PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE ÓBITO INFANTIL NO ESTADO DA BAHIA

EPIDEMIOLOGICALPROFILE OF CHILD DEATH IN THE STATE OFBAHIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7997670


Sâmile de Santana Souza Serra1
Saila da Silva Barros2
Anny Carolinny Tigre Almeida Chaves3


RESUMO

Introdução: A mortalidade infantil é fundamental para avaliar a saúde da população, esse indicador possui grande relevância por fornecer dados sobre as condições de vida, acesso aos cuidados de saúde e qualidade dos serviços de saúde. Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico de óbito infantil no estado da Bahia, no período de 2010 a 2021. Metodologia: Estudo epidemiológico, descritivo a partir de dados secundários obtidos através do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) sobre todos os óbitos <1 ano ocorridos na Bahia. As variáveis analisadas foram a frequência, registro de morte, faixa etária, localidade, sexo, cor/raça, tipo de parto. Resultados: O coeficiente de óbito Infantil no Estado da Bahia foi um total de 38.824 crianças, o município de Salvador obteve o maior índice e Lajedinho o menor registrados. A Bahia apresentou uma melhora substancial no índice de mortalidade infantil, porém, continua com as maiores taxas de casos de óbito infantil no país. Considerações Finais: Apesar de apresentar uma redução da mortalidade infantil total, ainda há locais onde o número é significativo e diverge dos parâmetros nacionais e de outros estados e estudos. Dessa forma, se faz necessário um rastreamento e monitoramento constante dos serviços de saúde, particularmente das políticas públicas existentes em âmbito SUS.

Palavras-chave: Óbito Infantil. Sistema de Informação em Saúde. Recém-nascido.

ABSTRACT

Introduction:Infant mortality is an indicator of great relevance in the analysis of the health of the population.Bahia showed a substantial improvement in the infant mortality rate, however, it continues to have the highest rates of infant death cases in the country. Objective:To describe the epidemiological profile of infant death in the state of Bahia, from 2010 to 2021.Methodology; Epidemiological, descriptive study based on secondary data obtained through the Mortality Information System (SIM) on all deaths <1 year that occurred in Bahia.The variables analyzed were frequency, death record, age group, location, sex, color/race, childbirth type. Results:The infant death coefficient in the State of Bahia was a total of 38,824 children, the municipality of Salvador had the highest index and Lajedinho the lowest recorded.Final considerations: Although there has been a reduction in total infant mortality, there are still areas where the number is significant and diverges from national parameters and from other states and studies. Therefore, constant monitoring and tracking of healthcare services, particularly existing public policies under SUS, are necessary.

Keywords: Child Dath. Health Information System. Newborn.

1 INTRODUÇÃO

A avaliação da mortalidade infantil é um importante indicador de saúde que reflete as condições de saúde de uma determinada localidade. Quanto melhores forem os resultados deste indicador, ou seja, quanto menores forem as taxas de mortalidade, melhores serão as condições de saúde e nível socioeconômico da sociedade avaliada (LAPA et al., 2014).

De acordo com Batista (2015), as disparidades socioeconômicas e ambientais são as principais causas das diferenças estatísticas nas taxas de mortalidade infantil. Essas disparidades dificultam o acesso e uso dos recursos disponíveis para promoção, proteção e recuperação da saúde, tornando a mortalidade infantil um dos melhores indicadores do nível de vida e bem-estar social de uma população.

Justino e Andrade (2020) salientam que a coleta de dados durante o primeiro ano de vida e para crianças menores de cinco anos é fundamental para avaliar as condições de saúde e desenvolvimento do território em análise. Assim, faz-se necessário abordar o calculo da Taxa de Mortalidade Infantil (TMI), a qual é utilizada neste trabalho. Segundo Oliveira et al. (2004) a TMI é calculada como o número de óbitos de crianças menores de um ano de idade a cada mil nascidos vivos em uma determinada área geográfica e período, e serve como uma estimativa do risco de um recém-nascido morrer durante o seu primeiro ano de vida. Ou seja, “compreende a soma dos óbitos ocorridos nos períodos neonatal precoce (0 a 6 dias de vida), neonatal tardio (7 a 27 dias de vida) e pós-neonatal (28 dias a 1 ano de vida)” (COELHO et al., 2021).

