PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE MOTOCICLISTAS ENVOLVIDOS EM ACIDENTES DE TRÂNSITO NO MARANHÃO: UM ESTUDO RETROSPECTIVO (2015-2024)

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF MOTORCYCLISTS INVOLVED IN TRAFFIC ACCIDENTS IN MARANHÃO: A RETROSPECTIVE STUDY (2015-2024)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506081450


Brenda Fernandes Campinho Braga
Isadora Márcia Pereira Nery
Tainá de Abreu Gomes
Orientador: Dr. Gerardo Vasconcelos Mesquita


RESUMO

No Brasil, os acidentes com motos são a segunda principal causa de óbitos por fatores externos, com destaque para o Maranhão, estado que possui a maior proporção de motocicletas em circulação entre todos os estados brasileiros. Desta forma, objetivou-se descrever o perfil epidemiológico das internações hospitalares e dos óbitos causados por acidentes de trânsito envolvendo motociclistas no estado do Maranhão, no período de 2015 a 2024. Os resultados revelaram que, entre 2015 e 2024, o Maranhão registrou 23.310 internações por acidentes motociclísticos, com maior incidência em 2019. Houve queda progressiva nos casos e óbitos após esse ano. Adultos jovens (20 a 39 anos) e homens foram os mais afetados, com destaque para a população parda. A maioria das internações ocorreu por urgência (96,3%), com média de 4,9 dias de permanência. Os custos hospitalares somaram R$11 milhões, sendo os homens responsáveis por 80% do total. A taxa de mortalidade foi de 1,39, com 324 óbitos. Municípios como Pinheiro, Imperatriz e Santa Inês concentraram os maiores registros, evidenciando a necessidade de políticas de prevenção voltadas a jovens, especialmente do sexo masculino. Portanto, os dados analisados evidenciam que os acidentes motociclísticos representam um grave problema de saúde pública no Maranhão, com impacto significativo sobre a rede hospitalar, principalmente entre homens jovens. Apesar da redução nas internações e óbitos após 2019, os custos permanecem elevados e a gravidade das lesões é expressiva. A concentração de casos em municípios com maior fluxo viário indica a urgência de políticas públicas voltadas à educação no trânsito, fiscalização e promoção de comportamentos seguros, com foco nos grupos mais vulneráveis. Investimentos em prevenção podem reduzir não apenas a morbimortalidade, mas também os custos sociais e econômicos associados a esses eventos.

Palavras-Chave: Perfil. Acidentes motociclísticos. Óbitos. Internações

1. INTRODUÇÃO

Os acidentes de trânsito representam um desafio significativo para a saúde pública no Brasil, com impactos amplos nas esferas social e econômica. Esses eventos comprometem a qualidade de vida da população, geram altos custos para o sistema de saúde e causam perdas financeiras ao Estado (Melo; Mendonça, 2021). De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2024) e o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN, 2024), são caracterizados como ocorrências em espaços públicos, incluindo calçadas, envolvendo a movimentação de veículos e pedestres, que resultam em danos físicos, materiais ou ambos.

Dentro desse cenário, os motociclistas destacam-se como um dos grupos mais vulneráveis, representando cerca de um quarto das mortes no trânsito, seguidos por pedestres e ciclistas, também expostos diretamente em colisões (Estevão et al., 2022). No Brasil, os acidentes com motos são a segunda principal causa de óbitos por fatores externos, com destaque para o Maranhão, estado que possui a maior proporção de motocicletas em circulação entre todos os estados brasileiros (Souza et al., 2021; Longuiniere et al., 2021).

O uso crescente de motocicletas como meio de transporte, impulsionado por opções de financiamento e consórcios que tornam as parcelas mensais semelhantes às despesas com transporte coletivo favoreceu para o aumento deste meio de transporte (Almeida et al., 2023). A popularização da motocicleta e consequentemente aumento da frota estão associados ao crescimento dos acidentes, assim como abuso  de  álcool  durante  a  direção, imprudência e negligência, sobretudo entre jovens e adolescentes, resultando em ferimentos graves e longos períodos de recuperação, além de elevar os custos sociais e econômicos (Mendonça et al., 2021).

