PERSPECTIVAS DA TERAPIA OCUPACIONAL SOBRE ACESSIBILIDADE E DESENHO UNIVERSAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10041745


Dayane Pinto Santos ¹
Mirelli Santos Morais ²
Larissa Galvão Da Silva ³


RESUMO

Introdução: A acessibilidade e o desenho universal são temáticas fundamentais para o desenvolvimento de espaços e serviços que visem a utilização por toda a sociedade, independente dos seus aspectos físicos funcionais. Objetivo: Identificar as percepções da terapia ocupacional sobre a acessibilidade e o desenho universal com o intuito de proporcionar o desempenho físico funcional da população em geral. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa descritiva, de revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa. A busca foi feita nas seguintes bases de dados: BVS, Cadernos de Terapia Ocupacional, Periódicos CAPES, PUBMED e SCIELO. Resultados: Foram encontrados o total de 478 artigos, dos quais 7 foram selecionados de acordo com os critérios de exclusão e inclusão utilizados. Discussão: O processo de prática da terapia ocupacional e o terapeuta ocupacional apresentam importante papel para a construção de projetos que apresentem as perspectivas do desenho universal e da acessibilidade. Considerações finais: Sendo assim, o terapeuta ocupacional é um profissional da saúde que pode trabalhar de forma uni, multi e interprofissional, havendo a necessidade de seguir alguns passos gerais para a estruturação do processo de prática, levando em consideração os parâmetros de cada abordagem e as necessidades de cada cenário e indivíduo.

Palavras chaves: Acessibilidade arquitetônica; Desempenho físico funcional; Terapia ocupacional.

ABSTRACT

Introduction: Accessibility and universal design are fundamental themes for the development of spaces and services that aim to be used by the whole society, regardless of their physical and functional aspects. Objective: To identify the perceptions of occupational therapy on accessibility and universal design in order to provide the functional physical performance of the general population. Methodology: This is a descriptive research, an integrative literature review, with a qualitative approach. The search was carried out in the following databases: VHL, Occupational Therapy Notebooks, CAPES, PUBMED and SCIELO journals. Results: a total of 478 articles were found, of which 7 were selected according to the exclusion and inclusion criteria used. Discussion: The occupational therapy practice process and the occupational therapist play an important role in the construction of projects that present the perspectives of universal design and accessibility. Final considerations: Therefore, the occupational therapist is a health professional who can work in a uni, multi and interprofessional way, with the need to follow some general steps for the structuring of the practice process, taking into account the parameters of each approach and the needs of each scenario and individual.

Keywords: Architectural accessibility; Functional physical performance; Occupational therapy.

1. INTRODUÇÃO

A acessibilidade objetiva a interação plena e autônoma do indivíduo com o ambiente, seja ele físico ou não, independente dos seus aspectos físicos e funcionais. Ou seja, quando falamos sobre acessibilidade, estamos falando sobre dar acesso a algo ou à algum lugar. A ABNT 9050 em sua 4° edição traz que a acessibilidade é:

(…) possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural (NBR 950, 2020, p. 2.).

Indispensavelmente, quando falamos sobre acessibilidade, falamos sobre o desenho universal, também chamado de design universal. O desenho universal diz respeito a projetos idealizados para todos, seja de ambientes, objetos ou locais, públicos ou privados, sem a necessidade de adaptações para grupos específicos, levando em consideração todas as singularidades do sujeito (CARLETTO; CAMBIAGHI, 2008).

Carletto e Cambiaghi (2008), ainda trazem os 07 princípios do Desenho Universal, sendo eles: Igualitário, busca oferecer espaços que podem ser utilizados por todos, independentemente da sua capacidade; Adaptável, proporciona ambientes e ferramentas que se moldam diante da necessidade do indivíduo; Óbvio e o Conhecido trazem uma ideia central, a oferta de informações de fácil compreensão, seja de forma escrita, ou através de imagens autoexplicativas; Seguro, visa diminuir os riscos e consequências das barreiras arquitetônicas; Sem esforço, almeja o menor esforço físico para realização de uma atividade e Abrangente objetiva o acesso, alcance e a manipulação, independente dos aspectos físicos e funcionais. Em resumo, esses princípios referem-se aos aspectos básicos que os projetos devem apresentar, para que dessa forma, possam ser acessados, utilizados e usufruídos por todos, assegurando alguns direitos legais, como a participação social, o lazer e o trabalho.

