PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, CLÍNICO E TERAPÊUTICO DOS PACIENTES DA CLÍNICA RENAL DE CRUZEIRO DO SUL- ACRE

SOCIODEMOGRAPHIC, CLINICAL AND THERAPEUTIC PROFILE OF PATIENTS AT THE RENAL CLINIC OF CRUZEIRO DO SUL – ACRE

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12572999


Felipe Da Silva Teles Rodrigues1
Stanley Lima Queiroz2
Orientadora: Prof.ª Emanoele Farias Tamarana3


RESUMO

Introdução: A DRC é um problema de saúde pública, pois apresenta inúmeras complicações e alto custo para o SUS. Uma forma de enfrentar esse problema é detectar as etiologias da DRC e realizar seu diagnóstico precoce. Para alcançar este objetivo pode-se delimitar o perfil dos pacientes dialíticos, a fim de buscar os desencadeantes da DRC. Objetivo: delimitar o perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico dos pacientes em hemodiálise na Clínica Renal de CZS- AC. Método: Trata-se de um estudo transversal, descritivo, analítico, de abordagem quantitativa e comparativa, realizado na Clínica Renal do Vale do Juruá. A amostra foi formada por 89 pacientes que preencheram os critérios de inclusão. Os dados da pesquisa foram tabulados no programa Microsoft Excel, analisados e, posteriormente, comparados com o panorama nacional. Resultados: observou-se maior prevalência de homens, casados, aposentados, moradores de CZS-AC, na faixa etária entre 40 e 60 anos, com HAS e em tratamento hemodialítico. Conclusão: uma forma eficaz de conhecer os fatores de risco da DRC é delimitar o perfil do paciente dialítico.

PALAVRAS-CHAVES: diálise renal; epidemiologia; qualidade de vida.

1 INTRODUÇÃO

A Doença Renal Crônica (DRC) é definida pela presença de alterações renais e perda progressiva e irreversível da função renal, que podem precipitar de um quadro agudo ou de forma lenta e paulatina (ALBUQUERQUE et al., 2022; JESUS et al., 2019). Caracteriza-se por evoluir de maneira assintomática ou oligossintomática por um longo período até o aparecimento dos sintomas resultantes das complicações da doença, dificultando, dessa forma, o diagnóstico precoce (ALBUQUERQUE et al., 2022). Outrossim, apresenta múltiplas etiologias e inúmeros fatores de risco, sendo a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM) as principais causas de DRC e Insuficiência Renal terminal (IRT) (NERBASS et al., 2023b). Atualmente, a doença renal do diabetes tornou-se a principal causa de ingresso em terapia renal substitutiva (SÁ et al., 2022).

Para o diagnóstico da DRC avalia-se as alterações morfofuncionais dos rins, presentes em período mínimo de 3 meses. Sendo clinicamente identificada através da redução da Taxa de Filtração Glomerular (TFG) menor que 60 ml/min/1,73m² e/ou albuminúria maior ou igual a 30 mg/g (STEVENS et al., 2024). Além disso, é possível realizar o estadiamento da DRC em cinco estágios, possibilitando, assim, acompanhar a evolução da doença. Na fase mais avançada, denominada IRT ou estágio 5, os rins não são capazes de manter suas funções e, por conseguinte, é imprescindível a Terapia Renal Substitutiva (TRS) (JESUS et al., 2019). Vale ressaltar que, é possível rastrear e diagnosticar a DRC em seu estágio inicial, através de exames simples e amplamente disponíveis na rede pública e privada (p.ex., marcadores de lesão do parênquima renal e estimativa da TFG). Logo, tanto o controle das principais etiologias da DRC como o rastreio podem ser executadas na Atenção Primária à Saúde (APS).

