REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7319329
Nathália Estivam Morelatto
Orientador: Prof. Dr. Octavio Antonio Valsechi
RESUMO
De algum tempo para cá, as indústrias no Brasil e no mundo vem transformando as ferramentas e formas de trabalho, tendo como principal aliada a tecnologia. Isso impactou diretamente na mão de obra, que vem tendo que ser mais cada vez mais especializada. Em meio a essa transformação, ocorreu uma grande pandemia no mundo inteiro e a necessidade em manter distanciamento social trouxe à tona assuntos relacionados ao home office, modelo de trabalho remoto já bem utilizado em empresas dos setores de suporte, serviços e tecnologia e que agora se infiltrou inclusive nas indústrias. Dentro delas existem subdivisões que o permitem, e adotá-lo (juntamente com outras medidas) contribuiu para a não disseminação do vírus. O tema é bastante importante levando-se em conta que afeta diretamente a qualidade de vida dos trabalhadores. Nos pós pandemia a decisão de manter modelo remoto ou híbrido de forma permanente pode afetar diretamente as escolhas de carreira e oferta de vagas. Assim, o presente trabalho traz a correlação disso com o setor sucroenergético, cuja pandemia acelerou o que estava por vir em um futuro próximo: o questionamento sobre a possibilidade do trabalho das usinas não ser 100% presencial diariamente. Sabe-se que existe a peculiaridade de cada tipo de indústria e por isso, a necessidade de entender como são realizados os trabalhos ali dentro mostram-nos muito do presente e futuro, bem como as perspectivas para pessoas que desejam ingressar nesse mercado das usinas de cana de açúcar. E não apenas, também para os profissionais que já atuam e tem de estar sempre em processo de aprimoramento constante.
Palavras-chave: setor sucroenergético, modelos de trabalho, tecnologia, trabalho remoto
Atividades nos Setores de uma Unidade Sucroenergética
Uma usina sucroenergética funciona com base em três principais setores:
administrativo, agricultura e indústria. Todas os demais setores e suas ramificações partem com base nesses principais. Precisamos levar em conta que esses três setores não são interdependentes, ou seja, dependem um do outro para existirem e funcionarem na prática do dia a dia.
Dentro da agricultura, faz-se importante o cultivo de uma cana adequada as condições do local de plantio, para que seja gerada na etapa da indústria, uma quantidade adequada de produto desejado. Também é muito comum o controle de pragas nessa primeira etapa, que irá impactar de forma direta na produção (Informação verbal). Já na parte administrativa, é onde acontecem vários dos controles envolvendo operações, compras, estoque, contabilidade, escrituração fiscal, financeiro, faturamento, armazém de açúcar, controle patrimonial, além do necessário R.H. Há diversos outros fatores que poderiam ser citados, afim de mostrar essa correlação e dependência entre os setores. Dentro desse universo, os sistemas de automação são cada vez mais utilizados, como uma ferramenta que vem não apenas auxiliar nos controles, mas também executá-los.
Vale lembrar que hoje em dia, nas operações agrícolas, o uso de maquinários especializados se disseminou, substituindo boa parte da mão de obra de semeadura e corte da cana -cerca de cada 100 homens para 1 máquina (Estado de Minas, 2013). Ainda assim, o trabalhador é necessário para operação dessas máquinas. Essa substituição foi um movimento natural, observado cerca de 10 anos atrás e que na época causou grande reboliço, principalmente pela perda das posições de trabalho menos especializadas.
Diferente da escala de substituição de mão de obra que aconteceu no setor do plantio/colheita, há um movimento de automação também na indústria. Dentro dela, no entanto, apenas com as tecnologias que temos até então não há meio de que haja 90% da execução do trabalho por máquinas, fazendo com que sejam um complemento bem-vindo ao trabalhador humano. As automações são amplamente utilizadas para acompanhamento e armazenamento de dados e o operador se faz necessário principalmente durante a época de safra, em que a manutenção e limpeza de equipamentos deve ser intensificada, já que os impactos são grandes no resultado final de produção. Vemos a seguir exemplos de atividades que apenas o trabalho humano pode realizar diariamente: (Raízen, 2022)
Tabela 1: Funções executadas pelo homem dentro de uma indústria sucroenergética.
Função | Atividade |
Soldador | Soldagem; Reparo/substituição de partes e peças |
Operador máquina | Operar máquina; Carregamento de cana |
Operador Extração | Limpezas nas moendas; Manutenções preventivas e corretivas |
Dentro desse cenário de indústria 4.0, de muita informatização e integração de dados, é que surge outro desafio: a pandemia do vírus Covid-19.
Mudanças em função da Covid-19
A pandemia do COVID-19 mudou as condições de trabalho em diversos setores, ou seja, devido ela, a maior parte das empresas teve que se adaptar a uma nova forma de trabalhar por conta do momento de disseminação do vírus. Existe a menor parte das empresas também, que já estava investindo em tecnologia e se preparando inclusive antes, pensando em questões de adaptação a novas tecnologias que vem agregar, de localização e até na maior qualidade de vida de seus trabalhadores. Dentro do setor sucroenergético não foi diferente e a preocupação com cuidado dos funcionários não podia deixar de existir, mas claro que sem deixar a produção de lado- levando em conta que uma breve paralisação poderia gerar uma perda na casa de milhões de reais (Portal do Agronegócio, 2020).
