REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10988476
Germano Silva Aranha Junior1
Vidal Lopes de Oliveira2
André Rafael Melo Mota3
Emerson Frank Moreira de Souza4
Jennison Alves Guimarães5
Ronaldo Costa Monteiro6
RESUMO
Objetivo: Realizar uma análise epidemiológica dos óbitos por meningite em Belém-PA, no período 2013-2022. Métodos: Estudo descritivo, retrospectivo de abordagem quantitativa com os óbitos por meningite do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN). Calcularam-se as taxas quantitativas de casos e a correlação com as variáveis epidemiológicas abarcadas no trabalho. Resultados: Notificou-se 365 casos de óbito por meningite, a maioria em pessoas do gênero masculino (60%), na faixa etária entre 20 a 39 anos (43.2%), de raça parda (84%), de etiologia bacteriana (63%) e residente de Belém (54.8%). As maiores taxas de óbito estiveram concentradas no biênio 2015-2016. Conclusão: É necessário reforçar os serviços de atenção à saúde para imunizar a população, minimizando a ocorrência das complicações e óbitos decorrentes da meningite no território. Os resultados mostraram a necessidade de se aprimorar as ferramentas de diagnóstico para que identifique o agente etiológico específico da meningite e assim se inicie a conduta terapêutica apropriada antes da evolução ao óbito.
Palavras–chave: Meningite; Óbitos; Epidemiologia; Saúde pública.
INTRODUÇÃO
A meningite é uma doença infectocontagiosa potencialmente grave, no qual ocorre a inflamação das membranas que envolvem o sistema nervoso central (SNC), as meninges. O comprometimento infeccioso do SNC e das meninges pode ocorrer basicamente de duas formas: agudo, quando é acometido por bactérias e vírus, ou crônico, quando causado por protozoários, espiroquetas, helmintos, fungos ou micobactérias (Veronesi, 2015). Ademais, também pode ter origem não infecciosa, como o uso de medicamentos e tumorações (Desbessel, et al, 2023).
Dentre as causas da infecção, as bactérias e os vírus são os agentes implicados com mais frequência. A meningite viral é a etiologia mais comum, porém a bacteriana é a mais grave, relatada como importante causa de mortalidade (59,8 %), ocorrendo principalmente em crianças de baixa renda, enquanto que a viral apresenta taxa de 3% (Dias, et al. 2017; Souza, et al., 2020).
A transmissão da meningite ocorre por meio de secreções respiratórias de pessoas infectadas, assintomáticas ou doentes, através do contato direto pessoa a pessoa. Os principais sintomas dessa patologia são: febre, vômitos, náuseas, cefaleia, rigidez na nuca e convulsões (BRASIL, 2017). Adicionalmente, perda de audição, déficits neurológicos focais, epilepsia e deficiência cognitiva, são sequelas que estão associadas ao quadro clínico do paciente acometido (Silva A.F.T, et al, 2021).
Em relação à meningite bacteriana, ela incide nos dois gêneros em proporção semelhante, sem diferenças de suscetibilidade entre as raças ou grupos étnicos. A mortalidade varia com a idade, sendo mais alta nas faixas extremas da vida (Veronesi, 2015). Já em relação à meningite viral, as crianças menores de cinco anos são o grupo considerado de maior risco, entretanto, a infecção pode acometer indivíduos de qualquer idade e gênero. Porém, vale ressaltar que os dados epidemiológicos sobre as meningites virais são escassos e variam com o agente etiológico. Os casos da doença podem ocorrer em qualquer período do ano, contudo, é comum a incidência de variação sazonal (Cruz, et al, 2020).
Há vários fatores que corroboram para pacientes evoluírem ao óbito, dentre eles, a existência de um sistema imunológico deficiente, doenças crônicas, frequente hospitalização, polifarmácia e modificações nas condições funcionais e nutricionais do organismo, quantidades inferiores de anticorpos, além do déficit voltado à uniformização da cobertura nacional de vacinação contra os patógenos causadores desta afecção (AZEVEDO et al., 2019).
