EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF MENINGITIS IN BARREIRAS BAHIA BETWEEN 2007 AND 2021: GREATER INVOLVEMENT IN CHILDHOOD.
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8115231
Lawren Wirginia Pereira Dantas1
Hermínio José Wyllon Batista Ricardo2
Resumo
Objetivo: Definir o perfil epidemiológico dos pacientes internados com meningite na cidade de Barreiras-Bahia entre os anos 2007 e 2021. Métodos: Trata-se de um estudo epidemiológico, não experimental, de caráter descritivo-analítico, tipo coorte transversal, com método quantitativo em tempo retrospectivo em dados que compõem o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Resultados: Em Barreiras (Ba), de 2007 a 2021 foram confirmados 189 casos de meningites. O maior número absoluto de casos por ano foi em 2008 com 23 (1,69%). O sexo masculino foi o mais acometido com 116 (61,38%), apresentando significando estatística (p=0,00093). A raça parda lidera com 137 (72,49%). De acordo com a faixa etária a maior prevalência ocorreu em menores de 10 anos com 82 registros (43,39%). Em relação ao número de óbitos, a faixa etária que mais se destacou foi entre 20-39 anos com 9 (33,33%). Conclusão: Conclui-se que, apesar da maior parte dos casos evoluírem para alta, há uma porcentagem significativa de paciente que foram à óbito por meningite. Ressalta a necessidade de ações em saúde voltadas tanto para faixa etária mais acometida quanto para as demais, em função da rápida evolução da doença.
Palavras-chave: Epidemiologia. Meningite. Etiologia.
Abstract
Objective: To define the epidemiological profile of patients hospitalized with meningitis in the city of Barreiras-Bahia between the years 2007 and 2021. Methods: This is an epidemiological, non-experimental, descriptive-analytical, cross-sectional cohort study, with a quantitative method in retrospective time on data that make up the Information System of Notifiable Diseases (SINAN). Results: In Barreiras (Ba), from 2007 to 2021, 189 cases of meningitis were confirmed. The highest absolute number of cases per year was in 2008 with 23 (1.69%). Males were the most affected with 116 (61.38%), showing statistical significance (p=0.00093). The brown race leads with 137 (72.49%). According to the age group the highest prevalence occurred in children under 10 years old with 82 records (43.39%). Regarding the number of deaths, the age group that stood out most was between 20-39 years old with 9 (33.33%). Conclusion: It is concluded that, although most cases evolved to discharge, there is a significant percentage of patients who died from meningitis. This highlights the need for health actions aimed at the most affected age group as well as the others, due to the rapid evolution of the disease.
Keywords: Epidemiology. Meningitis. Etiology.
INTRODUÇÃO
Meningite é uma inflamação da membrana aracnóide, da pia-máter e do líquido cefalorraquidiano (LCR), o processo inflamatório se estende por todo o espaço subaracnóideo e da medula espinhal e compromete os ventrículos (TEIXEIRA AB, et al., 2018). As meningites possuem uma disseminação mundial, vista como um grande problema de saúde pública, devido a sua patogenicidade e infectividade (SECRETÁRIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2019).
Essa inflamação geralmente está associada à patógenos como: vírus, bactérias, fungos, parasitas e até causas não infecciosas, como medicamentos e doenças sistêmicas, que conseguem vencer as barreiras imunes do corpo humano, infiltram e instalam-se nas meninges do hospedeiro, ocasionando assim a infecção (ROGERIO LPW, et al., 2011).
Em se tratando de aspectos epidemiológicos, nota-se uma redução drástica na incidência de meningite nas últimas décadas devido ao advento da vacina contra a bactéria Haemophilus Influenzae conjugada do tipo B para crianças e lactentes no ano de 1990, vacina pneumocócica conjugada heptavalente nos anos 2000 e a vacina conjugada meningocócica tetravalente em 2005. Diminuindo assim a incidência de infecções em crianças e adolescentes e aumentado em adultos acima de 40 anos (BROUWER MC, et al., 2010).