Nas últimas décadas, houve uma significativa diminuição da mortalidade infantil tanto no Brasil, quanto no mundo. No Brasil, verificou-se uma queda de 51 mortes por mil nascidos vivos em 1990 para 15 por mil nascidos vivos em 2015, conforme Demito et al. (2017). No entanto, nesse mesmo período, a redução da mortalidade neonatal foi lenta, principalmente em relação à mortalidade neonatal precoce. Tal redução foi desigual entre os países, de acordo com o nível de desenvolvimento, como apontado por Hug et al. (2017).

Ainda a respeito do período neonatal, foi constatado que as taxas brasileiras tiveram uma queda significativa, passando de 17 por 1000 nascidos vivos em 2000 para 11,2 por 1000 nascidos vivos em 2010, o que representa uma redução de 34% em âmbito nacional. Na região Nordeste, o mesmo indicador caiu de 22,7 para 14,3 por 1000 nascidos vivos no mesmo período. A tendência mundial também foi observada, com o período neonatal correspondendo a 69% dos óbitos no primeiro ano de vida do país em 2010 (BRASIL, 2010).

Enquanto, no estado da Bahia, localizado na região nordeste brasileira, apesar de ter diminuído a taxa de mortalidade infantil nas duas últimas décadas, este estado ainda está no topo da lista em relação aos outros estados do Brasil, sendo a média nacional de 16,6 mortes por mil nascidos vivos, segundo os dados de 2019 mensurados pelo Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021).

Nesse contexto, ainda há margem para significativa melhoria dos dados em relação às taxas de mortalidade infantil no Brasil e na Bahia. No entanto, é necessário analisar quais fatores são fundamentais para promover a melhoria das estatísticas e identificar os que têm maior influência sobre os óbitos (MONTEIRO; RODRIGUES, 2019). Sendo assim, o presente artigo teve como objetivo o estudo do perfil epidemiológico de óbito infantil no interior da Bahia.

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa trata-se de um estudo epidemiológico, de caráter descritivo. O estudo epidemiológico é uma abordagem sistemática e científica para investigar a distribuição, os determinantes e os fatores de risco de doenças e agravos em populações. Os resultados desses estudos são usados para informar políticas de saúde pública e práticas clínicas, bem como para identificar áreas de pesquisa futura (LIMA-COSTA;BARRETO, 2003), enquanto a pesquisa descritiva tem como objetivo descrever as características de uma população ou fenômeno, bem como estabelecer relações entre variáveis. Para tanto, utiliza-se de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como questionários e observação sistemática. A pesquisa descritiva geralmente assume a forma de um levantamento, visando obter informações precisas e confiáveis sobre o objeto de estudo (SILVA; MENEZES, 2000).

A fim de pesquisar dados de óbito infantil no estado da Bahia foram analisados dados de frequência, registro de morte, faixa etária, período, localidade, sexo, cor/raça, tipo de parto, sem alguma modificação, ou seja, sem subordinação.

Tais informações foram coletadas através do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) – TABNET. De acordo com GeHosp (2020), este órgão tem como responsabilidade prover os órgãos do Sistema único de Saúde (SUS), dos sistemas de informação e suporte de informática, necessários ao processo de planejamento, operação e controle. Ainda foi acessado o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), sistema informatizado de vigilância epidemiológica nacional, gerido pelo DATASUS, com o objetivo de captar informações sobre mortalidade para todas as instâncias do sistema de saúde e obtidas as estatísticas vitais de dados quantitativos de mortalidade no período entre 2010 e 2021, sendo os dados referentes a todos os óbitos com a faixa etária <1 ano de idade e focado no perfil epidemiológico de óbito infantil no estado da Bahia.

Assim, foi apurada a variação quantitativa de todos os municípios no estado da Bahia e feita a avaliação das três cidades com maior e menor índice de morte, que quantifica a elevada variação percentual negativa ou a redução percentual positiva desse indicador nos últimos onze anos.

