PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO,  FATORES DE RISCO E EVOLUÇÃO TEMPORAL DOS CASOS PREVALENTES DE CÂNCER DE PRÓSTATA NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL ENTRE 2013 E 2022. 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10056538


Maria Luiza Lisboa Sá1
Manoel Holanda Soares1
Wandklebson Silva da Paz1,2


Resumo

O câncer de próstata ainda é um grave problema de saúde pública no Brasil. Atualmente, ele é a segunda maior causa de mortalidade por câncer em homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Assim, o objetivo deste artigo foi verificar o perfil sociodemográfico e os padrões temporais da população acometida com câncer de próstata na região Nordeste do Brasil entre de 2013 a 2022. Primeiramente, nós verificamos o perfil sociodemográfico da população acometida com câncer de próstata segundo sexo, faixa etária e local de residência. Além disso, analisamos os fatores de risco associados a essas variáveis. Por fim, utilizamos a análise de tendência temporal segmentada para avaliar a evolução temporal da prevalência do câncer de próstata segundo as variáveis sociodemográficas. Com isso, observamos uma taxa de prevalência de 27,73/100 mil habitantes entre 2013 e 2022 na região. Constatamos alguns casos registrados em mulheres e verificamos que as faixas etárias mais velhas e os estados do Rio Grande do Norte, Bahia e Paraíba apresentaram as maiores taxas e os riscos de prevalência da doença. Além disso, quase todas as variáveis analisadas apresentaram tendência crescente da taxa de prevalência. Nossos dados indicam que a prevalência do câncer de próstata aumenta a cada ano e é de suma importância o diagnóstico precoce em pacientes acima de 40 anos.

Palavras-chave: Câncer de próstata, Prevalência, Saúde pública, Séries temporais.

Abstract

Prostate cancer is still a serious public health problem in Brazil. It is currently the second leading cause of cancer mortality in men, behind only non-melanoma skin cancer. Therefore, the objective of this article was to verify the sociodemographic profile and temporal patterns of the population affected by prostate cancer in the Northeast region of Brazil between 2013 and 2022. Firstly, we verified the sociodemographic profile of the population affected by prostate cancer according to sex, age group and place of residence. Furthermore, we analyzed the risk factors associated with these variables. Finally, we used segmented temporal trend analysis to evaluate the temporal evolution of prostate cancer prevalence according to sociodemographic variables. As a result, we observed a prevalence rate of 27.73/100 thousand inhabitants between 2013 and 2022 in the region. We found some cases registered in women and found that older age groups and the states of Rio Grande do Norte, Bahia and Paraíba had the highest rates and risks of prevalence of the disease. Furthermore, almost all of the variables analyzed showed an increasing trend in the prevalence rate. Our data indicate that the prevalence of prostate cancer increases every year and early diagnosis in patients over 40 years of age is extremely important.

Keywords: Prostate cancer, Prevalence, Public health, Time series.

1. Introdução

Segundo a estimativa do Instituto Nacional de Câncer (2022) o câncer de próstata é a segunda maior causa de mortalidade por câncer em homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Os tipos de câncer mais frequentes em homens, à exceção do câncer de pele não melanoma, serão próstata (29,2%), cólon e reto (9,1%), pulmão (7,9%), estômago (5,9%) e cavidade oral (5,0%) (INCA, 2020). Através disso, pode-se dizer que o câncer de próstata é uma das maiores preocupações da saúde coletiva do país, visto que tem difícil diagnóstico no estágio inicial e a falta de informação masculina contribui para o diagnóstico tardio (INCA, 2022).

Segundo Barbosa e Nunes (2023), o rastreio do câncer prostático é feito, basicamente, através de toque retal e dosagem de antígeno prostático específico (PSA). No entanto, diversas mudanças em suas recomendações foram propostas nos últimos anos. O diagnóstico é feito por meio de biópsia guiada por ultrassonografia transretal, com posterior avaliação histopatológica e classificação de prognóstico com base em alguns achados. A depender do estado estabelecido, diversas modalidades terapêuticas podem ser empregadas, como acompanhamento periódico, radioterapia, cirurgia, hormonioterapia ou quimioterapia. 