No momento presente, a principal etiologia da meningite é a origem bacteriana por Streptococcus pneumoniae, responsável por 60% das meningites adquiridas da comunidade, sendo mais comum no período de outono e inverno (FITCH MT, et al., 2008). No entanto, vale ressaltar que a etiologia viral também é considerada um problema de saúde pública devido a sua morbidade, magnitude, capacidade de causar surtos e potencial gravidade de casos. A meningite faz parte da lista nacional de doenças de notificação compulsória, de acordo com a portaria n.5, de 21 de fevereiro de 2006 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).
O homem é o principal reservatório de importância epidemiológica. De modo geral, a principal forma de transmissão é pelas vias respiratórias, por contato com gotículas e secreções de nasofaringe ou por contato infectado com o doente. A transmissão fecal-oral é de grande importância em infecções virais. Dentre os principais fatores de risco destacam-se: Deficiência nutricional, imunossupressão, traumas do sistema nervoso central, infecções bacterianas, como encefalites e abscesso cerebrais também podem predispor ao surgimento da infecção (DIAS FCF, et al., 2017; ROMANELLI RM, 2002).
Quanto ao início dos sintomas elas podem ser divididas em aguda, quando os sintomas ocorrem em uma semana, subaguda de entre 1 e 4 semanas e, crônica, mais de quatro semanas. Podem apresentar sintomas parecidos com o de um resfriado comum, apresentando febre, náusea, cefaleia. Com a evolução da doença, novos sintomas podem surgir, tais como rigidez de nuca, confusão mental e sensibilidade à luz (PELTON, SI 2010).
Os exames diagnósticos incluem cultura de líquor, sangue ou soro, bacterioscopia direta do líquor, na suspeita de meningite bacteriana. Ademais, existem exames mais sofisticados como métodos quimiocitológicos, Contra – Imunoeletroforese Cruzada (CIE), aglutinação pelo látex e o RT-PCR (BRASIL, 2019). No entanto, o padrão ouro para o diagnóstico de meningite é a punção lombar, a qual será realizada o estudo do líquido cefalorraquidiano. Em situações de normalidade, o líquido é incolor, com coloração de água de rocha, em processos infecciosos, ocorre a turvação do líquido devido ao aumento de células infecciosas (GUIMARÃES MBG, et al, 2017).
Diante disso, se faz necessário alertar à população para os riscos da doença e a importância de prevenir e diagnosticar precocemente a meningite. Para isso, o presente estudo tem como objetivo identificar e descrever os aspectos epidemiológicos da meningite entre os anos de 2007 e 2021 na cidade de Barreiras, por meio da identificação dos tipos etiológicos mais prevalentes bem como, identificar qual apresenta maior letalidade; apresentar a distribuição por sexo, raça, faixa etária, evolução da doença e escolaridade dos doentes.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo epidemiológico, não experimental, de caráter descritivo-analítico, tipo coorte transversal, com método quantitativo em tempo retrospectivo em dados que compõem o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O local de estudo é a cidade de Barreiras – Bahia no período de janeiro de 2007 a dezembro de 2021. Trata-se de um município brasileiro no interior da Bahia, localizado na região nordeste do país. Tendo uma população estimada no ano de 2021 de 158.432 habitantes.
A população será composta por todos os pacientes internados na cidade de Barreiras – Bahia, com quadro clínico sugestivo de meningite, entre janeiro de 2007 e dezembro de 2021, que foram notificados no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A amostragem se deu por conveniência. Foram colhidas informações acerca do número de casos de meningite, sexo, raça, idade, etiologia, escolaridade e óbitos.
Foram incluídos na pesquisa todos os pacientes que tiveram o diagnóstico com meningite de acordo com a lista de morbidade CID-10 e ter sido internado na cidade de Barreiras – Bahia entre os anos de 2007 e 2021. Não houve exclusão dos sujeitos pois a amostra foi escolhida por conveniência.