Outrossim, é trazido na cartilha do plano viver sem limites (2013), que a inclusão social é um direito de todos, havendo a necessidade de promover ações que proporcionem a participação social e, consequentemente, a inibição e diminuição de barreiras que impeçam a participação plena e igualitária do indivíduo na sociedade (BRASIL, 2013).

Dessa forma, vários profissionais fazem uso do conceito e dos princípios do desenho universal, entre eles, o Terapeuta Ocupacional que em parceira com outros profissionais, planejam construções ou adaptações ambientais, tecnológicas ou arquitetônicas, para que o indivíduo adquira, readquira ou mantenha sua autonomia, e dessa forma consiga realizar suas ocupações de forma satisfatória. (MARINS; EMMEL, 2011). A American Occupational Therapy Association (AOTA, 2020), fala que o terapeuta ocupacional deve realizar adaptações e modificações que venham a auxiliar no desempenho ocupacional dos sujeitos, levando em consideração os fatores pessoais que estão interferindo nesse desempenho, fatores esses que podem ser reversíveis ou não.

Diante o exposto, o presente trabalho justifica-se pelo atual cenário social que busca cada vez mais o direito da participação social nos diferentes locais. No entanto, a presença de barreiras arquitetônicas ocasiona prejuízos no desempenho físico funcional, demanda essa, alvo da intervenção da terapia ocupacional.

Na terapia ocupacional deparamo-nos com lacunas existentes na literatura e, por vezes, na formação acadêmica, sendo necessário expandir as noções básicas e as perspectivas profissionais sobre a temática. Logo, apresenta-se como pergunta norteadora do trabalho “Quais são as perspectivas da terapia ocupacional sobre a acessibilidade arquitetônica e o desenho universal?”. Tendo como objetivo central, identificar as percepções da terapia ocupacional sobre a acessibilidade e o desenho universal com o intuito de proporcionar o desempenho físico funcional da população em geral.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa. Apresenta como objetivo identificar a visão da terapia ocupacional sobre a acessibilidade e o desenho universal para o desempenho físico funcional da população em geral, sendo que tal objetivo será alcançado a partir dos conceitos encontrados, com o auxílio dos descritores selecionados para a pesquisa.

De acordo com Botelho, Cunha e Macedo (2011) a revisão integrativa possibilita a observação e o estudo do conhecimento científico já produzido sobre a temática e permite a avaliação dos leitores sobre a pertinência da pesquisa. Além disso, consta-se que para a produção de uma revisão integrativa deve-se seguir os seguintes passos: identificação do tema e da questão norteadora da pesquisa; elaboração dos critérios de inclusão e exclusão; identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; categorização dos estudos selecionados; análise e interpretação dos resultados; apresentação da revisão/ síntese do conhecimento, que são as considerações finais (BOTELHO, CUNHA; MACEDO, 2011). Sendo válido ressaltar que esses parâmetros foram utilizados na construção dessa pesquisa.

A pesquisa teve duração de três meses (abril, maio e junho de 2022) e para a busca ativa dos artigos, foram definidos os seguintes Descritores de Ciências da Saúde (DeCS): Acessibilidade arquitetônica; desempenho físico funcional; terapia ocupacional; Architectural accessibility; Functional physical performance; Occupational therapy. Após a seleção dos descritores, a pesquisa dos artigos ocorreu nas bases de dados eletrônicas: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Cadernos de terapia ocupacional, Periódico CAPES, PUBMED e Scientific Electronic Library Online (SCIELO), bases essas escolhidas por apresentarem maior probabilidade de serem encontrados artigos sobre a temática, como também, por serem consideradas as maiores e as mais conhecidas bases de dados no meio acadêmico para a área de interesse da pesquisa.