A busca na Base de Dados do SIM permitiu a obtenção de dados a partir de informações secundárias do sistema que faz parte do Ministério da Saúde, das quais encontram-se disponíveis para acesso livre virtualmente, sendo assim, os dados foram coletados e organizados por meio de gráficos e tabelas para melhor análise e entendimento. As planilhas eletrônicas foram elaboradas por meio do Programa WPS Office utilizando WPS Spreadsheet como ferramenta auxiliar.

Portanto, este artigo não demanda avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com seres humanos, segundo as normas preconizadas pela resolução 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conceitua-se Mortalidade Infantil (MI) os óbitos acontecidos precocemente em menores de um ano de idade, sendo considerada um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Além disso, essa fatalidade caracteriza-se como um indicador pertinente para reproduzir a qualidade de vida de uma sociedade (SILVA et al., 2022).

Segundo o Ministério da Saúde (2021), a mortalidade infantil é um importante indicador de saúde e condições de vida de uma população. Paixão (2012) salienta que as taxas de mortalidade infantil podem indicar o nível socioeconômico de uma região, sendo que valores menores estão relacionados a um melhor desenvolvimento em áreas como saúde, saneamento, renda e desigualdade social. Essas taxas podem ser classificadas como altas (50% ou mais), médias (20% a 49%) ou baixas (menos de 20%), em comparação com as sociedades mais desenvolvidas ao longo do tempo.

Assim, o coeficiente de mortalidade infantil é um indicador importante das condições de saúde da população e é amplamente utilizado no planejamento e avaliação das políticas de saúde. A maioria dos óbitos infantis é concentrada no componente neonatal da mortalidade infantil, que está diretamente relacionado às condições de assistência pré-natal e durante o parto. Dessa forma, é crucial compreender as circunstâncias que levam a esses óbitos, pois se tratam de mortes prematuras e potencialmente evitáveis por meio do acesso oportuno a serviços de saúde qualificados (MONTEIRO; RODRIGUES, 2019).

No Brasil, segundo Ribeiro (2019), os principais grupos de causas dos óbitos no Brasil foram: prematuridade, anomalias congênitas, asfixia e trauma durante o parto, septicemia e outras infecções neonatais, infecções do trato respiratório inferior, outras disfunções neonatais, doenças diarreicas, desnutrição, aspiração de corpo estranho, acidentes de transporte, afogamento, homicídio (violência interpessoal), desordens endócrinas, metabólicas, sanguíneas ou imunológicas, cardiomiopatia e miocardite, sífilis, coqueluche, doença hemolítica do recém-nascido e icterícia neonatal.

Ainda no contexto brasileiro, a taxa de mortalidade em crianças menores de 5 anos apresentou uma redução significativa, passando de 191.505 óbitos em 1990 para 51.226 em 2015. Na década de 1990, a maior parte dos óbitos ocorria no período pós-neonatal (28-364 dias), correspondendo a cerca de 44% dos casos, seguido pelos óbitos neonatais precoces e tardios. Já em 2015, a mortalidade neonatal precoce se destacou como o principal componente dos óbitos na infância, representando 41% dos casos (FRANÇA et al., 2017). Apesar da redução na taxa de mortalidade infantil no Brasil, o componente neonatal apresentou menor redução e houve um aumento na proporção do componente neonatal precoce nas últimas décadas (VICTORA et al., 2011).

Esta pesquisa analisou municípios do Estado da Bahia a fim de dignosticar as variáveis referentes a mortalidade infantil no estado. Assim, identificou-se que, na Bahia, foram notificados um total de 38.824 óbitos infantis nos anos de 2010 a 2021 (registrados no SIM), com taxa de mortalidade infantil de 16, 6 mil por nascidos vivos.

A figura 1 mostra a seleção dos 10 Municípios com maior número de casos no estado da Bahia, nos anos supracitados. A partir desta, é possível identificar que o município com maior número de óbitos foi Salvador com um total de 6.610 óbitos infantis, enquanto Barreiras foi o município que registrou menor quantidade de óbitos, com o registro de 455 mortes.

Figura 1 – Registro dos dez municípios que obtiveram mais casos de mortalidade infantil no estado da Bahia.

Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM /DATASUS

A taxa de mortalidade infantil na Bahia é de 16, 6 óbitos por mil nascidos vivos, sendo tal número maior do que a média brasileira (GONÇALVES, 2022; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021). Neste estudo identificou-se que o número de óbitos infantis é maior entre as crianças pardas, seguidas de brancas e pretas. Este resultado é igual ao apresentado por Santos (2019) onde seu estudo identificou que as raças parda e branca apresentaram um índice de mortalidade maior entre as demais. Entretanto, o maior percentual dos óbitos de neonatos foram de não branca no estudo de Gaiva, Fujimori, Sato (2015).

Essa variável é uma ferramenta útil para analisar as desigualdades em saúde e pode ser usada como um marcador eficaz de desigualdade social. No entanto, é importante ressaltar que os resultados apresentados desafiam os paradigmas pré-estabelecidos, uma vez que as raças branca e parda foram avaliadas com níveis sociais mais altos e apresentaram índices superiores em relação as outras raças (ARAÚJO, 2009). Assim, a nível de estado, a Bahia tem se mostrado com uma evolução considerável ao longo dos anos em relação a mortalidade infantil, haja vista está estritamente associadas a questões de circunstâncias ambientais e ao nível sócioeconômico da população.

Observou-se, também nessa pesquisa, que as três cidades com maiores índices de mortalidades registradas foram, respectivamente: Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista (figura 2). Entre 2010 e 2021, Salvador apresentou uma diferença de 171 óbitos, Feira de Santana uma diferença de 28 óbitos e Vitória da Conquista uma diferença de 41 óbitos. Com esses dados percebe-se que Salvador tem o maior número total, mas também é o com maior redução no número de óbitos (figura 2).

FIGURA 2 – Os três municípios com mais casos de mortalidade infantil durante os anos de 2010 a 2021 no estado da Bahia.

Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM /DATASUS

Na figura 3 estão distribuídos os 10 Municípios com menor quantidade de óbitos registrados, dentre eles destaca-se Lajedinho e Feira da Mata com os menores números de óbitos.

FIGURA 3 – Registro dos dez municípios que obtiveram menor número de casos de mortalidade infantil no estado da Bahia.

Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM /DATASUS

Já a Figura 4 mostra o número de óbitos por parto vaginal ao ano, no período de 2010 a 2021. Nesse sentido, foram identificados 21.360 óbitos, com destaque ao ano de 2010 pelo maior número. Em contrapartida, nos anos seguintes foi possível observar queda no número de óbitos por parto vaginal, apesar disso tais dados mostraram-se altos.

FIGURA 4 – Óbito Infantil Por Tipo De Parto Vaginal Segundo Ano De 2010 a 2021.

Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM /DATASUS

Por outro lado, a figura 5 mostra o número de óbitos infantis por parto cesário, entre os anos de 2010 e 2021. O número total deste tipo de óbito, neste período, é de 12.575, enquanto o número anual varia de 999, em 2014, e 1.117, em 2018. Estes dados mostram que apesar dos números variarem e apresentarem redução durante um período, ele volta a subir, atingindo o número acima de 1.100 em 2021.

FIGURA 5 – Óbito infantil por tipo de parto Cesário segundo ano de 2010 e 2021.

Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM /DATASUS

Quanto aos partos ignorados, representados na figura 6, tem-se o total de 4.889 óbitos, no período de 2010 a 2021. Entretanto, identifica-se queda contínua desde 2010, pois enquanto o número anual foi de 635 óbitos em 2010, em 2021 esse número foi reduzido para 226.

FIGURA 6 – Registro de partos ignorados de óbito infantil entre os anos de 2010 e 2021.

Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM /DATASUS

A figura 7 mostra o número de óbitos de acordo com a cor/ raça e sexo, ocorridos entre 2010 e 2021. Nela é possível identificar que a tendencia é similar quanto ao sexo, apresentando os mesmos períodos de aumento e queda. Quanto a cor/raça, identifica-se que os pardos apresentam o maior número, seguido dos brancos, pretos e amarelos, respectivamente.

