PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS TUMORES DE HIPÓFISE E ANÁLISE DO TRATAMENTO ATRAVÉS DA REALIZAÇÃO DE CIRURGIA ENDOSCÓPICA TRANSESFENOIDAL NA CIDADE DE JOAO PESSOA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7765091


Débora de Araujo Paz1
Rafael Rudá Coelho de Morais e Silva2


Resumo:  

Os tumores de hipófise constituem 10- 15% de todos os tumores intracranianos. É a doença mais comum que afeta a hipófise, sendo normalmente encontrada em pessoas na faixa dos 30 a 40 anos de idade. Podem ser classificados funcionalmente como secretores (funcionantes), os que interferem diretamente na secreção hormonal e não secretores (não funcionantes), aqueles que não apresentam clínica de hipersecreção hormonal. Os adenomas hipofisários funcionantes representam 75% dos casos. A cirurgia transfemoidal é o procedimento cirúrgico mais utilizado e seguro para a abordagem da região hipofisária. Esta pesquisa objetivou fazer um estudo sobre os tumores de Hipófise no estado da Paraíba, abordando pacientes submetidos à ressecção por via transesfenoidal, no período de 1993 à 2003. Trata-se de um estudo epidemiológico, retrospectivo, observacional e transversal do tipo descritivo. Foram analisados 33 prontuários clínicos, sendo 42,4 % dos pacientes do sexo masculino e 57,6% sexo feminino. A mediana de idade dos pacientes foi de 40 anos, apresentando um desvio padrão de 17,9 anos. 69,7% dos pacientes eram procedentes da capital do estado, João Pessoa. Com relação aos anos de maior incidência da realização da cirurgia entre 1999 e 2001 foram responsáveis por 54,6% dos procedimentos. Quando abordados pelo tamanho do tumor, 21,2% eram microadenomas, 45% macroadenomas e 30,3% estavam escritos no prontuário apenas como “adenomas”. Dos tumores funcionantes a maioria era produtor de prolactina(75%), seguido por GH(18,75%) e ACTH(6,05%). A sintomatologia mais associada aos tumores foram cefaleia e alterações visuais, porém também verificamos a presença de acromegalia, amenorreia, Diabetes, EEG com foco irritativo, epistaxe, galactorreia, vertigem e Síndrome de Cushing. Encontramos 4 casos de recidivas pós cirurgia e 1 caso de sequela. Este estudo é relevante para consolidação do conhecimento epidemiológico, constituindo um parâmetro para otimizar os serviços para melhor abordagem dos pacientes com tumores de hipófise e maior conhecimento sobre o procedimento cirúrgico realizado. 

Palavras-chave: Neoplasias Hipofisárias, Cirurgia Transesfenoidal, epidemiologia

1 Projeto  

1.1 Introdução 

A hipófise, glândula de secreção interna de pequenas dimensões, pesa cerca de 0,6g e mede 12x9x6mm, de forma ovóide, pendente da região central da base do cérebro, presa ao assoalho do terceiro ventrículo, o tuber cinereum, por uma haste que é o pedúnculo da hipófise(CHEUNG, 2001); 

A atividade das células hipofisárias e a emissão de seus hormônios para o sangue estão sob o controle dos centros nervosos situados no hipotálamo, na base do cérebro. O hipotálamo e a hipófise formam uma unidade que exerce controle sobre a função de várias glândulas endócrinas – tireóide, supra- renais e gônadas -, assim como uma grande variedade de atividades fisiológicas (CHEUNG, 2001); 

Os tumores de hipófise constituem 10- 15% de todos os tumores intracranianos. É a doença mais comum que afeta a hipófise sendo normalmente encontrada em pessoas na faixa dos 30 a 40 anos de idade. São classificados basicamente de quatro maneiras: tamanho, função endócrina, achados clínicos e histologia. Com relação ao tamanho, é utilizada a classificação proposta por Hardy (HARDY, 1969), em 1969, que gradua em microadenomas, quando têm menos de 1 cm de diâmetro e macroadenomas, quando maiores que 1 cm. (MERRIT,2007) 

