PERFIL NUTRICIONAL E ASSOCIAÇÃO COM A AVALIAÇÃO NUTRICIONAL SUBJETIVA GLOBAL DE PACIENTES COM HIV/AIDS

NUTRITIONAL PROFILE AND ASSOCIATION WITH THE SUBJECTIVE GLOBAL NUTRITIONAL ASSESSMENT OF HIV/AIDS PATIENTS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8161496


¹Danilo Silva Alves
²Gerllanny Mara de Souza Lopes
³Rayana Líbia Vieira Lima
4Maria Larissa de Sousa Andrade
5Nathália Santana Martins Moreira
6Ana Luiza de Rezende Ferreira Mendes
7Bruna Rodrigues de Araújo Marques
8Brenda da Silva Bernardino
9Rebecca Emanuelle Freitas Lima
10Tatiely Ferreira Moura


Resumo

Após a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), o indivíduo está predisposto a alterações no organismo que influenciam diretamente no estado nutricional, sendo necessário identificar o risco desta condição nos primeiros momentos após a internação do paciente. Este estudo teve como objetivo conhecer o perfil nutricional dos pacientes com HIV/AIDS hospitalizados e a associação de alguns parâmetros antropométricos e bioquímicos com a Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG). Trata-se de uma pesquisa quantitativa, observacional e prospectiva, realizada no período de agosto de 2019 a fevereiro de 2020, em um hospital referência em doenças infecciosas. A amostra final foi composta por 56 pacientes, adultos com diagnóstico confirmado de HIV/AIDS. Foram coletados dados sociodemográficos, aplicou-se a ANSG e verificou-se algumas medidas antropométricas e exames bioquímicos. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa sob o número de parecer 3.499.131. As análises foram realizadas utilizando o software Statistical Package for the Social Sciences(SPSS) versão 22.0, adotando a significância de 5% (p<0,05). Verificou-se que parte da amostra apresentou magreza por meio da antropometria, principalmente pela circunferência do braço (83,9%), alterações nos exames laboratoriais. As médias das células T CD4+ foram significativamente maiores nos pacientes bem nutridos em comparação aos moderadamente desnutridos segundo a ANSG (p<0,05). Apesar das alterações identificadas na antropometria e exames bioquímicos, a ANSG apresentou prevalência de pacientes bem nutridos, demonstrando a necessidade de utilizar outros métodos de avaliação em conjunto para um diagnóstico nutricional mais fidedigno.

Descritores: Avaliação Nutricional; Estado Nutricional; Vírus da Imunodeficiência Humana

Abstract

After infection by the Human Immunodeficiency Virus (HIV), the individual is predisposed to changes in the organism that directly influence the nutritional status, being necessary to identify the risk of this condition in the first moments after the patient’s hospitalization. This study aimed to understand the nutritional profile of hospitalized HIV / AIDS patients and the association of some anthropometric and biochemical parameters with the Subjective Global Nutritional Assessment (ANSG). This is a quantitative, observational and prospective research, carried out from August 2019 to February 2020, in a reference hospital for infectious diseases. The final sample consisted of 56 patients, adults with a confirmed diagnosis of HIV / AIDS. Sociodemographic data were collected, ANSG was applied and some anthropometric measurements and biochemical tests were verified. The study was approved by the research ethics committee under opinion number 3,499,131. The analyzes were performed using the software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) version 22.0, adopting a significance of 5% (p <0.05). It was found that part of the sample showed thinness through anthropometry, mainly due to the circumference of the arm (83.9%), changes in laboratory tests. The averages of CD4 + T cells were higher in well-nourished patients compared to moderately malnourished according to ANSG (p <0.05). Despite the changes identified in anthropometry and biochemical tests, an ANSG showed a prevalence of well-nourished patients, demonstrating the need to use other methods of evaluation together for a more reliable nutritional diagnosis.

