PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E OBSTÉTRICO DE GESTANTES ACOLHIDAS NO PROJETO “SÍFILIS NÃO” EM TERESINA – PI.

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10230166


¹CLÁUDIA FERNANDA CALAND BRÍGIDO, Doutorado em Biologia Celular e Molecular, ULBRA-RS
 ²ANA AMELIA DE CARVALHO MELO CAVALCANTE, Doutorado em Biologia Celular e Molecular, UFRGS
³ELMAR CALAND BRÍGIDO, Acadêmico de Medicina, UNIR
4JANDSON VIEIRA COSTA, Doutorado em Ciência Animal, UFPI
5JOANA ELISABETH DE SOUSA MARTINS FREITAS, Mestrado em Saúde da Família, UFPI
 6MILLENA GUEDES CALAND BRÍGIDO, Acadêmica de Medicina, CET- PI
7SUELY MOURA MELO, Doutorado em Biotecnologia, RENORBIO – UFPI


INTRODUÇÃO

O ato de gestar se constitui em um evento fisiológico, durante o qual se espera que não ocorram alterações ao longo do seu desenvolvimento, e para isso se fazem necessários cuidados com a gestante, seu companheiro, familiares e profissionais envolvidos no atendimento de pré-natal (ANJOS et al., 2014). 

Alguns fatores, tais como as infecções transmissíveis por via sexual e transplacentária durante a gestação, podem causar um desvio no curso natural da gestação. Como exemplo, tem-se a sífilis, uma doença infecciosa causada pela espiroqueta Treponema pallidum subsp. Pallidum, que é considerada um problema de saúde pública (BRASIL, 2020). 

Assim, é indispensável conhecer os grupos populacionais mais suscetíveis a esta infecção, as implicações sociais e de saúde, de maneira a auxiliar na implantação e expansão de políticas públicas. Dentre os fatores que devem ser levados em consideração para o conhecimento das suscetibilidades estão os sociodemográficos, como idade, estado civil, escolaridade; os comportamentais e os de assistência à saúde. As associações dos fatores encontrados indicam como deve se organizar as ações, priorizando as mulheres com características de risco identificadas (BRASIL, 2020; LASAGABASTER; GUERRA, 2017; MACEDO et al., 2017). 

As estratégias voltadas para essas populações são consideradas ponto de partida no processo de prevenção e são fundamentais para reduzir a sífilis gestacional e congênita. No Brasil, foi implementada uma agenda de estratégias para reduzir a sífilis adquirida, gestacional e congênita pelos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), essa iniciativa visou ampliar o diagnóstico através de teste rápido, e engrandecimento das ações preventivas e tratamento dos parceiros das gestantes (BRASIL, 2017; MACEDO et al., 2017).

Esta pesquisa está engajada em um projeto piloto do Ministério da Saúde lançado em 2018, que tem o nome de fantasia “Sífilis Não”. Tem como proposta a melhoria de qualidade no acesso e acolhimento das gestantes na prevenção da sífilis e objetiva banir a sífilis congênita, bem como diminuir os casos de sífilis adquirida e sífilis em gestantes no Brasil. É uma parceria entre o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), o Ministério da Saúde (MS) e a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), estando designado a promover ações eficazes e pesquisa aplicada (VALENTIM et al., 2021).

Esta pesquisa se justifica pela contribuição de se caracterizar uma população de gestantes atendidas em Unidade Básica de Saúde (UBS) através do seu perfil sociodemográfico e de seus conhecimentos acerca da sífilis. Assim, espera-se que os dados obtidos possam contribuir para a organização de novas políticas públicas que englobem pré-natal, saúde da gestante e prevenção da sífilis gestacional e congênita, bem como contribuir para a implantação do Projeto “Não Sífilis” nas demais Unidades Básicas de Saúde de Teresina-PI.

