DRUG PROFILE AND PROBLEMS RELATED TO PHARMACOTHERAPY IN HOSPITALIZED ELDERLY PEOPLE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202501031204
Tayna de Oliveira Pereira¹; Jonathas Pereira Lanna da Costa²; Maria Eduarda da Paixão Silva³; Joseilson Sousa Alves Junior⁴; Camila Guimarães Polisel⁵.
Resumo
Os Problemas Relacionados à Farmacoterapia (PRFs) causam impacto negativo na saúde dos pacientes, aumento nos custos dos serviços de saúde e prolongamento do período de internação. Este estudo avaliou o perfil medicamentoso e de PRFs em pessoas idosas hospitalizadas. Tratou-se de um estudo observacional, transversal e quantitativo, realizado em uma instituição hospitalar entre setembro de 2023 e dezembro de 2024. Os dados foram coletados por meio de consultas farmacêuticas e os PRFs foram classificados conforme as recomendações do Ministério da Saúde para a implantação de Serviços de Clínica Farmacêutica. Participaram do estudo 56 pessoas idosas com idade média de 73,9 anos, baixo nível de escolaridade (n=36; 64,3%), sedentários (n=55; 98,2%), com três ou mais comorbidades (n=27; 48,2%) e em polifarmácia (n=47; 83,9%). Foram identificados 515 PRFs, sendo mais frequentes aqueles envolvendo a seleção e prescrição de medicamentos (n=487; 94,6%), especialmente as interações medicamentosas (n=296; 57,5%), medicamentos potencialmente inapropriados para pessoas idosas (n=72; 14,1%) e alto risco de queda associado a medicamentos (n=33; 6,4%). Ressalta-se a contribuição do farmacêutico clínico na identificação e manejo dos PRFs a fim de contribuir com o cuidado integral à saúde de pessoas idosas hospitalizadas.
Palavras-chave: Cuidado farmacêutico Baseado em Evidência. Saúde da Pessoa Idosa. Farmacoterapia. Serviço de Farmácia Clínica.
1 INTRODUÇÃO
A senescência é uma condição global impulsionada por transformações demográficas significativas, como a queda nas taxas de fecundidade e mortalidade, e por avanços socioeconômicos e de saúde (MREJEN; NUNES; GIACOMIN, 2023). O Brasil, quinto país mais populoso do mundo, está entre as nações que mais envelhecem demograficamente, com projeções de intensificação ao longo do século XXI, acompanhando outras nações em desenvolvimento (FIGUEIREDO et al., 2021). Em 2022, havia cerca de 37,7 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, representando 17,9% da população, proporção que deve atingir 25% em 2060, destacando o rápido envelhecimento populacional (AGÊNCIA IBGE NOTÍCIAS, 2022).
O envelhecimento é um processo natural caracterizado por mudanças progressivas que aumentam a vulnerabilidade a diversas doenças. Além disso, sofre influência de fatores genéticos, hábitos de vida e exposições ambientais. Trata-se, ainda, de um processo heterogêneo, no qual os órgãos envelhecem em ritmos distintos, o que pode ser explicado pela perda de complexidade do organismo, marcada pela redução da variabilidade em respostas como frequência cardíaca, alterações nos ritmos circadianos e redução das reservas fisiológicas, essenciais para manutenção da homeostase (TAFFET, 2023).
A longevidade traz consigo novos desafios para a saúde. Apesar do declínio das doenças infectocontagiosas, observa-se um aumento nas taxas de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que frequentemente requerem o uso contínuo de medicamentos (ESCORSIM, 2021). Nesse contexto, a polifarmácia, definida como o uso concomitante de cinco ou mais medicamentos, é comum em pessoas idosas, elevando o risco de ocorrência de eventos adversos, o que requer a utilização cuidadosa e criteriosa de medicamentos nessa população (ROCHON, 2024).
Os problemas relacionados à farmacoterapia (PRFs) são eventos indesejáveis que afetam o resultado esperado dos tratamentos e/ou causam efeitos colaterais (CIPOLLE, STRAND & MORLEY, 2006). Estudos internacionais associam os PRFs com o desenvolvimento de insuficiência renal (BRETON et al., 2011), reações adversas (ALHAWASSI et al., 2014), não adesão ao tratamento e maiores taxas de hospitalização (WIMMER et al., 2017).
