EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PREMATURES BORN IN PORTO VELHO IN THE YEARS 2011-2020
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7215850
Autoria de:
Rogério da Silva Souza
Aline Simone Dantas Siqueira Carvalho
RESUMO
O presente estudo corresponde a uma pesquisa epidemiológico descritiva, transversal, retrospectiva, com abordagem quantitativa. O objetivo geral é descrever o perfil clínico epidemiológico dos recém-nascidos prematuramente no município de Porto Velho/RO nos anos de 2011 a 2020. A pesquisa foi realizada utilizando dados obtidos na plataforma DATASUS, através do programa SINASC. O software utilizado para manipulação e tratamento de dados foi o Microsoft Excel, assim como para a criação de gráficos e tabelas. Esse estudo tem relevância ao possibilitar conhecer melhor a população atendida e identificar de forma mais precisa as lacunas das políticas públicas que podem ser aprimoradas ou criadas. Os dados coletados também serão úteis à medida que servem de base para futuros estudos e possíveis comparações de evolução da qualidade dos programas de saúde.
Palavras-chave: SINASC. recém-nascido. Prematuridade. parturiente.
ABSTRACT
The present study corresponds to a descriptive, cross-sectional, retrospective epidemiological research with a quantitative approach. The general objective is to describe the epidemiological clinical profile of premature newborns in the city of Porto Velho/RO in the years 2011 to 2020. The research was carried out using data obtained from the DATASUS platform, through the SINASC program. The software used for data manipulation and treatment was Microsoft Excel, as well as for the creation of graphs and tables. This study is relevant as it makes it possible to better understand the population served and identify more precisely the gaps in public policies that can be improved or created. The data collected will also be useful as they serve as a basis for future studies and possible comparisons of the evolution of the quality of health programs.
Keywords: SINASC. newborn. prematurity. parturient.
1. INTRODUÇÃO
A cidade de Porto Velho, situada na região Norte, no estado de Rondônia tem uma população estimada em 428.527 habitantes. Desta população, 210.909 são mulheres e cerca de 127.371 são mulheres na fase reprodutiva (IBGE, 2010).
O sistema de saúde municipal é constituído por 20 unidades de atenção básica na zona urbana, 16 unidades de média complexidade, incluindo o Hospital Maternidade Mãe Esperança (SEMUSA, 2021).
A nível estadual, de acordo com a Secretaria de Saúde de Rondônia (SESAU, 2021), Porto Velho é referência na esfera materno infantil através do Hospital Infantil Cosme e Damião (HICD), que conta com a maior Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do estado (UTIP).
O Hospital de Base Ary Pinheiro (HBAP), localizado na cidade e de custeio estadual, realiza cirurgias de grande porte, possui UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal e o Centro Obstétrico (CO), que oferece atendimento especializado em gestação de alto risco (SESAU, 2021).
Desta forma, ao se traçar o perfil epidemiológico dos prematuros de Porto Velho, obtêm-se um panorama do estado de Rondônia. Cabe ressaltar, que caracterizar o perfil epidemiológico dos prematuros é relevante à medida que é utilizado para dar embasamento ao planejamento das ações em saúde, infraestrutura e educação, tornando as medidas mais eficientes e eficazes para este grupo populacional.
Para monitoramento e análise desses dados, em 1990 o Ministério da Saúde (MS) implementou em todo o território nacional o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC). Após mais de três décadas, sua expansão já é consolidada, de maneira com que os dados são processados e analisados pelos estados e enviados ao Ministério da Saúde para que seja incorporado ao banco nacional (SILVA et al, 2011).
Esses dados são oriundos da Declaração de Nascido Vivo (DNV), que foi normatizada através da Portaria SVS nº 116, de 11 de fevereiro de 2009 (SVS, 2009), que estabelece que é um documento padrão e de uso obrigatório em todo o território nacional. As informações avaliadas incluem dados da parturiente, da gestação, do pré-natal, do parto, do recém-nascido, doenças congênitas e outros.
Silva e al (2011) destacam ainda, que o SINASC é uma das estratégias do SUS (Sistema Único de Saúde) para a descentralização de ações, favorecendo o planejamento da assistência e a gestão dos serviços de saúde conforme a necessidade local.