Com a obtenção dos dados e de suas variáveis, estes foram submetidos a análises descritivas, como cálculo de proporção de prevalência por 10 mil habitantes, representando número de casos por ano, respeitando as seguintes fórmulas:
• Proporção de prevalência: Nº de casos por ano / População do município X 10.000
• Coeficiente de letalidade: Nº de óbitos / Nº casos X 1000
Os dados foram apresentados em forma de tabelas, utilizando o programa Microsoft Excel 2013. Para análise de significância foi utilizado o teste Qui-quadrado corrigido de Yates. Para os cálculos foi utilizado o programa livre OpenEpi. Para o coeficiente de incidência foi usado a relação por 10.000 habitantes da população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
RESULTADOS
O levantamento dos dados demográficos dos pacientes internados com meningite na cidade de Barreiras-Ba, permitiu conhecer a realidade da doença entre sexo, raça e idade neste município. Observa-se que no período analisado foram notificados 189 casos, sendo 116 homens e 73 mulheres, apresentando um percentual respectivo de 61,38% e 38,62%, conforme tabela 1. Quanto à raça, 137 (72,49%) eram pardos e 52 (27,51%) se declararam de outra raça. A distribuição de internações de acordo com a idade, demonstra que 82 (43,39%) casos correspondem aos menores 10 anos. Observa-se ainda que 56 (29,63%) casos equivale a faixa de idade de 20 a 39 anos e que 9 (4,76%) dos casos, acomete os maiores de 60 anos (Tabela 1).
Tabela 1 – Número absoluto (N) e frequência relativa (%) dos dados demográficos dos pacientes internados com meningite e notificados ao SINAN na cidade de Barreiras (2007 – 2021), n=189.
Fonte: Dantas, LW, et al., baseado em dados do DATASUS – Sistema de informação de agravos de notificação – SINAN.
Avaliando a incidência no período compreendido de 2007 a 2021, observa-se que no ano de 2008 registrou-se 23 casos, com coeficiente de incidência de 1,69 por 10.000 habitantes, sendo neste referido ano a maior incidência, conforme tabela 2. Em 2010 nota-se um aumento do número de casos comparado com o ano de 2009, apresentando 21 internações e com o coeficiente de incidência no valor de 1,50 por 10.000 habitantes. Incidência similar a 2010 foi identificada em 2015, com 21 casos com coeficiente de 1,41 por 10.000 habitantes. Notando uma diminuição dos internamentos após 2015, sendo o ano de 2021 o de menor incidência com o coeficiente de 0,06 por 10.000 habitantes (Tabela 2).
Tabela 2 – Incidência de internações anuais de meningite na cidade de Barreiras – Bahia (2007-2021).
Fonte: Dantas, LW, et al., baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Em relação à associação do evento final, 27 óbitos, sendo 16 (59,26%) do sexo masculino e 11 (40,74%) do sexo feminino. Havendo significância estatística no sexo masculino, quando comparado com os óbitos do sexo feminino (p=0,00093), podendo notar também o IC relevante, conforme tabela 3. Quanto à raça, os pardos lideram com 21 (77,78%), seguido de 6 (22,22%) em relação aos não pardos. A faixa etária com maior prevalência ocorreu entre 20 e 39 anos com 9 (33,33%), seguido dos menores de 10 anos. (Tabela 3).
Tabela 3 – Associação do evento final por sexo, raça, idade da meningite na cidade de Barreiras entre 2007 e 2021. Para o cálculo de P e do IC foi usado o teste Qui quadrado corrigido de Yates.
Fonte: Dantas, LW, et al., baseado em dados do DATASUS – Sistema de informação de agravos de notificação – SINAN.
O nível de óbitos por escolaridade também foi um fator importante a ser destacado, dentre os 27 óbitos, três eram analfabetos, dois tinham ensino médio completo, apresentando um percentual respectivo de 11,11% e 7,41%. No entanto, nove (33,33%) dos casos totais tiveram sua escolaridade ignorada. Observa-se ainda uma baixa prevalência quando se leva em consideração o ensino fundamental completo (3,70%) e o ensino médio incompleto (3,70%) (Tabela 4).
