary, since this pathology is usually associated with other alterations. Among the forms of conservative treatment, joint mobilization has been shown to be effective, providing relief from symptoms and functional gains. The objective of this study was to analyze the effects of joint mobilization in patients with SLAP lesions. This work is a bibliographic review carried out through surveys of scientific articles on the subject in question, in order to answer the following question: Can joint mobilization help in the non-surgical treatment of SLAP lesions? The databases used were Bireme, PubMed, PEDro, Scielo and Google Scholar. In this study, 21 articles were initially selected and after following some exclusion and inclusion criteria, 11 articles were used. It is therefore understood that joint mobilization is a physiotherapeutic treatment that can bring benefits to patients with SLAP injuries.
Keywords: Slap Injury. Joint Mobilization. Physiotherapy.
1. INTRODUÇÃO
O complexo articular do ombro é uma das estruturas com maior mobilidade do corpo humano. É uma articulação sinovial, triaxial que une o membro superior ao esqueleto axial, sua anatomia é composta por uma série de músculos, ligamentos, ossos e tendões, o que viabiliza uma enorme variedade de movimentos, ao mesmo tempo que permite uma instabilidade e vulnerabilidade para diversas lesões (Almeida; Cardinot, 2020).
O ombro dispõe de 19 músculos e 14 ligamentos, três diartroses (acromioclavicular, glenoumeral e esternoclavicular) e três sistemas osteomioligamentares de deslizamento (escapulotorácico, subacromial e umerobicipital). Por conta dessas estruturas, o ombro é capaz de realizar: abdução, elevação, adução, flexão, extensão, rotação externa e rotação interna (Garcia et al., 2024).
É possível perceber que existe uma complexidade no arranjo anatômico do ombro, sendo possível a identificação das diversas articulações presentes que são capazes de auxiliar nos movimentos. Entre elas, a glenoumeral, uma articulação esferóide, sinovial, avascular e que tem a capacidade de realizar movimentos nos eixos látero- lateral, longitudinal e ântero-posterior (Andrade et al., 2021).
O lábio glenoidal é uma estrutura fibrocartilaginosa que envolve um dos ossos do ombro, tem como função aprofundar a glenóide para receber a cabeça do úmero evitando lesões, instabilidades e possíveis luxações. Anatomicamente, o lábrum funciona como fixação do ligamento glenoumeral e do tendão da cabeça longa do bíceps (Garcia et al.,2024).
Clinicamente podem ocorrer lesões no lábio glenoidal, uma delas nomeia-se Superior Labrum Anterior to Posterior (SLAP), que pode ser de diversos níveis, desde uma degeneração até afetar o tendão longo do bíceps. Um dos sintomas mais comuns são dores e dificuldade na amplitude de movimento. O diagnóstico é complexo, tendo em vista que o ombro possui uma variedade de patologias que geralmente são semelhantes à lesão de SLAP (Levasseur et al., 2021).
Conforme Familiari et al., 2019, as lesões SLAP são difíceis de examinar com precisão porque a maioria das lesões ocorre com lesões associadas no ombro (exemplo, instabilidade glenoumeral, rupturas do manguito rotador, rupturas do tendão do bíceps).
Entre as formas de tratamento desse tipo de lesão, a fisioterapia é uma das opções mais viáveis, tendo em vista promover a reabilitação precoce com tratamento conservador do paciente acometido, devolvendo a função, retorno ao ambiente de trabalho e qualidade de vida, o que pode postergar ou até mesmo evitar um procedimento cirúrgico na região afetada (Levasseur, et al. 2021).
O programa de reabilitação de uma paciente que apresenta lesão slap deve focar na recuperação da articulação glenoumeral, enfatizando a melhoria mecânica e articular dessa região. Dentre as várias técnicas de terapia manual usadas no tratamento, podemos citar as mobilizações articulares. Para promover reabilitação, podemos elencar três fatores que permitem a utilização de técnicas rítmicas, e que auxiliam na reorganização do tecido: facilitar a execução de reparo, influenciar a estrutura e comportamento mecânico de tecidos e afetar a dinâmica dos fluidos (Cesário, 2017).
Diante desse cenário, esse trabalho tem como propósito buscar respostas sobre a eficácia do tratamento conservador fisioterapêutico e não cirúrgico, a fim de retornar o paciente com independência em suas atividades de vida diárias. Sendo assim, cria-se a seguinte indagação: A mobilização articular pode ajudar no tratamento não cirúrgico das lesões Slap? Essa pergunta será respondida ao longo da pesquisa.