Desta forma objetivou-se com este trabalho: caracterizar o perfil sociodemográfico e obstétrico de gestantes acolhidas no projeto “Sífilis Não”. Além de: avaliar o saber das gestantes em relação a transmissão da sífilis e de alterações causadas ao feto; conhecer o grau de satisfação das gestantes quanto ao acolhimento por profissionais da ESF; caracterizar o perfil sociodemográfico e obstétrico de gestantes positivadas para sífilis, acolhidas no projeto “Sífilis Não”; saber o impacto do diagnóstico para as gestantes que positivaram para sífilis; associar o grau de satisfação das gestantes ao acolhimento da ESF às variáveis sociodemográficas e obstétricas.

MÉTODO

O presente estudo é parte do Projeto maior “Não Sífilis”, tem parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), estando aprovado sob o número de CAAE: 51514621.8.0000.5292, número do parecer 5.178.042. Durante o desenvolvimento da pesquisa foram seguidos os princípios éticos, segundo a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, sobre pesquisa científica desenvolvidas com seres humanos, garantindo respeito e proteção aos participantes. Todos os envolvidos na pesquisa aceitaram participar voluntariamente após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em que foram esclarecidos a finalidade e passos metodológicos do estudo.

Estudo transversal observacional, de natureza aplicada, descritiva quanto aos objetivos, de abordagem quantitativa, coletado com mulheres que se encontravam em acompanhamento pré-natal. A amostragem foi de conveniência, e a pesquisa foi realizada em qualquer fase gestacional. Em relação aos critérios de inclusão adotados para participação na pesquisa e constituição da amostra de pesquisa, os requisitos foram: estar presente na sala de espera para atendimento no pré-natal e aceitar participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, durante o período selecionado para a coleta de dados. Como critério de exclusão: gestantes restritas ao lar; mulheres que não residissem em áreas contidas na territorialização determinada pelo município para atuação das equipes de saúde da família da UBS Dr. Antônio Benicio Freire e Silva.

O questionário utilizado foi do tipo misto com questões objetivas e subjetivas.

A pesquisa foi realizada na área de recepção dos consultórios da UBS Dr. Antônio Benicio Freire e Silva, localizada no Bairro Poty Velho, na zona norte da cidade de Teresina – PI.

Quanto a amostra, esta foi composta por gestantes que estavam em consultas do pré-natal em diferentes trimestres gestacionais, no período de novembro de 2022 a janeiro de 2023.

A coleta de dados foi realizada no período de novembro de 2022 a janeiro de 2023. Primeiramente, foi disponibilizado às gestantes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, que foram lidos, preenchidos e assinados por elas e pela pesquisadora do estudo.

A pesquisa apresentou dois questionários compostos por 25 questões. O primeiro questionário buscou informações sociodemográficas da gestante (idade, cor da pele, grau de instrução e estado civil); condições de habitação e saneamento (tipo de construção do domicílio, abastecimento de água e com quais  moradores  vivia no  domicílio); a segunda parte do questionário versou sobre a vida  reprodutiva  e sexual (uso de camisinha feminina ou masculina, planejamento familiar, número de gestações e aborto(s), número de parceiros  no último ano); assistência recebida na última gestação (número de consultas até a data da entrevista, realização de teste de sífilis) e procedimentos básicos, como verificação de pressão arterial, pesagem e medida da estatura, além do grau de conhecimento das gestantes acerca da transmissão e das manifestações clínicas. 

Este trabalho não gerou riscos de constrangimento as gestantes, pois os formulários foram identificados numericamente de modo a ocultar dados de identificação. O benefício direto foi a otimização do conhecimento de modo individual após finalizada cada entrevista, em que a pesquisadora repassou para as gestantes participantes do estudo informações sobre prevenção, tratamento, transmissão e alterações congênitas advindas da sífilis.