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 2024 cerca de 1,19 milhão de pessoas morrem devido a acidentes de trânsito, o que equivale a uma taxa mundial de 15 mortes para cada 100 mil habitantes. No contexto brasileiro, informações do Ministério da Saúde apontam que, dos 34.881 óbitos no trânsito brasileiro em 2023, 13.477 eram motociclistas. O volume representa 38,6% das mortes em sinistros de trânsito e crescimento de 11,7% em comparação ao ano anterior (Brasil, 2024).

Considerando esse contexto, torna-se essencial a adoção de estratégias preventivas eficientes e integradas no enfrentamento dos acidentes de trânsito. Uma das principais iniciativas nesse sentido é o Movimento Maio Amarelo, que ocorre anualmente com o propósito de estimular a reflexão social sobre a segurança no trânsito. Como parte dessa mobilização, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) promoveu uma série de ações educativas, como a fixação de faixas informativas e a distribuição de materiais de conscientização, com foco na adoção de condutas seguras por parte dos usuários das vias (Brasil, 2022).

Diante do elevado custo gerado pelas internações decorrentes de acidentes de trânsito no Maranhão, especialmente envolvendo motociclistas, justifica-se a realização de estudos que reforcem a urgência em identificar os perfis epidemiológicos das vítimas. Essa caracterização é essencial para subsidiar políticas públicas e a formulação de estratégias preventivas mais eficazes, com o intuito de mitigar os impactos econômicos e sociais no sistema público de saúde estadual e na sociedade como um todo.

Assim, o objetivo geral do presente artigo é descrever o perfil epidemiológico das internações hospitalares e dos óbitos causados por acidentes de trânsito envolvendo motociclistas no estado do Maranhão, no período de 2015 a 2024. De forma específica, busca-se analisar a distribuição temporal desses eventos, identificar as principais faixas etárias e o sexo das vítimas, o caráter do atendimento; verificar a associação entre os acidentes e os gastos hospitalares, além de avaliar os custos estimados com internações hospitalares; conhecer os 10 primeiros municípios com maior número de casos. 

2. MATERIAL E MÉTODOS 

Tratou-se de um estudo epidemiológico, documental, quantitativo, de base populacional, descritivo e retrospectivo sobre o perfil das internações hospitalares e óbitos epidemiológicos de motociclistas envolvidos em acidentes de trânsito no estado do Maranhão, Brasil. De acordo com as resoluções nº 466/12 e nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), por se tratar de uma pesquisa epidemiológica e documental, não foi necessária a autorização prévia do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), uma vez que as informações utilizadas foram obtidas de bancos de dados públicos. Ressalta-se que foram observados todos os cuidados para respeitar os limites éticos e legais inerentes às pesquisas científicas.

As informações sobre as internações hospitalares e óbitos decorrentes de acidentes de trânsito envolvendo motociclistas foram obtidas por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), disponibilizado no endereço eletrônico http://www.datasus.gov.br, através do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Foram incluídos no estudo todos os casos registrados no Maranhão das internações hospitalares e óbitos de motociclistas, no período de 2015 a 2024, adultos, independentemente do sexo. Foram excluídos casos de motociclistas residentes em outras unidades federativas, bem como registros que não atenderam aos critérios de inclusão.