Podem também ser classificados funcionalmente como secretores (funcionantes), os que interferem diretamente na secreção hormonal e não secretores (não funcionantes), aqueles que não apresentam clínica de hipersecreção hormonal. O quadro clínico é dependente dos efeitos de massa provocados pelo crescimento tumoral com compressão de estruturas adjacentes à hipófise, e também relacionado à produção hormonal do tumor ou ainda às deficiências hormonais decorrentes da destruição da hipófise normal( MUSOLINO, 2003).  Efetivamente, a etiopatogenia dos tumores hipofisários ainda é pouco conhecida. Tanto o hipotálamo como a hipófise têm sido indicados como sítio primário da tumorigênese da glândula (MELMED, 2003) 

A incidência dos diferentes adenomas segundo Laws, é de 14,7 casos para 100.000 habitantes por ano (LAWS, 1992) e o achado a prevalência de incidentalomas de hipófise diagnosticados por TC varía de 3,7 a 20% (CHIDIAC, 1997). Embora os tumores hipofisários sejam na sua maioria benignos, considerável número deles são invasivos e o estudo de fatores proliferativos, como o antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA), poderia fornecer o comportamento biológico destes tumores. (TELLA et al, 2000) 

O diagnóstico proposto depende da clínica, os adenomas que se manifestam por alterações visuais ou endócrinas e necessitam de investigações neuroftalmologia e endócrina, com dosagens hormonais basais e com testes de estímulo e supressão (COULDWELL, 1994). A avaliação radiológica baseia-se na tomografia computadorizada (TC) com contraste e principalmente com cortes coronais e no exame de ressonância magnética (RM), sem e com gadolíneo(GREENMAN, 1996). 

A cirurgia transesfenoidal é o procedimento cirúrgico mais utilizado para a abordagem da região hipofisária (PETRY, 2009). Embora segura e eficaz, a microcirurgia transnasal da hipófise às vezes tem sido associada a complicações que afetam os seios nasais, estruturas ósseas e cartilaginosas, e os dentes. Complicações predominam nasais em uma frequência de até 38% (obstrução e crostas)(HARDY,1967). Estes resultados aparecem para agradar a abordagem endoscópica nasal, que tem sido associada com menos locais( KANAAN, 2005). A cirurgia das cavidades naso-sinusais com a utilização do endoscópio rígido passou a difundir-se a partir da publicação de Messerklinger em 1970, sendo posteriormente empregada na cirurgia da base do crânio e nas regiões selar e parasselar(GONDIM, 2003). 

1.2. Fundamentação Teórica 

Tumores Hipofisários não Funcionantes: Os adenomas hipofisários não funcionantes(ACNF) ou não secretores representam 25% dos casos, são assim chamados por não produzirem síndromes clínicas de hipersecreção hormonal(VILAR, 2001). Entretanto, contrariamente ao que tais denominações indicam, podem produzir hormônios ou fatores locais em quantidade suficiente para serem detectados em estudo imunoistoquímico ou por outros métodos mais refinados, porém insuficiente para serem encontrados na circulação e produzirem características clínicas.( WILLIAMS, 2003) Podem ter características de imunossupressão de um ou mais hormônios ou não ter esta característica imunossupressora (null cell) à microscopia óptica e eletrônica (STEFANEANU, 1993). 

A etiologia dos ACNFs permanece obscura, embora a maioria desses tumores hipofisários possivelmente seja derivada de uma mutação celular com consequente expansão monoclonal(LIBERMAN, 2002). 

As principais manifestações clínicas podem ser neurológicas, principalmente neuro culares e cefaleia; relacionadas à hipofunção hipofisária com ou sem hiperprolactinemia secundária a redução do aporte de dopamina à hipófise normal. Manifestações mais raras incluem apoplexia hipofisária, hipertensão intracraniana, diabetes insipidus, síndrome do seio cavernoso e síndrome convulsiva. Alguns casos podem ser diagnosticados de forma incidental, isto é, sem apresentar qualquer sintoma relacionado à presença do adenoma(SOTO- ARES et al, 2002). 

A taxa de mortalidade nos ACNFs é de aproximadamente 2% e a recidiva sintomática após o tratamento cirúrgico pode ocorrer em 10% a 20% dos pacientes em dez anos(SATO- ARES et al, 2002). 

O tratamento de escolha para os ACNFs é a cirurgia transesfenoidal, de preferência, realizada por um experiente neurocirurgião. A craniotomia frontal fica reservada para os casos de tumores hipofisários com grande extensão supra-selar( WILLIAMS, 2003). Os remanescentes tumorais podem permanecer em 30% a 50% dos casos (COLAO, 1998). 