Descriptors: Nutritional Assessment; Nutritional status; Human immunodeficiency virus

Introdução

Os primeiros casos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), conhecida também como Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS), foram descobertos por volta de 1980 nos Estados Unidos e em 1982 no Brasil, prevalecendo entre adultos do sexo masculino e homossexuais. Este período foi marcado por medo e o preconceito devido à escarceis de informações acerca da patologia. Naquela época, muitas pessoas foram afastadas de suas atividades diárias e até mesmo da própria família, pois não havia conhecimento sobre seu agente etiológico e suas formas de transmissão.1,2,3

Apesar dos avanços para a prevenção, diagnóstico e o tratamento da AIDS, a mesma ainda é considerada um problema de saúde pública e acomete indivíduos de todas as faixas etárias, classes sociais, raça e sexo.4 No Ceará, em um período de 10 anos (2009 a 2019), foram notificados 11.132 casos de AIDS, sendo a maioria do sexo masculino (72,4%). Ainda, observa- se também, redução do número de óbitos nos últimos anos em comparação à 2015.5

A AIDS tem como agente etiológico o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e sua transmissão acontece por meio de relações sexuais desprotegidas, por via vertical ou amamentação, compartilhamento de seringas ou outros materiais perfuro cortantes e transfusão de sangue contaminado. Com a depleção dos linfócitos T CD4+ surgem os primeiros sinais clínicos da doença, tais como, dermatites, candidíase oral e vaginal, linfadenopatia, febre, alterações gastrointestinais e perda de peso, além de patologias oportunistas como a tuberculose, sífilis e toxoplasmose aumentando os riscos de morbimortalidade nesse grupo.6,7,8

Para avaliar e monitorar o estado nutricional de um indivíduo ou grupo populacional, vários estudos utilizam a avaliação antropométrica, sendo esta composta por um conjunto de procedimentos de baixo custo, pouco invasivos e de fácil aplicação como, por exemplo, o peso, a altura, o Índice de Massa Corporal (IMC) e a Circunferência do Braço (CB).9,10 O estado nutricional é influenciado por diversos fatores, tais como a ingestão adequada de alimentos e a qualidade nutricional dos mesmos, o processo de digestão, absorção e o metabolismo de nutrientes. Alterações nestes fatores por longos períodos, comumente observados em pessoas vivendo com HIV/AIDS, podem ocasionar graves consequências na saúde e na qualidade de vida, aumentando as possibilidades de deficiências de nutrientes.11,12,13

Além da antropometria, existem várias ferramentas de triagem nutricional utilizadas no ambiente hospitalar para identificar o risco nutricional do paciente, sendo uma delas a Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG). A ANSG é subdividida em 6 etapas, são elas: avaliação da mudança de peso, modificações da dieta, alterações gastrointestinais, capacidade funcional e exame físico, sendo aplicada em até 24h após a admissão do paciente. Por meio desta é possível identificar quais pacientes apresentam-se bem nutridos, desnutridos moderadamente ou gravemente desnutridos.14

Diante disso, esse trabalho objetivou conhecer o perfil nutricional dos pacientes com HIV/AIDS internados em um hospital de referência em doenças infecciosas em Fortaleza, Ceará e a associação de alguns parâmetros antropométricos e bioquímicos com a ANSG.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa quantitativa, observacional e prospectiva, realizada no período de agosto de 2019 a fevereiro de 2020, em um hospital referência em doenças infecciosas localizado em Fortaleza – Ceará, com média mensal de 88 internações de pacientes com HIV/AIDS no ano de 2018 segundo o Setor de Arquivo Médico (SAME) da instituição, sendo este utilizado para o cálculo da amostra.

Foram incluídos no estudo indivíduos adultos de 21 a 58 anos lúcidos e orientados no tempo e no espaço, com diagnóstico de HIV/AIDS (em qualquer estágio) e de ambos os sexos, admitidos para internação. Excluíram-se os pacientes em terapia nutricional enteral (n=6), acamados (n=15), amputados (n=1), edemaciados (n=7), sem exames bioquímicos (n=4) e que não souberam responder os questionamentos da ANSG (n=5). A amostra inicial foi de 94 pacientes, porém foram excluídos 38 indivíduos, totalizando uma amostra de 56 pacientes, a participação destes foi confirmada com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Iniciou-se a coleta com os dados sociodemográficos: sexo, idade, nacionalidade, naturalidade, procedência, escolaridade e ocupação. Utilizou-se da antropometria, triagem nutricional e de exames laboratoriais para fins de avaliação nutricional.