Tabela 4 – Óbitos por escolaridade por meningite na cidade de Barreiras – Ba no período de 2007 e 2021.
Fonte: Dantas, LW, et al., baseado em dados do DATASUS – Sistema de informação de agravos de notificação – SINAN
Levando em consideração as etiologias o maior número de registros foi de Meningite Bacteriana (MB) com 62 casos (32,80%), em segundo lugar de meningite não especificada (MNE) perfazendo o total de 29 (15,34%), Meningite viral em terceiro lugar com 25 casos confirmados (13,22%). No que diz respeito aos óbitos de cada etiologia no período de 2007 à 2021, a Meningite por Pneumococos (MP) obteve a maior prevalência, com um total de 8 casos (36,36%). Observa-se ainda que a Meningite Bacteriana representou 9,68% dos óbitos. Ademais, não foram encontrados óbitos por Meningite Meningocócica com Meningococcemia (MM+ MCC) e Meningite Tuberculosa (MTBC) (Tabela 5).
Tabela 5 – Óbitos por etiologia por meningite na cidade de Barreiras – Ba no período de 2007 e 2021.
Legenda: MM: Meningite Meningocócica; MM + MCC: Meningite Meningocócica C/ Meningococcemia; MTBC: Meningite Tuberculosa; MB: Meningite Bacteriana; MNE: Meningite Não Especificada; MV: Meningite Viral; MOE: Meningite De Outras Etiologias; MH: Meningite Por Haemófilus; MP: Meningite Por Pneumococos; IG: Ignorados.
Fonte: Dantas, LW, et al., baseado em dados do DATASUS – Sistema de informação de agravos de notificação – SINAN
DISCUSSÃO
A meningite é uma afecção infectocontagiosa endêmica no Brasil, de notificação compulsória, com predomínio de surtos epidêmicos em várias regiões do país. Possui uma elevada morbimortalidade e é um alvo de políticas sanitárias para seu controle (GUIMARÃES MGB, et al, 2017). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), ocorrem 1,2 milhões de casos por ano e mais de 135 mil mortes por meningite no mundo (PORTAL BRASIL, 2012). Apesar de sua importância sanitária e de suas repercussões sociais, são escassos os estudos acerca da patologia no Oeste Bahiano, mostrando, desta forma, a importância de estudos de epidemiologia da patologia na região.
De acordo com os dados epidemiológicos analisados, Barreiras possui 189 casos notificados de meningite no período de 2007 a 2021, representando cerca de 1,29% dos casos em relação à Bahia (SINAN, 2023). Para Cruz JVNS, et al. (2020) uma condição a ser analisada nessa questão é que uma baixa incidência na região pode ser consequência de sua menor concentração dos serviços de saúde, além de ser menos populosa do que outras sub-regiões apresentadas. Em adição, vale ressaltar que as informações registradas dependem de notificação de sistema apropriados para tal e estão disponíveis em áreas mais urbanizadas, havendo assim uma subnotificação em municípios menores.
No presente estudo, mostra-se que o cenário epidemiológico da meningite em Barreiras-Bahia parece oscilar muito no que tange às médias de casos por determinados períodos. Observa-se que os casos nos anos de 2017, 2018 e 2019 foram bem próximos, apenas no ano de 2020 (seis casos) foi observado uma queda de 37% em relação ao ano anterior. Essa queda no número é explicada pela presença da pandemia da Covid-19, onde houve alta subnotificação dos casos e demanda no sistema de saúde (AGUIAR TS, et al., 2022).
Em relação ao sexo e a raça dos indivíduos acometidos na cidade de Barreiras, o sexo masculino e os pardos apresentaram um predomínio em cerca de 61,38% e 72,49% respectivamente da população atingida. Quanto à evolução da doença em relação aos óbitos, os homens e os pardos foram a maioria com 59,26% e 77,78%. Segundo Moraes e Barata (2005), a predominância de homens em relação a meningite se justifica a uma maior exposição dos jovens e adultos desse sexo a situações de vulnerabilidade, como a exposição a trabalhos de riscos, nas quais as condições precárias de trabalhos aumentam a chances e propagação do patógeno.
