PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE GESTANTES INFECTADAS PELO HIV EM ARAGUAÍNA/TO NO PERÍODO DE 2013 A 2023/1

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PREGNANT WOMEN INFECTED BY HIV IN ARAGUAÍNA/TO FROM 2013 TO 2023/1

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10042157


Thailane Oliveira Silva¹
Samara Pereira Alves ²
Karina Maria Mesquita da Silva³
Miguel Emilio Sarmiento Gener4


RESUMO

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) tem como alvo a destruição do sistema imunológico do paciente, tornando-o acessível a contaminação por doenças e infecções oportunistas. A infecção pelo HIV vem se desenrolando em uma crescente onda na população feminina, e quando ocorre na gestação ocasiona uma série de esforços para o tratamento da paciente, com o intuito de evitar uma contaminação vertical. A presente pesquisa apresenta um estudo da análise epidemiológica de gestantes HIV-positivas, do período de janeiro de 2013 à agosto de 2023, com o propósito de mostrar quais populações são mais suscetíveis à ocorrência da infecção pelo HIV. Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, onde os dados foram obtidos na Vigilância Epidemiológica, e selecionado através de um Instrumento de Coleta de Dados, para análise e organização dos mesmos. Dentre os anos estudados, teve um total de 88 gestantes HIV-positivas, com idade prevalente de 21 a 30 anos (48%), da raça/cor sendo parda (87,5%), com ensino médio completo (41,67%) e o modo de transmissão por relação sexual com homens (88%). Portanto, nota-se com a análise dos dados a necessidade de educação em saúde voltada para esse público alvo.

Palavras-chave: TARV. HIV-positivas. Transmissão vertical.

1. INTRODUÇÃO

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) tem como foco principal atacar o sistema imunológico, deixando o indivíduo propício a adquirir doenças oportunistas, surgindo assim, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, conhecida como Aids ou Sida (BRASIL, 2017).

Conforme a Portaria nº 993, do ano de 2000, é obrigatória a Notificação Compulsória no SINAN da infecção pelo HIV em gestantes e crianças expostas ao risco de transmissão vertical, consequentemente, a subnotificação desses casos poderá comprometer a distribuição contínua de medicamentos, e também, acarretar em diminuição das ações de vigilâncias prioritárias para a população-alvo (BRASIL, 2022a).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a gestante realize no mínimo 6 (seis) consultas de pré-natal, intercalando com consultas de Enfermagem e Médica, e deve-se ter mais atenção em gestantes de alto risco (BRASIL, 2012). Contim CLV et al (2015) refere que a descoberta precoce da sorologia do HIV, durante o pré-natal, é de suma importância, visto que é possível realizar a quimioprofilaxia na hora certa para a prevenção da transmissão vertical. Segundo o Ministério da Saúde (2014) a transmissão vertical é quando a criança é infectada durante a gestação, parto e pós-parto (puerpério).

De acordo com Brasil (2017), o modelo de atenção às pessoas vivendo com HIV/aids (PVHIV) juntamente com a Atenção Básica buscam promover uma forma de vida mais saudável, avaliação e identificação de possíveis danos crônico-degenerativos, como a hipertensão arterial, diabetes mellitus, osteoporose e outros. Por isso, a gestante HIV-positiva e sua família devem ser acolhidas de forma humanizada, sem sofrerem nenhuma discriminação, com empatia e cooperando efetivamente no autocuidado, buscando assim a adesão do tratamento e a prevenção da transmissão do vírus, contribuindo para a diminuição da possibilidade de evolução para a AIDS, e até mesmo ao óbito.

As gestantes HIV-positivas apresentam, durante o diagnóstico, sentimentos aflorados, como sensações de tristeza, sofrimento, culpa e outros, e ainda sentem-se inconformadas, perdidas, indignadas e inclusive decepcionadas com a apatia de alguns profissionais de saúde ao anunciar o diagnóstico positivo. Por isso, é indispensável enfatizar a importância deste profissional atuar de forma empática frente ao diagnóstico e o enfrentamento dessa nova vivência, reduzindo as complicações psicológicas e emocionais tanto da paciente, quanto da família, diante do resultado positivo do HIV (CONTIM CLV et al., 2015).