Quanto ao tipo de parto, o número de óbitos por parto vaginal apresentou um maior número total do que o cesário e o ignorado (figuras 4, 5 e 6), entretanto, enquanto o número de óbito infantil diminui no tipo vaginal e no ignorado, o cesário volta a apresentar aumento. Assim, identifica-se a importancia de análises mais profundas dos motivos que levam a Bahia a conter maiores taxas de óbitos no parto vaginal do que o cesário.

No estudo de Monteiro e Rodrigues (2019), a diferença no número de óbitos entre os tipos de parto, vaginal e cesáreo, é pequena, entretanto este número no parto cesáreo ainda é expressivo quanto a quantidade de óbitos. Já o resultado encontrado por Albuquerque et al (2022) salienta que o parto vaginal tende a apresentar complicações menos graves em comparação com o parto cesáreo. Nesse contexto, a literatura aponta que o parto vaginal estimula a produção e liberação do leite materno e as infecções hospitalares são menos frequentes (ALBUQUERQUE et al., 2022).

Enquanto o parto cesáreo tem sido associado ao aumento de recém-nascidos prematuros e com baixo peso ao nascer, ao passo que no parto vaginal, por ser uma via de nascimento fisiológica, as complicações que possam ocorrer geralmente são menos graves em comparação ao parto cesáreo. Embora o parto cesáreo possa diminuir a ocorrência de óbitos no primeiro ano de vida quando necessário, é importante utilizá-lo com parcimônia, pois apresenta maior risco de infecções, trombose dos membros inferiores, hemorragias, reações aos anestésicos, entre outros (AGRANONIK, 2016).

FIGURA 7 – Óbito infantil segundo cor/raça e sexo, entre os anos de 2010 e 2021.

Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM /DATASUS

Em todo o período do estudo, observa-se que grande parte dos recém-nascidos que foram a óbito eram do sexo masculino. Em Cuiabá, no ano de 2010, houveram semelhanças nos resultados deste estudo, em que se obteve maior proporção de óbitos no sexo masculino (GAIVA; FUJIMORI; SATO, 2015), assim como em Rio Branco conforme estudo de Albuquerque (2021). A distinção entre os sexos pode ser explicada por fatores biológicos que tornam as crianças do sexo masculino mais vulneráveis a doenças causadas por fatores externos, tais como diarreia, hemorragias e pneumonia (ALVES; COELHO, 2020).

O atual estudo analisou também o número de óbitos quanto aos municípios. Os municípios com a menor taxa de mortalidades registradas foram: Lajedinho, Vereda e Lamarão, respectivamente, enquanto que os maiores índices foram observados com Salvador, Feira de Santana e Vitória da conquista, respectivamente. Foi observado que houve um declínio em relação aos últimos onze anos tanto nas cidades com maiores índices quanto nas de menos índices de mortalidade. Entretanto, em todos os anos Salvador apresentou um número significativamente maior do que as outras cidades, sendo maior, inclusive do que a somatória dos óbitos ocorridos em Feira de Santana e Vitória da Conquista.

No estudo de Araújo (1973), foi analisado a mortalidade infantil na Bahia, no final do século passado, diferenciando a capital do interior. A capital, Salvador, mostrou uma redução constante e significativa da taxa de mortalidade infantil ao longo da década. A taxa diminuiu de 147 por mil em 1960 para 70,5 por mil em 1968. Percebe-se um número bem maior do que o encontrado nos dados das figuras 1 e 2, mas que também apresenta queda. O mesmo autor identificou como principais causas de mortalidade no grupo etário de 0 a 1 ano: gastroenterites, a doenças infecciosas e parasitárias e deficiências nutricionais. Para as causas atuais, não encontrou-se dados disponíveis na literatura. O autor ainda destaca que é preocupante o alto número de óbitos no interior (36,6%) relacionados a sintomas e afecções mal definidas, o que indica a ocorrência de óbitos sem assistência médica. É possível que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas se as crianças tivessem recebido a devida assistência médica.

Em um estudo da década passada, Tavares et al. (2013) estudaram a mortalidade por mortes evitáveis no estado da Bahia, no período de 2010 a 2012. A taxa de mortalidade infantil geral, durante o período analisado, apresentou uma redução significativa de 36,10%, variando de 26,63 para 17,01 por 1.000 nascidos vivos. Essa diminuição é um indicativo positivo do progresso no cuidado com a saúde das crianças. Em suma, os resultados destacam a importância contínua de melhorar a assistência à saúde materna durante a gestação para reduzir os índices de mortalidade infantil.