Diversos fatores desta neoplasia podem aumentar o risco do desenvolvimento do câncer de próstata, tais como: idade avançada, histórico familiar positivo para esse tipo de câncer, exposição à testosterona e outros hormônios similares, tabagismo, dieta, alterações genéticas, obesidade, exposição ocupacional, doenças sexualmente transmissíveis, vasectomia, entre outros. Além desses fatores de risco, precisa ficar atento a presença de sintomas como dor, dificuldade de urinar; demora em começar e terminar de urinar; diminuição do jato da urina; sangue presente e necessidade de urinar mais vezes, pois seria mais fácil o tratamento.

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (2022), o Nordeste é a região brasileira com maior risco de novos casos de câncer de próstata, com uma estimativa de 72,35 novos casos por 100 mil homens. Dessa forma, considerando o grave risco dessa doença na região Nordeste do Brasil, o objetivo deste artigo é verificar o perfil sociodemográfico e os padrões temporais da população acometida com câncer de próstata na região Nordeste do Brasil entre de 2013 a 2022. Espera-se que este artigo possa contribuir para a compreensão do câncer e para ajudar os profissionais da saúde na melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

2. Metodologia

2.1 Desenho e área de estudo

Foi realizado um estudo ecológico e de base populacional de todos os casos prevalentes diagnosticados de neoplasia maligna da próstata na região Nordeste do Brasil, nos anos de 2013 a 2022, utilizando ferramentas de análise temporal. Além disso, as unidades de análise espacial foram todos os 5.570 municípios do Brasil.

A região Nordeste do Brasil possui uma população estimada de 57.071.654 habitantes, o que representa cerca de 28% da população residente no Brasil. Esta região está dividida em nove estados ou unidades federativas: Alagoas (AL), Bahia (BA), Ceará (CE), Maranhão (MA), Paraíba (PB), Piauí (PI), Pernambuco (PE), Rio Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE) com distintas características geográficas, econômicas e culturais (IBGE, 2022).

2.2 Variáveis e indicadores

Foram utilizados as seguintes variáveis e indicadores relacionados aos casos novos de hanseníase:

(a) Variáveis sociodemográficas para descrição do perfil epidemiológico: sexo, faixa etária e local de residência.

(b) Número de casos prevalentes de câncer de próstata registrados em todos os municípios da região Nordeste.

(c) Taxa de prevalência relacionada ao câncer de próstata. As taxas foram calculadas dividindo o número de casos prevalentes em homens de cada ano e localidade pela população masculina exposta de cada ano e localidade e o resultado foi multiplicado por 100.000 habitantes.

(d) Razão de prevalência. Foi calculado a partir da divisão entre as taxas de prevalências de um mesmo grupo.

2.3 Fonte de dados

Os dados referentes aos casos prevalentes relacionados ao câncer de próstata foram correspondentes ao CID C61 da Classificação Internacional de Doenças da 10ª revisão. Esses dados foram fornecidos pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) por meio dos bancos do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA); Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e Sistema de Informações de Câncer (SISCAN). Esses dados são de domínio público e podem ser obtidos a partir do site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Os dados populacionais para o período de 2013 a 2022 foram obtidos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em dados oriundos das estimativas oficiais para os anos intercensitários.

2.4 Processamento e análise de dados

2.4.1 Caracterização do perfil sociodemográfico

Inicialmente, foi realizada a caracterização da população acometida com câncer de próstata segundo variáveis sociodemográficas. Essas variáveis foram analisadas segundo número absoluto de casos, percentual relativo, taxa de prevalência e razão de prevalência. As razões de prevalência e Intervalos de Confiança (IC) de 95% foram calculados para determinar as diferenças entre os grupos de uma mesma variável. Para as variáveis que apresentarem apenas duas categorias, estas foram comparadas entre si, e para as variáveis que apresentaram mais de duas categorias, cada uma foi comparada com a de menor taxa. As diferenças estatísticas entre os grupos foram avaliadas pelo teste de qui-quadrado com correção de Yates (X2) através do software GraphPad Prism® (8.0) e os resultados foram considerados significativos quando os valores de p-valor <0,05 foram obtidos. 