Para a identificação desses casos no DATASUS inicialmente foi selecionado a Morbidade Hospitalar do SUS (SIH/SUS), no subitem: Causas Externas, por local de internação – a partir de 2008, na abrangência geográfica do Maranhão. Posteriormente foi selecionado a faixa etária de 20 a 80 anos e mais e o grupo de causas nos itens:

V20.- Motociclista traumatizado em colisão com um pedestre ou um animal;

V21.- Motociclista traumatizado em colisão com um veículo a pedal;

V22.- Motociclista traumatizado em colisão com um veículo a motor de duas ou três rodas;

V23.- Motociclista traumatizado em colisão com um automóvel [carro], “pick up” ou caminhonete;

V24.- Motociclista traumatizado em colisão com um veículo de transporte pesado ou um ônibus;

V25.- Motociclista traumatizado em colisão com um trem ou um veículo ferroviário;

V26.- Motociclista traumatizado em colisão com outro veículo não-motorizado;

V27.- Motociclista traumatizado em colisão com um objeto fixo ou parado;

V28.- Motociclista traumatizado em um acidente de transporte sem colisão;

V29 Motociclista traumatizado em outros acidentes de transporte e em acidentes de transporte não especificado

As variáveis do estudo foram: ano de ocorrência da internação e do óbito, faixa etária, sexo, cor/raça, município de residência e custos hospitalares nas internações. Os dados foram organizados e tabulados em planilhas desenvolvidas no Programa Excel 2020. A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva, expressando os resultados em valores absolutos, porcentagens e tendências temporais. Por fim, os resultados foram apresentados em tabelas e gráficos para facilitar a compreensão e interpretação.

Para o cálculo da taxa de prevalência e mortalidade, em que a Taxa de Prevalência = (Nº de Internações / População) × 10.000 e a Taxa de Mortalidade = (Nº de Óbitos / População) × 10.000foram consideradas as populações de 20 anos a 80 mais fornecidas pelo IBGE na plataforma do DATASUS, para o estado do Maranhão, de 2015 a 2025, conforme detalhado no Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição da população residente no Maranhão no período avaliado.

Obs.: Taxas expressas por 10.000 habitantes, arredondadas para duas casas decimais.
*Estimada)
Fonte: IBGE – DATASUS (SIH/SUS)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período de 2015 a 2024 foram internados no estado do Maranhão em virtude de acidentes motociclísticos 23.310 casos, com uma média de 2.331 por ano, em que o gráfico 1 mostra a distribuição desses casos segundo o ano de ocorrência, a taxa de prevalência e mortalidade e o gráfico 2 mostra o número de óbitos e taxa de mortalidade segundo o ano de ocorrência.

Gráfico 1. Número de casos de motociclistas envolvidos em acidentes de trânsito no Estado do Maranhão, 2015-2024. (n = 23.310 casos)

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (2024).

Foi possível identificar que o ano de 2019 apresentou a maior quantidade de internações por acidentes motociclísticos no Estado do Maranhão, com 2.800 casos (12,0%), seguido de 2018, com 2.665 notificações (11,4%). A partir de 2019, observa-se um declínio contínuo desses casos até 2024, conforme ilustrado no Gráfico 1. 

De forma semelhante, o Ministério da Saúde também aponta que houve um aumento das taxas de internações decorrentes de acidentes de trânsito em 2021, em 55%, considerando apenas a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) e conveniados. A maioria dessas internações foi decorrente de lesões envolvendo motociclistas (Brasil, 2023).

Esse comportamento de redução das internações no período estudado pode ser atribuído a políticas públicas voltadas à redução das lesões por acidentes de trânsito (LAT), tanto em nível nacional quanto internacional. Destaca-se o Plano Global da Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2021–2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem como meta reduzir em pelo menos 50% as mortes e lesões no trânsito, especialmente em países de baixa e média renda, recomendando ações como a promoção de transporte multimodal, a redução dos limites de velocidade e a priorização de pedestres, ciclistas e usuários de transporte público.

No âmbito estadual, o Maranhão tem implementado uma série de iniciativas que podem ter contribuído para a redução das internações por acidentes de trânsito. Entre elas, destaca-se o fortalecimento das campanhas educativas realizadas pelo Departamento Estadual de Trânsito do Maranhão (DETRAN-MA, 2023), como o “Movimento Maio Amarelo”, que busca conscientizar motoristas e motociclistas sobre a importância da direção segura. Além disso, o programa “Motociclista Seguro” tem ofertado cursos gratuitos de pilotagem defensiva, promovendo maior capacitação dos condutores. 