Foram utilizadas variáveis contínuas expressas por frequência, percentuais, média ± desvio padrão ou mediana com valor mínimo e máximo. As variáveis qualitativas foram expressas em frequência absoluta e porcentagens. Para verificar a associação entre as variáveis categóricas, utilizou-se o teste do Qui-quadrado ou teste T, e, para comparação entre os grupos com relação as variáveis contínuas, o teste de Bartletts. Para avaliar a correlação entre variáveis foi utilizado o método não paramétrico proposto por Spearman. Nas análises de correlação entre os dados foi utilizado o teste de correlação não paramétrico Simple Linear Regression, com cálculo do valor de R-squared e verificação de significância com p<0,05. A execução dos cálculos estatísticos e a elaboração das tabelas foram feitas com auxílio do software MSOffice Excel versão 2000, o programa SPSS 23.0 (IBM Corp., Armonk, Estados Unidos). 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir serão exibidos os dados de caracterização das 38 mulheres entrevistadas, que realizaram pré-natal em UBS de Teresina-PI, latitude -5.0369649 e longitude -42.8278650, no período de novembro/22 a janeiro/23. Através da Tabela 1 se descreve a distribuição das gestantes através de variáveis sociodemográficas. 

Identificou-se predomínio de gestantes na faixa etária de 22 a 30 anos (52,63%), casadas (44,74%), de raça parda (63,16%). Observou-se segundo a escolaridade um predomínio de gestantes com ensino médio (65,75%), caracterizando uma escolaridade superior a 8 anos de estudo; à época, 28,94% não trabalhavam e 26,30% exerciam atividade do lar, perfazendo assim um total de 55,24% de mulheres que não exerciam atividade laboral fora do domicílio. A religião católica foi a predominante das gestantes pesquisadas, perfazendo 57,89%.

Em relação a faixa etária das gestantes do presente estudo foram obtidos dados consonantes com os estudos de Cunha et al. (2018), Gomes e César (2013), Baggio et al. (2021), Attanasio et al. (2021), Santos et al. (2022a) e Gomes et al. (2021) nos quais predominava o grupo de gestantes adultas jovens.

Quanto ao dado demográfico raça, a parda foi a de maior porcentagem; essa variável se equiparou às pesquisas de Cunha et al. (2018), Gomes; César (2013) e Baggio et al. (2021), mas divergiu de Attanasio et al. (2021), que encontraram a raça branca como maioria, fato este justificado pela predominante colonização europeia da região Sul do Brasil.

O grau de instrução ou escolaridade de nível médio (completo ou incompleto) esteve também presente nas pesquisas de Gomes e César (2013), Attanasio et al. (2021) e Gomes et al. (2021), ressaltando que as gestantes tinham frequentado a escola por mais de 8 anos. Labre e Milanez (2019), enfatizaram que a população com menor entendimento acerca da doença, não era necessariamente a de menor escolaridade, apesar desta ser umas das mais vulneráveis à doença.

A atividade laboral encontrada nas variáveis “do lar” e “não trabalha atualmente”, perfez mais de 55% do total das entrevistadas, dado equivalente ao encontrado no estudo de Attanasio et al. (2021), que expuseram um total de 55,94% de mulheres sem emprego. Estudo de Cunha et al. (2018), apresentou um percentual menor de gestantes sem atividade remunerada. Alguns pesquisadores pontuaram que a ausência de ocupação laboral tinha correlação com o menor grau de conhecimento acerca da prevenção da sífilis. 

O estado civil foi discordante do estudo de Cunha et al. (2018), que tinha o predomínio de união estável.

Não existem artigos encontrados com dados para que fossem feitos comparativos em relação a religião das gestantes participantes do estudo. 

Na Tabela 2 tem-se a distribuição das gestantes quanto as condições de moradia.

Um total de 68,42% das gestantes morava com seus esposos; 52,63% residiam em casa própria; sendo 84,21% construídas de alvenaria; 100% com água encanada; tendo o serviço de esgoto e saneamento básico em 73,68% das moradias.

Estudo do perfil epidemiológico de gestantes nos estados do RS (2013) e do MS (2018) apresentaram resultados semelhantes a este estudo em relação com quem moravam, mas divergiram quanto ao tipo de moradia e ao serviço de esgoto sanitário (GOMES; CÉSAR, 2013; CUNHA et al., 2018). Vale ressaltar que para um estudo os dados tinham uma distância temporal de 10 anos (GOMES; CÉSAR, 2013).