Destarte, esta pesquisa objetiva analisar o perfil epidemiológico da prematuridade na cidade de Porto Velho/RO, entre os anos de 2011 a 2020, a partir dos dados obtidos através do SINASC, com a justificativa de organizar os dados criando o perfil do recém-nascido prematuramente para que possa nortear as ações de planejamento estratégico.
2. METODOLOGIA
Trata-se de estudo epidemiológico descritivo, transversal, retrospectivo, com abordagem quantitativa de nascidos na cidade de Porto Velho/RO entre 2011 e 2020.
Optou-se por amostra não probabilística por saturação temporal, sendo a amostra composta pela totalidade dos nascidos vivos no município de Porto Velho/RO, de 2011 a 2020, totalizando 8.647 participantes. Os dados foram obtidos na plataforma do Ministério da Saúde, DATASUS.
Para fins didáticos, as variáveis foram categorizadas em dois grupos:
1. Variáveis da puérpera: idade, estado civil, escolaridade,, idade gestacional, tipo de parto e adequação da realização de consultas pré-natal.
2. Variáveis do recém-nascido: sexo, presença de malformação congênita.
Os dados colhidos foram organizados e analisados através do software Excel.
A análise estatística descritiva foi utilizada, apresentando os dados através de números absolutos e percentuais, sob a forma de figuras e tabelas.
Uma vez que o estudo procede da base de dados do Ministério da Saúde e não houve identificação pessoal dos participantes, não havendo assim qualquer intervenção em razão da pesquisa ou dano ao paciente, foi solicitada dispensa do termo de consentimento livre e esclarecido.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1. Epidemiologia
Epidemiologia é a ciência que investiga a dicotomia saúde-doença na população, de modo a criar maneiras de prevenção, controle ou erradicação de doenças. Para isso são considerados os fatores determinantes das doenças, o perfil do grupo ao qual serão aplicadas as medidas, além da a avaliação dos impactos que a ações de saúde irão causar na sociedade (ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 2003).
Dessa forma, como pontua Menezes (2001), a epidemiologia é útil à medida que proporciona um panorama da saúde da população estudada, fornecendo subsídios, através de indicadores demográficos e epidemiológicos, para o planejamento de estratégias que aperfeiçoem a qualidade de vida dos indivíduos.
A nível macro, Paim (2003) ressalta a relevância da epidemiologia como norteadora na formulação das políticas públicas e na avaliação das mesmas. Lanetzki et al., (2012) enfatizam que mesmo com uma população estudada menor, como a de pacientes hospitalizados, ainda sim a epidemiologia é essencial. Ao avaliar essa população, juntamente com seu quadro clínico e desfecho, é possível treinar os recursos humanos, melhorar a infraestrutura e se organizar de forma geral para que os pacientes tenham condições mais propícias a sua saúde.
Um dos precursores em pesquisas epidemiológicas é Alexandre Louis, que publicou um estudo estatístico sobre a avaliação da eficácia de tratamentos clínicos em 1825. Este trabalho influenciou as primeiras pesquisas sobre morbidade, que desencadearam o desenvolvimento da Saúde Pública (PEREIRA, 2013).
Ainda de acordo com Pereira (2012), em 1854, John Snow também se destacou na epidemiologia através do seu trabalho sobre a epidemia de cólera, quando através da análise das particularidades da localidade, do comportamento da população, dos óbitos e dos casos clínicos, conseguiu identificar o consumo da água contaminada como origem da doença.
3.2. Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC)
O SINASC foi implantado pelo Ministério da Saúde em 1990, objetivando reunir dados sobre todos os nascimentos ocorridos no país (SVS, 2021).
Dentre as informações coletadas constam dados do recém-nascido como peso ao nascer, sexo, local do nascimento, tipo de parto, se há presença de doença congênita, apgar no 1º e no 5 º minuto de vida. Sobre a parturiente também são registrados a escolaridade, quantidade de consultas pré-natal que fez, raça/cor, dentre outros.
Os dados organizados podem ser acessados on-line ou baixados pela plataforma do DATASUS e também através de CD-ROM, distribuído pela Secretaria de Vigilância em Saúde.
