PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E IMPACTO DO TEMPO DE INTERNAÇÃO POR TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR EM CRIANÇAS NO BRASIL: ANÁLISE DE DADOS DE 2008 A 2023

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412311030


Ana Victoria Martins Lima
Vitória Carolina Bitencourt da Silva
Lara de Campos Brunetta
Arthur Duarte Sejópoles
Myllena Rodrigues de Oliveira
Rosa Maria Elias
Thais Caroline Dallabona Dombroski
Hugo Dias Hoffmann-Santos


Resumo

Introdução: O artigo explora a prevalência e o perfil epidemiológico da Taquicardia Supraventricular (TSV) em crianças de 0 a 14 anos no Brasil. A TSV é a arritmia mais comum na população pediátrica, caracterizada por uma taquicardia regular e rápida, que pode ter um impacto significativo no tempo de internação hospitalar. A literatura atual carece de informações detalhadas sobre a relação entre TSV e o tempo de internação em crianças, especialmente no Brasil. Objetivo: analisar o perfil epidemiológico de pacientes pediátricos internados por TSV no Brasil, focando na relação entre essa condição e o tempo de internação durante o período de 2008 a 2013. O estudo visa entender como fatores como faixa etária, sexo, necessidade de UTI e localização geográfica influenciam a duração da hospitalização e os desfechos clínicos. Método: O estudo utilizou um desenho epidemiológico observacional e transversal, analisando dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-DATASUS) referentes ao período de janeiro de 2008 a dezembro de 2023. A amostra incluiu crianças com idade entre 0 e 14 anos, diagnosticadas com TSV (CID-10 I47.1). As variáveis analisadas incluíram ano de internação, faixa etária, sexo, tipo de procedimento realizado, tempo de internação, região de residência, necessidade de UTI e evolução clínica. As análises estatísticas foram conduzidas usando o software R, considerando-se significativos os resultados com P-valor < 0,05. Resultado: O estudo registrou 4.796 hospitalizações por TSV, com um aumento de 71,49% nas internações ao longo dos anos analisados. A maioria das internações ocorreu em crianças de 0 a 4 anos, com uma média de 4,49 dias de internação. As internações foram mais frequentes no sexo masculino e na região Sudeste do Brasil. Internações de caráter urgente foram predominantes, com 31,51% dos pacientes necessitando de UTI, onde a UTI infantil foi mais utilizada do que a neonatal. A taxa de recuperação foi alta, com 99,12% dos pacientes recebendo alta hospitalar. Além disso, o estudo identificou que fatores como sexo, idade e necessidade de UTI influenciaram significativamente o tempo de internação. Conclusão: O tempo de internação em crianças com TSV está fortemente relacionado à gravidade da condição clínica, à urgência da internação e à região geográfica do paciente. A alta taxa de recuperação sugere um bom prognóstico geral, mas destaca-se a necessidade de melhorar a distribuição de recursos de saúde, especialmente em regiões menos favorecidas do Brasil. O estudo contribui para a compreensão da TSV em crianças e propõe a necessidade de estratégias mais eficazes no manejo hospitalar dessas condições.

Palavras-chave: Taquicardia supraventricular, Pediatria, Tempo de internação, Epidemiologia, Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Brasil, Arritmias cardíacas.

Introdução

Conforme o guideline de 2015 do American College of Cardiology/American Heart Association/Heart Rhythm Society1, a Taquicardia Supraventricular (TSV) é definida como um termo genérico para descrever taquicardias (frequências atriais e/ou ventriculares acima de 100 bpm em repouso), cujo mecanismo envolve o tecido do Feixe de His ou acima dele. Do ponto vista do manejo clínico, trata-se de uma síndrome com presença de uma regular e rápida taquicardia de instalação e término abruptos2 que apresenta um intervalo QRS estreito em eletrocardiograma3.

A TSV é o distúrbio de ritmo mais comum na população pediátrica geral e também nos portadores de doenças cardíacas congênitas4. Podemos ainda classificá-la pelo mecanismo eletrofisiológico subjacente em: Taquicardia Sinusal Inapropriada, Taquicardia Atrial (incluindo Taquicardia Atrial Focal e Multifocal), Taquicardia Macroreentrante (incluindo Flutter Atrial típico), Taquicardia Juncional, Taquicardia Reentrante Nodal Atrioventricular (TRNAV) e várias formas de Taquicardias Reentrantes mediadas por vias acessórias (TRAV)5.