O enfermeiro tem um papel bastante importante na identificação e orientação da paciente, já que opera como educador em saúde, desempenha consultas de enfermagem e pré-natal, solicitar e avaliar exames de rotina dentro do protocolo da unidade, incumbindo-se de que as pacientes realizem o tratamento adequado com os antirretrovirais, como também, trabalhando na prevenção da transmissão vertical (DA SILVA, 2021).

Com isso, de acordo com Lima et al. (2014), a criação de pesquisas epidemiológicas expõem a realidade local, e facilita para os gestores e profissionais incluídos, como a equipe de enfermagem, um planejamento e avaliação da questão em foco, e consequentemente, implementando as ações preventivas focadas no HIV. O aperfeiçoamento das informações colhidas por esses bancos de dados, concomitantemente com a capacitação e aprimoramento dos profissionais de saúde que o sustentam, são benéficas para uma avaliação mais apropriada para a prevenção da transmissão do HIV. Portanto, diante do exposto, objetivou-se analisar e descrever os dados clínicos e epidemiológicos de gestantes HIV-positivas, a conclusão da gestação, como também, identificar se houve transmissão vertical.

A questão problema do atual estudo é se o fornecimento de dados epidemiológicos de gestantes com HIV poderá melhorar a qualidade na assistência a esse público, e consequentemente, a ampliação da adesão ao tratamento. O objetivo desta pesquisa é realizar uma investigação sobre o perfil epidemiológico das gestantes contaminadas pelo HIV, atendidas no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids ou Sida) é causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), que surge após um intervalo prolongado de incubação do vírus. A Aids, porém, não é uma doença, e sim uma síndrome, já que apresenta uma série de sinais e sintomas que não refere-se a apenas uma doença. O vírus danifica o sistema imunológico convertendo-o para deficiente, por isso a Aids é a síndrome da imunodeficiência, e é adquirida devido resultar-se da ação de um agente estranho ao organismo humano (BRASIL, 2017).

A infecção pelo HIV e a sua manifestação clínica em fase avançada, a AIDS, em consequência de seu caráter pandêmico e sua transcendência, representam, ainda, um grande problema da saúde pública. Contudo, o curso natural dessa infecção vem sendo modificada substancialmente, através da terapia antirretroviral (TARV), que teve início no Brasil em 1996, e em 2013 com o tratamento para todas as pessoas com HIV, sem levar em conta a carga viral e que consequentemente, ampliou a sobrevida das mesmas, por intermédio do restabelecimento das funções do sistema imunológico e da diminuição de doenças secundárias (BRASIL, 2022b).

O HIV- tipo 1 (Vírus da Imunodeficiência Humana) é um retrovírus do genoma RNA, pertencente à família Retroviridae (retrovírus) e da subfamília do gênero Lentivirus da ordem do Orthoretrovirinae, essa classificação do vírus foi de acordo com o Comitê Internacional de taxonomia do vírus (ICTV). A principal característica desse vírus é a replicação viral complexa integrando seu provírus ao DNA da célula, deprimindo os linfócitos T e linfócitos CD4 (Helper), ou seja, age destruindo as células de defesa humana, ocasionando alterações imunológicas, tal vírus oportunista faz com que o paciente desenvolva a manifestação clínica avançada, a AIDS (Imunodeficiência Adquirida). Ao contrair esse vírus, o paciente tem suas células doentes pelo resto de sua vida, pois ainda não existe uma cura. (ICTV, 2019).