Houve discordâncias com um trabalho nordestino em que as gestantes viviam em condições mais precárias quanto ao tratamento da água e saneamento básico (SANTOS b et al., 2022).

Sobre a parte do questionário que versava sobre os aspectos obstétricos foi possível organizar a Tabela 3, que apresenta   características   gestacionais   frente   ao   planejamento, número de gestações, ocorrência de aborto prévio, uso de contraceptivos, realização do teste rápido de sífilis, dentre outras.

A Tabela 3 apresenta um total de 23,68% de gestantes que tiveram no mínimo um aborto; em relação a contraceptivos 50% das mulheres faziam uso; 60,53% não tinham planejado a gravidez; 92% tiveram apenas um parceiro no último ano; 84,21% fizeram a primeira consulta de pré-natal no primeiro trimestre; 97,37% tinham o cartão de pré natal; 89,48 % das gestantes não tiveram sífilis; 94,74% foram testadas para sífilis na primeira consulta do pré-natal. Dados dos questionários mostraram que do total de mulheres, 50% faziam uso de algum tipo de contraconceptivo, sendo que uma parcela de 36,84% usava anticoncepcionais orais. O que chamou a atenção nesses resultados foi a grande incidência de indivíduos que não faziam uso do preservativo, visto que é o único método capaz de prevenir as ISTs.

Os resultados do presente trabalho estão em consonância com os dados do MS, que preconizou a realização da primeira consultado pré-natal no primeiro trimestre da gestação; e também quanto as gestantes realizarem o primeiro teste treponêmico na primeira consulta de pré-natal, de preferência no primeiro trimestre (BRASIL, 2015; BRASIL, 2022). Além de pactuar com Labre e Milanez (2019), que recomendaram triagem sorológica para sífilis no começo do pré-natal. No entanto divergiram de Canani et al. (2022), que apresentaram menor porcentagem de gestantes que realizaram o teste rápido para sífilis no primeiro trimestre. 

Dados dos Indicadores de Inconsistências de Sífilis nos Municípios Brasileiros, quanto ao diagnóstico de sífilis segundo a idade gestacional são equânimes para Brasil, Piauí, capital Teresina e também no grupo das gestantes desta pesquisa, em que foi no primeiro trimestre o período em que aparecem os maiores índices de diagnóstico (Ministério da Saúde, 2022).

Em relação ao planejamento familiar, em que a gravidez não foi planejada, o resultado foi análogo a Vitória de Santo Antão – PE (SANTOS, T. M.  et al., 2022), mas uma situação contrária aos 90% de gestantes envolvidas na pesquisa de Cunha e cols. (2018), que tinham o desejo de gestar. 

Discorrendo sobre o uso de contraceptivos Cunha et al. (2018) mostraram um índice de 60% de mulheres que faziam uso versus 47,37% desta pesquisa.  Em se tratando do tipo de contraceptivos os dados estavam semelhantes, onde as mulheres usavam anticoncepcional via oral, mas divergentes de Attanasio e cols. (2021). Sobre a prevalência da sífilis congênita esta pesquisa diferiu de Attanasio e cols. (2021), mas houve concordância quanto a alta taxa de gestantes que não tiveram sífilis. Desperta atenção a grande incidência de casais que não faziam uso do preservativo, pois é o único método capaz de prevenir as ISTs (CUNHA et al., 2018).

Informação da pesquisa de Gomes et al. (2022), fez um alerta para uma questão não investigada neste estudo sobre o uso de preservativos, foi o relato de uma gestante que não fazia uso quando o parceiro era fixo. Acreditou-se, que não usar preservativos ou outros métodos contraceptivos seja uma das justificativas para um alto índice de gestações não planejadas e a para transmissão de sífilis e de outras ISTs.