Os diferentes tipos de taquicardia e seu mecanismo fisiopatológico terão incidência diferente de acordo com cada faixa etária, sendo que no primeiro ano de vida predomina a reentrada por via anômala e na adolescência será a forma de reentrada intranodal6. Nessa situação, de aparecimento até 1 ano de idade, a arritmia se resume a apenas um episódio em cerca de 30-50% da população infantil acometida, podendo ainda ser identificado em exames de rotina, sem que a criança apresente nenhuma queixa7.

A TSV é o distúrbio rítmico mais comum visto em crianças, tendo incidência de 13/100.000 e prevalência de 2,25/1000. Costuma aparecer precocemente e em geral é diagnosticada ainda no primeiro ano de vida em mais da metade dos casos8. A idade de início da taquicardia é importante para o prognóstico a longo prazo, podendo interferir no desfecho e remissão do quadro. Quando a TSV se inicia nos primeiros meses de vida pode haver 80% de chance de reverter de forma espontânea e demonstra um bom prognóstico, com baixas complicações9,10. Quanto ao tempo de internação dos pacientes com TSV, existe uma escassez de dados sobre essa informação11, nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é preencher essa lacuna e analisar o perfil epidemiológico dos pacientes que foram internados devido TSV e sua relação com o tempo de internação dos pacientes entre 0 a 14 anos no período de 2008 a 2013.

Métodos

Foi realizado um estudo epidemiológico, observacional, analítico, de delineamento transversal, com os dados provenientes do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-DATASUS), referentes ao período entre janeiro de 2008 e dezembro de 2023 e incluiu indivíduos de todas as unidades da federação brasileira com diagnóstico de Taquicardia Supraventricular (CID-10 I47.1) e idade entre 0 a 14 anos.

As seguintes variáveis foram incluídas no estudo: ano da internação, faixa etária, sexo, diagnóstico principal, procedimentos realizados, tempo de internação, região de residência, necessidade de UTI e evolução.

As variáveis categóricas foram sumarizadas por meio de frequências absolutas (n) e relativas (%) e as variáveis contínuas foram sumarizadas por meio de médias e desvio- padrão (DP). Todas as análises estatísticas foram realizadas no software R versão 4.3.3 (Vienna, Áustria), sendo considerado estatisticamente significante quando P-Valor < 0,05.

Resultados

Ocorreram um total de 4.796 hospitalizações, o que representa uma média de 1 internação por dia.

De acordo com a figura 1 houve um crescimento percentual de 71,49% do número de internações no período analisado neste estudo. Durante a pandemia de COVID-19 se observa um decréscimo de internações seguido de aumento após o fim da mesma.

Figura 1. Tendência temporal da quantidade de internações de pacientes de 0 a 14 anos de idade com TSV no Brasil entre 2008 e 2023.

Conforme observado na tabela 1 durante os anos de 2018 a 2023 houve uma maior proporção de internações. Entre 2008 até 2023 ocorreu um maior número de hospitalizações de pacientes do sexo masculino, em região Sudeste, com internações de caráter urgencial e predominância de procedimentos clínicos. Dentre os dados analisados houve predominância entre a faixa etária de 0-4 anos, com tempo médio de internação de 4,49 dias. Dentre as internações, apenas 31,51% foram em unidade de terapia intensiva, predominando a UTI infantil (91,97%), se comparada com a UTI neonatal (8,03%). Em relação à evolução houve desfecho para alta (99,12%), em comparação aos óbitos.

Tabela 1. Perfil epidemiológico das internações de pacientes de 0 a 14 anos de idade com Taquicardia Supraventricular no Brasil entre 2008 e 2023.

A figura 2 demonstra que independentemente do ano em que ocorreram as internações, o tempo de permanência se manteve sem diferença estatística significativa.

Figura 2. Tempo médio de hospitalização de pacientes de 0 a 14 anos por TSV em relação aos intervalos temporais de 2008-2012, 2013-2017 e 2018-2023 no Brasil.

A figura 3 demonstra significância estatística na comparação da média entre o tempo médio de internação de acordo com as faixas etárias analisadas, demonstrando que menores de 4 anos apresentaram maior tempo de internação que as outras faixas etárias.