A infecção pelo HIV acontece mediante o contato direto com fluidos corporais infectados, como o sangue (abrange cerca de 1.000 a 100.000 vírus infecciosos por mililitro (ml)) e o sêmen (por volta de 10 a 50 vírus/ml), visto que são as vias de eliminação mais importantes. Podem, inclusive, serem eliminados por meio da secreção vaginal e retal, líquido pré-seminal e pelo leite materno. A saliva, no entanto, possui menos de 1 vírus/ml, por isso, a contaminação não ocorre pelo beijo. O vírus do HIV encontra-se no interior das células desses fluidos, em especial nos macrófagos (TORTORA, FUNKE e CASE, 2017; CDC, 2021).

A transmissão ocorre quando esses fluidos entram em contato com um tecido danificado ou membrana mucosa, como a da vagina, reto, pênis e boca, ou mesmo serem injetados diretamente na corrente sanguínea, através de uma seringa ou agulha. Deste modo, as vias de transmissão do HIV incluem o contato sexual intimo (vaginal e anal) desprotegidos (sem uso de preservativo), agulhas contaminadas, transfusão sanguínea, transplante de órgãos, via transplacentária, inseminação artificial e leite materno (CDC, 2021; TORTORA, FUNKE e CASE, 2017).

O sexo anal compreende a forma mais perigosa de transmitir ou contrair o HIV, já que o revestimento do reto é mais fino, e consequentemente, mais suscetível à contaminação por organismos patogênicos. A mulher tem uma maior probabilidade de contrair o vírus do que o homem durante o sexo vaginal, já que o revestimento da vagina e do colo do útero é mais delicado, e o HIV consegue penetrar as mucosas. Porém, no homem, o vírus pode adentrar no corpo por meio da uretra, sendo levado pelos fluidos vaginal e sangue. Destaca-se que a existência de lesões eleva as chances de contaminação, seja no sexo anal ou vaginal, e não deve-se descartar a rara trasmissão que acontece pelo sexo orogenital. Deste modo, a relação sexual protegida (uso de preservativo) trará maior chance de prevenção contra o HIV (TORTORA, FUNKE e CASE, 2017; CDC, 2022; PAIM e ALMEIDA-FILHO, 2022).

O risco da transmissão vertical (TV) é de 15% a 45% quando não se faz um adequado planejamento e seguimento de prevenção. Destaca-se que há diferentes fatores que influenciam na transmissão vertical, dentre eles está a realização da consulta de pré-natal tardia, não-comparecimento no mínimo de consultas recomendadas (mínimo de 6 consultas de pré-natal), e ausência na realização da profilaxia no decorrer da gestação e no parto (BRASIL, 2022c; SIQUEIRA et al., 2021).

Além destes fatores que influem na possibilidade da TV, existem os fatores virais, como a carga viral elevada, genótipo e fenótipo viral, condições obstétricas, como o tempo de duração da ruptura das membranas amnióticas, existência de hemorragia intraparto, existência de coinfecções de ISTs, via de parto, o estado nutricional da mãe, e também, prematuridade do recém-nascido (RN) e baixo peso ao nascer, já que o RN pré-termo, apresenta sistema imunológico imaturo (BRASIL, 2013a).

Entre 2007 até junho de 2022, teve 434.803 casos de HIV no Brasil notificados no Sinan, sendo que 42,3% (183.901) foram na região Sudeste, 20,7% (89.988) na região Nordeste, 19,4% (84.242) na região Sul, 9,9% (42.957) na região Norte e 7,75 (33.715) na região Centro-Oeste. E em 2021, teve 40.880 casos de infecção pelo HIV notificados no Sinan, no qual teve 34,1% (13.926) no Sudeste, 26,7% (10.896) no Nordeste, 16,9% (6.899) no Sul, 13,4% (5.494) no Norte e 8,9% (3.665) no Centro-Oeste (BRASIL, 2022a).

