REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202502170503
Marcos Antonio de Lima Tavares Filho
Weverton Silva Rodrigues
Irís Valença
Maria Aline Barros Fidelis de Moura
Resumo:
O presente trabalho trata-se de uma atividade de extensão realizada pelo Centro de Informações Toxicológicas da Ufal (CITOX) em parceria com a (ACE), realizada na Unidade Docente Assistencial Prof. José Gilberto de Macedo (UDA-UFAL), com o propósito de elucidar os efeitos nocivos da automedicação, especialmente no âmbito toxicológico. Buscou-se ampliar a compreensão sobre os danos que podem advir do uso indiscriminado de fármacos sem supervisão profissional. O cerne desta atividade reside na exposição dos riscos associados à prática autônoma de se medicar, destacando-se as repercussões toxicológicas que podem decorrer dessa conduta. A abordagem metodológica adotada envolveu a análise crítica de estudos e literatura especializada, visando a uma compreensão mais abrangente e aprofundada dos desafios e consequências da automedicação.
Palavras-chave: Automedicação; Danos toxicológicos; Consequências da automedicação; Riscos associados; Extensão.
Introdução:
Medicamentos desempenham um papel crucial nos sistemas de saúde, sendo essenciais para salvar vidas e promover o bem-estar (MARIN et al, 2003). O uso de medicamentos é amplamente difundido em nossa sociedade como forma de terapia, porém estudos indicam que certos problemas de saúde podem surgir como resultado do seu uso. Fatores como pressões sociais sobre os prescritores, a estrutura do sistema de saúde e estratégias de marketing da indústria farmacêutica são apontados como contribuintes para esse cenário (DALL AGNOL, 2004).
Embora o acesso a assistência médica e medicamentos seja crucial, isso não garante necessariamente melhores condições de saúde ou qualidade de vida. Práticas inadequadas de prescrição, erros na dispensação e automedicação podem resultar em tratamentos ineficazes e até mesmo perigosos. No entanto, é inegável que receber tratamento apropriado quando necessário reduz a incidência de doenças e a mortalidade associada a muitas condições (ARRAIS et al., 2005).
Fatores econômicos, políticos e culturais têm impulsionado o aumento da automedicação globalmente, transformando-a em uma questão de saúde pública. A maior disponibilidade de produtos no mercado tem aumentado a familiaridade dos usuários leigos com os medicamentos (FILHO et al., 2002).
No Brasil pelo menos 35% dos medicamentos adquiridos são feitos através de automedicação (AQUINO, 2008). Assim, entende-se automedicação com o ato de uma pessoa tomar medicamentos por conta própria, sem prescrição médica ou orientação de um profissional de saúde. Isso pode incluir medicamentos vendidos sem receita médica, como analgésicos, antitérmicos, antiácidos e alguns tipos de antibióticos. Essa prática pode ser arriscada, pois os medicamentos podem ter efeitos colaterais, interações medicamentosas ou até mesmo mascarar sintomas de problemas de saúde mais graves. O acúmulo de medicamentos nas residências, constituindo por vezes um verdadeiro arsenal terapêutico, é também fator de risco (FERREIRA et al., 2005). Além de favorecer a prática da automedicação, facilitar a ocorrência de um equívoco entre medicamentos, e do risco de intoxicação por ingestão acidental, a falta de cuidados com a farmácia caseira pode afetar a eficiência e a segurança no uso de medicamentos.
Medicamento é o principal agente tóxico que causa intoxicação em seres humanos no Brasil, ocupando o primeiro lugar nas estatísticas do SINITOX desde 1994; os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos, anti-inflamatórios são as classes de medicamentos que mais causam intoxicações em nosso País (44% foram classificadas como tentativas de suicídio e 40% como acidentes, sendo que as crianças menores de cinco anos – 33% e adultos de 20 a 29 anos – 19% constituíram as faixas etárias mais acometidas pelas intoxicações por medicamentos). Fundamentando-se nisso, a ação extensionista dos alunos da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), proporciona um papel vital no apoio à comunidade, criando um ambiente favorável para a implementação de orientações terapêuticas, visando a não adequação da automedicação, explanando os principais danos toxicológicos.
As ações realizadas por meio deste projeto de extensão estão alinhadas com as orientações da Política Nacional de Medicamentos (BRASIL, 1998). Tendo como principal objetivo, conforme essa Portaria, priorizar a educação dos usuários ou consumidores sobre os perigos da automedicação, da interrupção e da substituição dos remédios prescritos, além da importância da prescrição médica, especialmente em relação à distribuição de medicamentos tarjados.