Os efeitos colaterais da cirurgia, incluindo um dano à própria hipófise, o diabetes insipidus permanente ou transitório, e as complicações locais ocorrem em 5% a 18% dos pacientes e são usualmente determinados pelo tamanho do tumor, o grau de invasão tumoral e a habilidade do cirurgião (WILLIAM, 2003). 

A radioterapia adjuvante como uma forma de prevenção de uma recidiva do tumor ou um novo crescimento de resquícios tumorais deve ser avaliada nos pacientes com relato cirúrgico de ressecção incompleta do mesmo. Entretanto, esta terapia tem como desvantagem um longo início de ação e o hipopituitarismo consequente em um grande percentual de pacientes (VILAR, 2001; WILLIAMS, 2003).  

Tumores Funcionantes  

As neoplasias são denominadas “funcionantes” quando produzem hormônios em quantidade suficiente para induzir manifestações clínicas, representam 75% dos adenomas, compreendendo, em ordem decrescente de frequência: tumores lactotrófos (prolactinomas), tumores somatotróficos, tumores adrenocorticotróficos, e os raros tumores produtores de hormônios glicoprotéicos: gonadotrofinas e tirotrofinomas. Os adenomas hipofisários também podem produzir mais de um hormônio, sendo mais freqüente a associação de hormônio de crescimento (GH) e prolactina (PRL).( BRONSTEIN , 2005) 

Os prolactinomas são os tumores hipofisários funcionantes mais comuns representando cerca de 40% de todos os tumores hipofisários. Apresentam-se habitualmente com infertilidade e disfunção gonadal e sexual em ambos os gêneros. No gênero feminino, são causa de galactorréia e amenorréia, fato que contribui para o diagnóstico em idade mais precoce, assim como para o maior número de casos diagnosticados nas mulheres. Os macroprolactinomas – tumores com diâmetro superior a 10 mm- são diagnosticados mais frequentemente nos homens. Dada a menor exuberância da sintomatologia inicial, a neoplasia será diagnosticada mais tardiamente, quando ocorrem sintomas decorrentes da expansão do tumor e compressão de estruturas adjacentes(COLAO, 2009)(ASA, 2009) 

O tratamento clínico é feito com agonistas dopaminérgicos. O tratamento proposto é geralmente cirúrgico se existirem alterações visuais (MARY, 2006). Página 4  

Os somatotrofos compreendem cerca de 40% das células adeno-hipofisárias. A hipersecreção de GH leva a quadro clínico de acromegalia e/ou gigantismo. Adenomas somatotróficos são responsáveis por 99% dos casos; raramente a produção excessiva de GH é decorrente de secreção anormal do hormônio liberador do GH (GHRH) por tumores hipotalâmicos (e utópica) ou por tumores intracraneanos, principalmente pulmonares e pancreáticos (ectópica). A acromegalia/gigantismo pode ocorrer associada a duas síndromes familiares de neoplasia endócrina múltipla, a já referida MEN 1 e o complexo de Carney. A expressão do PTTG (pituitary tumor transforming gene – PTTG), um novo gene transformador tumoral, correlaciona-se com o grau de invasão dos adenomas somatotróficos (PEI,1997). 

Cerca de 10 a 15% dos adenomas hipofisários são corticotróficos, grande parte constituída por micro-adenomas. Embora 5% destes sejam silenciosos, a maior parte hiper secreta ACTH, levando à doença de Cushing, causa mais frequente de hipercortisolismo. Do ponto de vista de sua etiopatogenia, não se conhece a razão da maior parte destes tumores serem microadenomas. A participação hipotalâmica deve ser considerada na progressão para adenomas mais agressivos, já que cerca de 30% dos pacientes tratados por adrenalectomia bilateral desenvolvem tumores invasivos (síndrome de Nelson) por perderem o efeito frenador dos níveis elevados de cortisol sobre o eixo CRH-ACTH, não mantido pelas doses de reposição de corticosteróides naturais ou sintéticos(BRONSTEIN,2005) 

Não existe nenhum estudo epidemiológico sobre os tumores de Hipófise na Paraíba relatando incidência anual, perfil sociodemográfico, prevalência com relação à idade, procedência, abrangência e tipo de tratamento, além de diferenciação entre adenomas funcionantes e não funcionantes. 

A justificativa para a realização deste estudo fundamenta-se no fato que o conhecimento das taxas populacionais constitui um meio de otimizar os serviços para melhor tratar estes pacientes, alem de fundamental importância da aquisição de maior conhecimento na área epidemiológica no estado da Paraíba. 