Para as medidas antropométricas, coletadas nas primeiras 24 horas a partir da admissão hospitalar, considerou-se: peso habitual (PH), peso atual (PA), estatura e circunferência do braço (CB). Os procedimentos de PA e estatura foram realizados de acordo com Sampaio (2012)15, enquanto PH e CB foram de acordo com Cuppari (2019)16. Para a obtenção do peso foi utilizada balança digital (Sanny®), com capacidade para 150kg e graduação de 100g, e para a estatura foi utilizado o estadiômetro portátil da mesma marca, com escala de dois metros (m) de altura, leitura em centímetros e precisão de um centímetro (cm).

O estado nutricional foi avaliado a partir do Índice de Massa Corpórea (IMC) proposto pela World Health Organization (WHO) (1995)17, com parâmetros adaptados pelos autores, onde considerou: Magreza (IMC < 18,5); Eutrofia (IMC ≥ 18,5 a < 25,0) e Excesso de peso (IMC ≥ 25,0). O percentual de adequação da CB segundo Blackburn e Thornton (1979)18, sendo considerado o percentil 50 (p50) de acordo com Frisancho (1990)19. A classificação foi de acordo com sua porcentagem de adequação em relação ao valor no p50 adaptada pelos autores, onde: < 90%: Desnutrição; ≥ 90 a ≤ 110%: Eutrofia; > 110%: Excesso de peso.

Para avaliação do percentual de perda de peso (%PP), considerou-se todos os indivíduos com redução do peso independente dos valores e àqueles que apresentaram aumento no período de seis meses.20 A triagem nutricional de escolha foi a Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG) adaptada de Detsky et al. (1987)21, que já é utilizada pelo serviço de nutrição do hospital. A ANSG é aplicada em até 24 horas após internação e caracteriza em bem nutrido (<17 pontos), desnutrido moderado (≥ 17 a ≤ 22 pontos) e desnutrido grave (> 22 pontos).

Na avaliação de exames laboratoriais utilizou-se os padrões de normalidade, com as seguintes referências: Hemácias (homens: 4,5 a 6,0 milhões/uL e mulheres: 4,0 a 5,5 milhões/uL); Hemoglobina (homens: 13,5 a 18 g/dL e mulheres: 12 a 16 g/dL); Hematócrito (homens: 40 a 54% e mulheres: 37 a 47%); Volume Corpuscular Médio (VCM) (homens e mulheres: 80 a 100 fL); Leucócitos (homens e mulheres: 4.000 a 11.000 uL); Linfócitos (homens e mulheres: 20 a 30%) e Contagem Total de Linfócitos CTL).22 Verificou-se a Carga Viral e os linfócitos TCD4+ para fins de comparação com o estado nutricional.

Inicialmente, foram realizadas análises descritivas sendo as variáveis categóricas expressas em frequências simples e percentuais e as numéricas em medidas de tendência central (média ou mediana) e de dispersão (desvio padrão ou intervalo interquartil). A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk. Para a comparação de médias dos dados antropométricos e bioquímicos entre as categorias da ANSG, dependendo da normalidade, utilizou-se o teste t de Student para amostras independentes ou o teste U de Mann-Whitney. O teste exato de Fisher foi realizado para avaliar a associação entre o perfil antropométrico, bioquímico e a ANSG. Para obtenção do gráfico foi utilizado o programa GraphPad prismversão 8.0. As análises foram realizadas utilizando o software StatisticalPackagefortheSocialSciences(SPSS) versão 22.0, adotando a significância de 5% (p<0,05).

A pesquisa foi um recorte do projeto “Perfil Nutricional de Pacientes com Diagnóstico de HIV/AIDS Internados em um Hospital de Nível Terciário em Fortaleza – CE”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital referência em infectologia de Fortaleza/CE sob o parecer nº 3.499.131, CAAE: 15689119.6.0000.5044, obedecendo às normas presentes na Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, o qual preza pela veneração à dignidade humana e pela especial proteção devida aos participantes das pesquisas científicas que envolvem seres humanos.

Resultados

Foram avaliados 56 pacientes com idade média de 37,9±9,8 anos, variando entre 21 e 58 anos, sendo a maioria do sexo masculino (78,6%). Maior parte da população estudada foi composta por pacientes de naturalidade e procedência de Fortaleza, Ceará. Além disso, a maioria dos indivíduos possuía somente o fundamental incompleto (41,1%) e eram desempregados (55,4%) (Tabela I).