A partir da comparação do atual estudo com o de Araúno (1973) e Tavares et al (2013), os três mostraram a tendência de queda no número de mortalidade infantil. Apesar de apresentar uma redução da mortalidade infantil total, ainda há locais onde o número é significativo e diverge dos parâmetros nacionais e de outros estados e estudos. Dessa forma, se faz necessário um rastreamento e monitoramento constante dos serviços de saúde, particularmente das políticas públicas existentes no âmbito do SUS.

5 CONCLUSÃO

A mortalidade infantil com base nos dados fornecidos pelo DATASUS são de grande importância para identificar as deficiências relacionadas às causas de mortalidade e morbidade infantil na Bahia.

Com base na análise dos dados sobre a mortalidade infantil nos municípios do Estado da Bahia, foi possível identificar informações relevantes. Durante o período de 2010 a 2021, houve um total de 38.824 óbitos infantis registrados no estado, resultando em uma taxa de mortalidade infantil de 16,6 por mil nascidos vivos.

Ao observar a distribuição dos óbitos por município, constatou-se que Salvador foi o município com o maior número de óbitos, enquanto Barreiras registrou a menor quantidade. No entanto, é importante notar que Salvador apresentou uma diminuição no número de mortes ao longo da década, ao contrário de Feira de Santana e Vitória da Conquista, que apresentaram variações, mas com predominância de queda.

Ao analisar os dados por tipo de parto, verificou-se que o número de óbitos por parto vaginal teve uma redução gradual ao longo dos anos, embora tenha começado com um alto número em 2010. Por outro lado, os óbitos por parto cesáreo apresentaram variações ao longo do período, com números acima de 1.100 em 2021, indicando uma necessidade de atenção nessa área.

Quanto aos partos ignorados, houve uma redução contínua desde 2010, demonstrando uma melhoria na identificação e registro desses dados. Por fim, ao analisar os óbitos de acordo com a cor/raça e sexo, observou-se uma tendência semelhante entre os sexos, com períodos de aumento e queda. Além disso, os pardos apresentaram o maior número de óbitos, seguidos por brancos, pretos e amarelos.

Esses resultados ressaltam a importância de monitorar e abordar as causas da mortalidade infantil, com ênfase na atenção pré-natal adequada, acompanhamento da saúde da criança nos primeiros meses de vida e melhoria na qualidade dos cuidados durante o parto. A conscientização sobre as disparidades raciais e ações direcionadas a comunidades específicas também são fundamentais para reduzir a mortalidade infantil na Bahia.

Assim, identifica-se que os recusos fornecidos pelo DATASUS forneceram um panorama epidemiológico da mortalidade infantil na Bahia. Entretanto, identificou-se também que a Bahia, em comparação a outros estados, têm maior número de óbitos por parto vaginal do que cesário o que diverge dos outros estados mas que houve uma diminuição nos números de 2010 a 2021. Assim, parabeniza-se as políticas publicas adotadas que fizeram chegar a esses resultados e, além disso, propõe-se a continuação da pesquisa para a identificação de características maternas e neonatais associadas às mortes, a fim de diagnosticar essa disparidade.

REFERÊNCIAS

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Sâmile de Santana Souza Serra1

Saila da Silva Barros2

Anny Carolinny Tigre Almeida Chaves3

1 Graduanda de farmácia da Universidade Salvador. ORCID: 000900045647754 samile.serra@hotmail.com. R. Rio Tinto, 152 – Santa Monica, Feira de Santana – BA, 44077-140.

2 Graduanda de farmácia da Universidade Salvador. ORCID: 000900005707456x saylla.barros@outlook.com. Endereço: R. Rio Tinto, 152 – Santa Monica, Feira de Santana – BA, 44077-14

3. Professora na Universidade Salvador annytigre@hotmail.com . Doutora em Biotecnologia UEFS/Fiocruz. Endereço: R. Rio Tinto, 152 – Santa Monica, Feira de Santana – BA, 44077-14