1.3 Metodologia  

1.3.1 Desenho do estudo  

Foi realizado um estudo epidemiológico, retrospectivo, observacional e transversal do tipo descritivo. Este estudo foi o escolhido porque é o mais adequado para análise de incidência e prevalência em populações, principalmente quando não existem estudos anteriores com o mesmo enfoque. O padrão de ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença diz respeito à distribuição desses eventos segundo características: do tempo (tendência num período, variação sazonal, etc.), do lugar (distribuição geográfica, distribuição urbano-rural, etc.) e da pessoa (sexo, idade, profissão, etnia, etc.) e inclui não só o número desses eventos, mas também as taxas ou riscos de doença nessa população. 

1.3.2 População do estudo  

A pesquisa foi desenvolvida com pacientes portadores de tumor de hipófise tratados por cirurgia transfemoidal nos hospitais descritos no local do estudo. 

1.3.3 Amostra  Amostragem:  

Amostragem por conveniência. 

Tamanho da Amostra:  

O tamanho da amostra foi fornecido através dos dados coletados de acordo com os critérios de inclusão, de todos pacientes que tiveram cadastro durante o período da pesquisa.  Critérios de inclusão dos casos: Página 5  

Indivíduos operados nos seguintes centros: Hospital Unimed João Pessoa, Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, com registro em prontuário médico, com diagnóstico estabelecido de tumor de hipófise, comprovado por exames de imagem e dosagem de hormônio, tratados pelo neurocirurgião Maurus Marques de Almeida Holanda, procedente do estado da Paraíba e que possuía prontuários médicos no banco de dados do consultório de Dr Maurus Holanda, no acompanhamento pós cirúrgico.  Critérios de exclusão dos casos:  

Pacientes que tenham outra afecção que causem sintomas de tumor de hipófise, que tenham realizado tratamento clínico apenas, com prontuários médicos incompletos, que não tenham diagnóstico clínico estabelecido e que não tenham sido tratados por cirurgia endoscópica transesfenoidal.  Foram excluídos do estudo 12 prontuários. 

1.3.4 Definição e classificação das variáveis  

Variável Primária – presença de tumor de hipófise 

Variáveis secundarias – sexo, idade, naturalidade, procedência, profissão, tipo funcional do tumor( funcionante/ não funcionante), classificação de acordo com o hormônio secretado(tireotrofina, prolactina, corticotrófico , somatotrofina, gonadotrofina), tratamento realizado, presença de complicações decorrentes do tratamento. 

1.3.5 Local da Pesquisa  

A pesquisa foi realizada através dos prontuários nos seguintes centros: Hospital Unimed João Pessoa, Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena e consultório médico do Neurocirurgião responsável. 

1.3.6 Período da Pesquisa  

A pesquisa teve início em agosto de 2013 e término em Julho de 2014. 

1.3.7 Instrumento para coleta de dados  

Foi aplicado um formulário para a coleta dos dados no prontuário(Anexo 1). O instrumento não era validado, visto que foi criado pelo pesquisador para facilitar a coleta dos dados, logo foi necessário a realização um projeto piloto para visualização da adequação do instrumento, compreensão das questões, verificação das dúvidas e das dificuldades de preenchimento e necessidade de introdução ou supressão de itens. 

1.3.8 Procedimentos utilizados  

Foi realizada uma pesquisa documental, utilizando-se como instrumento a pesquisa em registro clínico dos pacientes que são cadastrados e atendidos no Hospital Unimed João Pessoa, Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, cidade de João Pessoa. A coleta foi realizada por estudante de medicina previamente treinado. 

1.3.9 Tamanho da Amostra  

Foi fornecido através dos dados coletados de acordo com o critério já estabelecido como caso (variável dependente) no período de tempo definido.  

1.3.10 Análise Estatística  

Foi realizada apenas estatística descritiva: frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central (média, moda e mediana ) e medidas de dispersão, como variância e desvio padrão. 

Para essa avaliação estatística e epidemiológica da incidência foi utilizado o Programa SPSS 16.0, que permite incorporar os pesos distintos das observações adequadamente. 

1.3.11 Aspectos éticos  

O projeto foi encaminhado para aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Por se tratar de uma pesquisa documental a partir de registros laboratoriais, a identificação dos constituintes da amostra não foi revelada, o que atende o princípio ético recomendado pela Resolução 466/12. (BRASIL. Conselho Nacional de Saúde, 12 de dezembro de 2012).