Tabela 1. Dados sociodemográficos de pacientes com diagnóstico de HIV/AIDS internados em um hospital de Fortaleza – CE (n=56). Fortaleza, Brasil, 2019-2020.

VariáveisN%
Sexo

Masculino4478,6
Feminino1221,4
Naturalidade

Fortaleza3460,7
Região metropolitana de Fortaleza
6

10,7
Outros municípios do Ceará1425,0
Municípios de outros estados23,6
Procedência

Fortaleza3562,5
Região metropolitana de Fortaleza
14

25,0
Outros municípios do Ceará712,5
Municípios de outros estados00
Escolaridade

Não sabe/sem registro1628,6
Fundamental incompleto2341,1
Fundamental completo35,4
Médio incompleto23,6
Médio completo1017,9
Ensino superior23,6
Ocupação

Desempregado3155,4
Aposentado58,9
Autônomo35,4
Profissões com ensino superior11,8
Outras ocupações1628,5

DP: desvio padrão; n: frequência; %: percentual.

As médias das células T CD4+ foram significativamente maiores nos pacientes bem nutridos em comparação aos moderadamente desnutridos de acordo com a ANSG (p<0,05) (Figura 1). Nenhum paciente foi classificado como desnutrido grave segundo a ANSG.

Figura 1. Comparação entre os valores das células T CD4+ entre as categorias da ANSG de pacientes com diagnóstico de HIV/AIDS internados em um hospital de Fortaleza-CE (n=32). Fortaleza, Brasil, 2019-2020. Utilizou-se o teste U de Mann-Whitney com significância estatística p<0,05.

Não houve diferenças significativas entre o perfil antropométrico e os demais dados bioquímicos entre as categorias da ANSG (Tabela 2).

Tabela 2.Dados antropométricos e bioquímicos segundo a ANSG de pacientes com diagnóstico de HIV/AIDS internados em um hospital de Fortaleza – CE (n=56). Fortaleza, Brasil, 2019-2020.

ANSG
VariáveisTotalBemnutrido(n=49)Moderadamentedesnutrido(n=7)
Média±DPMédia±DPMédia±DPValor dep
Antropométricas



Peso habitual (kg)65,3±11,965,5±12,163,6±11,30,689
Peso atual (kg), mediana [IQ]54,9 [50,4-62,2]54,6 [50,4-62,1]57,0 [43,1-63,4]0,846£
Altura (m)1,7±0,11,67±0,11,67±0,10,859
IMC (kg/m²)20,5±4,020,7±4,119,7±3,80,556
% Perda de peso12,2±11,512,2±10,912,5±16,20,938
Circunferência do braço (cm)24,6±4,624,8±4,723,2±3,60,378
% Circunferência do braço77,9±14,378,9±14,670,9±10,90,166
Bioquímicas



Hemácias3,6±0,73,7±0,73,3±0,70,135
Hemoglobina10,3±2,210,4±2,39,8±2,10,502
Hematócrito31,1±6,631,4±6,829,4±5,80,472
Volume Corpuscular Médio87,3±10,286,4±8,993,3±16,50,315
Leucócitos, mediana [IQ]4.700,0 [3.500,0-6.975,0]4.400,0 [3.500,0-7.000,0]2.400,0 [1.400,0-7.000,0]0,078£
Contagem Total de Linfócitos1.017,8±489,61.032,7±494,8912,3±473,50,547
Células T CD4+, mediana [IQ]137,0 [74,5-183,8]138,0 [85,3-202,0]a20,5 [17,3-116,8]b0,034£
Carga viral, mediana [IQ]92.155,5 [41.143,3-310.295,5]94.703,0 [21.339,0-292.706,0]c62.212,0 [52.419,0-1.089.505,0*]d0,780£

ASNG: Avaliação Nutricional Subjetiva Global; DP: desvio padrão; IMC: índice de massa corporal; IQ: intervalo interquartil; n: frequência; a: 28 indivíduos; b: 4 indivíduos; c: 25 indivíduos; d: 3 indivíduos; *Valor mínimo e máximo. ‡Teste t de Student para amostras independentes; £ Teste U de Mann-Whitney. Significância estatística p<0,05.