O objetivo geral desse trabalho é analisar os efeitos da mobilização articular em pacientes com lesão de SLAP. E como objetivos específicos: Compreender a anatomia do ombro, identificar a mobilização articular como tratamento adequado em lesão slap não cirúrgica e discutir por meio das evidências científicas a importância da fisioterapia na qualidade de vida de pacientes lesionados na articulação de ombro.
A fisioterapia é uma ciência que visa devolver funcionalidade e consequentemente qualidade de vida, para os pacientes lesionados em diferentes patologias. Dentre as diferentes lesões adquiridas, aquelas relacionadas ao complexo articular do ombro são bastante mencionadas, já que essa é uma articulação que ao mesmo tempo que possui grande mobilidade, também possui bastante instabilidade. O que proporciona um maior risco de sofrer com lesões.
Diante desse contexto torna-se importante conhecer as estruturas, funções e ações da articulação glenoumeral, lábio glenoidal com objetivo de compreender a lesão Slap, bem como, organizar as devidas condutas fisioterapêuticas, destacando a mobilização articular como tratamento conservador.
Esse trabalho é de fundamental importância por dois motivos: o primeiro pelo fato de eleger a mobilização articular como conduta para uma lesão que causa grande incômodo, dor, desconforto e perda de funcionalidade, e segundo discutir a importância da fisioterapia para a sociedade que apresenta cada vez mais patologias relacionadas à articulação de ombro.
2. METODOLOGIA
O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica, pelo qual foi realizada uma pesquisa criteriosa e detalhada de artigos acadêmicos em bancos digitais, tais como: Bireme, PubMed, PEDro, Scielo e Google Acadêmico, a fim de encontrar fontes bibliográficas relevantes sobre a Lesão do Lábio Glenoidal.
Os estudos de revisão bibliográfica caracterizam-se pelo uso e análise de documentos de domínio científico, tais como livros, teses, dissertações e artigos científicos; sem recorrer diretamente aos fatos empíricos. Portanto, a pesquisa bibliográfica utiliza-se de fontes secundárias (Cavalcante; Oliveira, 2020).
Para elaboração desse projeto organizou-se as seguintes etapas: Pesquisa bibliográfica, leituras, eliminação de alguns artigos, esquematizações e posteriormente a escrita da pesquisa. Foram utilizados os seguintes descritores: SLAP, ombro, lábio glenoidal, mobilização articular, a fim de encontrar uma variedade de artigos.
Na primeira etapa, após escolher algumas fontes bibliográficas, foram selecionados como critérios de inclusão a qualidade e efetividade dos artigos relacionados ao tema, além de abordar artigos dos anos 2015 a 2024 nas línguas portuguesa e inglesa. Como parâmetros de exclusão aqueles que abordavam apenas tratamento cirúrgico para o Slap. Pois o foco dessa pesquisa é o tratamento fisioterapêutico conservador.
Foram selecionados inicialmente 21 artigos e após seguir os critérios de exclusão mencionados anteriormente, 11 artigos foram escolhidos. Após isso, foram realizadas leituras e fichamentos dos artigos selecionados, para um melhor desenvolvimento da pesquisa. Na etapa seguinte, e após um grupo de debate, foi realizada a esquematização do trabalho e iniciada a escrita. Essa pesquisa trouxe contribuições e conhecimentos sobre o tema abordado.
3. RESULTADOS
A análise dos artigos selecionados sobre o tratamento da lesão do lábio superior glenoidal – Slap, foi composta por estudos que abordaram o método de revisão bibliográfica, conforme explícito no quadro 1, constando os seguintes itens: autores, título, objetivos, resultados e conclusões.
