REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7557255
Dr. Daniel Dias Machado
- INTRODUÇÃO
Em termos de psicologia forense, a psicopatia é um tema muito importante porque a maioria dos casos está relacionada com processos judiciais e o termo psicopata é o mais famoso e comum, mas podem receber outros títulos como personalidade antissocial, sociopata, personalidade dissocial, personalidade psicopática, etc. Os autores destacam ainda que o mais marcante dos traços já mencionados na personalidade do psicopata é a total falta de empatia, por ser incapaz de cuidar e amar o outro (Gonzalez & Aquotti, 2015).
Porém, as características desse transtorno se manifestam na infância e essa realidade ainda é um tabu na sociedade, pois a infância é associada à pureza e inocência e em geral as pessoas não conseguem imaginar uma criança capaz de violência e tortura. Porém, o diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial (TAPS)/psicopata é fechado somente a partir dos 18 anos, pois a avaliação diagnóstica deve ser detalhada, o que exige um estudo minucioso da história de vida do indivíduo, detecção de comportamento inadequado. Existem ferramentas psicológicas que auxiliam nessa pesquisa, como a “escala hare”, que é utilizada como suporte no diagnóstico desse transtorno (Almeida, 2018).
Com base no entendimento e nas intervenções legais da psicopatia infantil, originalmente denominada transtorno de conduta (TC), este estudo apresenta uma apresentação bibliográfica do conhecimento empírico e atualizado sobre o tema. Pois este estudo foi iniciado pela seguinte questão norteadora: “Quais são os aspectos da personalidade psicopática em crianças?”. A princípio, levanta-se a hipótese de que a personalidade psicopática da criança apresenta características como falta de empatia e falta de sentimentos, o que leva a comportamentos impulsivos e inadequados.
Percebe-se que na sociedade ainda é escasso o conhecimento sobre a personalidade psicopática infantil, bem como as medidas aplicadas nesses casos. A sociedade tem uma relação difícil com essas crianças, pois elas costumam ter o bom senso de se considerarem “rejeitadas”, “rebeldes”, “resistentes”, ao passo que são comportamentos oriundos de transtornos de conduta que causam danos às pessoas ao seu redor. em relação a eles, por isso a sociedade ainda é crítica e punitiva em relação a esses menores (Rios, 2019).
Além disso, vale ressaltar a necessidade de pesquisas sobre o tema, que são voltadas principalmente para crianças, visto que a maior parte das pesquisas é voltada para adultos, pois sabe-se que o diagnóstico de psicopatia já vem formulado, ao contrário de uma criança, onde ele tem indícios de ser portador de um distúrbio de conduta. Assim, este estudo contribui para o levantamento de informações relacionadas à infância em particular, pois sugere, além de investigações mais aprofundadas, auxiliar pesquisas no meio acadêmico e nas diversas áreas que se interessam pelo tema que tratam. aprofunda a visão do senso comum enraizado na sociedade em geral, que se baseia na compreensão das leis do poder judiciário e das intervenções implementadas.
Desta forma, foram encontrados indicadores de possível psicopatia infantil, que geralmente começa na idade de 2-3 anos e facilmente mostra comportamento de frustração quando não atinge seus objetivos, mostra raiva excessiva e comportamento cruel e geralmente não mostra remorso ou culpa por seu comportamento (Nunes et al., 2018).
- DESENVOLVIMENTO
Ao longo da história, a criança se inseriu em diversos contextos sociais. De acordo com a Lei da Criança e do Adolescente (1990), o conceito de infância refere-se ao contexto social, histórico e cultural de cada sujeito.
Segundo Davoglio et al. (2012, p. 7), “na Idade Média, a criança era vista como um pequeno adulto, sem traços distintivos, e não era vista como merecedora de cuidados especiais”. As crianças tinham praticamente as mesmas responsabilidades dos adultos, atuando em papéis diferentes, o que as afastava do universo infantil.
Após alguns anos, esse papel da criança ganhou novos conceitos e concluiu-se que ela deve ser cuidada e protegida. Perante este novo conceito, passamos a olhar a criança e a sua infância de uma nova forma na família, na escola e na sociedade (Davoglio et al., 2012).