Na tabela 3 encontram-se as alterações do perfil antropométrico e bioquímico dos pacientes. A maioria desses não apresentou magreza segundo o IMC, entretanto esse diagnóstico nutricional foi verificado quando analisado o %CB. Além disso, observou-se maior prevalência de perda de peso, bem como valores abaixo das referências das hemácias, hematócritos e depleção grave da contagem total de linfócitos. Não houve associação entre alterações do perfil antropométrico e bioquímico entre as categorias da ANSG (p>0,05).

Tabela 3. Associação entre o perfil antropométrico, bioquímico e a ANSG de pacientes com diagnóstico de HIV/AIDS internados em um hospital de Fortaleza-CE (n=56). Fortaleza, Brasil, 2019-2020.




ANSG


Variáveis
Total
Bem nutrido(n=49)Moderadamente desnutrido(n=7)

n(%)n%n%Valor dep
Antropométricas





Índice de Massa Corporal





Magreza19 (33,9)1684,2315,80,444
Eutrofia/excessodepeso37 (66,1)3389,2410,8
% Perda de peso





Perdeupeso50 (89,3)4488,0612,00,569
Ganhoupeso6 (10,7)583,3116,7
% Circunferência do braço





Desnutrição47 (83,9)4085,1714,90,271
Eutrofia/Excessodepeso9 (16,1)9100,000
Bioquímicas





Hemácias





Abaixoda referência46 (82,1)3984,8715,20,231
Acimadareferência10 (17,9)10100,000
Hemoglobina





Abaixoda referência50 (89,3)4386,0714,00,431
Acimadareferência6 (10,7)6100,000
Hematócrito





Abaixoda referência51 (91,1)4486,3713,70,499
Acimadareferência5 (8,9)5100,000
Volume Corpuscular Médio





Valoralterado14 (25,0)1071,4428,60,058
Valornãoalterado42 (75,0)3992,937,1
Leucócitos





Valoralterado25 (44,6)2080,0520,00,132
Valornãoalterado31 (55,4)2993,526,5
Contagem Total de Linfócitos





Depleçãoleve/moderada19 (33,9)1789,5210,50,556
Depleçãograve37 (66,1)3286,5513,5

ASNG: Avaliação Nutricional Subjetiva Global; IMC: índice de massa corporal; n: frequência. Utilizou-se o teste exato de Fisher com significância estatística p<0,05.

Discussão

Em uma pesquisa realizada com pessoas infectadas pelo HIV atendidas no Serviço de Emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), os autores observaram que, segundo a ANSG, 27% e 33,3% dos pacientes estavam com risco de desnutrição e desnutrição grave, respectivamente. Ainda, de acordo com os dados antropométricos, a desnutrição prevaleceu em 14,5% quando analisados pelo IMC. Porém, 47,92% e 47,9% dos pesquisados, estavam desnutridos segundo a CB e CMB, respectivamente, demonstrando que o público estudado apresentou depleção de tecido adiposo e muscular.23

Entre março e junho de 2016, Costa e colaboradores2 realizaram um estudo em um hospital público de referência em doenças infecciosas, localizado na cidade de Fortaleza, Ceará. Os autores identificaram magreza em 40,1% dos pacientes por meio do IMC e desnutrição em 89,3% por meio da CB, resultados semelhantes aos encontrados nesta pesquisa. Ainda, ao comparar os parâmetros antropométricos com a ANSG, perceberem que entre os pacientes diagnosticados com desnutrição segundo o IMC e a CB, poucos foram classificados como desnutridos por meio da triagem nutricional.

Moura e colaboradores24 realizaram uma pesquisa com 86 adultos diagnosticados com HIV/AIDS e conseguiram identificar que os pacientes internados em comparação aos pacientes acompanhados em ambiente ambulatorial, apresentaram elevado percentual de desnutrição segundo o IMC, com média de 19,05kg/m2 e perda de peso grave, em média 18,08%. Os resultados se assemelham ao desta pesquisa, onde média encontrada do IMC e do %PP foi de 20,5kg/m2 e 12,2%, respectivamente.