Com relação às gestantes parturientes/puérperas, entre o ano de 2000 e junho de 2022, foram notificadas 149.591 infectadas pelo HIV no Brasil, entre estas, 37,1% são da região Sudeste, 29,1% da região Sul, 18,9% da região Nordeste, 9,1% da região Norte e 5,8% da região Centro-Oeste. Somente no ano de 2021 8.323 gestantes foram notificadas, e destes, 12,9% são da região Norte. De 2011 para 2019 a taxa de gestantes infectadas com HIV teve aumento de 30,8% em todo o país, sendo que nas regiões Norte e Nordeste houve aumento de 100,9% e 74,1%, respectivamente, nas taxas de detecção de gestantes com HIV (BRASIL, 2022a).

A ocasião da detecção laboratorial da infecção pelo HIV nas gestantes, é de extrema importância, para que as normas de prevenção sejam aplicadas de forma correta e no tempo certo, para assim evitar a transmissão vertical. Em 2021 57,4% das gestantes HIV-positivas realizaram o diagnóstico antes do início do pré-natal (BRASIL, 2022a).

É importante que logo após a coleta de exames da gestante, e que seja comprovada o resultado positivo LT-CD4+ E CV, ainda no pré – natal seja iniciado o tratamento com a TARV, dessa forma prevenindo a transmissão vertical (TV), de modo geral aquelas gestantes que iniciaram o pré-natal tarde sem qualquer acompanhamento, nesses casos principalmente elas podem ter a carga viral suprimida, reduzindo de 30% para menos 1%, de forma eficaz, o risco de transmissão vertical, sendo inferior a 50 cópias/ml perto do parto com o uso da TARV (BRASIL, 2018a).

Conforme o esquema da TARV em adultos inicialmente no Brasil, são utilizados três dos tipos de combinações antirretrovirais dois são da classe dos (ITRN) são os medicamentos lamivudina (3TC) + tenofovir (TDF) combinados com o da classe do (ITRNN) o efavirenz (EFV), pode também ser associado a algum antirretroviral das classes (IP) ou (INI). Na gestante é um esquema combinado de zidovudina (AZT)+ lamivudina (3TC) pertencentes à classe dos (ITRN) e combinados com a nevirapina (NVP) da classe dos (ITRNN) (BRASIL, 2018a).

São vários os fatores que fazem com que a gestante soropositivo não esteja procurando o tratamento antirretroviral (TARV) entre eles a falta de conhecimento da doença, descoberta tardia no período gestacional, moradia em zona rural difícil acesso. A falta de estrutura nas estratégias assistenciais de qualidade no pré-natal, falta capacitação profissional para o acolhimento humanizado desde o pré natal, parto e puerpério pois ainda não tem a devida preparação para o aconselhamento e também no pré e pós teste. (LIMA e tal., 2017). .

A abordagem no primeiro trimestre do pré-natal é vital para a execução de ações que envolva a promoção à saúde e prevenção materno-infantil, pois é o ideal para se obter êxito no campo da saúde, E então o profissional de saúde é peça fundamental nesse período com cuidados humanizados, adoção de práticas e atitudes seguras (SANTOS e OLIVEIRA, 2020). Portanto pode haver redução na taxa de valores em níveis de 1% a 2% com ações de intervenção, tais medidas preconizadas pelo Ministério da Saúde com o número de casos (GOUVÊA, 2015).

Há uma grande importância na promoção e prevenção da saúde das gestantes, puérperas e nutrizes portadoras do HIV, pois necessitam de um apoio familiar e da equipe multidisciplinar sendo essencial esse suporte com obtenção refletida na qualidade de vida desde o início do pré-natal, no parto propriamente dito e também no puerpério (LIMA et al., 2017).

3. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo e quali-quantitativo, cuja população da pesquisa constituíram-se de gestantes portadoras de HIV que foram diagnosticadas no município de Araguaína, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

O estudo abrangeu os anos citados anteriormente, incluindo todas as gestantes que foram diagnosticadas nas unidades de saúde de Araguaína/TO. O critério de inclusão constituiu-se dos dados das gestantes HIV-positivas, presentes no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) da Secretaria de Saúde de Araguaína, do período de janeiro de 2013 a agosto de 2023. Já os critérios de exclusão foram as gestantes infectadas pelo HIV que foram diagnosticadas antes e após o período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

Os dados epidemiológicos das gestantes com HIV foram disponibilizados pela Vigilância Epidemiológica (VE) através dos dados do SINAN, onde foi feito uma solicitação através de um Ofício, que foi entregue na Secretaria de Saúde de Araguaína/TO. Após o fato, a Vigilância Epidemiológica (VE) entrou em contato com as autoras, por meio do telefone e e-mail que estavam anexados no Ofício, para ceder a visualização dos dados requeridos, por intermédio de um link.