Existiu divergência entre Baggio e cols. (2021) e esta pesquisa, em relação ao histórico de aborto, contudo quanto ao planejamento familiar existiu concordância, visto que a maioria das mulheres não havia planejado a gravidez.

Em relação a quantidade de gestações, este estudo apresentou 28,95% de gestantes na primeira gestação; 39,47% na segunda; 15,79% na terceira; 7,89% na quarta; 2,63% na quinta e 5,26% não quiseram responder qual gestação estavam. 

Ao ser feita análise comparativa com estudo de Cunha e colaboradores (2018), ocorreu divergência quanto ao número de gestações. Ao se comparar com estudo de 2022, que apontou proximidade dos dados obstétricos das mulheres que se encontravam na primeira gravidez, mas muito divergentes às porcentagens em referência com a segunda, terceira, quarta e quinta gestação. Uma ressalva para uma parcela de 12,5% para sétima gestação (GOMES et al., 2022).

Quanto ao número de consultas, na presente pesquisa, as gestantes que estavam no primeiro trimestre tinham entre 2 e 3 consultas; as gestantes no segundo trimestre foram a primeira consulta entre a 1ª e 8ª semanas de gestação e até aquele momento tinham ido entre 1 a 6 consultas; as gestantes que estavam no terceiro trimestre foram a primeira consulta quando estavam entre a 3ª e 22ª semana de gestação tinham entre 5 a 11 consultas. Ao serem analisadas as gestantes que estavam no terceiro trimestre de gestação foi constatado que se equipararam aos dados encontrados no estudo de Gomes e César (2013), em que 87% das gestantes se consultaram seis ou mais vezes.

Analisando os dados obtidos e fazendo uma perspectiva para todos os trimestres gestacionais, se visualizou que quando todas as gestantes estivessem no final da gestação, elas estariam com o número de consultas preconizadas pelo MS, com um mínimo de 6 consultas, o que seria considerado como minimamente adequado em termos quantitativos (BRASIL, 2014). 

A grande maioria das gestantes neste estudo, uma parcela de 71%, respondeu, que era através do sexo que ocorria a transmissão da sífilis; 21% responderam não saber como ocorria a transmissão da sífilis e 7,9% não responderam a indagação.

Gráfico 1 – O saber das gestantes sobre transmissão da sífilis

Fonte: Autoria própria

Os estudos de Labre; Milanez (2019); Attanasio e cols. (2021) e Gomes (2022) apresentaram resultados similares ao presente trabalho acerca do saber das gestantes, de que a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível. 

Gráfico 2 – O saber das gestantes sobre alterações provocadas pela sífilis nos bebês

      Fonte: Autoria própria

Um total de 76,32% das mulheres sabia que bebês de gestantes com sífilis poderiam ter alterações caso adquirissem sífilis.  

Em relação ao estudo de Attanasio e colaboradores (2021), o presente estudo encontrou-se bem alinhado, pois uma alta porcentagem das entrevistadas sabia que a sífilis provocava alterações ao feto. Mulheres entrevistadas por Labre e Milanez (2019), concordaram com o saber das mulheres deste estudo, visto que uma parcela praticamente igual (71%) sabia que o feto pode ser infectado caso a gestante tenha a doença durante o pré-natal.

Em relação a questão de múltiplas escolhas sobre os tipos de alterações que a sífilis provoca; 34,21% das entrevistadas respondeu concomitantemente: problemas cardíacos, problemas no cérebro e feridas por todo corpo; 23,68% não respondeu.    

As respostas encontraram-se em desacordo com o estudo que mostrou alterações corporais, principalmente nas partes íntimas; bem como quanto a sífilis ser transmitida através da água, ar, pelo contato físico não sexual e através de pele íntegra.  As respostas mostraram um parco conhecimento, que estava relacionado ao baixo nível de escolaridade e da ausência de ocupação laboral (ATTANASIO et al., 2021). 

Diferente da presente pesquisa, mulheres do RS, relataram desconhecimento sobre a sífilis congênita e suas complicações para os bebês (GOMES et al., 2022).