No Brasil, estudos apontam os PRFs como a principal causa de eventos adversos evitáveis em hospitais, gerando impactos negativos na saúde dos pacientes, elevação nos custos dos serviços de saúde e prolongamento do tempo de internação (JUNIOR et al., 2021). Entre os fatores contribuintes estão os problemas na seleção e prescrição de medicamentos e reações adversas (DA SILVA et al., 2020), polifarmácia e uso de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos (ANDRADE et al., 2024), fármacos que aumentam o risco de quedas (MEIRELES et al., 2021) e interações medicamentosas (SANTOS et al., 2022).
Considerando que há atualmente na literatura nacional uma discreta produção de conhecimento acerca do perfil dos PRFs em pessoas idosas hospitalizadas, este estudo teve como objetivo primário avaliar o perfil medicamentoso e de PRFs em pessoas idosas assistidas por um hospital de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil.
2 METODOLOGIA
Tratou-se de um estudo observacional, transversal e quantitativo, realizado com pessoas idosas atendidas em uma Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) e em uma Unidade de Tratamento de Doenças Infectocontagiosas (UTDI), ambas localizadas em um Hospital de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. As unidades supracitadas possuem 20 e 33 leitos, respectivamente, e prestam assistência a pacientes com condições clínicas estáveis ou em protocolos de estabilização, tratamento de doenças infectocontagiosas ou reabilitação.
Participaram do estudo pessoas com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, internadas nas referidas unidades durante o período de setembro de 2023 a dezembro de 2024. Foram excluídos indivíduos indígenas, gestantes, quilombolas e pessoas privadas de liberdade. A seleção dos participantes foi realizada por meio de abordagem pessoal e explicação do estudo pelos pesquisadores. A participação esteve condicionada à assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O Termo de Assentimento Livre Esclarecido (TALE) foi aplicado aos responsáveis pelos participantes analfabetos ou impossibilitados de se comunicarem.
A coleta dos dados foi realizada por meio de Consultas Farmacêuticas individuais realizadas na admissão hospitalar, com duração média de 30 minutos, em local privativo e por meio de um instrumento adaptado do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014). Os seguintes dados foram coletados: perfil sociodemográfico (sexo, idade, escolaridade, ocupação, etilismo, tabagismo e prática de exercícios físicos), perfil clínico (causas de internação e comorbidades) e perfil medicamentoso (medicamentos utilizados durante a hospitalização). As prescrições médicas e os prontuários foram utilizados como fonte de dados e os medicamentos foram classificados de acordo com a Anatomical Therapeutic Chemical Classification (ATC), padrão internacional para os estudos de utilização de medicamentos (WHO, 2024).
Os PRFs foram classificados a partir das recomendações do Ministério da Saúde para a implantação de Serviços de Clínica Farmacêutica (BRASIL, 2014), a saber:
- Problemas envolvendo a seleção e prescrição de medicamentos: medicamento inapropriado ou contraindicado, medicamento sem indicação clínica definida, subdose, sobredose, forma farmacêutica ou via de administração inadequada, frequência ou horários de administração inadequados, duração inadequada do tratamento, interação medicamento-alimento, condição clínica sem tratamento, necessidade de medicamento adicional, disponibilidade de alternativa mais custo efetiva e outros problemas de seleção ou prescrição: medicamentos associados ao risco de queda. Os medicamentos potencialmente inapropriados (MPI) foram classificados de acordo com os Critérios de Beers 2023 (AMERICAN GERIATRICS SOCIETY BEERS CRITERIA, 2023). Os medicamentos associados ao risco de queda foram calculados pela escala Medication Fall Risk Score da Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), onde valores menores que 6 pontos foram classificados em baixo risco e valores maiores ou iguais a 6 pontos foram classificados em alto risco de queda (GANZ et al., 2013; ISMP, 2017). As interações medicamentosas foram identificadas e classificadas pela ferramenta Drug Interactions do UpToDate® em: evitar combinação, considerar modificação da terapia e monitorar a terapia (UPTODATE, 2024).