Após avaliar 40 pacientes hospitalizados e com diagnóstico de HIV/Aids na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Souza e colaboradores identificaram depleção grave e leve/moderada da CTL em 47,5% e 35% da amostra, respectivamente. Em relação aos parâmetros antropométricos, a desnutrição prevaleceu em 42,5% segundo o IMC e 90% de acordo a CB. Os resultados encontrados pelos autores se assemelham aos desta pesquisa.

Alves e colaboradores25 realizaram um estudo com 87 pacientes hospitalizados e identificaram que a prevalência de desnutrição esteve presente em 25,3% segundo o IMC e 66,7% segundo a CB. Os autores observaram a presença de depleção tecido adiposo e muscular por meio de outros parâmetros, como a Dobra Cutânea Triciptal (DCT), a Circunferência Muscular do Braço (CMB) e a Área Muscular do Braço (AMB), com prevalência de 78,2%, 59,8% e 62,2%, respectivamente. Ainda, constataram que o tempo de internação foi maior entre os pacientes com risco nutricional de acordo com a triagem utilizada pelos autores, demonstrando a necessidade de identificar o estado nutricional no momento da internação, possibilitando melhor acompanhamento no ambiente hospitalar.

Miranda e colaboradores26 realizaram um estudo com 54 pacientes internados em um hospital do estado do Pará. Os autores identificaram prevalência de desnutrição em todos os parâmetros antropométricos analisados, sendo IMC (55,5%), CB, (79,6%), CMB (55,5%) e DCT (92,6%). Além disso, observaram que os pacientes apresentavam várias alterações gastrointestinais, tais como náuseas, vômitos e diarreia, o que pode interferir no consumo alimentar e, consequentemente, influenciar negativamente no estado nutricional do indivíduo.

Conclusão

Apesar da prevalência de pacientes classificados como bem nutridos segundo os resultados da ANSG, os dados antropométricos demonstram prevalência de desnutrição segundo o %CB e a redução do peso corporal anterior a internação. Além disso, observa-se a importância de inserir os exames bioquímicos durante a avaliação nutricional em ambiente hospitalar, visto a prevalência de alterações observados no eritrograma.

Identificar o estado nutricional por meio de vários parâmetros possibilita a identificação dos pacientes em risco nutricional, bem como a desnutrição já desenvolvida, auxiliando o profissional na definição de estratégias para evitar o agravamento do quadro nutricional durante o período de internação.

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1Graduação em Nutrição pelo Centro Universitário Estácio do Ceará; Pós-graduação na modalidade de Residência Multiprofissional em Infectologia – ESP/CE; Pós-graduação em Nutrição Clínica – Faculdade UniBF. E-mail: daniloalvesnutricionista@gmail.com

2Graduação em Nutrição pelo Universidade de Fortaleza – UNIFOR; Mestranda em Medicina Translacional pela Universidade Federal do Ceará.

3Pós-graduanda na modalidade de Residência Multiprofissional em Assistência em Diabetes – Universidade Federal do Ceará.

4Graduação em Nutrição pelo Centro Universitário Estácio do Ceará; Especialização em Nutrição, Metabolismo e Fisiologia no Esporte – INADES.

5Graduação em Nutrição pelo Centro Universitário Estácio do Ceará.

6Docente da Universidade Estadual do Ceará – UECE; Nutricionista do Hospital São José – HSJ. Mestrado Acadêmico em Ciências Fisiológicas e Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará – UECE.

7Graduação em Nutrição pelo Centro Universitário Estácio do Ceará; Pós-graduação em Nutrição Clínica e Fitoterapia Aplicada; Pós-graduação na modalidade de Residência Multiprofissional em Cancerologia – ICC.

8Pós-graduação em Nutrição Clínica Hospitalar e Ambulatorial – Faculdade Unyleya; Pós- graduação na modalidade de Residência Multiprofissional em Assistência Hospitalar ao Transplante – UFC.

9Graduação em Nutrição pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR; Pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional pela VP Centro de Nutrição Funcional; Pós-graduanda na modalidade de Residência Multiprofissional em Cuidado Cardiopulmonar pela Escola de Saúde Pública do Ceará.

10Graduação em Nutrição pela Faculdade Unichristus; Pós-graduanda na modalidade de Residência Multiprofissional em Cuidado Cardiopulmonar pela Escola de Saúde Pública do Ceará.