Figura 3. Tempo médio de permanência por TSV por faixa etária na população entre 0 a 14 anos entre o ano de 2008 e 2023 no Brasil.

A figura 4 demonstra que houve uma diferença estatistica significativa no tempo médio de permanência de internação em relação ao sexo analisado, demonstrando que o sexo masculino apresentou tempo médio de permanência maior ao ser comparado com o sexo feminino.

Figura 4. Tempo médio de hospitalizações de acordo com os sexo masculino e feminino por TSV na população de 0 a 14 anos entre os anos de 2008 a 2023 no Brasil.

A figura 5 demonstra que a região Nordeste apresentou uma média de permanência significativamente maior comparado a região Sudeste, no entanto, com semelhança estatística em relação às regiões Centro-Oeste e Norte.

Figura 5. Tempo médio de hospitalização por TSV por regiões de residência dos indivíduos de 0 a 14 anos no Brasil entre 2008 e 2023.

A figura 6 demonstra que o tempo médio de permanência na internação foi estatisticamente maior nos pacientes internados em caráter de urgência quando comparado aos pacientes atendidos em caráter eletivo.

Figura 6. Tempo médio de permanência em serviço médico por TSV de acordo com o caráter da internação (urgência ou eletivo) na população de 0 a 14 anos entre o ano de 2008 a 2023

A figura 7 demonstra que houve significância estatística na comparação do tempo médio de internações em dias nos pacientes com TSV em relação com as internações em Unidade de Terapia Intensiva, indicando que houve maior tempo de internação entre os pacientes que precisaram de UTI.

Figura 7. Tempo médio de internação de pacientes com TSV em relação a necessidade de internação em unidade de terapia intensiva em indivíduos de 0 a 14 anos entre o ano de 2008 a 2023 no Brasil.

A figura 8 demonstra que houve significância estatística na comparação do tempo de internação de acordo com o tipo de UTI utilizada, evidenciando que o tempo de permanência na UTI neonatal foi maior quando comparado ao da UTI infantil.

Figura 8. Tempo médio de permanência em serviço médico em UTI Infantil e Neonatal na população entre 0 a 14 anos no Brasil nos anos de 2008 a 2023.

A figura 9 demonstra que houve significância estatística na comparação da média entre o tempo de internação de acordo com o tipo de habilitação da UTI utilizada, demonstrando que o tempo de internação na UTI neonatal tipo III foi maior em relação às outras UTIs analisadas.

Figura 9. Tempo médio de internação de acordo com o tipo de habilitação da UTI infantil entre os anos de 2008 a 2023, na população de 0 a 14 anos que residem no Brasil.

A figura 10 demonstra que houve um tempo maior em dias de internação em grupo com desfecho de alta em relação ao grupo óbitos de forma estatisticamente significativa.

Figura 10. Tempo médio de permanência em dias de acordo com a evolução na população entre 0 a 14 anos no Brasil entre 2008 e 2023.

A figura 11 demonstra que o tempo médio de permanência dos pacientes que internaram em caráter de urgência e não utilizaram UTI foi estatisticamente maior comparado aos pacientes internados de maneira eletiva. Seguindo esta perspectiva, os pacientes que utilizaram de UTI em caráter de urgência apresentaram um tempo de permanência significativamente maior quando comparado aos pacientes de caráter eletivo. Portanto, o caráter de urgência apresentou tempo de internação estatisticamente maior nos dois cenários, com um tempo médio mais expressivo nos pacientes que internaram em UTI.

Figura 11. Tempo médio de permanência em dias de acordo com o caráter de internação na população que utilizou e não utilizou a UTI dos indivíduos de 0 a 14 anos no Brasil entre 2008 a 2023.

Discussão

A figura 1 evidencia que as internações pela TSV tiveram uma queda significativa no período da COVID-19, seguindo a mesma mesma tendência observada no estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na cidade de Belo Horizonte que mostra mostra uma queda geral de cerca de 28% nas internações, na pandemia do novo coronavírus, por afecções respiratórias, cardiovasculares, infecciosas e neoplásicas12.