Tais dados servem de subsídio ao planejamento de intervenções na área da saúde, além de proporcionar conhecimento sobre a saúde da população e avaliação das políticas e ações de atenção à saúde materno-infantil.
O Sistema é gerido à nível nacional pela Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) e pelo Departamento de Análise de Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (DASNT), departamentos vinculados à SVS.
Os dados obtidos são oriundos das Declarações de Nascidos Vivos (DNV), documentos obrigatórios impressos em três vias numeradas, distribuídas às Secretarias Estaduais de Saúde (SES) e então repassados às Secretarias Municipais de Saúde (SMS). As SMS são incumbidas de despachar as Declarações para os cartórios e os estabelecimentos de saúde (SVS, 2021).
Após o preenchimento, as DNVs são inseridas no SINASC local pela SMS e assim são transferidas para a base de dados do estado e a base nacional (SESAU, 2021).
3.3. Prematuridade
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prematuridade é um evento associado à morbidade neonatal e tem consequências adversas à saúde a longo prazo, complicações na vida de neonatos prematuros, levando a alta mortalidade (AHUMADA-BARRIOS e ALVARADO, 2016).
Considera-se parto prematuro aquele que nasce antes da 37ª semana de gestação, onde o “extremo prematuro” nasce dentro de 28 semanas de gestação, o “muito prematuro” nasce entre 28 e 32 semanas de gestação, e o “moderadamente prematuro” nasce entre 32 semanas e 37 semanas (OMS, 2012).
Cabe ressaltar, que 75% dos casos de trabalho de parto prematuros (TPP) são partos espontâneos e 25% restantes, o parto prematuro é eletivo, ou seja, a gravidez é interrompida por alguma complicação materna e/ou fetal (BITTAR, 2005).
Para os recém-nascidos (RN), o nascimento pré-termo traz riscos à vida devido a prejuízos no desenvolvimento, sendo um dos principais fatores de risco para morte precoce e morbidade na vida. Em relação ao desenvolvimento neuropsicomotor em crianças pré-termo, as alterações motoras podem se manifestar precocemente como bradicinesia severa ou desempenho motor limítrofe (ARAUJO; EICKMANN; COUTINHO, 2013).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 15 milhões de bebês prematuros nascem a cada ano no mundo (SANTOS e TEIXEIRA, 2017), sendo que a taxa de prematuridade no Brasil é equivalente a 11,5%, cerca de duas vezes maior que em países europeus (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016).
De acordo com a OMS (2018), o nascimento pré-termo se tornou a principal causa de morte entre crianças menores de 5 anos.
O nascimento prematuro pode estar relacionado a diversos fatores, como idade materna menor de 18 anos e maior de 40 anos, bacteriúria, baixo nível socioeconômico, corioamnionite, doenças crônicas, tabagismo, uso de drogas, e outros. Na fisiopatologia do parto prematuro, quatro mecanismos podem estar envolvidos, a saber: dilatação uterina, pressão materno-fetal, alterações cervicais prematuras e infecção (CUNNINGHAM et al., 2016).
Destaca-se que a incidência de parto prematuro é variável devido a fatores sociais, biológicos, étnicos e comportamentais (BRASIL, 2019).
Portanto, ressalta-se a importância da assistência à gravidez, parto e puerpério para identificar complicações e comorbidades evitáveis. Para isso, faz-se necessária uma assistência de qualidade, garantida por políticas públicas, para ajudar a reduzir a mortalidade infantil (NEVES; ZIMMERMANN; BROERING, 2021).
4. RESULTADOS
De acordo com os dados obtidos do SINASC, através da plataforma DATASUS, de 2011 a 2022 o número de nascidos vivos na cidade de Porto Velho/RO foi de 87.316. Do total de nascidos vivos, 14,7% (12.898) foram considerados prematuros.
A maioria das mães dos nascidos prematuros tinham entre 20 e 24 anos (26,1%), estavam solteiras (49,8%) e estudaram de 8 a 11 anos (51,7%), como pode ser compreendido através da Tabela 1 – Perfil das mães de prematuros em Porto Velho entre 2011-2020.
Tabela 1 – Perfil das mães de prematuros em Porto Velho entre 2011-2020.