O grau de satisfação relatado pelas participantes do estudo apresentou um patamar de 63,16 %, ao que se referia a “Muito bem acolhida” (Gráfico 3). 

Gráfico 3 – Grau de satisfação das gestantes quanto ao acolhimento pela ESF

         Fonte: Autoria própria

Um trabalho que objetivou avaliar a satisfação ao cuidado do pré-natal na APS (Atenção Primária a Saúde), sob o ponto de vista das gestantes, teve um alto nível de contentamento, sendo um resultado aproximado ao encontrado neste trabalho (PRUDÊNCIO; MAMEDE, 2018). Também Cardelli et al. (2016), encontraram alto nível de satisfação das gestantes com o cuidado pré-natal (58%), mas 74% de insatisfação quanto às características dos sistemas; um alerta de que isto poderia afetar a adesão das gestantes ao cuidado pré-natal e influenciar a saúde materna-neonatal.

Em contrapartida foi bem diferente do estudo desenvolvido no RS, em que as gestantes justificaram não participar da pesquisa por temerem represália da ESF no seu acolhimento (GOMES et al., 2022).

Do total de 38 gestantes participantes da pesquisa, 7,9% relataram ter sífilis, bem como seus parceiros/esposos; 33,33% pertenciam ao perfil etário 18 a 21 anos, 33,33% 22 a 30 anos e 33,33% de 31 a 40 anos; 100% eram casadas, pardas, tinham ensino médio, eram evangélicas, moravam com esposos, habitavam em casa de alvenaria, com água encanada, esgoto e saneamento básico (Tabela 4).

Tabela 4. Distribuição absoluta e percentual de características sociodemográficas e obstétricas de gestantes positivadas para sífilis atendidas em UBS vinculada ao projeto Sífilis Não, Teresina – PI, 2023

Fonte: Autoria própria

Em relação aos aspectos obstétricos 66% estava na terceira gestação, 100% não tiveram aborto e nem faziam uso de contraceptivos; as gestações não foram planejadas e elas tiveram um parceiro no último ano; 66% estavam no primeiro ou segundo trimestre de gestação, e relataram terem feito no primeiro trimestre a primeira consulta do pré-natal e no mesmo dia o teste rápido de sífilis. Ao serem questionadas se o conhecimento do diagnóstico de sífilis gestacional teria alterado o curso da gestação, 100% relataram que não houve modificação no percurso da gravidez; 100% fizeram tratamento completo para sífilis, assim como seus parceiros foram contactados e receberam tratamento completo. Sobre o acolhimento pela ESF, 100% relataram terem sido muito bem acolhidas; 100% possuíam cartão de pré-natal. Em relação a reação de quando receberam o diagnóstico de sífilis; 33,3% disseram que já sabiam o diagnóstico; 33,3% receberam com tristeza e 33,3% disseram serem indiferentes ao diagnóstico. 

Em relação a faixa etária este estudo teve semelhanças com os estudos de Lima; Xavier; Almada (2019); Cunha et al. (2018); Andrade; Jeraldo (2021); Santos, M. D. et al. (2022); Canani et al. (2022); MSa (2022); Carvalho et al. (2022); Silva et al.  (2020); em que as mulheres tinham idade entre 18 a 40 anos.

Sobre o grau de escolaridade houve incompatibilidade com os resultados de Lima; Xavier; Almada (2019); Cunha et al.  (2018); Andrade; Jeraldo (2021); Santosa et al.  (2022); Canani et al. (2022); MSa (2022); Correia et al.  (2022). Existiram semelhanças com os dados de Attanasio et al.  (2021); Carvalho et al.  (2022) e Silva et al.  (20220). Chamando atenção de que os casos de sífilis gestacional não estariam relacionados ao baixo índice de instrução das gestantes, pois apesar do crescimento do grau de escolaridade no Brasil houve aumento de casos, indicando a necessidade de reorganização das táticas para controlar e prevenir ISTs (CORREIA et al., 2022). 