A análise laboratorial é uma ferramenta importante que auxilia no diagnóstico da meningite, confirmando ou sugerindo a etiologia dos casos suspeitos. Os principais exames utilizados para elucidar os casos são: cultura, exame quimiocitológico do LCR, bacterioscopia direta, aglutinação pelo látex e reação em cadeia de polimerase. No entanto, a cultura do LCR permanece como “padrão ouro” para o diagnóstico, permitindo a diferenciação entre as formas de meningite bacteriana e viral (Brasil, 2017). Em relação ao tratamento, é feito com estabilização clínica junta ao manejo da etiologia específica que levou ao quadro de meningite. Portanto, depende do agente causador (Rambo M. et al, 2023).
De acordo com a Portaria nº 217, de 1º de março de 2023 e a Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016, a meningite é uma doença de notificação compulsória que precisa ser notificada em até 24 horas. Logo, a suspeita ou confirmação da doença deve ser obrigatoriamente comunicada à Secretaria Estadual de Saúde e à Secretaria Municipal de Saúde. A taxa de letalidade varia de 9% a 12% em países desenvolvidos, mesmo que haja diagnóstico e tratamento precoce. E essa taxa ainda é mais alta em países emergentes como o Brasil, causando então um grave problema de saúde pública (Ministério da Saúde 2016, 2023; SILVA & MEZAROBBA, 2018).
Apesar do impacto social que a meningite apresenta, poucos são os estudos publicados na região norte, incluindo Belém. Portanto, levando em consideração a falta de estudos que objetivassem analisar especificamente os óbitos decorrentes de meningite, aliado aos altos índices de morbimortalidade, principalmente da meningite bacteriana, surge a necessidade de compreender o perfil epidemiológico dos óbitos ocorridos por essa doença, contribuindo com melhor planejamento das unidades de saúde locais, como por meio de medidas de promoção em saúde e prevenção de meningite mais adequadas à sua realidade.
METODOLOGIA
Estudo descritivo, retrospectivo de abordagem quantitativa. Dados coletados através da plataforma do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), no qual foi analisado o perfil epidemiológico dos óbitos decorrentes de meningite registrados na cidade de Belém-PA no período de dez anos (2013-2022).
Foram consideradas as seguintes variáveis para esta pesquisa: gênero, faixa etária, raça, etiologia da meningite e município de residência no Pará.
As variáveis foram coletadas, digitadas, analisadas e processadas através do programa Microsoft Office Excel® 2016. A apresentação dos dados foi realizada utilizando as frequências simples (n) e relativa (%). Após coleta dos dados, os mesmos passaram por uma análise estatística descritiva e os resultados foram apresentados em formato de gráficos, com o propósito de estabelecer comparações dos resultados e suas vertentes.
A aprovação por parte do sistema CEP-CONEP, conforme a Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016, foi dispensada visto que os dados apresentados foram secundários e não nominais, sem identificação dos indivíduos cujos dados foram analisados.
RESULTADOS
Analisando a distribuição dos óbitos registrados em Belém-PA ao longo do intervalo 2013 a 2022, houve um total de 365 óbitos com uma média de 36.5 óbitos/ano e um desvio padrão (DP) de 11.4. O biênio 2015/16 apresentou 101 óbitos, sendo a maior fração de todo o período, em contraposição ao biênio 2021/22, com somente 41 óbitos. Cabe destacar o ano de 2021 com apenas 14 óbitos, sendo notavelmente a menor quantidade listada dentre todo o período analisado no estudo. Além disso, observou-se que de 2013 a 2016 houve uma média de 44.5 casos por ano (DP=8.9) enquanto que de 2017 a 2021, a média foi 32 casos por ano (DP=11.0).