- Problemas de discrepância entre os níveis de atenção: omissão de medicamento prescrito, medicamentos discrepantes, duplicidade terapêutica entre prescrições, doses discrepantes, forma farmacêutica ou via de administração discrepantes, duração do tratamento discrepante e outras discrepâncias não especificadas.
- Problemas na administração e adesão do paciente ao tratamento: omissão de doses, adição de doses, técnica de administração incorreta, forma farmacêutica ou via de administração incorreta, frequência ou horário de administração incorreto (sem alterar dose diária), duração do tratamento incorreta, descontinuação indevida do medicamento, continuação indevida do medicamento pelo paciente, redução abrupta de dose, paciente não iniciou o tratamento, uso abusivo do medicamento, automedicação indevida e outros problemas de administração ou adesão não especificados.
Os dados coletados foram organizados e analisados por meio de formulários Google e tabelas no Programa Excel®, versão 2016. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CEP/UFMS), a partir do parecer nº 6.774.293.
3 RESULTADOS
Participaram do estudo 56 pessoas idosas com idade média de 73,9 anos. A maioria era do sexo feminino (n=30; 53,6%), com baixo nível de escolaridade (n=36; 64,3%), aposentados e/ou pensionista (n=44; 78,6%), sedentários (n=55; 98,2%) e que não faziam uso de tabaco (n=35; 62,5%) e álcool (n=40; 71,4%). A Tabela 1 apresenta, de forma detalhada, o perfil sociodemográfico dos participantes.
Tabela 1 – Perfil sociodemográfico de pessoas idosas assistidas em uma instituição hospitalar. Brasil, 2024.
As principais causas de internação hospitalar foram pneumonia (n=13; 23,2%), acidente vascular cerebral (n=5; 8,9%) e diabetes mellitus tipo II descompensada (n=4; 7,1%). As comorbidades mais prevalentes foram hipertensão arterial sistêmica (n=42; 75,0%), diabetes mellitus (n=22; 39,3%) e doenças pulmonares (n=14; 25,0%). Do total de participantes, 27 (48,2%) apresentaram três ou mais comorbidades, enquanto 18 (32,1%) apresentaram duas e 11 (19,6%) apresentaram uma ou nenhuma comorbidade.
Considerando o perfil medicamentoso, 437 medicamentos foram prescritos aos participantes, sendo 98 medicamentos diferentes, com média de 7,8 medicamentos por participante, variando de 2 a 16. A polifarmácia foi observada em 47 (83,9%) participantes. As classes terapêuticas mais prescritas foram as que atuam no sistema cardiovascular (n=115; 26,3%), aparelho digestivo e metabólico (n=67; 15,3%) e sangue e órgãos hematopoiéticos (n=60; 13,7%). A tabela 2 apresenta as classes terapêuticas prescritas, estratificadas de acordo com a ATC.
Tabela 2 – Perfil medicamentoso de pessoas idosas assistidas em uma instituição hospitalar. Brasil, 2024.
Foram identificados 515 PRFs, sendo mais frequentes aqueles envolvendo a seleção e prescrição de medicamentos (n=487; 94,6%), especialmente as interações medicamentosas (n=296; 57,5%), medicamentos potencialmente inapropriados para pessoas idosas (n=72; 14,1%) e alto risco de queda associado a medicamentos (n=33; 6,4%). Identificaram-se 19 (3,7%) discrepâncias entre os níveis de atenção à saúde foram responsáveis, cuja maior prevalência foi a omissão de medicamento prescrito (n=11; 2,1%) e doses discrepantes (n=5; 1,0%), conforme mostra a Tabela 3.
Tabela 3 – Problemas relacionados à farmacoterapia em pessoas idosas assistidas em uma instituição hospitalar. Brasil, 2024.
4 DISCUSSÃO
Estudos brasileiros recentes têm mostrado implicações clínicas relevantes relacionadas aos PRFs em pessoas idosas tais como interações medicamentosas (ULBRICH et al., 2023), uso de medicamentos potencialmente inapropriados (MOREIRA et al., 2020) e erros de medicação (CARLETI et al., 2022). Nesse contexto, o cuidado farmacêutico desempenha um papel fundamental na atenção à saúde dessa população.