Os dados analisados neste trabalho demonstraram maior taxa de internação e permanência no sexo masculino. Esses resultados vão ao encontro com o observado no estudo de Niwa et al. (2004)13, com cerca de 150.000 crianças entre 5-6 anos e 12-13 anos, em corações sem anormalidades estruturais, há uma prevalência maior no sexo masculino (2%) em relação ao feminino (1,38%), assim como observado também no estudo de Mundim et al. (2024), que analisou o perfil epidemiológico de 365 pacientes atendidos em ambulatório de cardiologia pediátrica no período de 1996 a 2019, houve predomínio do sexo masculino em comparação com o feminino quanto a prevalência de arritmias em pacientes sem cardiopatias14.

Quanto aos dados apresentados na figura 5 que aborda a distribuição regional por tempo de internação, o Nordeste evidencia maior tempo de permanência hospitalar em comparação com as outras regiões. Nesse contexto, a assistência médica deficitária, especialmente em áreas fora dos centros metropolitanos, pode impactar significativamente o tempo de internação de crianças com TSV. Pois os profissionais, particularmente especialistas, tendem a se concentrar em áreas metropolitanas, deixando a população de regiões mais extremas com uma capacidade limitada de suporte a médicos e especialistas15.

Nas regiões do nordeste do Brasil em que há falta de infraestrutura adequada o tempo de internação foi mais prolongado em relação a outras regiões do Brasil. Como o tempo de internação hospitalar é uma métrica crucial para avaliar a eficiência da gestão hospitalar, sabe-se que uma internação prolongada impacta negativamente a rotatividade de leitos, sobrecarrega os departamentos de emergência, as UTIs e as enfermarias, o que pode levar a piores resultados, incluindo aumento da mortalidade16.

De acordo com os resultados apresentados na figura 6, os pacientes admitidos em caráter de urgência apresentaram maior tempo de permanência hospitalar. Essa questão foi objeto de estudo de K. K. Kirschbaum et. al (2012), realizado no Children’s Memorial Hospital, onde foi feito uma análise retrospectiva dos prontuários de pacientes pediátricos com TSV. Foi observado que os principais fatores de influência na duração da internação estavam relacionados a gravidade da taquicardia, tipo de tratamento instituído, comorbidades e resposta ao tratamento17.

Além desse estudo, na publicação científica de D. Scott et. al (2006) foi identificado como variável de impacto o diagnóstico e estabilização precoce do quadro do paciente, juntamente com a educação dos pais acerca da condição da criança e medidas a serem realizadas em domicílio para o manejo da TSV. Esses dados nos levam a crer que a procura por atendimento médico tende a acontecer em situações mais graves, logo, podemos deduzir que são episódios de difícil diagnóstico, intervenção e controle, justificando o maior tempo de internação pelo carácter de urgência, independente de ter utilizado ou não unidade de terapia intensiva (UTI), como expresso na análise da figura 11 18.

Os dados analisados na figura 2 sugerem uma estabilidade nos tempos médios de hospitalização e isso pode refletir uma consistência nas práticas médicas adotadas ao longo desses anos. No entanto, não há evidências para afirmar se houve homogeneidade na aplicação de protocolos terapêuticos da TSV nas diferentes regiões nos diferentes períodos. Depreende-se daí que a mudança de diretrizes ou protocolos terapêuticos na abordagem da TSV não necessariamente refletem a adoção homogênea pelos profissionais do sistema, constituindo neste contexto particular um fator insuficiente19. Outro aspecto importante é a confiabilidade dos dados extraídos do Sistema de Informação Hospitalar (SIH), o número de dias de internação pode não refletir com precisão a realidade clínica, o que pode limitar a análise dos dados20.

A tabela 1 evidencia que 25% dos pacientes analisados nesse estudo necessitaram de intervenção cirúrgica, assim como observado no artigo de Schibli et al. (2020), estudo que discute os critérios e eficácia da ablação, sugerindo que o tratamento cirúrgico é necessário em cerca de 20% a 30% dos casos21. A primeira linha em pacientes com estabilidade hemodinâmica não invasiva são as manobras vagais e esse tipo de tratamento é eficaz em até 53% dos pacientes. Dentre os tratamentos farmacológicos, a adenosina é a mais utilizada e preconizada em alguns fluxos de atendimentos22. Já o tratamento de longo prazo inclui drogas como digoxina, propranolol e amiodarona. Quando a TSV não responde ou se apresenta de forma refratária, a depender de uma avaliação detalhada de cada caso, a intervenção cirúrgica é indicada. O procedimento mais comumente usado é a ablação por cateter com radiofrequência ou por crioterapia para destruir o tecido cardíaco anômalo23.