Segundo o Censo Brasileiro de Dialise (CBD) de 2022 o número estimado de pacientes em TRS é de 153.831. Além do mais, há uma tendência de aumento no número total (3,7%) e na prevalência (2,8%) de pacientes em tratamento dialítico (NERBASS et al., 2023b). Tal fato, associado ao envelhecimento da população, torna-se um importante problema de saúde pública, visto que a DRC, principalmente o estágio 5, aumenta a morbimortalidade, aumenta o risco de doenças cardiovasculares (DCV), reduz a qualidade de vida (QV), possui um tratamento oneroso e, geralmente, tem diagnóstico tardio (ALBUQUERQUE et al., 2022; GOUVÊA et al., 2022). Assim sendo, são fundamentais a detecção precoce e o planejamento de cuidados, objetivando prevenir as complicações e retardar a progressão da doença. Entretendo, por que o número de pacientes em programa crônico de diálise continua aumentando? Uma vez que a DRC, sobretudo a IRT, traz como consequência para o paciente todos os aspectos supracitados. Seria uma falha no rastreio e/ou diagnóstico na APS e uma dissonância entre as ações de saúde e o público-alvo da DRC? Essa falha é devido à dificuldade em determinar o perfil sociodemográfico e clínico do doente renal crônico?

Nesse contexto, observa-se uma falha na APS em relação a identificação e tratamento dos pacientes renais crônicos, contribuindo para o diagnóstico tardio e, consequentemente, o tratamento conservador e a preparação para TRS não são realizados (ALBUQUERQUE et al., 2022; SILVA et al., 2020). Assim, a melhor maneira de solucionar tal problemática, além da prevenção, é detectar e tratar as principais etiologias da DRC (p.ex., HAS e DM), bem como identificar a doença em seu estágio inicial (AMARAL et al., 2021; GOUVÊA et al., 2022). Assim, é indispensável, para alcançar tal objetivo, delimitar o perfil dos pacientes renais crônicos para rastreá-los ainda na APS. Nesse contexto, essa pesquisa teve como objetivo estabelecer o perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico dos pacientes da clínica renal da cidade de Cruzeiro do Sul- Acre (CZS-AC), visto que elucidar as principais características dos pacientes dialíticos facilita a detecção e o cuidado de indivíduos com potencial de se tornarem doentes renais crônicos. Ainda, teve o propósito de verificar se o perfil dos pacientes de CZS- AC é condizente com o panorama nacional.

Desse modo, foi realizado um estudo transversal, de caráter descritivo e analítico e abordagem quantitativa e comparativa, na base de dados da clínica renal de CZS. O estudo contemplou a temática anteriormente exposta, enfatizando a hipótese da importância de conhecer os aspectos que contribuíram para que esses pacientes tornassem doentes renais crônicos, assim como a necessidade do rastreio e diagnóstico precoce, a fim de prevenir ainda na APS a progressão da doença. Destarte, considerando a problemática supracitada, a hipótese apresentada é que a delimitação do perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico dos pacientes dialíticos é um meio possível para alcançar resultados favoráveis na prevenção e no controle da DRC.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2020, realizada pelo IBGE, o Brasil vivencia mudanças na estrutura da população. Entre elas, destaca-se o crescimento de 39,8 % de pessoas com 60 anos ou mais de idade e redução de 5,4% da população com menos de 30 anos de idade, ou seja, o envelhecimento populacional (IBGE, 2021). Ademais, cumpre destacar que essa mudança está diretamente relacionada ao aumento na longevidade e à diminuição da fecundidade da população brasileira (IBGE, 2021). Dessa maneira, esse processo de transição da pirâmide etária causa impacto e sobrecarrega diversas áreas da sociedade, principalmente a da saúde pública.

Dentro desse contexto, em virtude dessa inversão do perfil populacional, ocorre também o aumento da probabilidade do desenvolvimento de doenças crônicas, que, geralmente, se manifestam em idades mais avançadas (GOUVÊA et al., 2022; VIANA et al., 2019). Dentre elas, destaca-se a HAS e o DM, visto que são as duas principais causas de DRC no Brasil (NERBASS et al., 2023b). Atualmente a DRC é considerada um importante problema de saúde pública, uma vez que reduz a QV, sobretudo naqueles em fases mais avançadas da doença, aumenta a morbimortalidade, aumenta o risco de DVC e, quando atinge o estágio 5, seu tratamento (diálise ou transplante renal) torna-se muito oneroso para o SUS (GOUVÊA et al., 2022; JESUS et al., 2019).