Os descritores foram combinados das seguintes formas para a busca nas bases de dados: Acessibilidade arquitetônica and terapia ocupacional and desempenho físico funcional, Architectural accessibility and occupational therapy and functional physical performance, Acessibilidade arquitetônica and terapia ocupacional e Architectural accessibility and occupational therapy. A utilização dos descritores em dois idiomas se deu devido a necessidade de buscar o maior nº de artigos possível sobre a temática e também de realizar uma busca com alto nível de complexidade, visto que pode ocorrer de alguns dos artigos não aparecerem quando pesquisado somente com os descritores em somente um idioma.

Os critérios de inclusão utilizados foram artigos nos idiomas português e/ou inglês e/ou espanhol, publicados entre os anos 2012 a 2022, sendo esses artigos originais e que tratassem apenas da acessibilidade e do desenho universal dentro da perspectiva e da prática da terapia ocupacional, bem como, da acessibilidade dentro da perspectiva da terapia ocupacional. Já os critérios de exclusão foram artigos incompletos e duplicados, resenhas e livros, artigos pagos, artigos que abordassem somente desenho universal e acessibilidade, artigos que falassem sobre uma população especifica, como também, que relatassem apenas a terapia ocupacional, o desempenho funcional e a funcionalidade.

A análise inicial de todos os dados encontrados nas plataformas de pesquisa foi feita através da leitura do título e do resumo. A pesquisa ocorreu através das combinações dos descritores citados acima, com o uso do operador booleano and, e aplicações dos filtros para o ano, idiomas, tipo de artigo e acesso livre. Após essa seleção, com a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, os materiais elegíveis para a pesquisa foram tabelados para melhor visualização e avaliação, destacando o título, o autor, o objetivo e os resultados, logo após, realizamos a leitura completa dos artigos, para o desenvolvimento da discussão, frente ao objetivo desse trabalho.

3. RESULTADOS

Seguindo os critérios definidos acima foram encontrados os seguintes resultados: quatrocentos e seis (406) artigos no periódico CAPES; cinquenta e três (53) artigos na biblioteca Virtual de Saúde (BVS); doze (12) artigos na PUBMED; cinco (05) artigos na SCIELO e dois (02) artigos nos Cadernos de terapia ocupacional. Totalizando assim quatrocentos e setenta e oito (478) artigos.

Gráfico 01: Resultados encontrados.

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2022.

Desse nº inicial foram excluídos 471 artigos, sendo 22 por serem duplicados e 449 por não se encaixarem ao objetivo dessa pesquisa, sendo esses, excluídos após a leitura do título e do resumo, resultando em um nº final de sete (07) artigos para serem analisados e discutidos, os quais estão listados abaixo:

Tabela 01: Lista em ordem alfabética com os dados selecionados.