Quadro 1. Extração de dados dos artigos selecionados quanto aos autores, título, objetivos, resultados e conclusão
Autores/Ano | Título | Objetivos | Resultados | Conclusão | |
01 | Andrade et al. 2021 | TratamentosFisioterapêuticosAplicados na SLAP Lesion: uma revisão daliteratura | Analisar os tratamentos fisioterapêuticos aplicados na SLAP, tanto para curto, médio e longo prazo | A lesão de SLAP apresenta séries de casos, principalmente a tipo II, sendo esta a mais comum. A população idosa é a mais acometida. | Através do tratamento conservador fisioterapêutico(alongamentos da cápsula posteroinferior e mobilização dos tecidos moles e articular) para casos iniciais deste tipo de lesão, é possível ter resultados satisfatórios e promissores. |
02 | Boutin RD, Marder RA.2018 | MR Imaging of SLAP Lesions | Discutir à utilização de RM e artrografia por RM no diagnóstico da Lesão SLAP. | O diagnóstico correto de lesões SLAP é importante porque a capacidade de prever com segurança pode evitar uma possível cirurgia. | O histórico do paciente, o exame físico e a avaliação de imagem devem ser considerados juntos na tomada de decisão para realizar tratamento conservador ou prosseguir com a cirurgia. Avaliação é fundamental para o tratamento do paciente. |
03 | Charles MD,Christian DR,Cole BJ. 2018 | An Age andActivity Algorithm for Treatment of Type II SLAPTears. | Revisar a literatura existente sobre o tratamento de ruptura slap tipo II e fornecer recomendações clínicas com base na idade e no nível de atividade do paciente. | Pacientes com rupturas slap tipo II devem primeiro ser testados com tratamento não cirúrgico e muitos pacientes terão um resultado bem sucedido com capacidade de retornar aos seus respectivos esportes ou atividades | As rupturas slap tipo II continuam sendo uma patologia difícil de gerenciar clinicamente, sendo tratamento cirúrgico indicado quando o não cirúrgico (mobilização e alongamentos capsular e estabilização escapular)não fornecer alívio sintomático. |
04 | Familiari et al. 2019 | SLAP lesions: current controversies. | Analisar a anatomia do ombro, patogênese, Apresentação clínica e o tratamento do espectro nas lesões SLAP. | O tratamento inicial para um paciente com o que pode ser considerado uma Lesão SLAP é o tratamento não cirúrgico. | Apesar da abundância de literatura sobre lesões SLAP, seu diagnóstico clínico continua desafiador por uma série de razões. |
05 | Garcia et al. 2024 | Avaliação daLesão SLAP: Um relato de caso | Realizar uma avaliação sobre a lesão slap e correlacionar com caso clínico | Observa-se que nas lesões SLAP tipo I e II somente a fisioterapia e anti inflamatórios são eficazes, já em recorrência de luxações há a necessidade de intervenções cirúrgicas. | A lesão SLAP representa uma patologia do ombro, inclui diversos sinais e sintomas relevantes para o diagnostico uma vez que o mesmo necessita ser preciso e minucioso. |
06 | LeVasseur et al. 2021 | SLAP tears and return to sport and work: current concepts. | Discutir a anatomia, mecanismos de lesões, diagnostico e opções de | Lesões slap são identificadas sendo o maior fator de risco as atividades esportivas acima | Para atletas com sobrecarga, especialmente jogadores de beisebol, as lesões slap continuam sendo uma patologia difícil de |
tratamentos das lesões slap e apresentar a literatura atual sobre os resultados que afetam o retorno ao esporte e ao trabalho. | da cabeça do úmero. E dependendo do nível da lesão, as rupturas slap podem ser submetidos as diversas formas de tratamento. | tratar, secundária a patologias concomitantes e taxas imprevisíveis de retorno ao esporte. | |||
07 | Mathew CJ, Lintner DM.2018 | Superior Labral Anterior to Posterior Tear Management inAthletes. | Fornecer informações sobre avaliação, diagnóstico e tratamento de rupturas slap mostrando qual tem melhores resultados. | Para arremessadores, o tratamento que se mostrou mais eficaz foi o não operatório. | O programa de reabilitação com ênfase no alongamento da cápsula posterior e na correção da postura escapular se mostrou mais eficaz do que a cirurgia para os arremessadores com lesão. |