1.4 Resultados e Discussões  

Foram selecionados para a pesquisa 45 prontuários cadastrados no ambulatório de retorno após o procedimento transesfenoidal para tumores de hipófise, destes 12 foram excluídos do estudo por conterem dados incompletos que impossibilitava a análise epidemiológica destes pacientes. Dos 33 prontuários analisados foi identificado que 42,4 % dos pacientes eram do sexo masculino e 57,6% sexo feminino. A mediana de idade dos pacientes no momento da descoberta da patologia hipofisária era de 40 anos, apresentando um desvio padrão de 17,9 anos (gráfico 1). Não houve diferença estatisticamente significativa com relação ao sexo, estando de acordo com a com o estudo de Larsen , realizado em 2003. Visto que o presente estudo visava traçar um perfil epidemiológico dos pacientes, foi identificado que 69,7% era procedente da cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, sendo o restante de cidades próximas à capital como Guarabira, Lucena e Santa Rita e apenas 2(6%) pacientes do interior do estado como Patos e Souza. Isto pode ser explicado pelo maior atendimento do neurocirurgião em questão neste estudo aos pacientes da própria capital, local de mais fácil acesso aos serviços de saúde.

Verificando o ano de descoberta da patologia, podemos visualizar, a partir do gráfico 1, que somente os anos de 1999, 2000 e 2001 foram responsáveis por 54,6% de todos os casos.

Gráfico 2– Distribuição de frequência de acordo com o ano do diagnóstico 

Com relação ao tipo do tumor ressecado, através da via transnasal endoscópica, verificamos que 21,2% dos tumores operados eram microadenomas, 45% macroadenomas, 3% eram craniofaringiomas e 30,3% estavam escritos no prontuário apenas como “adenomas”, não havendo especificação relacionadas ao tamanho do tumor. A pequena quantidade de pacientes com Craniofaringiomas pode ser explicada pela busca da pesquisa ter sido desenvolvida ao redor de termos relacionados a adenomas hipofisários. 

A maioria dos tumores encontrados são classificados como Macroadenomas (gráfico 3). No nosso estudo, esta relação já era esperada, pois a amostra é representada apenas por pacientes que se submeteram a cirurgia para exérese do tumor, o que acontece principalmente nos macroadenomas, por sintomatologia compressiva.  A maioria dos pacientes portadores de macroadenoma, 9 dos 17(52,9%) eram do sexo masculino, concordando com o estudo de Colao (2009) que também relata esta disparidade entre gêneros e tamanho dos tumores, entretanto Ferreira (2005) relata que não ter encontrado no seu estudo sobre tumores não funcionantes correlação do tamanho do tumor (mm) em relação ao sexo não houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos. 

Considerando o quadro clínico relacionado à secreção hormonal, constava em apenas 16(48,4%) prontuários informações relativas à elevação das quantidades normais de hormônios. Os outros 17(51,5%) prontuários não possuíam estas informações, sendo considerados como tumores não funcionantes, podendo levar a um viés de inferência, pois não conter dados relacionados ao hormônio não significa que não haja hormônio, pode ter havido erro de preenchimento do prontuário.

Assim como verificado em Bronstein(2005), os adenomas produtores de prolactina são os mais prevalentes dentre os adenomas hipofisários secretores e também os mais comuns entre os adenomas(> 50%). No grupo dos prolactinomas, o critério de cura é baseado em nível de prolactina abaixo de 25 ng/ml para mulheres com recuperação da menstruação, função sexual e fertilidade. Para os homens a prolactina deve ficar abaixo de 15 ng/ml e recuperação da fertilidade. Atualmente a cirurgia está indicada nos pacientes que não suportam a medicação, na apoplexia hipofisária, nas fistulas liquoricas causadas pela redução tumoral com tratamento medicamentoso, nos macroadenomas com compressão do quiasma óptico ou nos que preferem o tratamento cirúrgico ao tratamento clínico, mesmo tendo sido diagnosticado com microadenoma. Não foram encontrados tumores funcionantes produtores de LH no presente estudo. Para expor a relação de frequências entre o tamanho e o tipo de tumor, observamos a tabela 1. Observamos que os prolactinomas são os maiores responsáveis pelos macroadenomas, os tumores mais frequentemente encontrados foram os adenomas nulos, ou não funcionantes. Verificamos que pode ter ocorrido um viés, pois Ferreira(2005) relata que esses adenomas correspondem de 25-30% dos adenomas de hipófise.