TÍTULOAUTORESOBJETIVORESULTADOS
A prescrição de tecnologias assistivas a partir dos princípios da tecnologia social: a visão dos estudantes de Terapia Ocupacional.Letícia Reichert; Taísa Gomes Ferreira.Comparar e debater os diferentes discursos de alunos referentes aos conceitos de TS e TA, e à construção de TA, a partir dos princípios da TS.As informações geraram seis ideias: tecnologia social de baixo custo; ações desenvolvidas em conjunto e construídas com base em uma demanda; recursos, adaptações, equipamentos de auxílio para as pessoas/produto pronto; tecnologia que busca auxiliar as pessoas levando em conta o contexto; prescrições utilizando materiais de baixo custo encontrados na comunidade, e projetos construídos com o sujeito de forma interdisciplinar.
Adapting a Person’s Home in 3D Using a Mobile App (MapIt): Participatory Design Framework Investigating the App’s Acceptability.
Guay, Manon; Labbé, Mathieu; Séguin-Tremblay, Noémie; Auger, Claudine; Goyer, Geneviève; Veloza, Emily; Chevalier, Natalie; Polgar, Jan; Michaud, François.Documentar o desenvolvimento e a aceitabilidade de uma tecnologia de eHealth de mapeamento 3D, otimizando sua contribuição para o trabalho do TO ao realizar avaliações em que as representações domiciliares são essenciais para atender às necessidades de uma pessoa.A percepção dos stakeholders foi favorável em relação à aceitabilidade do MapIt, atestando sua utilidade (ou seja, usabilidade e utilidade).
Análise dos conteúdos sobre acessibilidade e desenho universal nos cursos de graduação em arquitetura e terapia ocupacional no Brasil.Luciene Gomes; Maria Luísa Guillaumon Emmel.Investigar como os conceitos de Acessibilidade e do DU vêm sendo contemplados nos currículos dos cursos de graduação destas profissões, focando nas instituições públicas federais e estaduais brasileirasMostram uma complementariedade entre a atuação do terapeuta ocupacional e do arquiteto urbanista, enquanto na TO o enfoque da acessibilidade está no usuário, na AU o enfoque está no espaço. 
Avaliação da percepção sobre o ambiente de circulação: a acessibilidade centrada no usuário1/Evaluation of perception on environmental movement: accessibility centered in the user.Éden Fernando Batista Ferreira; Otavio Augusto de Araujo Costa Folha; Maisa Sales Gama Tobias.Avaliar o ambiente urbano de circulação do ponto de vista de seus usuários.Indica que a percepção das pessoas sobre o seu ambiente de circulação influencia diretamente o envolvimento em suas ocupações.
Community mobility in the context of universal design: Inter-professional collaboration and education.Hitch, Danielle; Larkin, Helen; Watchorn, Valerie; Ang, Susan.Explorar os pontos de vista das principais partes interessadas sobre o papel e a colaboração de terapeutas ocupacionais e arquitetos em relação ao design universal e ao ambiente construído.Três temas principais surgiram em relação à colaboração interprofissional em torno do design universal: ‘forma vs. função’, ‘quanto mais cedo melhor’ e ‘design universal como área de especialização’.
O direito de ir e vir: a acessibilidade do transporte público1/The right to come and go: public transport accessibility.Ana Flávia Rodrigues Vieira; Alessandra Cavalcanti; Alysson Lourenço Alves.Descrever a acessibilidade do transporte coletivo urbano no município de Uberaba-MG, na opinião das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.Os resultados sobre a definição de acessibilidade apontaram-na como o direito que equipara as pessoas com deficiência às sem deficiência, permitindo autonomia para ir e vir, bem como independência para a locomoção.
O terapeuta ocupacional como consultor na adequação do layout de uma biblioteca universitária 1.Iranise Moro Pereira Jorge; Aline Andreia Klein; Aline dos Santos Ávila; Ellen Geraldine Sakowicz.Apresentar o diagnóstico, a elaboração e o planejamento do layout da biblioteca do campus Rebouças da Universidade Federal do Paraná ‒ UFPR, localizado na cidade de Curitiba-PR.Verificou-se a necessidade de adequações, pois os ambientes analisados não contemplavam os princípios norteadores do referencial teórico utilizado. Deste modo, para que as intervenções propostas pelas pesquisadoras fossem implementadas, houve o auxílio do Setor de Engenharia, Manutenção e Marcenaria da Universidade, a fim de tornar este ambiente acessível e adequado aos futuros usuários e servidores da biblioteca.

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras, 2022.

4. DISCUSSÃO

O modo como o indivíduo percebe o ambiente em que ele frequenta/utiliza, influencia no seu envolvimento em ocupações, ou seja, em seu desempenho ocupacional (FERREIRA et al., 2013). Tal ideia remete muito à definição atual sobre acessibilidade, mais especificamente, na parte que fala sobre interação do indivíduo com o ambiente, que pode ser facilitador ou não.