O Estado também tem investido em ações de fiscalização, com apoio da Polícia Militar, e na melhoria da infraestrutura viária, com implantação de sinalização adequada e redutores de velocidade. Ademais, a articulação intersetorial entre as secretarias de Saúde, Educação e Segurança Pública tem favorecido estratégias de prevenção de acidentes e promoção da segurança no trânsito. Esses esforços convergem com as diretrizes internacionais e refletem positivamente na diminuição das internações hospitalares por acidentes motociclísticos no Maranhão (DETRAN-MA, 2023).Uma análise de séries temporais sobre o impacto da Lei Seca (Lei nº 11.705, de 2008), que penaliza condutores flagrados sob a influência de álcool ou de substâncias psicoativas, nas unidades federativas do Brasil, evidenciou redução significativa das taxas de mortalidade por acidentes de trânsito apenas em Santa Catarina e no Distrito Federal. No estado do Maranhão, por outro lado, observou-se estabilidade nos indicadores ao longo do período analisado (NUNES et al., 2021).

Gráfico 2. Número de óbitos e taxa de mortalidade de motociclistas envolvidos em acidentes de trânsito no Estado do Maranhão, 2015-2024. (n = 23.310 casos)

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (2024).

Foi possível identificar uma redução no número de óbitos por acidentes motociclísticos ao longo do período analisado. No entanto, os anos de 2016 e 2017 se destacaram por apresentarem os maiores números de mortes, com 47 e 41 óbitos, e taxas de mortalidade de 1,09 e 0,93, respectivamente. De modo geral, observou-se a predominância de baixas taxas de mortalidade durante o período estudado, o que contrasta com o panorama nacional em algumas regiões. Apesar desse resultado, de acordo com Aquino et al. (2020), no período compreendido entre 2010 e 2016, a tendência de óbitos de motociclistas no estado de São Paulo foi crescente.

Em especial, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, têm sido registradas taxas de mortalidade mais elevadas por acidentes de trânsito, associadas a fatores como demora no atendimento hospitalar, menor adesão ao uso de equipamentos de segurança e uma tendência crescente na ocorrência desses eventos, em comparação com outras regiões do país (Santos; Rocha; Silva, 2022).

Os achados deste estudo também se diferem dos resultados obtidos em uma análise do perfil epidemiológico dos óbitos por acidentes com motociclistas no Estado de Alagoas, entre 2019 e 2023. Nesse levantamento, o ano de 2020 apresentou o maior percentual de fatalidades, correspondendo a 22,4% (n=397) das notificações. Nos anos seguintes, houve uma leve queda em 2021 (19,7%; n=349), mas os índices voltaram a subir em 2022 (20,7%) e 2023 (20,9%). Esses dados evidenciam uma tendência persistente de alta mortalidade entre motociclistas, o que reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção e segurança viária (Lessa et al., 2025).

Em um estudo realizado em São Paulo, no período de 2015 a 2020 mostrou resultados semelhantes, em que a distribuição da taxa de mortalidade apresentou mínima variação no período analisado, de 4,22 a 4,42 óbitos/100 mil habitantes. Entre as variáveis sociodemográficas analisadas, a tendência da mortalidade de motociclistas foi estacionária em sua maioria (Souza et al., 2022).

A tabela 1 mostra o perfil das internações, segundo a faixa etária, sexo e raça.

Tabela 1. Perfil das internações por acidentes de trânsito em motociclistas no Estado do Maranhão, 2015-2024.
(n = 23.310 casos)

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (2024).