Figura 1: Distribuição quantitativa dos óbitos por meningite notificados por ano em Belém entre 2013 e 2022.
Fonte: SINAN, 2024.
Entre os indivíduos que foram ao óbito decorrente de meningite, correspondiam ao gênero masculino e feminino, 60% (n= 219) e 40% (n= 146), respectivamente. Em relação à raça, observou-se que a grande maioria das mortes se deu na raça parda, com 308 notificações (84.3%) seguida da preta com 19 óbitos (5.2%) e branca, com 6 registros (1.6%). Quanto à faixa etária, indivíduos de 20-39 anos foram o grupo com o maior número registrado, caracterizando 43.2% (n= 158) dos óbitos, seguida do grupo 40-59 com 23.2% (n=85). Ainda com relação à idade, constatou-se que 21.8% (n=80) das mortes ocorreram na faixa etária de 0 até 14 anos (Tabela 1).
Tabela 1: Características sociodemográficas dos óbitos notificados em Belém-PA entre 2013 e 2022.
Fonte: SINAN, 2024.
Quanto à etiologia, a meningite bacteriana (MB) foi a mais frequente causa de morte, correspondendo a 63% dos óbitos (n= 230) seguida pela meningite por outras etiologias (MOE) com 29.6% (n= 108) e meningite não-especificada (MNE) com 4.1% (n= 15). Vale destacar a meningite viral (MV) como a menos responsável por óbitos em todo o período do estudo, com apenas 3% dos registros (n= 11).
Figura 2: Número de óbitos por meningite por etiologia entre 2013 e 2022.
Fonte: SINAN, 2024.
Levando-se em consideração apenas as meningites causadas por bactérias, como mostrado na figura 3, 42.1% (n= 97) não especificaram o subtipo bacteriano da meningite. Entretanto, dentre aquelas que especificaram, a meningite tuberculosa (MBTC) foi a responsável pela maioria dos óbitos, com 29.1% (n= 67); seguida da meningite por Meningococo (MCC, MM+MCC+MM) com 16.9% (n= 39), meningite por S. pneumoniae (MP) com 11.3% (n=26), e meningite por H. influenzae com 0.4% (n= 10).
Figura 3: Número de óbitos notificados de Meningite Bacteriana (MB) em Belém-PA por subtipo entre 2013 e 2022. MBNE: Meningite Bacteriana Não Especificada; MTBC: Meningite Tuberculosa; MP: Meningite por S. pneumoniae; MCC: Meningococcemia; MM+MCC: Meningite Meningocócica + Meningococcemia; MM: Meningite Meningocócica; MH: Meningite por H. influenzae.
Fonte: SINAN, 2024.
Acerca do município de residência dos indivíduos que foram ao óbito na cidade de Belém-PA, ficou evidenciado que a grande maioria das mortes registradas na cidade foram de indivíduos domiciliados na mesma, com 54.8% (n=200) dos registros no período 2013/22. Seguido de Ananindeua com 11.4% (n=41), Castanhal com 3.8% (n=14), Barcarena com 2.4% (n=9), Marituba com 2.4% (n=9), Abaetetuba com 2.1% (n=8) e Benevides com 1.9% (n=7). É importante ressaltar que 21.1% (n=77) dos óbitos registrados foram provenientes de indivíduos residentes em 44 outros municípios interioranos.
Figura 4: Distribuição quantitativa dos óbitos ocorridos em Belém-PA por município de residência entre 2013 e 2022.
Fonte: SINAN, 2024.
DISCUSSÃO
O Pará é o estado da região norte com o maior número de casos notificados de meningite (Silva et al., 2022), consequentemente, espera-se também que apresente altas taxas de morbimortalidade, em especial na sua capital, onde concentra-se o contingente populacional. Estudos anteriores mostraram o aspecto endêmico dela na região metropolitana de Belém devido ao aumento da incidência nos últimos anos (Souza et al., 2020, Junior et al., 2020). O presente estudo evidenciou os principais aspectos epidemiológicos relacionados aos óbitos decorrentes de meningite na cidade.