08 | Popp D,Schöffl V.2015 | Superior labral anterior posterior lesions of the shoulder: Current diagnostic and therapeutic standards | Discutir a fisiopatologia do Slap: traumáticas, degenerativa, déficit de rotação glenoumeral, discinesia escapular. Bem como debater as diferentes formas de tratamento. | As lesões SLAPtipo IIpredispõem ao tratamento conservador na ausência de outras patologias intraarticulares. Em caso de lesões SLAP aparentes, atletas de salto alto geralmente necessitam de tratamento cirúrgico para retornar a um alto nível de função, enquanto em pacientes sem demandas esportivas o tratamento conservador pode ser suficiente. | O diagnóstico e a terapia de lesões SLAP continuam sendo um desafio, apesar da melhoria nas técnicas de imagem. A tomada de decisão em lesões SLAP, seja ela conservadora ou cirúrgica, deve ser baseada em múltiplos fatores: histórico do paciente (trauma agudo ou degeneração crônica), idade, nível de atividade física, expectativas do paciente e demandas funcionais. |
09 | Steinmetz et al. 2021 | Return to play followingnonsurgical management of superior labrum anterior-posteriortears: a systematic review. | Avaliar o resultado do tratamento não cirúrgico de ruptura do slap em atleta. | O tratamento se concentrainicialmente na redução da inflamação com utilização de medicamentos e no tratamento do déficit de rotação interna glenoumeral(GIRD) e da discinesia escapular | O tratamento não operatório de ruptura slap em atletas pode ser bem sucedido, especialmente no subconjunto de pacientes que conseguem concluir seu programa de reabilitação antes de tentar retornar ao jogo. |
10 | Stetson et al. 2019 | ArthroscopicRepair of Type IISLAP Lesions inOverheadAthletes | Questionar a efetiva utilização de artroscopia para pacientes diagnosticado com lesão SLAP. | Um programa de fisioterapia estruturada enfatizando a mecânica escapulotorácica, fortalecimento do manguito rotador e alongamento capsular posterior deve ser tentado em quase todos os atletas antes da intervenção cirúrgica. | Muitos atletas de overhead estão passando por reparos SLAP artroscópicos. Muitos atletas podem ser tratados de forma não cirúrgica. Uma ressonância magnética(RM) ou artrografia por RM(ARM) que mostre uma lesão SLAP não é uma indicação automática para cirurgia. |
11 | Varacallo MA, Tapscott DC, Mair SD.2019 | Superior LabrumAnteriorPosterior Lesions. | Apresentar conceito, etiologia, mecanismo da lesão, diagnóstico, tipos de lesões slap, avaliação, e tipos de tratamento. | As maiores taxas de incidência de lesões slap ocorrem nas faixas etárias de20 a 29 anos e de 40 a 49anos , foi reconhecido que as lesões ocorrem comumente em atletas assintomáticos. | Essas lesões não se limitam somente a atletas jovens de arremesso e podem ser vistas em várias populações com vários graus de relevância clínica, além disso, para a grande maioria das lesões slap, o tratamento inicial é não operatório, que se concentra na correção da discinesia escapular e déficit de rotação interna. |
4. DISCUSSÃO
Nesta etapa, serão discutidos os resultados obtidos dentro da pesquisa relacionada à mobilização articular no tratamento da lesão do lábio superior glenoidal – SLAP. Essa discussão é proveniente de uma análise criteriosa de artigos que mencionam a avaliação, diagnóstico e tratamento dessa lesão.
Andrade et al. (2021), relatam que o tratamento conservador da dor no ombro deve ser personalizado de acordo com os sintomas de cada paciente, o quadro clínico e os objetivos funcionais que devem ser considerados. As intervenções fisioterapêuticas têm se mostrado benéficas no tratamento conservador de indivíduos com lesões SLAP.
A lesão de Lábio Glenoidal pode ocorrer em diversas fases. No tipo I ocorre uma deterioração do lábio; tipo ll é a mais comum, sendo responsável por 50% dos casos de SLAP, acomete mais os idosos devido ao desgaste ao longo da vida, e é caracterizada pela separação do lábio da glenóide; tipo III é uma dilaceração em “alça de balde” do lábio superior com ligação firme do restante do lábio (Andrade et al., 2021).
No tipo IV há laceração no lábrum que se prolonga até o tendão do bíceps. No tipo V é uma lesão de Bankart, que é um deslocamento do lábrum da cavidade glenóide após a luxação; tipo VI ocorre separação do bíceps com laceração oscilante e instável do lábrum e tipo VIl envolve separação de lábrum superior e tendão do bíceps com extensão anterior abaixo do ligamento glenoumeral médio (Andrade et al. 2021).
Ainda conforme o autor supracitado, para o processo de diagnóstico é necessária uma análise minuciosa da mobilidade articular, força, amplitude de movimento periarticular associado a uma série de testes específicos com o paciente, a fim de fortalecer o desfecho clínico. Neste contexto pode-se citar os Teste de O’Briens, Teste de Carga do Bíceps, Teste de Cisalhamento Dinâmico de O’Driscoll, Teste de Speed e Teste de Recolocação de Jobe que pode ser utilizado pelo fisioterapeuta para identificar a lesão SLAP.