Ao analisar os dados da Tabela 1, observa-se que a faixa etária mais afetada por internações em decorrência de acidentes motociclísticos no Maranhão foi a de 20 a 29 anos, com 7.763 casos, o que representa 33,3% do total, seguida da faixa de 30 a 39 anos, com 6.433 internações (27,6%), evidenciando que os adultos jovens são os mais vulneráveis a esse tipo de acidente. Com relação ao sexo, o perfil predominante é o masculino, com 17.602 internações, correspondendo a 75,5% dos casos, ao passo que o sexo feminino aparece com 5.708 casos, representando 24,5%, o que demonstra uma expressiva maioria de homens envolvidos nesses eventos. No que se refere à raça/cor, o maior número de internações ocorreu entre pessoas que se autodeclararam pardas, com 12.514 casos, representando 53,7% do total. A segunda categoria mais frequente foi a de registros sem informação, com 7.808 casos (33,5%), o que limita uma análise mais precisa do perfil étnico-racial completo da população afetada.

De forma semelhante, um estudo realizado em Imperatriz-MA evidenciou que quanto ao perfil das vítimas, a predominância do sexo masculino (67,4%) e da faixa etária de 30 a 59 anos (47,8%) (Coelho; Franco, 2025).

O presente estudo revelou que os acidentes de trânsito ocorreram predominantemente entre homens, um resultado consistente com outras pesquisas que também identificaram maior prevalência de traumas decorrentes desses acidentes no sexo masculino (Zannete et al., 2021; Longuiniere et al., 2021). Essa diferença pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo comportamentos, contextos sociais e níveis diferenciados de exposição ao risco (Lessa et al., 2025). 

Homens tendem a adotar práticas de direção mais arriscadas, como velocidades elevadas e atitudes agressivas, o que eleva sua vulnerabilidade a lesões graves e mortes por causas externas (Longuiniere et al., 2021). Além disso, o uso da motocicleta combinado com consumo de álcool, excesso de velocidade e comportamentos perigosos tem sido destacado como um dos principais motivos da maior ocorrência de acidentes nessa população (Lopes et al., 2022).

Em relação à idade, observou-se maior incidência de acidentes entre jovens, concordando com achados de estudos realizados em diferentes regiões brasileiras (Lima et al., 2019; Biffe et al., 2017). Esse grupo etário caracteriza-se por maior impulsividade e busca por sensações novas, que somadas à falta de experiência, descuido e uso de substâncias como álcool e outras drogas, contribuem para a menor percepção dos riscos e para a adoção de comportamentos de risco no trânsito, como a condução imprudente e o desrespeito às normas de trânsito (Rafael et al., 2021).

No Gráfico 2 mostra o caráter de atendimento das internações por acidentes de trânsito em motociclistas no Estado do Maranhão.

Gráfico 3. Caráter dos atendimentos das internações por acidentes de trânsito em motociclistas no Estado do Maranhão, 2015-2024. (n = 23.310 casos)

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (2024).

Foi possível identificar que a maioria das internações ocorreu em caráter de urgência, totalizando 22.444 casos, o que corresponde a 96,3%. Esse dado está alinhado com a literatura nacional e internacional, que frequentemente aponta a urgência e gravidade dos atendimentos decorrentes de acidentes de trânsito, especialmente envolvendo motociclistas. Segundo estudos como o de Zannette, Waltrick e Monte (2019), as lesões provocadas por acidentes com motociclistas tendem a ser mais severas, resultando em alta demanda por atendimento emergencial. 

Além disso, Longuiniere et al. (2021) destacam que a rapidez no atendimento é fundamental para minimizar sequelas e reduzir a mortalidade associada a esses acidentes, o que reforça a predominância do caráter urgente nas internações. Lopes et al. (2022) também apontam que a alta incidência de acidentes com motociclistas está associada a fatores de risco como alta velocidade e conduta agressiva, que frequentemente resultam em traumas graves e necessidade imediata de cuidados hospitalares. 

Sendo assim, a prevalência expressiva de internações em caráter de urgência reflete a complexidade e o impacto significativo dos acidentes de trânsito envolvendo motociclistas na rede de saúde, evidenciando a necessidade de políticas públicas focadas na prevenção e na melhora do atendimento emergencial.