Hoje, diante da sociedade moderna e tecnológica, o comportamento de crianças e jovens costuma mudar. São introvertidos, calados, têm poucos amigos. Passam horas no computador, os pais trabalham o dia inteiro, meio que sumiram, e por isso essas crianças e jovens ficam a mercê de muitas coisas que os adultos não veem. Grande parte destes está relacionada com o crime e comportamento agressivo exagerado, e por isso muitos estudos modernos têm levado em consideração a existência de fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios psicopatológicos e comportamentais nesta fase (Davoglio et al., 2012; Bordin & Offord, 2000).
Muitos comportamentos impulsivos isolados e transitórios são considerados comuns e naturais na infância e adolescência, mas devido ao alto nível de agressividade observado nos últimos anos, por serem repetitivos e persistentes, são vistos como traços psicopáticos.
Alguns pesquisadores defendem a ideia de que esses comportamentos antissociais na infância são protótipos de comportamento criminoso que podem se manifestar mais tarde na forma de transtorno de personalidade. É justamente por todas essas questões ainda muito mal resolvidas, somadas à intensidade e frequência da delinquência e da delinquência entre meninos e meninas na atualidade, que há um crescente interesse teórico e aplicado pelo construto da psicopatia na infância e adolescência. (Davoglio et al., 2012, p. 455).
O aumento de casos de TPAS mostrou o quanto a sociedade está fragilizada em relação ao respeito ao próximo, gentileza e empatia. As agressões, cada vez mais comuns e repetidas diariamente nos noticiários, não afetam mais a sociedade como antigamente (Davoglio et al., 2012; Bordin & Offord, 2000).
De acordo com o DSM-IV-TR (1994, p. 80), um transtorno geralmente diagnosticado pela primeira vez na infância e adolescência e associado à agressão e violência persistente é o transtorno de conduta (TC), que “é caracterizado por um padrão de comportamento que viola os direitos básicos dos outros ou importantes normas ou regras sociais apropriadas à idade”. Crianças e adolescentes diagnosticados com TT são altamente agressivos e argumentam sem motivo aparente (Davoglio et al., 2012; Bordin & Offord, 2000; Barbieri, Mishima & Selan, 2013). Bordin e Offord (2000, p. 12) afirmam em seu estudo que “o transtorno de conduta é um dos transtornos psiquiátricos infantis mais comuns e uma das razões mais importantes para consultar um psiquiatra infantil”.
Rocha (2012) aponta que a TC pode se iniciar por volta dos cinco ou seis anos de idade. Essas crianças têm pouca empatia, hostilidade e são agressivas, sem sentimento de culpa ou remorso. Em geral, o uso precoce de álcool, drogas e vida sexual ativa podem ser observados na adolescência. Rocha (2012, p. 19) também afirma que “o risco de interrupção continuada leva ao fracasso escolar”.
O transtorno de conduta pode ser facilmente associado ao TPAS mais tarde na vida de um indivíduo porque “o TPAS não é diagnosticado em pessoas com menos de 18 anos” (DSM-IV-TR 1994, p. 171). Muitos autores (Davoglio et al., 2012; Bordin & Offord, 2000; Barbieri, Mishima & Selan, 2013; Rocha, 2012) argumentam que os traços psicopáticos podem mostrar seus traços desde a infância, enquanto, segundo eles, o TPAS não vem de repente e é possível ver sinais antes da idade adulta.
Existem características amplas, mas marcantes, associadas à psicopatia. DSMIV-TR (1994, p. 1019) o descreve como “um padrão generalizado de desrespeito e violação dos direitos dos outros que começa na infância ou no início da adolescência e continua na idade adulta”.
Essas pessoas não têm sentimentos. São frios, calculistas, sem empatia, mentirosos, dissimulados, que facilmente enganam e manipulam suas vítimas. São impulsivos em seu comportamento, pouco familiares e têm pouca capacidade de sentir remorso ou culpa (Silva, 2014).
Indivíduos com TPAS não seguem as normas de comportamento dentro dos parâmetros legais. As pessoas com esse transtorno não se importam com os desejos, direitos ou sentimentos dos outros. Freqüentemente, eles enganam ou manipulam os outros para ganho ou prazer pessoal (DSM-IV-TR, 1994, p. 1020). Além disso, os psicopatas possuem uma inteligência admirável, pois são excelentes planejadores e executam seus planos de forma peculiar. Eles gostam de atividades perigosas e são incapazes de sentir ansiedade. A maioria dos psicopatas não atinge o nível máximo de desordem (assassinos em série), a maioria deles acaba sendo grandes empresários que não medem as consequências para atingir seus objetivos, estelionatários, casam-se com várias mulheres, burlam seguros, etc.