Além disso, o autor também retrata que mudanças nos grandes centros urbanos podem interferir na acessibilidade, dessa forma, afetando diretamente o envolvimento das pessoas em ocupações, mais especificamente na participação social e consequentemente na qualidade de vida e na saúde (FERREIRA et al., 2013). Sendo esse, núcleo de atuação da terapia ocupacional.

Os autores Ferreira et al. (2013), Gomes e Emmel (2020), Hitch et al. (2012) e Vieira, Cavalcanti e Alves (2015), apresentam a mesma ideia central de que mesmo com condições de funções e de estruturas do corpo preservadas e sem alterações, fatores ambientais ainda podem comprometer o engajamento em ocupações, ou seja, o desenho universal e a acessibilidade devem ser pensados para toda sociedade e não apenas para uma população especifica, com o intuito de evitar a discriminação social mediante a falsa inclusão proporcionada por um ambiente e/ou serviço.

Dessa maneira, notou-se que há presença de conceitos interdisciplinares, provenientes de regulamentações, leis, normas e projetos, sobre acessibilidade e desenho universal, os quais são utilizados, e muitas das vezes adequados, para a utilização dos mesmos na prática da terapia ocupacional. Sendo encontrados, de maneira geral, as seguintes perspectivas, como mostra a tabela 02.

Tabela 02: Visão geral das perspectivas encontradas.

TERMOSPERSPECTIVAS/CONCEITOSAUTORES
Acessibilidade“Direito constitucional.” (p. 778). “Poder ir e vir.” (p. 778). “Possibilitar uma fácil locomoção, permitindo autonomia para ir e vir, bem como independência para a locomoção.” (p. 778).VIEIRA; CAVALCANTI; ALVES, 2015.
Acessibilidade“Solução de uma série de problemas vinculados às condições mínimas de usabilidade, satisfação e conforto no uso do meio ambiente.” (p. 177). “Acesso livre de quaisquer barreiras físicas.” (p. 177). “Espaço mais inclusivo, pois contribui para que as diferenças impostas por quaisquer limitações física, sensorial ou intelectual sejam minimizadas apenas pelas condições ambientais.” (p. 177).GOMES; EMMEL, 2020.
Acessibilidade“Envolvimento das pessoas em ocupações.” (p. 25). “Direito fundamental do cidadão de ir e vir.” (p. 26). “Equiparar oportunidades e dar condições.” (p.26). “Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização com autonomia dos espaços e equipamentos.” (p. 26).FERREIRA et al., 2013.
Desenho universal“Um tema central, que está presente em todos os momentos de criação do projeto ou na adequação do espaço, tanto nas determinações gerais como nas soluções mais pontuais e nos detalhes.” (p. 181).GOMES; EMMEL, 2020.
Desenho universal“A possibilidade de poder adequar o ambiente antes do seu funcionamento (…).” (p. 517). “Espaço propício ao desenvolvimento das tarefas, à organização do trabalho e à manutenção da saúde dos usuários, bem como um ambiente acessível.” (p. 517).JORGE et al., 2016.
Desempenho físico funcional“Vem a partir de um ambiente inclusivo.” (p. 510); “Só é possível em um ambiente que apresente boas condições para aqueles que o frequentam.” (p. 510).JORGE et al., 2016.
Desempenho físico funcional“Desenvolver de forma independente e autônoma suas ocupações.” (p. 26).FERREIRA et al., 2013.
Desempenho físico funcional“Capacidade que uma pessoa tem para realizar determinadas atividades ou funções, (…).” (p. 171).GOMES; EMMEL, 2020.
Terapia ocupacional“Procuram potenciais adaptações domésticas para melhorar a participação da pessoa em casa e na comunidade.” (p. 2).GUAY, Manon et al., 2021.
Terapia ocupacional“A ação do terapeuta ocupacional consiste em ser uma atividade profissional que visa ao diagnóstico e à formulação de soluções.” (p. 510).JORGE et al., 2016.
Terapia ocupacional“Profissão que visa à inclusão socioeconômica, à saúde e ao bem-estar.” (p.485). “Busca a melhoria na qualidade de vida das pessoas, considerando a sua subjetividade e o contexto em que vivem.” (p. 485). “Campo de conhecimento que busca, por meio do uso de atividades e de estratégias de intervenção e inclusão socioeconômica, promover emancipação e autonomia de pessoas que apresentam temporariamente ou definitivamente dificuldade na inserção e participação.” (p. 486).REICHERT; FERREIRA, 2016.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2022.