Aliás, a DRC é definida pela presença de lesão renal, perda progressiva e irreversível da função dos rins, presentes por mais de 3 meses, com consequências para a saúde (ALBUQUERQUE et al., 2022; PRETTO et al., 2020). Ainda, ela é classificada com base na etiologia, TFG (p.ex., de G1 a G5) e taxa de albuminúria (p.ex., de A1 a A3) (STEVENS et al., 2024). Além disso, caracteriza-se por evoluir de maneira assintomática, ou oligossintomática, e lenta por um longo período até o aparecimento dos sintomas resultantes das complicações da doença (ALBUQUERQUE et al., 2022). Outrossim, em seu estágio mais avançado, denominado fase terminal de IRC ou estágio 5, os rins não são capazes de manter homeostase corporal. Dessa forma, muitos pacientes descobrem a existência da DRC nesse estágio, sendo necessário iniciar a TRS, composta por HD, DP e transplante renal) (NERBASS et al., 2023b).

Hodiernamente, a definição, endossada pelo Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO), leva em consideração para o diagnóstico de DRC as alterações renais funcionais e estruturais, presentes durante 3 meses ou mais. Além disto, o KDIGO propõe o estadiamento da DRC em cinco estágios, estabelecidos a partir da associação de dois parâmetros : (1) a perda de função renal baseadas na TFG e (2) a excreção urinária de albumina (STEVENS et al., 2024). Portanto, para o diagnóstico da DRC avalia-se as alterações morfofuncionais do rim e define como doente renal crônico o paciente que apresentar : (1) Filtração glomerular (FG) < 60 mℓ/min/1,73 m2; (2) FG > 60 mℓ/min/1,73 m2 e pelo menos um marcador de lesão do parênquima renal (p. ex., proteinúria e/ou hematúria glomerular); e (3) cronicidade das alterações, ou seja, que as alterações morfofuncionais presentes por um período ≥ a 3 meses (STEVENS et al., 2024).

Somado a esse cenário, segundo o CBD no ano de 2022 havia 153.831 pacientes em TRS e foi observado um aumento de 3,7% em relação ao ano anterior. Esse fato pode ser explicado devido ao aumento da longevidade da população, como supracitado, e por aperfeiçoamento na qualidade do atendimento e na facilitação do acesso ao tratamento dialítico (NERBASS et al., 2022). Por conseguinte, torna-se indispensável o médico realizar o rastreio oportuno da DRC e dos indivíduos que apresentam fatores de risco, ainda na APS, bem como fortalecer as ações de intervenção na atenção básica, visto que podem ser consideradas medidas efetivas (GOUVÊA et al., 2022).

Também, cumpre destacar que a duas principais etiologias base dessa patologia (HAS e DM), constituem exemplos de doenças que podem ser prevenidas na APS, por meio de exames simples e amplamente disponíveis na rede pública e privada. Destarte, é imprescindível identificar, na APS, os fatores de risco (p.ex., DM, HAS, história familiar, obesidade, dislipidemia e tabagismo) da DRC, orientar adequadamente os pacientes, esclarecer as complicações de cada patologia caso não seja realizado adequadamente o tratamento, assim como realizar anualmente o rastreio de DRC em paciente hipertensos e diabéticos a fim de diagnosticar a doença renal em sua fase inicial, evitando sua progressão (AGUIAR et al., 2020).

Ainda, segundo o CBD de 2022, dos pacientes em TRS 95,3% realizavam HD e 4,7% DP (NERBASS et al., 2023b). Além do mais, 80,3% de todos os tratamentos de diálise, no ano de 2022, foram financiados pelo SUS e 19,7% por convênios de saúde privados em unidades particulares. Também, o valor unitário gasto por sessão de hemodiálise (máximo 3 sessões por semana) é de R$ 240,97 (DATASUS, 2024), resultando em um gasto anual de R$ 401 milhões para o SUS, dos quais R$ 369,9 milhões são para hemodiálise e R$ 31,1 milhões para DP (BRASIL, 2021). Nesse contexto, cumpre destacar que o município de CZS- AC, no ano de 2023, teve uma despesa de R$ 2.131.616,02 com o tratamento de Hemodiálise (DATASUS, 2024). Durante o período da realização desse estudo o gasto desse município em tratamento dialítico crônico foi de 2.346.883,14. Assim, fica claro que um dos principais problemas do tratamento da Insuficiência Renal dialítica é o alto custo para o SUS.