Em relação ao perfil sociodemográfico, a maior parte dos participantes apresentava baixo nível de escolaridade, o que corrobora com o estudo de Da Silva et al. (2020), realizado com 33 indivíduos assistidos em uma instituição hospitalar, onde 72,8% (n=24) apresentaram ensino fundamental incompleto. Baixos níveis de escolaridade estão associados a comportamentos sedentários autorrelatados e maior vulnerabilidade a doenças cardiovasculares e metabólicas, indicando um efeito cumulativo da educação na saúde ao longo da vida (ROCA et al., 2023). Além disso, a maioria dos participantes era sedentária. Estudos revelam que comportamentos sedentários aumentam o risco de mortalidade por todas as causas, evidenciando a importância de atividades físicas para reduzir os riscos à saúde (DEMPSEY et al., 2020).
A principal causa de internação hospitalar foi pneumonia, o que está em acordo com os achados de Rossetto et al. (2019), onde as doenças do aparelho circulatório e respiratório foram as principais causas de hospitalização e óbito entre pessoas idosas no Brasil, no período de 2005 a 2015. A comorbidade mais prevalente foi a hipertensão arterial sistêmica (HAS), assim como no estudo de Andrade et al (2024), onde participaram 496 pessoas idosas e 59,87% (n=297) apresentaram HAS. Além disso, aproximadamente metade dos participantes apresentaram três ou mais comorbidades. Segundo Melo & Lima (2020), a multimorbidade é uma condição comum na população idosa, influenciada por fatores socioeconômicos e estilo de vida.
Considerando o perfil medicamentoso, as classes terapêuticas mais prevalentes foram os fármacos que atuam no sistema cardiovascular e aparelho digestivo e metabólico, corroborando com os resultados encontrados por Moraes et al. (2020), o qual identificou 2348 medicamentos prescritos, cujas classes prevalentes foram do aparelho digestivo e metabólico (n=703; 29,9%), seguido do sistema cardiovascular (n=632; 26,9%). A prevalência das classes supracitadas justifica-se pelas comorbidades dos participantes, como HAS e diabetes mellitus.
A polifarmácia, definida como uso simultâneo de cinco ou mais medicamentos (MASNOON et al., 2017) foi observada na maior parte dos participantes, apoiando os resultados de Corralo et al. (2018), onde foram avaliadas 127 pessoas idosas do município de Frederico Westphalen/RS e 85,0% apresentaram polifarmácia. Um estudo de base populacional identificou que a fragilidade pode mediar os impactos negativos da polifarmácia sobre a qualidade de vida, enquanto a polifarmácia amplifica os efeitos da fragilidade (LIU et al., 2024).
Os PRFs mais frequentes foram as interações medicamentosas, seguidas pelos medicamentos potencialmente inapropriados para pessoas idosas e alto risco de queda por medicamentos. As interações medicamentosas mais prevalentes foram as que devem ser monitoradas, seguidas de considerar a modificação da terapia e evitar combinação. A interação mais prevalente e clinicamente relevante que deve ser monitorada foi do ácido acetilsalicílico com clopidogrel, devido ao risco elevado de sangramentos (PLAVIX, 2022). A interação mais predominante que sugere modificação da terapia foi a sinvastatina com anlodipino, devido ao risco aumentado de toxicidade muscular (ZOCOR, 2011). Entre as combinações que devem ser evitadas, destacou-se o omeprazol com clopidogrel, associado ao alto risco de desfechos cardíacos negativos (NIU et al., 2017).
Os medicamentos potencialmente inapropriados para pessoas idosas foram frequentes neste estudo, onde os mais prevalentes foram os fármacos que atuam no trato gastrointestinal e sistema nervoso central (SNC). Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Moreira et al. (2020), onde foram avaliadas 321 pessoas idosas institucionalizadas e a prevalência de MPI foi de 54,6%, com predominância de fármacos do SNC. Os MPIs estão associados a desfechos negativos como quedas, fraturas, comprometimento cognitivo e delirium (MAGALHÃES, SANTOS & REIS, 2019). Assim, sugere-se a atuação do farmacêutico clínico, integrado à equipe multiprofissional de saúde, na avaliação e monitoramento do uso de medicamentos em pessoas idosas a fim de contribuir com a otimização de resultados clínicos e econômicos.