2.4.2 Análise de tendência temporal

Para a análise temporal, foi utilizada a taxa de prevalência relacionada ao câncer de próstata. Para tanto, utilizou-se o modelo de regressão joinpoint (regressão linear segmentada) através do Programa de Regressão Joinpoint (versão 5.0). Este método permite verificar mudanças na tendência do indicador ao longo do tempo por meio do ajuste de dados a partir do menor número de possíveis joinpoints (inflexões temporais). Assim, séries temporais podem apresentar tendência crescente, decrescente ou estável e até tendências diferentes em trechos sequenciais (ANTUNES; CARDOSO, 2015).

O teste de permutação de Monte Carlo foi utilizado para escolher o melhor segmento temporal de cada modelo aplicando 9999 permutações e considerado o melhor modelo aquele que apresenta maior coeficiente de determinação de resíduos (R2). Em seguida, foi calculada a variação percentual anual (Annual Percent Change – APC) e seu respectivo Intervalo de Confiança (IC) 95% para cada segmento, a fim de descrever e quantificar a tendência, além de avaliar se é estatisticamente significativa. (ANTUNES; CARDOSO, 2015; KIM et al., 2000). As tendências foram estatisticamente significativas quando APC apresentar valor de p-valor <0,05 e seu IC 95% não incluir o valor zero.

3. Resultados

Os dados da nossa análise mostraram que na região Nordeste do Brasil foram diagnosticados cerca de 76.217 casos prevalentes relacionados ao câncer de próstata entre 2013 e 2022. A taxa de prevalência média do período completo foi 27,73/100 mil habitantes. Em relação às características epidemiológicas da população, foi possível observar que foram registrados 50 casos na população feminina. Além disso, observamos também, que conforme avança para as faixas etárias mais velhas, a taxa de prevalência aumenta, sendo que a maior faixa etária (mais de 60 anos) apresentou uma taxa de 227,39/100 mil hab. Por fim, os estados do Rio Grande do Norte, Bahia e Paraíba apresentaram as maiores taxas, respectivamente. 

Também realizamos análise estatística de associação entre essas variáveis sociodemográficas e foi possível observar que a faixa etária de mais de 60 anos apresentou a maior razão de prevalência em relação à faixa etária de 0 a 19 anos, sendo cerca de 5684 vezes maior. Além disso, não houve grandes variações de taxas entre os estados e a região Nordeste quando comparados ao estado de menor prevalência (Maranhão) (Tabela 1).

Tabela 1. Perfil sociodemográfico e razão de prevalência da população acometida com câncer de próstata na região Nordeste do Brasil entre 2013 e 2022.

Em seguida, avaliou-se a tendência temporal das taxas de prevalência considerando as variáveis sociodemográficas do estudo e observamos uma tendência temporal crescente na taxa de prevalência da região Nordeste/sexo, com aumento percentual anual da taxa de 5,76% ao ano. Além disso, com a variável da faixa etária, só foi possível analisar a variação temporal de 3 categorias devido à disponibilidade suficiente de dados. Com isso, apenas a faixa etária de 50 a 59 anos apresentou crescente, com aumento percentual anual de 6,17% ao ano e duas categorias adjacentes se apresentaram estáveis. Adicionalmente, houve tendência crescente para quase todos os estados da região Nordeste, exceto para o estado do Ceará que se apresentou estável. Os estados com maiores aumentos percentuais anuais foram o do Maranhão, que apesar de ter apresentado a menor prevalência apresentou o maior APC (APC = 7,31); Paraíba (APC = 6,74) e Bahia (APC = 6,65) (Tabela 2).

Tabela 2. Tendência temporal da taxa de prevalência da população acometida com câncer de próstata na região Nordeste do Brasil entre 2013 e 2022.

4. Discussão

Na região Nordeste do Brasil, foi observado uma prevalência total média relacionada ao câncer de próstata de 27,73/100 habitantes no período de 2013 a 2022. A maior prevalência foram pessoas com mais de 60 anos e nos estados do Rio Grande do Norte, Bahia e Paraíba. Além disso, houve tendência temporal crescente da taxa de prevalência de quase todas as variáveis analisadas.