Outro obstáculo da DRC é o impacto negativo na QV dos pacientes e em sua percepção da própria saúde (JESUS et al., 2019). Essa repercussão pode inclusive, às vezes, ser mais intensa que outras doenças crônicas e acarretar perda da autonomia e dependência, como também limitar o convívio social, diminuir o desempenho físico, dificultar a manutenção do vínculo empregatício e causar problemas psicológicos (p.ex., depressão, ansiedade e baixa autoestima) (HAGEMANN; MARTIN; NEME, 2019; JESUS et al., 2019; PEREIRA; LEITE,

2019; PRETTO et al., 2020; RIBEIRO et al., 2021). Isto ocorre devido diversos fatores, tal como esquema terapêutico rigoroso, convívio com doença incurável, dependência de uma máquina, afastamento do trabalho, modificações nos hábitos e na rotina e restrições dietéticas (JESUS et al., 2019; PEREIRA; LEITE, 2019). Logo, nota-se que a DRC apresenta inúmeras complicações de ordem fisiológica, determinando ao indivíduo limitações que extrapolam esse âmbito, afetando também aspectos social, financeiro, ambiental, psicológicos, físicos e funcional. Consequentemente, reduz a adesão ao tratamento e aumenta as taxas de mortalidade e hospitalização (HAGEMANN; MARTIN; NEME, 2019; JESUS et al., 2019). Isto, reforça a importância do diagnóstico precoce dessa patologia, ainda na APS.

Alguns estudos evidenciaram relação entre DRC e declínio cognitivo, como também propõem que esse declínio difere quando a pessoa tem ou não DRC (PEREIRA; LEITE, 2019; PRETTO et al., 2020) . Uma possível justificativa seria o fato de a grande maioria dos pacientes possuírem várias comorbidades concomitantes e serem usuários de polifarmácia, que podem prejudicar a cognição. Também, vale enfatizar que a depressão é comum entre os portadores de DRC, interferindo no tratamento do paciente, visto que favorece a menor adesão às medicações e as atividades físicas, e diminui a QV (PRETTO et al., 2020). Dessa forma, é fundamental garantir assistência aos portadores de DRC, por meio de uma equipe multiprofissional capacitada.

Com base em uma revisão em diferentes bases bibliográficas, observa-se que a insuficiência renal dialítica é mais prevalente entre homens, brancos, casados, aposentados, de baixa renda, com ensino fundamental incompleto, residentes no meio urbano e na faixa etária entre 40 e 60 anos, bem como a modalidade de TRS predominante é a HD (AGUIAR et al., 2020; GOUVÊA et al., 2022; HAGEMANN; MARTIN; NEME, 2019; JESUS et al., 2019; NERBASS et al., 2023a, 2023b). Ademais, as principais doenças de base para o desenvolvimento da DRC no Brasil são a HAS (33%), DM (32%), glomerulonefrite (8%) e doença renal policística (4%) (NERBASS et al., 2023b). Salienta-se que, os resultados da variável “etiologia base da DRC” assemelham-se as demais referencias utilizadas.

Enfim, tendo em vista toda essa conjuntura, é essencial buscar uma saída para as problemáticas supramencionadas. Nota-se que a DRC é a via final da progressão de várias patologias e que ela pode ser evitada, ou postergada, através de ações, na APS, voltadas para o enfrentamento de suas principais etiologias e fatores de risco. Para conseguir tal objetivo é necessária uma boa gestão do sistema de saúde, fortalecimento e maior resolubilidade das ações, seguimento rigoroso das diretrizes de tratamento da HAS e DM e atualizar as políticas assistenciais ao portador de DRC (AGUIAR et al., 2020; GOUVÊA et al., 2022). Destarte, uma forma retrospectiva de conhecer os fatores de risco, que levam ao desenvolvimento da DRC em CZS- AC, é delimitar o perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico dos pacientes dialíticos crônicos da clínica renal do vale do juruá.