As interpretações encontradas possibilitam a compreensão de maneira mais complexa sobre como alguns conceitos de caráter interdisciplinar são utilizados e compreendidos para o processo de prática da terapia ocupacional, que na maioria das vezes esses conceitos se interligam, fortalecendo o campo de atuação da profissão e a disseminação de informações, considerando as particularidades de cada cenário a ser trabalhado, sendo que, de acordo com Hitch et al. (2012), a prática da terapia ocupacional ocorre mediante a utilização da abordagem holística e mais individualizada, diferente de outros profissionais, como os arquitetos.

Além disso, Gomes e Emmel (2020), trazem a ideia de uma abordagem interdisciplinar, na qual cada profissional dentro da sua profissão irá adicionar ao conceito original perspectivas oriundas da sua formação, possibilitando uma atuação mais ampla e complexa que busque considerar as características presentes no ambiente, nos serviços e nos indivíduos, sendo que cada profissional irá buscar suprir as demandas que estejam relacionadas com a sua atuação.

Já Heitch et al. (2012), apresenta a ideia de uma abordagem de natureza multidisciplinar com o objetivo de garantir que os ambientes e serviços possam possibilitar a participação plena e o desempenho físico funcional da sociedade nas ocupações e funções. Desse modo, tem-se que o terapeuta ocupacional terá como objetivo central, na maioria das vezes, manter/possibilitar o desempenho físico funcional dos indivíduos.

Ademais, Jorge et al. (2016) e Hitch et al. (2012) trazem que o terapeuta ocupacional trabalha em conjunto com outras profissões, apresentando importante papel como consultor e articulador de uma equipe, pois o mesmo contribui na construção/adaptação de um ambiente/serviço para que o(s) mesmo(s) não apresentem barreiras que venha a inviabilizar o acesso, o desempenho físico funcional e condição de saúde da população, pois de acordo com Vieira, Cavalcanti e Alves (2015), a acessibilidade é um direto constitucional de todos, devendo haver políticas públicas que potencializem o uso do desenho universal e da acessibilidade.

Além disso, uma outra questão trazida por Jorge et al. (2016) foi a exemplificação de como ocorre o processo de prática da terapia ocupacional dentro desse campo de atuação. Para isso, é necessário seguir alguns passos, sendo eles: Observação do ambiente/serviços e diagnóstico; estudo do referencial teórico; intervenção; manutenção periódica do ambiente/serviço. O processo apresentado está diretamente relacionado com o que traz a AOTA (2020) sobre a estruturação para a nossa prática, a qual deve haver avaliação, intervenção e resultados, como é explícito no gráfico 02.

Gráfico 02: Relação entre conteúdos para o processo de prática.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2022.

A partir da representação acima fica evidente o papel do terapeuta ocupacional e a necessidade de informações que visem ofertar parâmetros que objetivem atuar nas barreiras existente, buscando possibilitar/manter o desempenho ocupacional por todos, independe da capacidade funcional do indivíduo que frequenta ou utiliza o determinado espaço/serviço. Ademais, é perceptível também que embora os conceitos/percepções encontradas e o processo para a prática da profissão tragam a mesma ideia central, deve-se observar e entender as particularidades de cada temática dentro de um núcleo de atuação.