Tabela 2. Características das internações por acidentes de trânsito em motociclistas no Maranhão, 2015-2024.
(n = 23.310 casos)

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (2024).

A análise das internações por acidentes de trânsito envolvendo motociclistas no Maranhão, no período de 2015 a 2024, revela um impacto significativo sobre o sistema de saúde pública. O valor total gasto com serviços hospitalares relacionados a esses acidentes foi de R$11.040.304,01, com um valor médio por internação de R$591,18. A média de permanência hospitalar foi de 4,9 dias, o que indica a necessidade de cuidados intensivos e prolongados para muitos pacientes. Além disso, no período em questão foram registrados 324 óbitos em decorrência desses acidentes, o que resultou em uma taxa de mortalidade de 1,39. Esses números reforçam a gravidade das lesões causadas por acidentes motociclísticos e a relevância de estratégias de prevenção voltadas para esse tipo de ocorrência, sobretudo entre a população jovem e masculina, conforme mostrado na Tabela 2.

Tabela 3. Características das internações por acidentes de trânsito em motociclistas no Estado do Maranhão, 2015-2024. (n = 23.310 casos)

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (2024).

A análise por sexo revela que os homens representaram a maior parte dos custos hospitalares decorrentes de acidentes motociclísticos no Maranhão, com um valor total de R$ 8.801.013,09, um valor médio por internação de R$ 622,27, e uma média de permanência de 5,0 dias. Além disso, o número de óbitos masculinos foi de 273 casos, o que evidencia maior gravidade e letalidade nesse grupo. As mulheres, por sua vez, registraram R$2.239.290,92 em gastos hospitalares, com valor médio de R$495,30, média de 4,6 dias de internação e 51 óbitos no período, conforme mostra a tabela 3.

Quanto à faixa etária, os maiores custos hospitalares foram observados entre os jovens de 20 a 29 anos, com um total de R$3.770.802,55 e um valor médio por internação de R$604,60. Este grupo também registrou 87 óbitos e uma média de permanência de 4,8 dias. A segunda faixa com maior impacto financeiro foi a de 30 a 39 anos, com R$3.137.263,26, valor médio de R$607,73, e 86 óbitos, com média de permanência de 5,1 dias. Observa-se ainda que, embora os idosos (a partir de 70 anos) representem menores valores totais, apresentam taxas de mortalidade proporcionalmente significativas, com 14 óbitos tanto na faixa de 70 a 79 anos quanto na de 80 anos ou mais. Esses dados reforçam o impacto expressivo dos acidentes motociclísticos, sobretudo entre adultos jovens e do sexo masculino, sobre a rede hospitalar pública, evidenciando a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção e segurança no trânsito, especialmente para esse público-alvo, conforme mostra a tabela 3.

De forma semelhante, um estudo realizado em Alagoas evidenciou que a grande maioria dos óbitos eram homens representando 91,3% (n=1.617) dos casos, enquanto as mulheres representaram apenas 8,7% (n=153) das fatalidades. Quanto à faixa etária, observou-se que adultos jovens foram os mais acometidos pelos óbitos, com predominância na faixa de 20 a 29 anos, representando 31,2% (n=552) dos casos. Em seguida, a faixa etária de 30 a 39 anos respondeu por 24% (n=425) das mortes. Esse achado reforça a predominância masculina entre as vítimas de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas, o que está relacionado a fatores como maior exposição ao risco, comportamento de direção e uso mais frequente desse tipo de veículo por homens (Lessa et al., 2025). 

Corroborando com esses resultados, entre os óbitos registrados no Estado de São Paulo, no período de 2015 a 2020 a maior proporção ocorreu entre indivíduos do sexo masculino (88,1%), com idade entre 18-24 anos, e 67,52% dos casos se concentraram no grupo de adultos jovens de 18–39 anos (Souza et al., 2022).

O gráfico 3 mostra a distribuição dos casos segundos os 10 municípios com maior número de notificações.