Quando verificada a sintomatologia referida pelos pacientes, o sintoma mais frequente foi cefaleia e alterações visuais, das quais podemos identificar perda visual total e quadrantopsia e a hemianopsia como a mais frequente (tabela 3). Estes achados concordam com Mello(2013), que no seu estudo com 87 pacientes com macroadenomas, 87,3% apresentavam alterações visuais e 70% cefaleia e 64% apresentaram alterações visuais associada à cefaleia, outros sintomas encontrados pelo referido autor foi diminuição do lido, queda de cabelo e galactorreia.

Pela análise do prontuário verificamos quatro casos de recidiva de tumor após ressecção, sendo um deles 16 anos após procedimento cirúrgico, outro 10 anos e os outros não especificados nos registros o tempo decorrido após o procedimento. No estudo de Mello(2013), há o relato de que embora tenha obtido diminuição da massa tumoral com a cirurgia transfemoidal, as deficiências hormonais persistiram na maioria dos pacientes e ocorreu necessidade de novas abordagens por recidiva ou persistência do tumor. 

Foram identificados dois casos de macroadenomas com necessidade de radioterapia adjuvante e um caso de remoção subtotal. Moraes et al(2008) relata no seu estudo que os resultados encontrados mostram bons índices de resposta e controle dos tumores de hipófise após radioterapia adjuvante à cirurgia, e por ser uma doença de resposta lenta ao tratamento é grande a probabilidade de melhora ainda maior dos resultados em médio prazo. 

Observamos apenas 1 caso de sequela com perda da visão do olho direito. Com relação às complicações decorrentes do procedimento cirúrgico, Mello (2013) afirma em seu estudo que o tratamento cirúrgico foi correlacionado com várias complicações. As mais frequentes foram hidro-eletrolítico e distúrbios ácido-base(12%), diabetes insipidus(9%), alterações do campo visual(9%), fístula liquórica(8%) e obstrução nasal(7%). Houve dois óbitos (3%) durante o período pós-operatório de pacientes com tumores de grandes proporções. Alguns pacientes apresentaram mais de uma complicação. 

Como limitação do estudo, relatamos que a grande dificuldade encontrada durante a coleta de dados esteve relacionada à obtenção de informações dos prontuários. Por serem hospitais sem atendimento ambulatorial, os prontuários continham apenas as informações cirúrgicas dos pacientes: resumo da cirurgia, procedimentos realizados, materiais utilizados durante os procedimentos. Não continham anotações relacionadas aos sintomas, exames prévios realizados e complicações do tratamento, dificultando o preenchimento do instrumento utilizado nesta pesquisa. 

Para que seja possível a condução de um estudo, é necessário que tenha sido realizada a coleta e o armazenamento de dados precisos, a partir de documentos de registros originais de achados clínicos, de observações colhidas no contato com o paciente ou outras atividades ocorridas durante sua realização. Os dados originais estão contidos nos documentos fonte que podem ser: registros hospitalares, prontuários clínicos e de consultórios, anotações laboratoriais, exames de imagem, diário do paciente, entre outros. O prontuário é o documento fonte mais utilizado com finalidade de levantamento de informações para pesquisa. Prontuário vem do latim “promptuarium”, que significa lugar onde se guardam coisas que devem estar à mão. 

Caracteriza-se por ser o conjunto de documentos padronizados e ordenados, destinados ao registro dos cuidados profissionais prestados ao paciente pelos serviços de saúde pública ou privada, sendo que ainda é recente a preocupação e o conhecimento dos profissionais de saúde sobre sua importância como fonte de dados. 

1.5 Conclusões  

Concluímos que o presente estudo foi relevante para a consolidação de dados epidemiológicos relacionados aos tumores de hipófise no estado da Paraíba, podendo constituir um parâmetro para otimizar os serviços para melhor abordagem destes pacientes. Além disso, permitiu difundir mais conhecimentos sobre o procedimento cirúrgico mais realizado atualmente, com suas possíveis consequências. 

Desta forma, sugerimos que novos estudos devam ser realizados, com outras abordagens metodológicas, para a aquisição de mais variáveis na perspectiva de melhor avaliar o acompanhamento pós cirúrgico destes pacientes.  

Referências  

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1Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB.
ORCID 0009-0003-3912-5361
deborapazmed@gmail.com
2Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE), João Pessoa, PB.
ORCID 0009-0006-3067-8228
rafaelruda@msn.com