Houve um crescimento progressivo no número absoluto de óbitos por meningite constatado desde 2013 até 2016 (Figura 1), ano em que a taxa de mortalidade chegou a 15.1%, a maior de todo o período do estudo. Segundo dados do SINAN, esse crescimento foi acompanhado do aumento quase equivalente de novos casos notificados na região metropolitana de Belém. Esse fato pode ser explicado pelo decrescimento da eficiência nas medidas preventivas na região metropolitana (Souza et al., 2020).
A partir de 2018 houve uma decrescente na taxa de óbitos registrados até meados de 2021, enquanto que o número de casos registrados manteve-se elevado no mesmo período, de acordo com dados do SINAN. A queda expressiva no número de óbitos constatada entre 2020 a 2021 está diretamente relacionada ao cenário global da pandemia do COVID-19, o qual dificultou a transmissibilidade de doenças infectocontagiosas como a meningite devido a quarentena e isolamento social, assim como o uso de máscara e álcool 70% (Moraes et al., 2022).
Em relação à raça dos indivíduos que foram ao óbito decorrente de meningite, destacou-se a predominância da raça parda, com 84.3% dos registros. Essa prevalência demonstra uma correlação de proporcionalidade ao percentual de 75.5% e 76.7% dos casos notificados na região estarem na raça parda, segundo Nunes et al., 2022 e Souza et al., 2020, respectivamente. De acordo com o IBGE, 26.3% da população de Belém se autodeclara branca, entretanto, essa raça esteve representada em apenas 1.6% dos óbitos registrados. Essa discrepância pode ser explicada possivelmente pelo fato de indivíduos brancos terem acesso a uma rede de prevenção e tratamento mais efetivos.
No que se refere ao gênero, 60% das mortes ocorreram em indivíduos do gênero masculino e 40% no gênero feminino, valor quantitativamente proporcional à taxa de óbitos por meningite no gênero masculino encontrada por Moraes et al., 2022. Segundo Macedo et al., (2019), Cruz et al., (2020) e Macedo Júnior et al., (2021), tal diferença no número de afeccções e de mortes entre o gênero masculino e feminino ocorre devido à negligência deste público em relação as medidas preventivas como vacinação, à demora na busca por ajuda médica durante os primeiros sintomas da doença, aos ambientes de trabalho favoráveis à disseminação e à dificuldade de adesão a condutas terapêuticas. Entretanto, para Frasson et al., (2021), ainda não há um fator determinante para explicar a grande diferença no número de homens e mulheres acometidos.
A maior quantidade de óbitos (66.4%) se concentrou na faixa etária de 20-39 anos e 40-59 anos (Tabela 1), apresentando uma taxa de letalidade de 14.2% e 16.8%, respectivamente, segundo dados do SINAN. Esse resultado dialoga com os valores de letalidade obtidos por Junior et al., (2020) no Pará e por Aguiar et al., (2022) a nível nacional. De acordo com Donalisio et al., (2000), em um estudo de associação estatística, a idade superior a 30 anos é a variável mais favorável ao aumento do coeficiente de letalidade da meningite meningocócica. O maior número de casos e óbitos nessa faixa etária resulta do fato de que a imunização geralmente é realizada no período da infância, consequentemente sua efetividade imunológica torna-se reduzida na vida adulta (Nunes et al., 2022). Além de que, nessa faixa etária a população é economicamente ativa, estando mais exposta aos fatores de risco e transmissibilidade como ambientes fechados, aglomerados urbanos e tabagismo (Roller, 2023).