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, com caráter descritivo e analítico, de abordagem quantitativa e comparativa. A pesquisa foi realizada na Clínica Renal do Vale do Juruá, localizada na cidade de CZS – AC, sendo esta, de caráter público com os serviços contratados pelo governo do Estado por intermédio do SUS. Ela funciona das 7:00 às 18:00 horas, de segunda a sábado, com atendimento dos pacientes renais crônicos e agudos divididos em quatro turnos, contando com quatro equipes distintas. Atualmente a clínica possui uma capacidade para 72 pacientes e conta com um total de 64 usuários. Além disso, o tipo de TRS realizada por eles é a HD três vezes por semana, com duração média de 3h30min. Outrossim, a clínica possui duas salas de hemodiálise, uma branca com vinte máquinas de diálise para paciente sorológicos negativos e uma amarela com duas máquinas de diálise para os pacientes com sorologia positiva (p.ex., Hepatite B e C). Ainda, a clínica recebe pacientes de todo o Vale do Juruá (p.ex., CZS, Tarauacá, Mâncio Lima, Feijó, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Rodrigues Alves) e de alguns municípios do Amazonas (p.ex., Guajará e Ipixuna). Fazem parte do quadro multiprofissional da clínica: 03 médicos, 02 enfermeiros, 01 nutricionista, 01 psicóloga, 01 assistente social, 01 farmacêutica, 10 técnicos de enfermagem, 01 auxiliar administrativo e 02 auxiliares de limpeza. Outrossim, este estudo foi realizado no período de 01 de fevereiro de 2023 a 29 de fevereiro de 2024.

A amostra é constituída de todos os pacientes cadastrados no sistema Nephrosys, utilizado como banco de dados da clínica renal, que se enquadraram nos termos de inclusão. Foram utilizados como termo de inclusão: pacientes de 20 anos de idade ou mais, com diagnóstico de IRC, em tratamento com HD convencional (três vezes por semana), na Clínica Renal do Vale do Juruá. Também, foi estabelecido como termo de exclusão: paciente com insuficiência renal aguda, pacientes transferidos para outra unidade de diálise e pacientes que abandonaram o tratamento.

Foi utilizado para a aquisição dos dados o preenchimento de uma planilha (ANEXO 1) que contêm itens com características sociodemográfica, clínica e terapêutica, disponíveis no sistema Nephrosys. Ademias, foi complementada com dados obtidos no DATASUS através do TabNet. A captação dos dados e preenchimento (exceto o número de procedimentos e valor gasto anualmente com HD) da planilha foi executado pela orientadora e funcionária da clínica renal Emanoele Farias Tamarana e pela assistente social da clínica renal, Gisele Oliveira de Oliveira.

Os dados referentes ao valor aprovado e ao número de procedimento de HD, no município de CZS – AC, nos anos de 2020 a 2023 e no período de fevereiro de 2023 a fevereiro de 2024, foram colhidos pelos alunos Felipe da Silva Teles Rodrigues e Stanley Queiroz Lima, do curso de medicina da faculdade ITPAC Cruzeiro do Sul – AC, por meio do TabNET. Além disto, o ANEXO 1 foi formulado contendo questões correlacionadas aos seguintes itens: faixa etária, gênero, situação conjugal, ocupação atual, procedência, naturalidade, diagnóstico da etiologia base da DRC, tempo de tratamento dialítico, número de óbitos, modalidade da TRS, número de procedimentos de TRS e valor gasto nos anos de 2020 a 2023 e no período de fevereiro de 2023 a fevereiro de 2024. Assim, utilizando o ANEXO 1, os alunos inseriram os dados validados e conferidos, manualmente em planilhas no programa Microsoft Excel (Office 2016), através de dupla digitação independente, a fim de obter dados sem erros de digitação. Posteriormente, os dados foram categorizados, divididos e utilizados para confeccionar tabelas e gráficos no Excel, objetivando um melhor entendimento e análise. Em suma, para a análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva e baseou-se na verificação dos parâmetros sociodemográficos, clínicos e terapêuticos dos pacientes.