Em relação a descrição epidemiológica da variável sexo, de forma esperada, constatamos que a prevalência total do câncer de próstata foi relacionada ao sexo masculino. No entanto, notamos também que houve 50 casos de câncer de próstata em mulheres, dados esses que podem estar atrelados a um erro de conduta por parte do diagnóstico ou dificuldade no manejo clínico em mulheres trans que ainda não estão definidos, ao realizarem esse tipo de erro põem em risco a integridade do cidadão, gerando estresse e ansiedade não só com o diagnosticado como também com toda a família (FIGUEIREDO et al, 2023).

Os dados mostrados, evidenciaram que a idade é um dos principais fatores contribuintes para o aparecimento da doença. Isso pode ocorrido por motivos de diagnóstico tardio; pela falta de autocuidado por parte do homem, no qual em diversas vezes pode estar inserido em um ambiente predominante machista e assim negligência sua saúde; e pela disparidade econômica que existe entre as regiões brasileiras, que afeta diretamente o acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer de próstata. Tudo isso, quando atrelado a uma vida sedentária, ao tabagismo e outros fatores que põe em risco a vida do homem.  (BRASIL, 2018; ALCANTARA, 2021). 

Curiosamente, também observamos muitos casos em faixas etárias menores, o que pode indicar um falso positivo, ou seja, um diagnóstico que pode ter sido alterado por fatores externos como indica o Instituto Nacional de Câncer (2021).

Os dados obtidos evidenciaram a situação alarmante que se encontra a região Nordeste do Brasil, principalmente nos estados da Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Isso deixa claro o alarde dos casos na região que já é considerada hipossuficiente, e deficiente no âmbito da saúde (SILVA, 2015).

Em relação à evolução temporal da prevalência do câncer de próstata segundo as variáveis sociodemográficas, a tendência crescente da prevalência da faixa etária de 50 e 60 anos pode indicar que o rastreamento e diagnóstico tardio estão em constante crescimento (ONCOGUIA, 2015). Porém, essas justificativas podem se estender para as faixas etárias adjacentes, pois apesar da estabilidade temporal dos casos nessas faixas etárias, elas poderiam ter apresentado aumento significativo, já que suas variações estatísticas foram ínfimas.

O aumento da taxa de prevalência do sexo masculino verificado neste estudo, indica que o diagnostico tardio no sexo masculino é uma taxa que prevalece. Da mesma forma, houve um crescente número de casos em quase todos os estados da região Nordeste. Diversos fatores contribuem para esses números, como o diagnóstico tardio, o tabagismo e fatores socioeconômicos, vista que a região Nordeste é a única região do Brasil com crescimento em baixos indicadores socioeconômicos, apresentando maior risco de desenvolvimento do câncer (ALCANTARA, 2021). 

Com isso, podemos evidenciar que a região Nordeste do Brasil ainda apresenta um grave problema de saúde pública quando se trata do câncer de próstata, haja vista que essa é uma das principais causas de morte do sexo masculino no Nordeste, e de acordo com a literatura, até 2025 esse problema ainda prevalecerá a região Nordeste (ALCANTARA, 2021).

5. Conclusão

Assim, é de suma importância o diagnóstico precoce em pacientes acima de 40 anos, pois, conforme observado nesse estudo, a prevalência aumentou exponencialmente a partir dessa faixa etária. Isso pode evitar que os pacientes sejam submetidos a um tratamento estressante, visto que o procedimento pode ser agressivo pela faixa etária avançada. Porém, e advertido pelo Instituto Nacional de Câncer que o exame recorrente de pacientes assintomáticos pode levar a situações em que o resultado seja a de um falso positivo, gerando ansiedade e estresse para toda família, como é nos casos em que o sexo feminino é diagnosticado com câncer de próstata.

Referências

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1Departamento de Enfermagem, Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar, Pão de Açúcar, Alagoas, Brasil.
2Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: wandklebson.paz@gmail.com