Neste estudo, os óbitos ocorridos na idade de 0 a 4 anos corresponderam a 11.1% de todas as mortes ocorridas no período (Tabela 1) e apresentaram uma taxa de letalidade de 8.75%. Esses valores se contrapõem a diversos outros trabalhos que mostraram taxas de prevalência e letalidade muito maiores de meningite na faixa etária pediátrica (Moraes et al., 2022, Silva, 2022; Silva & Mezarobba, 2018; Macedo et al., 2019; Ferreira & Oliveira, 2022), tal divergência justifica-se por uma maior efetividade das campanhas vacinais na população pediátrica local e também pela possibilidade de haver subnotificação na região.
A população pediátrica torna-se mais vulnerável pelo fato de que o sistema imunológico até os 4 anos ainda é imaturo e os anticorpos IgG passados por via placentária já não estão mais presentes, além de que as crianças dessa faixa etária passam a ser expostas a uma maior diversidade de microrganismos durante a exploração do ambiente e no convívio em creches, aumentando assim as taxas de transmissibilidade da meningite (Silva & Mezarobba, 2018; Nunes et al., 2022; Souza& Prestes, 2011).
No presente estudo, a MB (meningite bacteriana) foi responsável pela grande maioria das mortes (63%) registradas em Belém (Figura 2), em todas as faixas etárias, no período do estudo, isso reflete o fato de ela ser a etiologia com os maiores índices de acometimento da região norte e ter taxas de morbimortalidade e letalidade amplamente superiores a todas as outras etiologias (Souza et al., 2020; Morais et al., 2024; Silva et al., 2020). Segundo Dias et al., (2017), a alta prevalência e letalidade da MB decorre do fato de ela não conseguir ser extinta do corpo humano pelo próprio sistema imune.
A meningite tuberculosa, a meningite por meningococo e a meningite por pneumococo somadas correspondem a 57.3% dos óbitos por meningite bacteriana, embora sejam disponibilizadas as vacinas BCG, Meningocócica Quadrivalente ACWY e Pneumocócica-13 para cada uma das três etiologias, respectivamente, de acordo com o calendário nacional de vacinação (Ministério da Saúde, 2024). Isso demonstra a necessidade de fortalecimento das campanhas de vacinação na região. Hirose et al., (2015) evidenciou a redução importante na taxa de mortalidade da meningite pneumocócica (de 1.85 casos/100.000 habitantes para 0.47 casos/100.000 habitantes) após a introdução da vacina pneumocócica conjugada 10-valente, embora a letalidade média não tenha sofrido redução significativa após a vacinação.
Dentre os óbitos causados por MB, a meningite tuberculosa (MBTC) foi a mais frequente (29.1%), seguida da meningite por Meningococo (16.9%) e meningite por pneumococo (11.4%). Esses resultados vão de encontro ao trabalho de Souza et al. (2020), realizado na região metropolitana de Belém, que encontrou um retrato epidemiológico de prevalência proporcionalmente muito semelhante ao perfil epidemiológico dos óbitos encontrado neste trabalho. Entretanto, o resultado divergiu de Moraes et al. (2022), o qual constatou a MBTC possuindo as menores taxas de óbitos no Brasil, atrás apenas da meningite por H. influenzae. O mapeamento epidemiológico realizado por Silva et al.(2021), evidenciou que a região norte possui as maiores taxas de prevalência e incidência de casos de Tuberculose em todo o Brasil, justificando o quadro endêmico da altas taxas de mortes por MBTC em Belém.
Embora a MV (meningite viral) tenha causado apenas 3% das mortes por meningite, ela destaca-se como o agente etiológico responsável por 35.2% das notificações por meningite em Belém no período do estudo, segundo dados do SINAN. Esses valores são semelhantes ao resultado encontrado por Silva & Mezarobba, o qual afirma que a etiologia viral é altamente prevalente porque os vírus se espalham com mais facilidade por via respiratória e por contato. A letalidade da MV em Belém corroborou com as taxas de letalidade registradas em outras regiões do Brasil, variando entre 3% a 6% (Roller et al., 2023; Pereira et al., 2023 e Cruz et al., 2020).