Primeiramente, sobre as usinas que tiveram de se adaptar, os principais meios para mitigar a contaminação do vírus foram: “mais transportes para aumentar o distanciamento, aumentar horários de refeição e realizar a higienização do ambiente de trabalho” (Scot Consultoria, 2021). Podemos ainda citar o exemplo de uma grande empresa do setor, que conta com cerca de 12,5 mil colaboradores, tem aproximadamente 400 pessoas que atuam em escritório e conseguiu implementar para boa parte delas o regime de atuação remoto. Além delas, outras 300 a 400 pessoas fazem parte do grupo considerado de risco e para manter a operação elevada, foram totalmente retiradas da operação (Cherubin, Natália).
Posteriormente, trazendo sobre um exemplo de uma usina que investiu amplamente em tecnologia antes da pandemia (mais especificamente, há pelo menos 10 anos). Nesse caso, os sistemas de duas unidades de mesmo grupo já são integrados devido localidades distantes, e assim, os mais diversos softwares (para ensacamento de açúcar, de planejamento de colheita e plantio, por exemplo) permitem o acesso com dados em tempo real, de forma remota. Com isso, “a empresa pode oferecer aos seus colaboradores a flexibilidade necessária para entregar aplicações em qualquer lugar e de qualquer dispositivo”, algo bem interessante para o trabalho híbrido, em que há escalas de funcionários fazendo análises- remotamente- e outra dos que efetivamente possam fazer ajustes nos equipamentos- presencialmente (Scot Consultoria, 2021). São possibilidades que somente a tecnologia traz.
Observa-se grandes indícios para os modelos remoto ou híbrido de trabalho ficarem de vez. É fato que a pandemia foi um fator que acelerou a popularização deles por parte das empresas. Já no pós pandemia, vemos com frequência sites ofertando vagas nas usinas remotamente, mas apenas em setores bem específicos como: recrutamento, planejamento e áreas mais voltadas a tecnologias e não associadas aos processos e produções de açúcar e álcool propriamente ditos. Essas são as vagas mais desejadas e concorridas pelos funcionários. Nas imagens trazidas abaixo, temos a exemplificação disso, em que uma empresa do setor sucroenergético abre candidaturas para área de TI presencial, e na presente data contava com 197 no total. Enquanto isso, uma vaga remota para mesma área e empresa tinha mais de 1370 candidaturas, ambas vagas abertas há um mês da extração das capturas de tela (LinkedIn, 2022).
Figura 1. Vaga de TI remota, divulgada em rede social conhecida de negócios.
Figura 2. Vaga de TI presencial, divulgada em rede social conhecida de negócios.
Perspectivas para o Setor
Além das atividades citadas na tabela 1, dentro da indústria também temos outras que demandam de conhecimento técnico específico para operação dos controles e automações ao longo do processo, que é cada vez maior e mais necessário. Sendo assim, o trabalho presencial em turnos é imprescindível dentro desses dois primeiros setores de uma usina (agricultura e indústria), mesmo que em menor quantidade comparando com anos atrás. Concluímos que importância do trabalho remoto tem seu espaço também dentro do setor sucro, porém para funções restritas e bem específicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Fala dos professores no curso MTA, em 2021
2. Estado de Minas, “Mecanização no campo muda as relações de trabalho“. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/01/14/internas_economia,343131/mecanizacao-no-campo-muda-as-relacoes-de-trabalho.shtml/>. Acesso em: 02, Set 2022
3. Disponível em: <https://genteraizen.gupy.io/>. Acesso em: 16, Set 2022
4. Scot Consultoria, ”Cana-de-açúcar: efeitos da pandemia no setor sucroenergético“. Disponível em: <https://www.scotconsultoria.com.br/noticias/entrevistas/2021/02/468/Cana-deacucar:-efeitos-da-pandemia-no-setor-sucroenergetico>. Acesso em: 29, Ago 2022
5. Portal do Agronegócio, “Usina Lins investe em Citrix para continuidade dos negócios“. Disponível em: <https://www.portaldoagronegocio.com.br/agroindustria/setorsucroalcooleiro/noticias/usina-lins-investe-em-citrix-para-continuidade-dosnegocios>. Acesso em: 01, Set 2022.
6. Cherubin, Natália. ”Mesmo em meio ao Covid-19, São Martinho consegue manter 90% de seus funcionários na ativa“. Disponível em: <https://revistarpanews.com.br/mesmo-em-meio-ao-covid-19-sao-martinhoconsegue-manter-90-de-seus-funcionarios-na-ativa/>. Acesso em: 29, Ago 2022.
7. Oferta de vagas no aplicativo LinkedIn, em 2022.