A raça parda esteve presente em maior escala nos estudos de Lima; Xavier; Almada (2019); Andrade; Jeraldo (2021); Attanasio et al.  (2021); Santosa et al. (2022); MS (2022a). Divergiu dos estudos de Canani et al. (2022) e Carvalho et al.  (2022).

O estado civil casada foi maioria no presente estudo, diferindo de Lima; Xavier; Almada (2019), em que 54% eram de uniões estáveis e de Canani et al. (2022) com um total de 54% de gestantes solteiras com sífilis.

Sobre a maioria das gestantes trabalharem no domicílio e sem remuneração, divergiu da pesquisa de Silva et al. (2020), que 60% tinham atividade laboral, mas concordou com Lima; Xavier; Almada (2019) e Attanasio et al. (2021), em que as mulheres não tinham atividade laboral remunerada.

Estavam de acordo quanto terem mais de uma gestação e um único parceiro no último ano o estudo de Silva et al., (2020).

Em relação a proporção de gestantes que receberam tratamento para sífilis, os dados obtidos se aproximaram dos apresentados nos estudos de Lima; Xavier; Almada (2019) e Cunha et al. (2018); entretanto Santosa et al. (2022) relataram que apenas 15% dos casos positivos da amostra do seu estudo receberam tratamento para sífilis.

Uma faixa expressiva de gestantes possuía informações acerca da transmissão e das implicações da sífilis para o bebê; seus companheiros apresentaram grande adesão ao tratamento; tinham conhecimento de como evitar o acometimento desse evento através de métodos contraceptivos, mas um vasto número de casais ainda fracassava em adotar medidas de proteção nas relações através do sexo, como por exemplo não usar preservativos (LIMA; XAVIER; ALMADA, 2019).

Estudo de Santosa et al. (2022); Andrade e Jeraldo (2021), e esta pesquisa estavam alinhados em razão da maioria das gestantes com sífilis terem realizado o pré-natal e não terem tido abortos prévios, mas divergiram em relação à época de tratamento da enfermidade e ao não tratamento dos parceiros. Estudo de Canani et al. (2022), apresentou uma maior porcentagem de abortamentos.

Em Teresina (2023), os resultados encontrados de que a maioria das gestantes foram diagnosticadas no primeiro trimestre coincidiram com dos dados de Canani et al. (2022) e do MS (2021); fato esse importante, pois as mulheres encontravam-se no momento oportuno para detecção precoce da doença, início do tratamento e prevenção da transmissão por via fetal (BRASILb, 2022); mas estava em desacordo com trabalho publicado em 2022, que destacou o maior índice de diagnóstico da sífilis no terceiro trimestre gestacional (MOREIRA et al., 2022). 

Sobre os Indicadores de Inconsistências de Sífilis nos Municípios Brasileiros, ao se ver os números referentes ao Brasil, Piauí e capital Teresina, no ano de 2021; o Estado e a capital, apresentaram as taxas de gestantes com sífilis, 14,1% e 1,8% respectivamente; sendo menores que a média nacional que era de 27,1 por 1000 nascidos vivos; nossa pequena amostra apresentou um valor bruto de 7,9% de gestantes com sífilis (Ministério da Saúde, 2022).

Para complementar o estudo do perfil socioeconômico e obstétrico, verificou-se a associação entre as variáveis categóricas. Na Tabela 5, foram correlacionadas variáveis sociodemográficas com variáveis obstétricas.

Tabela 5. Correlações estatísticas com aplicação do teste T (quiquadrado) de variáveis emparelhadas

Fonte: Autoria própria

Os resultados da Tabela 5, acima, consideram que os p-valores igual ou inferior a 0,05 são estatisticamente significativos.  Foi visto que existiu elevadas significâncias quando se correlacionaram as variáveis: faixa etária e o número da gestação; se a gestante teve sífilis e fez o teste de sífilis na primeira consulta; se a gestante teve sífilis e sabia como se transmite sífilis; se a gestante teve sífilis e fazia uso de algum contraceptivo; a idade gestacional quando abortou e se teve sífilis. 