PERFIL DAS MÃES | |
FAIXA ETÁRIA | De 20 a 24 anos |
ANOS DE INTRUÇÃO | De 8 a 11 anos de estudo |
ESTADO CIVIL | Solteira |
Em relação ao perfil dos bebês, a maioria nasceu de parto cesáreo (58,8%), de 32-36 semanas de gestação (86,7%) e não apresentaram doença congênita ao nascer (94,4%). A tabela 2 – Perfil dos prematuros em Porto Velho entre 2011-2020 ilustra:
Tabela 2 – Perfil dos prematuros em Porto Velho 2011-2020.
PERFIL DOS BEBÊS | |
TIPO DE PARTO | Cesáreo |
DURAÇÃO DA GESTAÇÃO | 32 – 36 semanas |
DOENÇA CONGÊNITA | Não |
APGAR 1º min | De 8 a 10 pontos |
APGAR 5º min | De 8 a 10 pontos |
Ao analisar a amostra, averiguou-se que a faixa etária predominante das mães corresponde a de 20 a 24 anos (26,1%; 3.371), como pode ser observado no Gráfico 1. A faixa etária correspondente a 15 – 19 anos compreende 22,1% (2.858) da amostra. 21,8% (2.816) estava na faixa etária de 25 – 29 anos e 16,8% (2.168) tinha de 30 a 34 anos. 9% (1.162) das mães tinha entre 35 e 39 anos, 2% (267) estava na faixa de 40 – 44 anos e a categoria de gestantes de 10 – 14 anos representou 1,8% (234) das mães e a categoria de mães entre 45 e 49 anos 0,1% (22).
Gráfico 1 – Faixa etária das parturientes
Em relação ao estado civil das mães, 49,8% (6.430) estava solteira, 27,3% (3.523) casada, 19,1% (2.471) em união consensual, 1% (130) separada judicialmente, 0,1% (14) viúva e 2,5% (330) não foi registrado, como é destacado no Gráfico 2:
Gráfico 2 – Estado civil das mães
Das parturientes analisadas, 51,6% (6.657) afirmaram ter de 8 a 11 anos de estudo, como pode ser averiguado no Gráfico 3. 25,8% (3.332) tinham de 4-7 anos de instrução, 16,1% (2.083) estudaram 12 anos ou mais, 3,6% (471) informaram ter de 1 a 3 anos de estudos formais, 0,5% (72) mães registraram não terem nenhum nível de instrução e 2,1% (283) não informaram.
Gráfico 3 – Anos de Instrução da parturiente
Ao se observar o Gráfico 4 – Tipos de Partos, nota-se que 58,8% (7.581) dos partos foram cesáreos, 41% (5.301) vaginal e 0,1% (16 partos) não informados.
Gráfico 4 – Tipos de Parto
Cabe ressaltar que 86,7% (11.191) das gestações duraram de 32-36 semanas, como pode ser notado no Gráfico 5. 9,4% (1.219) das gravidezes duraram de 28-31 semanas, 3,5% (456) das gestações foram de 22-27 semanas e 0,2% (32) das gestações duraram 22 semanas ou menos.
Gráfico 5 – Duração da gestação dos prematuros
Faz-se necessário destacar que a variável “Adequação quantitativa de pré-natal” entende por adequado o pré-natal começado no primeiro trimestre da gestação e um mínimo de seis consultas pré-natal. Ao se analisar o Gráfico 6 – Adequação quantitativa de pré-natal, nota-se que 32,3% (4.172) dos dados das mães de prematuros não foi informado e que 13,1% (1.692) das mães teve a quantidade de consultas pré-natal considerada mais que adequada. 10,7% (1.381) tiveram o pré-natal inadequado. 7,1% (923) tiveram o pré-natal considerado intermediário e 5,2% (674) apresentaram o pré-natal adequado. 0,1% (12) das mães não fizeram o acompanhamento pré-natal.
Gráfico 6 – Adequação quantitativa de consultas de pré-natal
O SINASC também registra o escore de APGAR no 1º e no 5º minuto de vida. Com essa escala se avalia a vitalidade e o estado geral do recém-nascido, considerando reflexos naturais, tônus muscular, batimentos cardíacos, cor e respiração e vai de 1 e 10.