Além do mais, as bases de dados eletrônicas que foram consultadas são: SciELO, Sociedade Brasileira de Diabetes, KDIGO, DATASUS e Ministério da Saúde. Para a busca e seleção dos artigos no SciELO utilizou-se os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “diálise renal”, “doença renal crônica”, “qualidade de vida”, “epidemiologia” e “depressão”. Subsequentemente, utilizamos como filtros: artigos publicados nos anos de 2019 a 2023 e publicações na língua portuguesa. Por conseguinte, foram selecionados 18 artigos para a leitura e, então, realizado a escolha dos mais pertinentes ao tema. Em seguida, foi estabelecido uma comparação das variáveis entre o panorama nacional e os dados colhidos na pesquisa. Por fim, cumpre destacar que está pesquisa não foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), visto que as pesquisas que envolva apenas dados de domínio público, que não identifiquem os participantes da pesquisa e que não envolva seres humanos, não necessitam de aprovação por parte do CEP. Os autores declaram não haver conflito de interesses.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

No período de 01 de fevereiro de 2023 a 29 de fevereiro de 2024, foi analisado os parâmetros sociodemográficos, clínicos e terapêuticos de 89 pacientes que estavam em tratamento hemodialítico crônico na clínica renal do vale do Juruá, e que preencheram os critérios de inclusão. Destes, 34 vieram a óbito durante o período supracitado. A modalidade dialítica utilizada era a HD convencional, três vezes por semana. Além disso, 88 pacientes utilizavam a sala branca para o tratamento e apenas 1 paciente utilizava a sala amarela, devido sorologia positiva para hepatite C.

Sobre às características sociodemográficas. A faixa etária de maior frequência foi a de pacientes com 40 a 59 anos (37,1%) (Gráfico 1). A média (μ) da idade dos pacientes e o desvio padrão (σ) foram de 59,1 anos e 17,7 anos, respectivamente (Tabela 2). Quanto ao gênero o sexo masculino foi o mais prevalente (69,7%). Em relação ao estado civil 52,8% eram casados ou possuíam união estável (Gráfico 2), a procedência (Gráfico 3) e a naturalidade 57,3% e 51,7% eram de Cruzeiro do Sul – AC, respectivamente. Sobre a ocupação atual dos pacientes, os dados foram bastante limitados; entretanto, foi observado predominância de indivíduos aposentados. Mais informações na Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros sociodemográficos dos pacientes em HD. Cruzeiro do Sul, 2024.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 2. Distribuição de pacientes de acordo sua situação conjugal.

Fonte: Elaborado pelo autor. 

Gráfico 3. Distribuição de pacientes de acordo sua procedência.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Tabela 2. Medidas de tendência central e de dispersão. Cruzeiro do Sul, 2024.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto às características clínicas da etiologia da DRC, foi observado que 32,6% dos pacientes apresentam Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), 22,5% Diabetes Mellitus (DM) e 19,1% a associação dessas duas patologias. Além disso, outras enfermidades foram demostradas como causa base da DRC, sendo a neoplasia presente em 7,9%, o acidente ofídico em 3,4% e o Lúpus eritematoso Sistêmico (LES) em 2,2% dos pacientes (Gráfico 4). Outrossim, cumpre destacar que 10,1% dos pacientes em TRS possuem a etiologia da DRC indefinida e que as outras etiologias (obstrutiva e hereditária) representam 2,2% dos pacientes.

Gráfico 4. Distribuição de pacientes em diálise de acordo com a etiologia da DRC.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Foi demostrado, também, neste trabalho que a HAS e o DM representaram mais da metade das doenças subjacentes que levam ao desenvolvimento da DRC. Ademais, estes resultados assemelham-se aos relatados no CBD de 2022, no qual as principais etiologias da DRC foram HAS (33%) e DM (32%). Além disto, 10% tiveram etiologia indefinida.

Ainda, sobre os parâmetros clínicos, foi calculado que o tempo médio de tratamento com hemodiálise, na clínica renal do vale do juruá, foi de 2,3 anos (2 anos 3 meses e 21 dias ou 28,1 meses) (Gráfico 5). Entretando, como supracitado, houve 34 óbitos no período em que esse estudo foi realizado. Assim, foi possível evidenciar que o tempo médio de sobrevida desses pacientes é de 1,2 anos (1 ano 2 meses e 20 dias ou 14,9 meses) (Gráfico 6). Tal fato reforça o impacto negativo que a DRC provoca sobre a qualidade e expectativa de vida (JESUS et al., 2019).