Abaixo, a Tabela 6, mostrou-se a associação entre a variável satisfação das gestantes no acolhimento com variáveis sociodemográficas e obstétricas.  Para p<0,05, foram estatisticamente significantes a relação entre as variáveis satisfação da gestante ao acolhimento pela equipe Estratégia Saude da Família versus:  faixa etária, grau de instrução, realização do teste rápido na primeira consulta, fato de ter tido sífilis, fato da gravidez ter sido planejada, número de consultas realizadas, tipo de contraceptivo usado, se fazia uso de contraceptivo, quantos meses estava quando abortou e quantas gestações teve. 

Tabela 6. Análise estatística de associações entre variáveis sociodemográficas e obstétricas com os níveis de satisfação ao acolhimento pela equipe da ESF das gestantes acolhidas no projeto “Sífilis Não” em Unidade Básica de Saúde, Teresina-PI

Fonte: Autoria própria

Os valores das correlações estatísticas observadas entre faixa etária e grau de instrução foram de: r=0,3411, p=0,0361, e p<0,05; para uso de método contraceptivo e o tipo de método: r=0,911 e p<0,001 e a correlação entre aborto prévio e idade gestacional no aborto:  r=0,7331 e p<0,0001.  

Em relação as perguntas subjetivas, da segunda parte do questionário, relacionadas a verificação de pressão arterial, peso e estaturas das gestantes serviram como um bom marcador de qualidade dos serviços prestados às gestantes pela equipe multidisciplinar da ESF, que poderão ser utilizados em pesquisas futuras.

5 CONCLUSÃO

O presente estudo traçou o perfil sociodemográfico e obstétricos das gestantes em acompanhamento de pré natal em UBS vinculada ao projeto piloto “Sífilis Não”, no período de novembro de 2022 a janeiro de 2023 em UBS de Teresina-PI. Houve o predomínio de mulheres de 22 a 30 anos; pardas, casadas, com grau de escolaridade acima de 8 anos; que não exerciam atividades fora do domicílio; viviam com seus companheiros, em moradias próprias, de alvenaria, com água encanada, serviço de esgoto e saneamento básico. A metade das mulheres fazia uso de contraceptivo; não tiveram gravidez planejada e não fizeram abortos prévios; realizaram a primeira consulta no primeiro trimestre gestacional, possuíam o cartão da gestante e fizeram teste de sífilis na primeira consulta do pré-natal; apresentaram entendimento básico acerca da transmissão da sífilis e das alterações causadas ao bebê; expressaram um bom grau de satisfação quanto ao acolhimento pela ESF. Das gestantes diagnosticadas com sífilis 33,33% pertenciam ao perfil etário 18 a 21 anos, 33,33% 22 a 30 anos e 33,33% de 31 a 40 anos; casadas, pardas, com ensino médio, evangélicas, moravam com esposos, habitavam em casa de alvenaria, com água encanada, esgoto e saneamento básico. Em relação aos aspectos obstétricos 66% estava na terceira gestação, não tiveram aborto e não usavam contraceptivos; as gestações não foram planejadas; tiveram um parceiro no último ano; 66% estavam no primeiro ou segundo trimestre de gestação; a primeira consulta do pré-natal foi e o teste rápido de sífilis foram no primeiro trimestre da gravidez. Todas as gestantes diagnosticadas com sífilis relataram que o diagnóstico não alterou o curso da gestação, e que seus parceiros foram contactados e como elas, também receberam tratamento para sífilis e em relação ao recebimento do diagnóstico de sífilis gestacional, uma já sabia do diagnóstico, outra recebeu com tristeza e para a terceira o fato foi indiferente. 

Esta pesquisa espera contribuir com a implantação de novas políticas públicas de saúde, que englobem pré-natal, saúde da gestante e prevenção da sífilis gestacional e congênita em especial no Piauí.

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