Entre 2011-2020, 73,3% (9.465) dos recém-nascidos prematuros tiveram o escore de APGAR no 1º minuto, de 8 a 10. 16,4% (2.122) apresentaram de 6 a 7 pontos na escala, 6,4% (828) pontuaram 3-5, 2,2% (290) registraram 0-2 e 1,5% (193) não tiveram a informação registrada.
Em relação ao escore de APGAR no 5º minuto de vida, encontrou-se que 91,5% (11.801) dos bebês obtiveram de 8 a 10 pontos na escala, 5% (648) pontuaram de 6 a 7 no escore, 1,2% (164) registraram de 3-5 pontos, 0,7% (94) tiveram score de 0-2 pontos e 1,4% (191) não tiveram os dados computados.
As anomalias congênitas são alterações estruturais ou funcionais que ocorrem durante a vida intrauterina. Na amostra estudada, 94,4% (12.182) não apresentaram anomalia congênita, 2,8% (362) teve alguma anomalia congênita diagnosticada.
Dentre as anomalias congênitas informadas, 27,9% (101) apresentaram malformação e deformidades congênitas no aparelho osteomuscular e 16,3% (59) tiveram malformação no sistema nervoso. Os dados podem ser observados no Gráfico 9 – Tipos de anomalia congênitas.
Gráfico 9 – Tipos de Anomalias Congênitas
5. DISCUSSÃO
Para que o sistema de saúde seja efetivo, não basta apenas qualidade nos servidos prestados, mas se faz necessário um sistema de saúde ao qual a população tenha acesso. Os dados do SINASC são indicadores da efetividade da assistência durante a gravidez e no parto, fornecendo informações sobre as necessidades da população e propiciando o planejamento na área.
Embora o SINASC sistematize todas essas informações através de uma rede criada para seu funcionamento, o presente estudo mostra a necessidade de conscientização dos profissionais que atuam na coleta dos dados, ainda nas instituições de saúde, para que sejam coletadas mais informações e assim oportunize um real panorama do perfil da gestante e do recém-nascido da região.
Cabe ressaltar que o SINASC fornece tanto informações acerca dos nascidos vivos na cidade de Porto Velho, quanto dos nascidos vivos residentes em Porto Velho. Essa diferenciação é relevante ao se considerar que Porto Velho é referência em cirurgias de grande porte e em gestações de alto risco. Entre os anos de 2011-2020, nasceram 8.647 bebês prematuros de mães residentes em Porto Velho, sendo que o número de partos de prematuros foi de 12.898, sendo assim, 32,95% (4.251) dos nascidos vivos em Porto Velho são oriundos de cidades adjacentes (SVS, 2021).
No que se refere ao tipo de parto, em Porto Velho foram realizadas 7.581 cesáreas (58,8%) e 5.301 (41%) partos vaginais, indo de encontro com o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015), que estabelece como ideal de 10% a 15% de partos cesarianos.
Em semelhança com a capital de Rondônia, pesquisa realizada em Maringá/PR nos anos de 2002 a 2012, evidenciou que 77,1% dos partos foram cesáreos e 22,9% vaginais (PARIS et al., 2014). Os autores consideraram a hipótese de que grande parte das cesáreas ocorreram por conveniência das agendas dos médicos, já que a maior parte das cesáreas foram feitas no período diurno.
Embora o período em que ocorreu a cesárea não esteja disponível pelo SINASC, é possível inferir que parte das cesarianas ocorridas em Porto Velho/RO foram derivadas de gestações de risco, já que o município é referência nesse contexto.
França et al (2016) ao analisarem a população brasileira entre 1986 e 2013 observaram que houve aumento de 78,7% para 97,4% na quantidade de mulheres que fizeram uma ou mais consultas de pré-natal. Corroborando com esses dados, em Porto Velho, nos ano de 2011-2020, 68,5% (8.842) das gestantes fizeram uma ou mais consultas de pré-natal.
Faz-se notório o aumento de gestações nos extremos da vida reprodutiva, até os 20 anos e após os 35 anos e que a gravidez na adolescência é característica de países em desenvolvimento, sendo reconhecidamente problema de saúde pública. Já a gestação em idade avançada tem se tornado mais frequente devido aos avanças no controle de natalidade e nas técnicas de reprodução assistida (SANTOS et al, 2009).