O alto risco de queda associado ao uso de medicamentos foi amplamente identificado neste estudo, especialmente relacionado ao uso de anti-hipertensivos e antipsicóticos. Segundo IE et al (2021), a presença de múltiplas classes de medicamentos associadas ao risco de queda em uma prescrição é um fator de risco independente para quedas, mesmo em pessoas em uso de poucos medicamentos. Além disso, as quedas causam prejuízos nas atividades de vida diária, resultando em declínios significativos na qualidade de vida, segurança e independência das pessoas idosas (ADAM et al., 2024). Diante disso, ressalta-se a contribuição do farmacêutico clínico na identificação e manejo do uso de medicamentos associados à ocorrência de quedas.
As discrepâncias entre os níveis de atenção à saúde, embora menos frequentes, também foram observadas, onde as omissões de medicamentos e as doses discrepantes foram as mais prevalentes. Esses problemas estavam relacionados aos medicamentos prescritos na atenção primária e/ou secundária e que foram omitidos na internação, enquanto as doses discrepantes corresponderam a medicamentos com determinada dose em domicílio e que foram prescritos com doses diferentes na internação. As pessoas idosas permeiam por todos os níveis de atenção à saúde e especialidades médicas, aumentando a chance de PRFs. Diante do exposto, ressalta-se a potencial contribuição da atuação do farmacêutico na revisão da farmacoterapia, objetivando otimizar o uso de medicamentos e os desfechos clínicos.
Entre as limitações do estudo, destaca-se a coleta de determinados dados via autorrelato, o que pode comprometer a veracidade das informações. Além disso, o número limitado de participantes reflete dificuldades enfrentadas durante o período de coleta de dados tais como a presença de pacientes desorientados, inconscientes e/ou analfabetos desacompanhados, todos excluídos da pesquisa. Além disso, a escassez de estudos semelhantes na literatura limitou a comparação e discussão dos resultados, embora ressalte a relevância e as contribuições deste estudo para a literatura científica da área. Em função de que estudos direcionados à avaliação do impacto dos PRFs e da importância do cuidado farmacêutico prestado a pessoas idosas hospitalizadas permanecem escassos no Brasil, sugere-se a necessidade de ampliar as pesquisas sobre o tema no país.
5 CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo mostraram que a maioria dos participantes apresentava baixo nível de escolaridade, sedentarismo e multimorbidades, com maior prevalência de hipertensão arterial sistêmica. Além disso, a maioria das pessoas idosas apresentava polifarmácia, onde as classes mais predominantes foram fármacos que atuam no sistema cardiovascular e aparelho digestivo e metabólico. Os PRFs comuns neste estudo, com destaque para interações medicamentosas, uso de medicamentos potencialmente inapropriados para pessoas idosas e o risco elevado de quedas associadas ao uso de medicamentos.
Em função dos desfechos negativos que os PRFs podem causar na saúde da população idosa, especialmente no contexto hospitalar, o cuidado farmacêutico surge como uma estratégia essencial para contribuir com o uso racional e seguro de medicamentos, promovendo melhores resultados clínicos, econômicos e contribuindo para um envelhecimento mais ativo e saudável.
REFERÊNCIAS
ADAM, Claire E. et al. The impact of falls on activities of daily living in older adults: A retrospective cohort analysis. PLoS one, v. 19, n. 1, p. e0294017, 2024.
ALHAWASSI, Tariq M. et al. A systematic review of the prevalence and risk factors for adverse drug reactions in the elderly in the acute care setting. Clinical interventions in aging, p. 2079-2086, 2014.
AMERICAN GERIATRICS SOCIETY BEERS CRITERIA® UPDATE EXPERT PANEL. American Geriatrics Society 2023 updated AGS Beers Criteria® for potentially inappropriate medication use in older adults. Journal of the American Geriatrics Society, v. 71, n. 7, p. 2052-2081, 2023.
ANDRADE, Raquel Coelho de et al. Polifarmácia, medicamentos potencialmente inapropriados e a vulnerabilidade de pessoas idosas. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 27, p. e230191, 2024.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Capacitação para implantação dos Serviços de Clínica Farmacêutica (Cuidado farmacêutico na Atenção Básica, caderno 2). 1ª. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 122 p.