Gráfico 5. Distribuição de pacientes em diálise de acordo com o tempo de tratamento dialítico.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os resultados dos parâmetros idade, gênero e tempo médio de diálise aproximaram-se dos dados obtidos no estudo de Nerbass et al. (2023a) realizado em diferentes regiões geográficas do Brasil, no qual a idade média total e o desvio padrão dos pacientes foram 57,9 anos e 16,0 anos, respectivamente. Além do mais, a maioria dos participantes eram homens (58%) e o tempo médio de diálise na região Norte/Nordeste foi de 28 meses, muito próximo do encontrado na clínica renal de Cruzeiro do Sul -AC (28,1 meses).

Com relação aos parâmetros terapêuticos, observou-se que a hemodiálise convencional (máximo 3 sessões por semana) foi o tipo de modalidade dialítica mais prevalente (98,8%).

Também, cumpre destacar que apenas 1 paciente realizava HD na sala amarela, para pacientes com sorologia positiva para HIV, hepatite B e/ ou hepatite C. Para mais informações consultar a tabela 3. Dessa forma, constata-se que embora a diálise peritoneal automatizada (DPA) e a diálise peritoneal ambulatorial contínua (DPAC) sejam uma opção terapêutica segura e de eficácia igual a HD, ainda existe baixa adesão a essa modalidade de TRS. Segundo o CBD de 2022 (NERBASS et al., 2023b), entre os pacientes em tratamento dialítico crônica apenas 4,7% realizam diálise peritoneal, apesar de 47% dos centros dialíticos oferecerem a DP como opção terapêutica.

Gráfico 6. Distribuição de pacientes em diálise de acordo com o tempo médio de sobrevida.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Após a análise dos dados coletados no DATASUS, através do TabNet, foi revelado neste estudo que, no período de 01 de fevereiro de 2023 a 29 de fevereiro de 2024, o número de procedimentos de HD realizados na clínica renal de CZS – AC foi de 10.114 mil. Além disso, esses procedimentos resultaram em um custo de R$ 2.346.883,14 (Tabela 3). Desse modo, fica claro o impacto financeiro causado pela DRC ao município. Ademais, com o intuito de enfatizar o impacto financeiro foi analisado, também, os gastos com a terapia dialítica nos anos de 2020 a 2023 (Gráfico 7), sendo observado um aumento percentual médio de 27,9%.

Nesse contexto, segundo o DATASUS, o valor unitário da sessão de HD convencional e da HD em pacientes com sorologia positiva para HIV e/ou hepatite B e/ou hepatite C (máximo 3 sessões por semana) são de R$ 240,97 e R$ 325,98, respectivamente (DATASUS, 2024). Outrossim, observa-se uma tendência de aumento anual no número de pacientes dialíticos de 3,7% (NERBASS et al., 2023b). Logo, o aumento percentual nos gastos anuais observados neste estudo, pode ser resultado, provavelmente, do aumento do número de paciente em diálise na cidade de CZS- AC.

Tabela 3. Parâmetros terapêuticos dos pacientes em HD. Cruzeiro do Sul, 2024.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 7. Gastos com o tratamento dialítico de acordo com o período.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Neste estudo, descrevemos os principais resultados dos parâmetros sociodemográficos, clínicos e terapêuticos da clínica renal do vale do juruá. A maioria dos participantes incluídos eram homens (69,7%), casados (52,8%), com idade entre 40-60 anos (37,1%) e procedentes de Cruzeiro do Sul – AC (57,3%). Os resultados referentes a ocupação atual ficaram prejudicados, devido à baixa disponibilidade dessa informação.

A hipertensão arterial sistêmica foi a etiologia mais prevalente da DRC. Em comparação com os dados do CBD de 2022, os pacientes incluídos apresentaram uma prevalência ligeiramente menor de HAS (32,6 vs. 33%) e maior percentual de indivíduos em HD convencional (98,8 vs. 94,1%). O predomínio da HAS e da HD convencional, podem ser reflexos da falha do planejamento de cuidados na Atenção Primária de Saúde e do fato da DP ser economicamente inviável para a maioria das clínicas renais (NERBASS et al., 2023b).