Quanto ao município de residência, a grande maioria (54.8%) residia na própria cidade em que o óbito foi registrado, resultado já esperado devido à proximidade com a rede de saúde local. Considerando apenas os outros municípios da Região Metropolitana de Belém, constatou-se 21.9% dos óbitos, isso demonstra o fato da meningite ser considerada uma doença dos centros urbanos de perfil infectocontagioso, devido a facilidade de transmissibilidade decorrente do contato entre indivíduos nos locais mais povoados (Matos et al., 2020; Aguiar et al., 2022).
Do total de óbitos, 21.1% procedeu de pacientes advindos de outros 44 municípios do interior paraense, evidenciando mais uma vez a importância dos sistemas de monitoramento epidemiológico, pois nas zonas rurais do país muitas vezes não há acesso a tecnologias e à internet, o que pode agravar o problema da subnotificação, além de que, é natural pacientes diagnosticados irem até a capital receber tratamento devido as melhores condições de infraestrutura e de qualidade das medidas terapêuticas (Cruz et al., 2020).
CONCLUSÃO
Diante do exposto, foram registrados 365 óbitos por meningite em Belém-PA, no período entre 2013 e 2022. O perfil epidemiológico dos óbitos foi composto prevalentemente por indivíduos do gênero masculino, de raça parda, de faixa etária entre 20 a 39 anos, residentes na própria cidade de registro do óbito e a etiologia bacteriana foi a mais frequente.
O retrato epidemiológico dos óbitos em Belém se diferenciou das outras regiões do Brasil em relação às variáveis da etiologia prevalente (MV e MBTC) e da incidência de óbitos na raça parda. As variáveis gênero e faixa etária mantiveram padrões semelhantes aos outros estudos epidemiológicos similares. Os resultados reforçam a necessidade de uma maior cobertura e efetividade da vacinação BCG para prevenção da meningite tuberculosa.
Cabe destacar que os óbitos registrados no SINAN como MNE (meningite não especificada) e MBNE (meningite bacteriana não especificada) corresponderam a 30.7% das mortes em Belém. Isso demonstra certa ineficiência do sistema de saúde em realizar o diagnóstico etiológico a tempo útil e gera um atraso na identificação do agente e no início da conduta terapêutica. Muitas vezes devido existirem localidades que não possuem a ferramenta de análise molecular disponível para a elucidação de quadros de meningite (Aguiar et al., 2022).
Devido as limitações da plataforma SINAN, variáveis importantes como a presença de coinfecção por HIV não estão disponíveis para uma melhor contextualização do quadro clínico que levou aos óbitos por meningite. É necessário ressaltar que a análise dos dados apresenta limitações, uma vez que os dados coletados são de origem secundária, possibilitando a notificação com dados incompletos, subnotificações e vieses (Mendes, 2022).
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1(Acadêmico de Medicina pela Universidade Federal do Pará – UFPA);
2 (Acadêmico de Medicina pela Universidade Federal do Pará – UFPA);
3 (Acadêmico de Medicina pela Universidade Federal do Pará – UFPA);
4 (Médico graduado pela Universidade Federal do Pará – UFPA);
5 (Acadêmico de Medicina pela Universidade Federal do Pará – UFPA);
6 (Médico graduado pela Universidade Federal do Pará – UFPA (1994), título de Especialista em Medicina de Família e Comunidade pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e Mestrado em Doenças Tropicais pelo Núcleo de Medicina Tropical da UFPA (2008). Título de especialista em Infectologia pela Sociedade Brasileira de Infectologia. Professor assistente do Internato de Medicina de Família e Comunidade da UFPA e do Módulo de Interação em Saúde na Comunidade do Centro Universitário do Pará – Cesupa. Supervisor do programa de residência Médica de Medicina de Família e Comunidade da UFPA/HUJBB (PRMMFC)