Sua principal característica é uma impressionante falta de consciência nas relações interpessoais que se formam nos diversos ambientes de interação humana (afetivo, profissional, familiar e social). Seu jogo é baseado no poder e na autopromoção em detrimento dos demais, sendo capazes de dominar tudo e todos com total egocentrismo e indiferença (Silva, 2014, p. 39).
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados das pesquisas atuais sobre traços psicopáticos na infância e adolescência são inconclusivos de acordo com a literatura disponível, mas indicam uma prevalência de externalização, conduta ou problemas antissociais nessa população. A presença dessas características em crianças e adolescentes não determina necessariamente a determinação de um diagnóstico clínico, embora muitas vezes essas características possam evoluir para condições psicopatológicas, como TC, TPAS, psicopatia e várias comorbidades.
Portanto, vários pesquisadores acreditam que é muito útil examinar as características da psicopatia adolescente e infantil dentro da estrutura de uma compreensão geral do TP, levando em consideração os aspectos de desenvolvimento dos sintomas, bem como a etiologia multifatorial. A possível presença de características afetivas e interpessoais psicopáticas (como falta de remorso, empatia ou sensibilidade afetiva) deve ser cuidadosamente investigada, pois essas características são critérios de diferenciação diagnóstica muito importantes se apresentadas simultaneamente com aspectos comportamentais antissociais. não são por si só decisivos no diagnóstico de traços psicopáticos.
Por meio desta revisão de literatura, também se constatou que, apesar dos achados empíricos atuais, a aplicação do construto psicopatia à infância e adolescência ainda enfrenta diferenças que estão particularmente relacionadas a questões sociais e legais. Conclui-se que algumas das medidas propostas destinadas a evitar o estigma e a estigmatização devido à causa deste diagnóstico podem ser úteis até certo ponto, mas trazem inerentemente consigo uma relutância em reconhecer e abordar objetivamente estes sintomas, o que pode significar a impossibilidade de qualquer tentativa terapêutica. Por outro lado, a cautela no oferecimento de diagnósticos psicopatológicos a crianças e jovens é perfeitamente aceitável, pois, se mal conduzidos, podem, por exemplo, continuar excluídos socialmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Barbieri, V.; Mishima, F. K. T.; Selan, B.(2013). A Criança Antissocial e seu pai: Um estudo Psicodinâmico. Psicologia: Saúde & Doenças. Portugal. v. 14,p. 356-381.
Bordin, I.; Offord, D. (2000). Transtorno da Conduta e Comportamento Antissocial. Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo. v. 22, p. 12-5.
Davoglio, T. R.; Gauer, G. J. ; Jaeder, J. V. H.; Talotti, M. D. (2012). Personalidade e Psicopatia: Implicações diagnósticas na Infância e adolescência. Estudos de Psicologia. Rio Grande do Sul. v. 17, p. 453 a 460.
DSM-IV-TR. (1994). Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Editora Artes Médicas Sul LTDA.
Gonzalez, Y. S., & Aquotti, M. V. F. (2015). Perfil Dos Psicopatas. Etic-Encontro De Iniciação Científica-Issn 21-76-8498, 11(11), 01-16.
Nunes, A. F., Costa Aiasse, E., Alves, I. B., van Samson, M. C. A., & Sadalla, N. P. (2018). Psicopatia infantil: o limite entre a ingenuidade e a maldade. Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará, 5(8), 75-91.
Rios, D. R. (2019). Crianças e Adolescentes Psicopatas: Trasntorno de Conduta e Suas Punições. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Faculdade Vale do Cricaré. Espirito Santos. Roland, P. (2014). Por Dentro das M
Rocha, G. V. M. (2012). Comportamento Antissocial: Psicoterapia para Adolescentes Infratores de Alto Risco. Curitiba: Juruá.
Silva, A. B.B. (2014). Mentes Perigosas: o Psicopata mora ao lado. São Paulo: Globo.