Adicionado a isso, tem-se a conformação de uma sociedade patriarcal, na qual o homem é o provedor econômico da família estando assim mais exposto aos agentes infectocontagiosos, somado à uma resistência em procurar ambiente hospitalar e dificuldade de adesão às condutas terapêuticas (NUNES ALS, et al., 2022). Resultados que estão de acordo com Morais JR, et al. (2017) que identificou 60,2% dos casos atribuídos ao sexo masculino e 62,2% à raça parda, na cidade de Salvador, no ano de 2016.
Considerando a faixa etária, a maior prevalência ocorreu em menores de 10 anos, com 82 casos (43,39%), em segundo lugar 20 e 39 anos com 56 casos (13,76%), seguidos de 10-19 anos com 26 casos (13,76%). O número de casos prevalentes na população pediátrica pode estar relacionado com a queda da proteção conferida pelos anticorpos maternos (CRUZ JVNS, et al., 2020). Ademais, as mesmas permanecem em ambientes isolados e apresentam certa imaturidade do sistema nervoso central, o que facilita ainda mais a transmissão da doença (PIMENTEL LG, et al., 2020). Somado a isso, a atividade contra bactérias do sistema imune é deficiente entre os 6 e 24 meses de idade, facilitando a ocorrência de quadros infecciosos invasivos em menores de 2 anos (GONÇALVES PCZ, et al., 2014).
Dos casos relatados no Brasil as crianças são as mais afetadas pela meningite, porém as faixas etárias variam de acordo com cada estudo. Pimentel LG, et al. (2020) concluiu que a faixa etária acometida durante o período estudado foi de crianças menores de um ano (38%) entre o período de 2013 a 2018. Ademais, Cruz JVNS, et al. (2020) observou, no período de 2007 a 2018, que a faixa etária, mais acometida estava nas duas primeiras décadas de vida (0-19 anos) com 69% dos casos e a tendência foi a diminuição da incidência ao avançar da idade.
Em contrapartida, dois estudos tiveram resultados diferentes da análise em questão. De acordo com Nunes ALS, et al. (2022) 33,21% das notificações tinham entre 20-39 anos e 14,48% tinham entre 40 a 59 anos. E para Krilow C, et al. (2022) adultos jovens de 20-40 anos, somaram 50% das notificações. Na maioria dos trabalhos analisados, os casos de inflamação das meninges em pacientes acima de 60 anos são relativamente baixos, cerca de 3,4% dos casos, assim como visto em Morais C. (2015).
Entretanto, ao levar em consideração o evento final, a faixa etária de 20-39 anos, teve uma maior prevalência, com cerca de 33,33%. Leva-se em consideração de que este grupo não está com a imunidade efetiva, devido ao fato de a ocorrência da vacina ocorrer na infância (RODRIGUES BEM, 2015). Ademais, essa faixa está mais disposta a aglomerações sociais e são economicamente mais ativas, sendo mais suscetíveis a essas infecções (BRITO RCV, et al., 2019).
Ao considerar a prevalência das etiologias, dos 189 casos de meningite 62 (32,8%) eram de Meningite Bacteriana (MB) e 25 casos de Meningite Viral (MV). Vasconcelos SS, et al. (2011) também constataram isto em um estudo no Rio de
Janeiro, onde 60,6% dos casos pesquisados tratavam-se de MB. No entanto, ao levar em consideração o número de óbitos, observou-se um maior percentual de meningite pneumocócica, tendo 22 casos e 8 óbitos.