BRETON, Gaëlle et al. Inappropriate drug use and mortality in community-dwelling elderly with impaired kidney function—the Three-City population-based study. Nephrology Dialysis Transplantation, v. 26, n. 9, p. 2852-2859, 2011.
CARLETI, Melissa et al. Erros de medicação em Unidade de Terapia Intensiva adulto: revisão integrativa: Medication errors in an adult Intensive Care Unit: an integrative review. Brazilian Journal of Health Review, v. 5, n. 6, p. 23796-23815, 2022.
CIPOLLE, Robert J.; STRAND, Linda M.; MORLEY, Peter C. O exercício do cuidado farmacêutico. Brasília: Conselho Federal de Farmácia, 2006.
CORRALO, Vanessa da Silva et al. Polifarmácia e fatores associados em idosos diabéticos. Rev. Salud Pública, v. 20, p. 366-372, 2018.
DA SILVA, Iara Pereira et al. Problemas relacionados à farmacoterapia e intervenções farmacêuticas em indivíduos com tuberculose. Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde/Brazilian Journal of Health Research, v. 22, n. 1, p. 60-70, 2020.B
DEMPSEY, Paddy C. et al. New global guidelines on sedentary behaviour and health for adults: broadening the behavioural targets. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 17, p. 1-12, 2020.
ESCORSIM, Silvana Maria. O envelhecimento no Brasil: aspectos sociais, políticos e demográficos em análise. Serviço Social & Sociedade, n. 142, p. 427-446, 2021.
FIGUEREDO, Eliza Vitória Nascimento et al. Caracterização do envelhecimento populacional no estado de Alagoas: Desdobramentos da vulnerabilidade social. Research, Society and Development, v. 10, n. 9, p. e6210917700-e6210917700, 2021.
GANZ, David A. et al. Preventing falls in hospitals: a toolkit for improving quality of care. Ann Intern Med, v. 158, n. 5 Pt 2, p. 390-396, 2013.
IE, Kenya et al. Fall risk-increasing drugs, polypharmacy, and falls among low-income community-dwelling older adults. Innovation in aging, v. 5, n. 1, p. igab001, 2021.
INSTITUTO PARA PRÁTICAS SEGURAS NO USO DE MEDICAMENTOS (ISMP Brasil). Boletim ISMP Brasil. São Paulo, n. 1, 2017. Disponível em: <https://www.ismp-brasil.org/site/wpcontent/uploads/2017/02/IS_0001_17_Boletim_Fevereiro_ISMP_210x276mm.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2024.
JÚNIOR, L. A. B. A. et al. Importância da farmácia clínica para a identificação e resolução de problemas relacionados a medicamentos (PRM). Revista Saúde em Foco, v. 13, n. 1, p. 9-20, 2021.
LIU, Yunmei et al. Investigating Frailty, Polypharmacy, Malnutrition, Chronic Conditions, and Quality of Life in Older Adults: Large Population-Based Study. JMIR Public Health and Surveillance, v. 10, p. e50617, 2024.
MAGALHÃES, Mariana Santos; SANTOS, Fabiana Silvestre dos; REIS, Adriano Max Moreira. Fatores associados ao uso de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos na alta hospitalar. Einstein (São Paulo), v. 18, p. eAO4877, 2019.
MASNOON, Nashwa et al. What is polypharmacy? A systematic review of definitions. BMC geriatrics, v. 17, p. 1-10, 2017.
MEIRELES, Isabella Barbosa et al. Fall among hospitalized patients and the use of drugs that increase the risk/Queda entre pacientes hospitalizados e o uso de medicamentos que potencializam o risco. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 13, p. 1671-1677, 2021.
MELO, Laércio Almeida de; LIMA, Kenio Costa de. Prevalência e fatores associados a multimorbidades em idosos brasileiros. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 3869-3877, 2020.
MORAES, Juliano Teixeira et al. Fatores associados para potenciais interações medicamentosas clinicamente significantes em terapia intensiva adulto. Medicina (Ribeirão Preto), v. 53, n. 4, p. 379-388, 2020.