Comparando os dados alcançados com o panorama nacional elaborado pelo estudo de Nerbass et al. (2023a), sobre a hemodiálise em diferentes regiões do Brasil, foi observado nos pacientes deste estudo maior idade média (59,1 vs. 57,9 anos), tempo médio de tratamento dialítico igual das regiões norte e nordeste (28 meses), menor prevalência de DM (22,5 % vs. 23,7%) e maior porcentagem de pacientes acima de 60 anos (49,4% vs. 48,9%).Desse modo, a grande maioria dos parâmetros analisados seguem as tendências observadas na população nacional.

Foi constatado durante o estudo que 34 pacientes vieram a óbito, assim como, o tempo médio de sobrevida deles eram de 1,2 anos. Esse resultado reforça que a DRC reduz consideravelmente a qualidade e a expectativa de vida dos pacientes. Dessa forma, notou-se que a DRC provoca limitações no âmbito social, financeiro, psicológico, ambiental e funcional, sendo necessário fortalecer ações de saúde direcionadas aos fatores de ricos da DRC na APS, bem como realizar seu diagnóstico precoce (JESUS et al., 2019).

O gasto financeiro do município de CZS-AC com hemodiálise convencional, durante o período analisado, foi de R$ 2.346.883,14 (DATASUS, 2024). Ademais, foi evidenciado que esse município teve um aumento anual médio de 27,9% nos gastos com HD, entre os anos de 2020 e 2023.Assim, ficou evidente o quanto oneroso é a diálise para o sistema público de saúde dessa cidade.

Destarte, destacamos como limitação a falta de informações mais detalhas sobre alguns parâmetros sociodemográficos e clínicos, assim como o tamanho da amostra. Outrossim, o estudo teve os empecilhos inerentes de um estudo transversal. Por fim, a identificação desse perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico dos pacientes da clínica renal de CZS-AC fornece informações uteis para pessoas, estudos e órgãos envolvidos na TRS, afim de auxiliar no planejamento de cuidados, sobretudo na APS.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo verificou que o perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico dos pacientes da clínica renal de Cruzeiro do Sul- Acre possui maior prevalência de homens, casados, aposentados, moradores de CZS-AC, na faixa etária entre 40 e 60 anos e em tratamento com HD convencional. Ademais, as principais etiologias da DRC são a HAS e o DM. Dessa forma, ao comparar esses dados com bases bibliográficas, notou-se que o perfil dos pacientes de Cruzeiro do Sul assemelhou-se com o perfil nacional dos pacientes dialíticos crônicos.

Foi demostrado, também, o impacto financeiro gerado pela TRS no município de CZS. Além disso, verificou-se que a hemodiálises causa impactos negativos na vida do paciente. Assim, tendo em vista as informações supracitadas é necessário planejar e organizar estratégias efetivas para combater a DRC e seus fatores de risco, ainda na atenção básica de saúde. Por fim, uma forma eficaz de conhecer os fatores de risco da DRC e direcionar as ações de saúde para a população alvo é delimitar o perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico dos pacientes dialíticos crônicos.

REFERÊNCIAS

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ALBUQUERQUE, A. C. R. M. DE M. et al. Conhecimento da população sobre a doença renal crônica, seus fatores de risco e meios de prevenção: um estudo de base populacional em Fortaleza, Ceará, Brasil. J Bras Nefrol., v. 45, n. 2, p. 144–151, 30 set. 2022.

AMARAL, T. L. M. et al. Doença renal crônica em adultos de Rio Branco, Acre: inquérito de base populacional. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, p. 339–350, 25 jan. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde reajusta valores para tratamento de hemodiálise. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2021- 1/dezembro/ministerio-da-saude-reajusta-valores-para-tratamento-de-hemodialise>. Acesso em: 17 jun. 2023.

DATASUS. TabNet Win32 3.0: Produção Ambulatorial do SUS – Acre – por local de atendimento. Disponível em:

1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade ITPAC- Cruzeiro. e-mail: telesfelipe016@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade ITPAC- Cruzeiro. e-mail: queirozstanley@gmail.com
3Docente do Curso Superior de Medicina da Faculdade ITPAC- Cruzeiro. e-mail: emanuellaenferm@gmail.com