Conforme Andrade et al. (2021) o tratamento conservador fisioterapêutico deve envolver a mobilização articular, de tecidos moles e alongamentos da cápsula posteroinferior para casos do tipo I e II da lesão. Existem quatro graus para a classificação das mobilizações articulares por suas diferentes formas de aplicação e efeitos fisiológicos, que façam com que ele retorne para as suas atividades de vida diária.
Boutin e Marder (2018), acreditam que uma boa avaliação funcional com o histórico do paciente, a utilização dos testes específicos, a interpretação de exames complementares de Ressonância Magnética (RM) e artrografia por Ressonância Magnética é imprescindível para corroborar para um diagnóstico eficaz, já que as lesões SLAP são difíceis de identificação.
Para Charles, Christian e Cole (2018), na grande maioria dos pacientes com slap tipo II, todos devem primeiro ser avaliados e submetidos ao tratamento conservador. A conduta com programas de mobilização, alongamento capsular e estabilização escapular demonstrou sucesso em grupos incluindo atletas.
Em seu estudo Familiari et al. (2019) afirma que por mais que exista uma enorme variedade de estudos relacionados à lesão de SLAP, seu diagnóstico continua sendo desafiador. Os autores destacam que um paciente com lesão slap, pode vim associada a outros acometimentos no ombro (por exemplo, instabilidade glenoumeral, rupturas do manguito rotador, rupturas do tendão do bíceps), o que atrapalha na precisão do relato de dor do paciente.
Familiari et al. (2019) também comentaram sobre os métodos de tratamento evidenciando o resultado dos mesmos, e afirmam que o tratamento não operatório proporciona alívio e melhora no resultado clínico em casos iniciais, especialmente em pacientes jovens e ativos. No entanto, pacientes com quadros de lesão por traumas, sintomas mecânicos e demanda por atividades acima da cabeça tem menos probabilidade de se beneficiar do tratamento.
Conforme os estudos de Garcia et al. (2024), a lesão Slap é muito comum, essa lesão pode se resultar de traumas, quedas sobre o ombro ou sobrecargas e excessos de movimentação do membro superior, tendo em vista incidência maior em atletas. Para um diagnóstico preciso e deliberação de métodos para tratamento eficazes, Garcia relata ser essencial o conhecimento detalhado da anatomia e fisiopatologia do ombro, pois permite uma conduta individual e apontada ao paciente.
Neste mesmo sentido, Garcia et al. (2024) ressaltam que os sinais e sintomas apresentados para a lesão Slap podem variar de acordo com a condição e grau de acometimento do indivíduo, sendo assim crucial a utilização de testes específicos para o ombro, favorecendo o profissional em sua avaliação e determinando a progressão e condução de tratamento seja ele conservador ou cirúrgico.
É possível entender que a fisioterapia pode ser utilizada como tratamento conservador em casos iniciais trazendo força muscular e estabilidade articular, no entanto, o tratamento pode variar de acordo com o grau da lesão, idade do paciente e o nível de demanda de atividade que o mesmo deseja realizar. Garcia et all. 2024 evidencia a importância da atuação multidisciplinar desde a avaliação ao tratamento da lesão.
LeVasseur et al. (2021), afirma que lesões Slap são identificadas como maior fator de risco em atividades esportivas com elevação acima da cabeça do úmero e que a forma de tratamento deve ser realizada de acordo com o nível da lesão. Atletas acometidos por essa lesão, em especial jogadores que realizam movimentos acima da cabeça, continuam sendo uma lesão de difícil diagnóstico. Para pacientes sintomáticos, menciona a importância de serem tratados com fisioterapia e modificação de atividades.
Mathew e Lintner (2018), quanto ao tratamento da lesão Slap em atletas arremessadores o tratamento que se mostrou mais eficaz foi o não operatório e o programa de reabilitação no alongamento da cápsula posterior e na correção da postura escapular se mostrou eficaz.
Popp e Schöffl (2015) comentam que além de ser um diagnóstico muito difícil e de grande desafio, as lesões SLAP II são as mais comuns em atletas que utilizam o braço acima da cabeça e sobrecarga, para a deliberação de protocolos o profissional deve minuciosamente analisar diversos fatores, tipo de trauma ou degeneração, idade, nível de atividade física, o que paciente espera como resultado e demandas funcionais. Assim concluindo que um bom diagnóstico e avaliação detalhada poderá garantir bons resultados, volta ao esporte e independência em atividades cotidianas com o tratamento conservador.