Outro dado encontrado em 2 artigos analisados, é sobre a necessidade de revisões e manutenções regularmente nos locais e serviços que fazem uso do desenho universal de ferramentas para promover a acessibilidade. Ademais, aspectos relacionados a organização dos serviços devem ser analisados e alterados para proporcionar um melhor rendimento ocupacional (JORGE et al., 2016. VIEIRA; CAVALCANTI; ALVES, 2015.).

Outrossim, 57,14% dos artigos analisados relatam sobre a necessidade de mais estudos envolvendo os conteúdos sobre acessibilidade e desenho universal, pois, embora haja resoluções, leis e projetos que asseguram a acessibilidade e que orientem sobre o uso do desenho universal, desde o planejamento das obras e implementação dos serviços. Nesse viés, ainda é grande o número de locais/estabelecimentos que não fazem o uso correto do que é obrigado/previsto nas leis/regulamentações (FERREIRA et al., 2016; HITCH et al., 2012; JORGE et al., 2016; VIEIRA; CAVALCANTI; ALVES, 2015.).

Desse modo, destaque-se como limitações para o presente trabalho as lacunas na literatura cientifica, principalmente em artigos de acesso livre, impossibilitando a análise mais profunda dos conteúdos, deixando explícito a necessidade de novos estudos sobre a prática da terapia ocupacional e de como a mesma aplica e, também, delimita tais conceitos no processo de prática, indo além da teoria.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As perspectivas e conceitos encontrados sobre o desenho universal e acessibilidade mostram que a sua utilização para a prática, visando a construção de projetos e implementações de serviços, podem ocorrer dentro de diversas abordagens, sendo capaz de ser uniprofissional, multiprofissional e interprofissional, os quais serão trabalhados dentro de cada núcleo das profissões envolvidas.

Sendo assim, o terapeuta ocupacional é um profissional da saúde que pode trabalhar dentro desses três vieses, havendo a necessidade de seguir alguns passos gerais para a estruturação do processo de prática, levando em consideração os parâmetros de cada abordagem e as necessidades de cada cenário e indivíduo.

Portanto, embora a pesquisa apresente algumas limitações, já citadas, espera-se que esse trabalho venha possibilitar a divulgação do campo de atuação e a oferta de resolutividade das demandas por terapeutas ocupacionais, objetivando a redução/aniquilação das barreiras arquitetônicas presentes nos ambientes e serviços utilizados pela sociedade, visto que, o desempenho físico funcional pode ser alterado intendente do sujeito apresentar deficiências, mobilidade reduzida ou outras questões que afetam na funcionalidade, havendo assim, a necessidade de considerar as particularidades de cada indivíduo.

6. REFERÊNCIAS

AOTA. American Occupational Therapy Association. Occupational Therapy Practice Framework: Domain and Process Fourth Edition. The American Journal of Occupational Therapy. v. 74, Suppl. 2, 2020. 

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BOTELHO, Louise Lira Roedel; CUNHA, Cristiano Castro de Almeida; MACEDO, Marcelo. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, 2011. Disponível em: https://www.gestaoesociedade.org/gestaoesociedade/article/view/1220. Acesso em: 1 jun. 2022.

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CARLETTO, Ana Cláudia; CAMBIAGHI, Silvana. Desenho Universal: um conceito para todos. São Paulo: Instituto Mara Gabrilli, 2008.

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FERREIRA, Éden Fernando Batista; FOLHA, Otavio Augusto de Araujo Costa; TOBIAS, Maisa Sales Gama. Avaliação da percepção sobre o ambiente de circulação: a acessibilidade centrada no usuário1/Evaluation of perception on environmental movement: accessibility centered in the user. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, v. 21, n. 1, p. 25, 2013.

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HITCH, Danielle et al. Community mobility in the context of universal design: Inter‐professional collaboration and education. Australian Occupational Therapy Journal, v. 59, n. 5, p. 375-383, 2012.

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¹Terapeuta ocupacional formada pela Universidade Federal de Sergipe.

²Terapeuta ocupacional formada pela Universidade Federal de Sergipe.

³Professora Doutora do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Sergipe.