Metodologia:
Um estudo de revisão foi conduzido utilizando pesquisa bibliográfica, juntamente com pesquisa descritiva, sobre os perigos da automedicação e seus principais danos toxicológicos, fornecendo uma análise da situação atual em relação à capacidade de assistência aos pacientes no Sistema Único de Saúde. Os dados pertinentes foram observados para a realização do estudo por meio de uma abordagem ampla e sistemática.
Dessa forma, as atividades desenvolvidas na Unidade Docente Assistencial Prof. José Gilberto de Macedo (UDA-UFAL), da cidade de Maceió, são no formato de palestras informativas, partindo-se do conhecimento existente, visando orientar para o uso racional de medicamentos e informações sobres os principais danos toxicológicos. Todos os alunos extensionistas ao ingressarem no projeto passam por um treinamento, orientado pela Professora Aline Fidelis, que envolve o estudo da literatura sobre a automedicação e o desenvolvimento da interação com o público. O treinamento serve também para nivelar os extensionistas objetivando que as informações repassadas ao público sejam coesas.
A atividade principal realizada pelo projeto é a informação através das palestras conduzida pelos alunos do ACE, junto ao projeto de extensão CITOX, a qual é constituída pela divisão de turma em grupos com cinco integrantes, cada grupo ficou responsável pela apresentação dos efeitos toxicológicos das classes mais comuns de causar intoxicação através da automedicação. São eles: os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos, antiinflamatórios, com o acréscimo de produtos naturais, visto que é uma classe de medicamentos comumente na sociedade hodierna.
Com o objetivo de identificar os principais problemas dos efeitos toxicológicos da automedicação, os participantes recebem modelos de folders que dirigem a análise do conteúdo abordado pelos alunos na apresentação. Através deste folder, devem ser observados os problemas encontrados em cada classe de medicamentos, tendo em vista a capacidade informativa e direcionamento prático por meio deste material complementar. Neste processo os participantes são orientados pelos extensionistas a fazerem boas práticas ao uso racional de medicamentos. Após a entrega do material, são discutidos aspectos referentes aos efeitos colaterais; os principais danos toxicológicos; intoxicação por overdose; toxidade cumulativa; além da definição da classe e quais são os medicamentos mais comuns. Em seguida o conhecimento é socializado e discutido para consolidar as informações.
Resultados e discussão:
A população está cada vez mais à mercê de informações incorretas e mal intencionadas, sendo postadas por meio de ignorância, inocência ou de forma proposital para gerar benefício a alguém, seja pessoa física ou jurídica, ou pelo simples prazer de causar confusão na população. As fake news sobre questões relacionadas à saúde ganharam um lugar de destaque nos últimos meses e o uso irracional de produtos que foram declarados como soluções para a pandemia, gerou ainda mais problemas relacionados a interações medicamentosas, eventos adversos graves e intoxicação.
Parafraseando a famosa frase de Paracelso, médico, alquimista, físico e astrólogo suíçoalemão em 1538, “A diferença entre o veneno e o medicamento é a dose.”, uma vez que não é só a dose que pode levar uma substância a causar problemas ao organismo. E é nesse contexto que usamos das palestras, mídias sociais (via Instagram), e um relacionamento próximo com a comunidade, para mitigar as dúvidas e esclarecer sobre os riscos da automedicação. Apresentando um resultado satisfatório da interação do público com os extensionistas. A inserção de acadêmicos e projetos de extensão nas comunidades permite que a sociedade se beneficie com as atividades desenvolvidas pelos discentes e que estes adquiram na prática cotidiana conhecimentos na área da saúde, que venham a colaborar na formação de profissionais preocupados com a realidade social.
A entrega dos materiais elaborados pelos estudantes (Figura 1), na atividade de extensão sobre os riscos da automedicação e seus danos toxicológicos, na Unidade Docente Assistencial Prof. José Gilberto de Macedo (UDA-UFAL), desempenha um papel fundamental na disseminação de informações essenciais para os pacientes. Esses folders fornecem uma forma acessível de educar e conscientizar as pessoas sobre os perigos associados à automedicação, mesmo para aqueles que podem não ter acesso regular a esse tipo de informação. Ao disponibilizar informações claras e concisas sobre os riscos envolvidos na prática de se automedicar, os folders atuam como uma ferramenta educativa preventiva. Eles destacam os perigos de utilizar medicamentos sem orientação médica adequada, incluindo os potenciais danos toxicológicos associados a diferentes tipos de medicamentos, mesmo aqueles disponíveis sem prescrição.