Gráfico 3. Internações por acidentes de trânsito em motociclistas no Estado do Maranhão, segundo os dez primeiros municípios de maior ocorrência, 2015-2024. (n = 23.310 casos)

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (2024).

A análise dos dados evidencia que as internações por acidentes motociclísticos se concentram principalmente em municípios de maior densidade populacional e com grande fluxo viário. Pinheiro lidera o ranking, com o maior número de internações no período analisado, seguido por Imperatriz e Santa Inês, que também apresentaram expressiva quantidade de registros. Esses municípios juntos concentram uma parcela significativa das internações do estado, refletindo possivelmente a maior frota de motocicletas, o intenso tráfego urbano e fatores associados à vulnerabilidade no trânsito.

Os demais municípios que compõem os dez com maior número de casos incluem Balsas, Codó, São Luís, Barra do Corda, Zé Doca, Viana e São João do Patos, todos com volumes relevantes de internações no período. Esses dados indicam a necessidade de reforço nas ações de educação no trânsito, fiscalização e estruturação de políticas de prevenção de acidentes nessas localidades prioritárias.

Lessa et al. (2025) explicam que esse padrão de ocorrência nos grandes centros está associado ao elevado fluxo de motocicletas nessas regiões, seja pelo uso como principal meio de transporte ou pela forte presença do motofrete e serviços de entrega. Além disso, fatores como a infraestrutura viária, intensidade do tráfego e nível de fiscalização podem influenciar  a incidência de acidentes fatais.

O crescimento dos acidentes de trânsito nos grandes centros urbanos pode ser atribuído a diversos fatores inter-relacionados. A intensificação do tráfego de veículos automotores, especialmente em áreas metropolitanas, aumenta a complexidade da mobilidade urbana e eleva os riscos de colisões. Um aspecto relevante é o uso crescente da motocicleta como principal meio de transporte e ferramenta de trabalho, sobretudo por entregadores e mototaxistas, que precisam cumprir metas em prazos curtos. Essa pressão contribui para comportamentos de risco, como o desrespeito aos limites de velocidade, ultrapassagens indevidas e a condução prolongada sob condições de estresse e fadiga (Souza et al., 2022).

Além disso, muitos motociclistas enfrentam jornadas de trabalho extenuantes, o que reduz sua atenção e tempo de reação. A falta de experiência, comum entre condutores mais jovens, e a negligência quanto ao uso de equipamentos de proteção individual agravam ainda mais o cenário. Em vias com velocidade acima de 80 km/h, os acidentes tendem a ser mais graves e frequentemente fatais. Todos esses elementos colaboram para que as mortes de motociclistas representem uma parcela significativa dos óbitos por acidentes de trânsito nos contextos urbanos mais densamente povoados (Santos; Rocha; Silva, 2022).

4. CONCLUSÃO

A análise das internações por acidentes motociclísticos no estado do Maranhão, no período de 2015 a 2024, revelou a magnitude e a complexidade desse problema de saúde pública. Observou-se que os adultos jovens, especialmente homens entre 20 e 39 anos, representam o grupo mais afetado, tanto em número de internações quanto em custos hospitalares e óbitos. A maioria dos casos ocorreu em caráter de urgência, demandando recursos significativos do sistema de saúde.

Embora tenha havido uma tendência de redução dos acidentes e óbitos após 2019, os dados ainda indicam um cenário preocupante, principalmente nos municípios com maior densidade populacional e frota de motocicletas. Os altos custos hospitalares, somados à mortalidade expressiva, reforçam a necessidade de estratégias eficazes de prevenção, educação para o trânsito, fiscalização e investimentos em infraestrutura viária.

Portanto, este estudo destaca a urgência de políticas públicas integradas que contemplem ações voltadas à segurança no trânsito, com ênfase na proteção dos motociclistas. A adoção dessas medidas pode contribuir para a redução dos índices de acidentes, aliviar a sobrecarga sobre os serviços de saúde e preservar vidas, especialmente entre os grupos mais vulneráveis.

REFERÊNCIAS

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