MOREIRA, Francisca Sueli Monte et al. Uso de medicamentos potencialmente inapropriados em idosos institucionalizados: prevalência e fatores associados. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 6, p. 2073-2082, 2020.
MORETTI, Maria Carolina Martinghi Spinola; RUY, Anne Beatriz Ayres Botto; SACCOMANN, Izabel Cristina Ribeiro. A compreensão da terapêutica medicamentosa em idosos em uma unidade de saúde da família. Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba, v. 20, n. 1, p. 7-12, 2018.
MREJEN, Matías; NUNES, Letícia; GIACOMIN, Karla. Envelhecimento populacional e saúde dos idosos: O Brasil está preparado. São Paulo: Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, 2023.
NIU, Qiang et al. Combination use of clopidogrel and proton pump inhibitors increases major adverse cardiovascular events in patients with coronary artery disease: a meta-analysis. Journal of Cardiovascular Pharmacology and Therapeutics, v. 22, n. 2, p. 142-152, 2017.
PAULINO, Rafaela et al. Fatores Relacionados à Polimedicação e o Impacto na Qualidade de Vida dos Idosos: Uma Revisão Integrativa da Literatura/Factors Related to Polymedication and the Impact on the Quality of Life of the Elderly: An Integrative Literature Review. ID on line. Revista de psicologia, v. 15, n. 54, p. 183-196, 2021.
PLAVIX (clopidogrel) [prescribing information]. Bridgewater, NJ: sanofi-aventis U.S. LLC; September 2022.
ROCHON, P. A. Drug prescribing for older adults. UpToDate, 2024. Disponível em: < http://www.uptodate.com/contents/drug-prescribing-for-older-adults>. Acesso em: 23 abr 2024.
ROSSETTO, Caroline et al. Causas de internação hospitalar e óbito em idosos brasileiros entre 2005 e 2015. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 40, p. e20190201, 2019.
SANTOS, Kananda Franciele Souza et al. Potenciais interações medicamentosas em pacientes idosos da clínica médica de um hospital universitário. Scientia Plena, v. 18, n. 6, 2022.
TAFFET, George E. Normal aging. UpToDate, 2023. Disponível em: < https://www.uptodate.com/contents/normal-aging?search=envelhecimento>. Acesso em: 14 out 2024.
ULBRICH, Ana Helena et al. Potenciais interações medicamentosas em adultos e idosos no ambiente hospitalar. Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde, v. 14, n. 3, p. 971-971, 2023.
WIMMER, Barbara C. et al. Clinical outcomes associated with medication regimen complexity in older people: a systematic review. Journal of the American Geriatrics Society, v. 65, n. 4, p. 747-753, 2017.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Colaborating Centre for Drug Statistics Methodology. ATC/DDD Index 2024. Disponível em: <https://atcddd.fhi.no/atc_ddd_index/>. Acesso em 19 nov 2024.
ZERMANSKY, A.G.; PETTY, D.R.; RAYNOR, D.K. FREEMANTLE, N.; VAIL, A.; LOWE, C.J. Randomised controlled trial of clinical medication review by a pharmacist of elderly patients receiving repeat prescriptions in general practice. Brit. Med. J., v.323, n.8, p.1-5, 2001
ZOCOR (simvastatin) [prescribing information]. Whitehouse Station, NJ: Merck & Co., Inc.; June 2011.
¹Farmacêutica, Residente em Cuidados Continuados Integrados pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PREMUS-CCI/UFMS), Campo Grande – MS. E-mail: taynadeop@gmail.com;
²Farmacêutico, Residente em Cuidados Continuados Integrados pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PREMUS-CCI/UFMS), Campo Grande – MS. E-mail: jonathasp.lanna@gmail.com;
³Farmacêutica, Residente em Cuidados Continuados Integrados pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PREMUS-CCI/UFMS), Campo Grande – MS. E-mail: eduardapaixao1@hotmail.com;
⁴Farmacêutico, Residente em Cuidados Continuados Integrados pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PREMUS-CCI/UFMS), Campo Grande – MS. E-mail: joseilson.farma20@hotmail.com;
⁵Doutora em Toxicologia, Docente na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FACFAN/UFMS), Campo Grande – MS. E-mail: camila.guimaraes@ufms.br.