Essa abordagem não apenas promove a saúde pública, ao contribuir para a redução de casos de intoxicação medicamentosa, mas também capacita os pacientes a tomar decisões mais informadas sobre sua própria saúde. Ao receber informações sobre os riscos da automedicação, os pacientes se tornam mais conscientes da importância de buscar orientação médica adequada antes de iniciar qualquer tratamento medicamentoso. Além disso, a distribuição de folders permite alcançar uma ampla gama de pessoas, incluindo aquelas que podem pertencer a comunidades onde a automedicação é prevalente. Essa estratégia é crucial para garantir que a mensagem sobre os perigos da automedicação seja amplamente divulgada e compreendida, contribuindo assim para a promoção de práticas mais seguras de uso de medicamentos.
É importante destacar que todos os pacientes demonstraram uma alta taxa de satisfação em relação às informações transmitidas pelos alunos durante a atividade de extensão. Os dados coletados revelaram que a vasta maioria dos participantes expressou um entendimento claro dos riscos associados à automedicação e dos danos toxicológicos potenciais decorrentes dessa prática. As respostas positivas dos pacientes indicaram uma valorização significativa da qualidade e da relevância das informações apresentadas pelos alunos. Muitos pacientes elogiaram a clareza das explicações e a utilidade das recomendações fornecidas, destacando que as informações os ajudaram a repensar seus próprios hábitos de automedicação e a considerar a busca por orientação médica adequada em futuros casos de necessidade de tratamento.
Além disso, as palestras (Figuras 2 e 3) proporcionam um ambiente onde os participantes podem fazer perguntas, discutir preocupações e compartilhar experiências pessoais. Isso promove uma maior compreensão dos riscos envolvidos na automedicação e incentiva uma reflexão mais crítica sobre os hábitos de uso de medicamentos. Ao participar de palestras sobre os riscos da automedicação, os pacientes têm a oportunidade de se engajar ativamente no processo de aprendizagem, o que pode aumentar a retenção e a aplicação das informações apresentadas. Isso os capacita a tomar decisões mais informadas sobre sua própria saúde e a adotar práticas mais seguras de uso de medicamentos no futuro.
Figura 1: Entrega dos folders.

Figuras 2 e 3: Palestra informativa dos alunos.

Considerações finais:
Com os resultados obtidos no desenvolvimento das atividades foi possível observar a carência de informações da população atendida pelo projeto e a necessidade da difusão permanente de conhecimento consistente sobre o uso racional de medicamentos e quais são os seus danos toxicológicos. A disseminação do uso de drogas em nossa sociedade tem encontrado nos medicamentos uma fonte de acesso fácil, problema que precisa ser efetivamente encarado. Para os alunos do extensionistas do curso de farmácia, da Universidade Federal de Alagoas, a participação no projeto permite ampliação dos conhecimentos. As atividades realizadas proporcionam contato precoce dos estudantes com a população que eles atenderão depois de formados. Dessa forma, estes alunos quando se tornarem profissionais terão possibilidade de melhor atuação por conhecerem a realidade da sociedade da qual participam.
Referências:
AQUINO, D. S. da; Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Ciência & Saúde Coletiva, v.13, p.733–736, 2008.
ARRAIS, P. S. D.; BRITO, L. L.; BARRETO, M. L.; COELHO, H. L. L. Prevalência e fatores determinantes do consumo de medicamentos no Município de Fortaleza, Ceará, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.21, n.6, p.1737-1746, nov./dez. 2005.
BORTOLETTO, M. E.; BOCHNER, R. Impacto dos medicamentos nas intoxicações humanas no Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 859-869, out./dez. 1999.
FILHO, A. I. de L.; UCHOA, E.; GUERRA, H. L.; FIRMO, J. O. A.; LIMA-COSTA, M. F. Prevalência e fatores associados à automedicação: resultados do Bambuí. Revista Saúde Pública, v.36, n.1, p.55-62, 2002.
SINITOX. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Estatística anual de casos de intoxicação e envenenamento: Brasil, 1999. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz/Centro de Informação Científica e Tecnológica; 2000.