Sabe-se que o primeiro episódio de TSV ocorre em 50–60% dos casos durante o primeiro ano de vida, sendo ainda mais frequente nos primeiros 4 meses. Os dados analisados na figura 3 confirmam o exposto em outras literaturas que evidenciaram maior tempo de internação em neonatos e bebês, isso porque, ao contrário das crianças mais velhas que são mais submetidas a tratamento definitivo com ablação por cateter, os riscos destes procedimentos em bebês são significativamente maiores e a terapia de escolha quase sempre é administração de antiarrítmicos profiláticos por 6 a 12 meses com intuito de evitar recorrências24.

Os ensaios clínicos sobre tratamentos médicos na TSV são escassos, o que dificulta a adoção de consensos e evidências pelas sociedades de pediatria quanto à medicação ou duração da terapia em crianças menores. Dessa forma, isso pode influenciar no tempo de internação dos pacientes pela probabilidade de experimentarem novos episódios visto que a abordagem definitiva com ablação quase nunca é uma escolha em neonatos e bebês com episódios recorrentes25.

O tempo de internação dos pacientes foi maior na população que precisou de internação em unidade de terapia intensiva, segundo os dados colhidos e analisados na figura 7. Os indivíduos que não respondem às medidas não-invasivas, e principalmente, os que precisam de abordagem cirúrgica, demandam maior assistência, sendo fundamental o seguimento em UTI26.

Da mesma maneira, como analisado na figura 8 e 9, o tempo de permanência hospitalar foi maior nos pacientes que necessitam de UTI neonatal e, especificamente, UTI neonatal tipo 3. Cabe salientar que no Brasil, a Portaria nº 930/2012, classifica as UTIs conforme a assistência, recursos disponibilizados e a indicação de acordo com o quadro clínico dos pacientes. Já a UTI infantil é destinada para as crianças e adolescentes, enquanto a UTI neonatal é destinada aos recém- nascidos e prematuros, esses que manifestam sinais clínicos consideráveis e maior risco de instabilidade, portanto, devido a menor reserva funcional estendem o tempo de internação para a recuperação adequada 27,28.

Ainda no contexto da permanência em ambiente hospitalar, a figura 10 mostra que houve maior tempo de hospitalização em pacientes que receberam alta, em comparação aos que evoluíram para óbito. Relacionando essa informação com o encontrado na figura 6, que mostra maior tempo de internação nas crianças internadas em caráter de urgência, conclui-se que o grupo que evoluiu para alta possivelmente obteve diagnóstico e intervenção mais precoce, atingindo certa estabilidade que proporcionou maior tempo em atendimento hospitalar para reversão e controle do quadro.

Conclusão

O estudo revelou que o tempo de internação por taquicardia supraventricular (TSV) em crianças é influenciado por diversos fatores, como a gravidade clínica, o caráter urgente da admissão e a região geográfica de residência. Observou-se que crianças mais jovens, especialmente aquelas com menos de 4 anos, tendem a apresentar tempos de internação mais longos, possivelmente devido à necessidade de cuidados mais intensivos e à maior complexidade do manejo clínico nesta faixa etária. Além disso, internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), especialmente UTIs neonatais de maior complexidade, foram associadas a períodos de internação prolongados. O estudo também destacou disparidades regionais significativas, com pacientes de regiões menos favorecidas, como o Nordeste do Brasil, apresentando tempos de internação mais longos, refletindo desafios na distribuição e acesso a cuidados de saúde especializados. Apesar das variações no tempo de internação, a taxa de recuperação foi alta, com 99,12% dos pacientes recebendo alta hospitalar, sugerindo um bom prognóstico geral para crianças com TSV. No entanto, os resultados indicam a necessidade urgente de melhorar a infraestrutura de saúde em regiões menos desenvolvidas e de implementar estratégias mais eficazes para o manejo de TSV em crianças, visando reduzir as disparidades regionais e otimizar os desfechos clínicos. A uniformização dos protocolos de tratamento e a capacitação de profissionais de saúde em áreas remotas são medidas essenciais para alcançar esses objetivos e melhorar a qualidade do atendimento pediátrico no Brasil.

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