Porto Velho registrou 23,9% (3.092) das parturientes de com idade entre 10-19 anos. 11,2% (1.451) das mães tinham entre 35 anos e 49 anos de idade, corroborando com o estudo de Gonçalves (2012), que identificou que 15,6% das mães tinham 35 anos ou mais.
Em relação a escolaridade das parturientes, nota-se que 30% (3.875) tinham de 0 a 7 anos de instrução. 51,6% (6.657) das mães estudaram de 8 a 11 anos e 16,1% (2.083) tinham 12 anos ou mais de estudo, equivalendo ao ensino superior. Conde-Agudelo et al., (2000) destacam que a maior escolaridade oportuniza mais qualidade de vida por indicar maior renda e consequentemente mais promoção e proteção do bebê.
Com semelhança ao encontrado por Santos et al., (2017), analisa-se que as mulheres casadas e em união estável correspondem a maioria da amostra (46,4%; 5.994). Esses dados podem ser explicados devido a conscientização e distribuição de métodos contraceptivos, que possibilitam as mães procurarem melhor momento para engravidarem, já que tendo uma rede de apoio, como um parceiro ou parceira, facilita a organização financeira e dos cuidados com o recém-nascido.
De acordo com a OMS, a idade gestacional pode ser classificada em pré-termo: quando abaixo de 37 semanas; a termo: de 37e 41 semanas e 6 dias de idade gestacional e pós-termo: nascidos após as 42 semanas de idade gestacional. Esse indicador tem sua relevância devido a prematuridade estar relacionada a mortalidade neonatal e onera os serviços de saúde devido maior complexidade (HENRIQUES, 2019). Entre os anos de 2011-2020 foram registrados 12.898 bebês prematuros em Porto Velho, representando 14,7% dos bebês nascidos no município.
O escore de APGAR avalia cinco aspectos no 1º e no 5º minuto de vida do recém-nascido: frequência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e coloração da pele. Cada item é avaliado de 0 a 2 pontos, sendo que um total de 8 a 10 pontos é indicativo de boas condições vitais do recém-nascido (SBP, 2014). A maior parte dos neonatos (73,3%) teve classificação de 8 a 10 pontos no 1º minuto de vida e 91,5% pontuaram de 8 a 10 no 5º minuto de vida.
Afere-se que cerca de 6% dos nascidos vivos no mundo são diagnosticados com algum tipo de anomalia congênita (SVS, 2021). Em Porto Velho, no que tange os bebês nasciso pré-termo, foi encontrado índice menor que o mundial, sendo 2,8% dos RNs diagnosticados com alguma anomalia congênita.
Dentre as anomalias congênitas identificadas, assim como Silva; Silva e Carniel (2020), a maior parte dos bebês (27,9%) foram diagnosticados com alguma malformação congênita relacionada ao aparelho osteomuscular.
Após análise dos dados ficou evidente a relevância dos indicadores organizados pelo SINASC para embasamento para planejamento da assistência à saúde materno-infantil e intervenções.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar as consultas de pré-natal verificou-se que a assistência do pré-natal está ocorrendo adequadamente. Assim como os nascimentos têm ocorrido de forma satisfatória com APGAR de 8 a 10 pontos, tanto no 1º, quanto no 5º minuto de vida.
Alguns indicadores precisam ser melhorados, como a faixa etária das parturientes que apresentou 23,9% com idade entre 10 e 19 anos, que não é alarmante somente pelos fatores de risco à saúde, mas também devido as condições sociais que esses recém-nascidos terão.
Destacou-se também o índice de partos cesáreos acima do preconizado pela OMS, indicando a necessidade de mais intervenções educativas para a população e a sistematização de um protocolo para realização das cesáreas.
Embora os dados organizados pelo SINASC sejam eficientes, faz-se necessário o fortalecimento do sistema através de maior qualificação dos funcionários para preenchimento das DNVs, diminuindo assim a taxa de informações não sabidas.
Destarte, a realização deste estudo forneceu um panorama das parturientes, dos recém-nascidos e de suas gestações, o que contribui para analisar a assistência do pré-natal e do parto e traçar estratégias de melhoria da qualidade de vida materno-infantil.
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