Steinmetz et al. (2021) relata as formas de tratamento das lesões Slap tipo II. Inicialmente, o tratamento é focado na diminuição da inflamação presente na lesão, na correção da rotação interna glenoumeral e da discinesia escapular. Posteriormente fortalecimento da musculatura e a recuperação do controle neuromuscular são trabalhadas conforme a evolução dos pacientes.
O retorno aos esportes é possível quando os pacientes demonstram amplitude de movimento do ombro completa e sem dor. Medicamentos antiinflamatórios não esteroides e injeções de esteroides glenoumeral e subacromial também foram utilizados.
Stetson et al. (2019) comentam que o diagnóstico adequado para as lesões SLAP pode ser difícil porque raramente ocorrem isoladamente e são geralmente associadas a outras patologias do ombro. O histórico do paciente, os sintomas, relato de trauma ou uso repetitivo é fundamental para o diagnóstico.
Para Stetson et al. (2019) existem opções não cirúrgicas e deve ser uma opção na grande maioria dos atletas e pacientes com diagnósticos de lesões SLAP. A fisioterapia deve enfatizar no movimento escapulotorácica, fortalecimento do manguito rotador e alongamento capsular posterior deve ser tentado em quase todos os atletas antes da intervenção cirúrgica.
Varacallo, Tapscott e Mair (2019), afirma que as lesões Slap constituem um subconjunto clínico reconhecido de patologias complexas de dor no ombro e que pode acometer trabalhadores jovens, atletas de arremesso, trabalhadores manuais de meia idade e várias populações de pacientes com vários graus de relevância clínica real.
Os autores abordam várias apresentações de ruptura Slap dos pacientes sintomáticos que geralmente relatam o início agudo de dor profunda no ombro acompanhada de sintomas mecânicos, como estalos, travamentos ou travamentos com vários movimentos do ombro, sendo classificados em Lesões SLAP traumáticas agudas, lesões degenerativas SLAP e lesões Slap por atrito.
Em comparação com as lesões SLAP agudas e traumáticas, afirma que os atletas que fazem movimentos acima da cabeça têm mais probabilidade de apresentar etiologias baseadas em atrito. Nesses cenários, as rupturas SLAP apresentam início insidioso e dor profunda progressiva no ombro em atletas jovens com o braço na posição de abdução e rotação externa durante a fase de arremesso tardio.
Varacallo, Tapscott, Mair (2019) relatam os testes específicos para o diagnóstico de rupturas SLAP e a importância de os clínicos obterem um histórico abrangente ao avaliar pacientes que apresentam dor aguda ou crônica no ombro, pois as rupturas SLAP podem se apresentar de forma relativamente inespecífica e em associação com outras patologias do ombro.
Segundo os autores, para grande maioria das lesões SLAP, o tratamento inicial é não operatório. Utilizar regimes de fisioterapia formais pode ajudar a garantir que cada diagnóstico de “ruptura SLAP” seja gerenciado de forma mais apropriada e eficaz. A discinesia escapulo torácica pode resultar de qualquer grau de desequilíbrio dos músculos da cintura escapular e estabilizadores estáticos/ dinâmicos da articulação glenoumeral. Além disso, as contraturas capsulares da articulação do ombro posterior devem ser tratadas com vários programas de mobilização articular, alongamento e fortalecimento.
O tratamento, utilizando perspectivas fisioterapêuticas, como a mobilização articular no tratamento da lesão do lábio superior glenoidal – slap, possui influência na melhora de sintomas gerais e ganho de funcionalidade. A junção desses resultados positivos encontrados na pesquisa pode contribuir para a prática profissional no âmbito público e privado, fortalecendo as evidências dessas intervenções fisioterapêuticas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que, a partir da pesquisa foi possível compreender que a lesão de Slap tipo II é mais comumente encontrada em atletas que utilizam movimentos acima da cabeça e população idosa devido ao processo de senescência.
Entre as formas de tratamento, ficou evidente que o conservador se mostrou mais eficaz nos casos iniciais, no entanto, torna-se necessário uma avaliação minuciosa levando em consideração a idade, demandas funcionais e atividades de vida diária. Como método de tratamento conservador, a mobilização articular tem fornecido resultados satisfatórios, para diminuição da dor, ganho de amplitude de movimento promovendo um retorno precoce e mais seguro do paciente para sua atividade habitual.
REFERÊNCIAS
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