O pneumococo (Streptococcus pneumoniae) apresenta uma elevada mortalidade hospitalar e complicações intracranianas, dentre elas: hemorragia intracraniana e edema cerebral, sendo por esse motivo, umas das etiologias mais graves de meningite (BARICHELLO T, et al., 2012). No estudo Dazzi MC, et al. (2014) a prevalência da meningite viral foi correspondente a 42% seguida pela etiologia bacteriana. Outro estudo realizado em 2014 pela vigilância epidemiológica de Porto Alegre (RS) obteve valores um pouco maiores, a qual seu estudo mostrou que a etiologia viral foi prevalente em 47% dos casos, indo em oposição com os dados encontrados neste estudo. Para Moraes JC, et al. (2015) a doença de etiologia viral é mais prevalente pois os vírus se espalham com maior facilidade por via respiratória e contato, tendo um fator de contágio maior que as bactérias.
O presente estudo não encontrou dados na literatura que reforçassem os dados sobre a relação de óbito com a taxa de escolaridade. No entanto, deve-se ressaltar, que quase metade dos óbitos tiveram sua escolaridade ignorada.
Entre o período de 2007 e 2021, observou-se 189 casos de meningite e 27 óbitos. Nota-se que a letalidade (14,28%) é muito parecida com o estudo realizado em Vitória da Conquista (BA), entre o período de 2008 e 2015, com uma taxa de letalidade de 17,2% (SILVA AFT, et at., 2021). No estudo de Fontes FLL, et al. (2019) realizado no nordeste brasileiro, no estado do Piauí entre os anos 2007 a 2017 a taxa de letalidade foi de 7,5% para 255 dos casos estudados, tendo um percentual de cura de 87,52%.
Para Tauil MC, et al. (2014), as taxas de mortalidade no Brasil ainda permanecem altas, sendo a sepse seu desfecho desfavorável mais associado. Ademais, há estudos que o início da antibioticoterapia diminui a mortalidade da doença, ao mesmo tempo que a cobertura inapropriada aumentada a mortalidade (BRANCO RG, et al., 2007).
A estratégia de vacinação é atualmente o melhor controle para a Meningite Meningocócica, visto à redução dos casos da doença. Ressalta-se um aumento da vigilância epidemiológica, com avaliação dos sorogrupos das cepas circulantes, com o intuito de reforçar a vacinação. Outrossim, é de fundamental importância, o preenchimento correto das fichas de notificação para uma melhor análise e orientação das políticas de saúde pública (AGUIAR TS, et al., 2022).
No tocante a isso, deve-se levar em consideração o uso correto, precoce e discriminado da antibioticoterapia, com o intuito de otimizar as medidas de tratamento e suporte, a fim de prevenir possíveis complicações. Aumentar insumos para diagnósticos precoces, bem como, treinamento dos profissionais de saúde, não só para tratamento, mas, para o correto preenchimento das fichas de notificação (RODRIGUES BEM, et al., 2015).
CONCLUSÃO
De acordo com os dados obtidos no DATASUS / SINAN, entende-se que o perfil epidemiológico da meningite na cidade de Barreiras-Bahia, entre os anos de 2007-2021, mostrou uma maior incidência no sexo masculino, havendo significância estatística no sexo masculino, quando comparado com os óbitos do sexo feminino (p=0,00093), nos pardos, tornando-se mais prevalente na faixa etária pediatria (menores de 10 anos), tendo o ano de 2008 com os maiores percentuais. Sendo uma população a qual possui uma queda da proteção conferida pelos anticorpos maternos e as mesmas permanecem em ambientes isolados e apresentam certa imaturidade do sistema nervoso central, o que facilita ainda mais a transmissão da doença. Além disso, observou-se que meningite bacteriana foi a etiologia mais encontrada, e o pneumococo apresentou a maior mortalidade. A taxa de letalidade do estudo em questão foi de 14,28%. Ademais, vale ressaltar, que a faixa etária com maior incidência de óbitos foi de 20-39 anos. Somado a isso, entende-se que devem-se ser tomadas medidas de necessárias para a prevenção da patologia, além de realizar o tratamento adequado em casos confirmados ou suspeitos com o objetivo de evitar possíveis complicações.
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