A coleta de dados foi realizada durante o período de agosto a setembro de 2023. Porém, foi preciso um Instrumento de coleta de dados usando um programa da Microsoft Excel para confeccionar Tabelas e Gráficos, embasado na Ficha de Notificação Compulsória do HIV em gestantes, para assim, nortear os dados obtidos, com o objetivo principal de selecionar, filtrar, organizar os dados de acordo com a hipótese a ser analisada.

Os dados epidemiológicos das gestantes HIV-positivas foram: faixa etária, grau de instrução, raça/cor autodeclarada, local de residência, modos de transmissão do HIV, e os tipos de testagem para detecção da infecção do HIV nas gestantes.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dados para a pesquisa foram disponibilizados pela Secretaria de Vigilância Epidemiológica de Araguaína, e após a coleta, foi realizado a tabulação e análise dos mesmos para melhor definir o perfil clínico e epidemiológico das gestantes atendidas no município de Araguaína/TO no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

Como pode ser observado no Gráfico 1, no ano de 2012 foi notificado somente 3 casos, já no ano de 2013 não houve notificação de nenhum caso, o que poderá ser decorrente de uma possível subnotificação. No ano de 2014 teve 4 casos, e no ano de 2015 teve 11 casos notificados, ficando evidente um considerável aumento, em relação ao ano anterior. Nos anos de 2016 e 2017 foram registrados em ambos 8 casos, já no ano de 2018 houve 9 casos constantes. Entretanto, em 2019 houve 11 casos, e em 2020 houve um total de 18 casos notificados, sendo o ano com maior número de casos. Ainda, nos anos de 2021 e 2022 foram registrados 7 casos entre os dois anos. Até agosto de 2023 foram notificados 3 casos, totalizando entre os anos citados, anteriormente, cerca de 88 casos notificados na Vigilância Epidemiológica de Araguaína.

Gráfico 1 – Quantitativo deNotificação de casos de HIV em gestantes no município de Araguaína, de acordo com o ano.

Fonte: Dados coletados pelas autoras (2023) na VE.

*valores aproximados pelo Excel.

Estudo realizado por Lopes et al., (2023) identificou uma redução significativa de casos notificados durante o período da pandemia de COVID-19, e relataram que a diminuição da taxa de detecção de HIV em gestantes pode está relacionada sobre a consequência da pandemia na sobrecarga das unidades de saúde interferindo negativamente os serviços de detecção de HIV, pré-natal e a correta continuidade do tratamento, resultando em mulheres e gestantes mais vulneráveis às possíveis consequências. Isso poderá explicar a divergência de notificação entre os anos de 2020 a 2022.

Aproximadamente 4000 jovens mulheres com idade entre 15 a 24 anos foram infectadas por HIV semanalmente no mundo em 2022 (UNAIDS, 2022). No Brasil jovens de 15 a 24 anos representam cerca de 19,9% e 25,2% dos casos de infecção por HIV, no sexo feminino e masculino, respectivamente, diante disso, fica evidente a importancia e a necessidade de ampliação de políticas públicas voltadas para essa população alvo (BRASIL, 2022a).

Além disso, em 2021 ocorreu novas infecções de HIV em mulheres de 15 a 34 anos, que representou 45,6% dos casos registrados neste ano, é sabido que mulheres nessa faixa etária estão dentro do período reprodutivo, tornando importante o planejamento reprodutivo, a realização de testes de detecção precoce do HIV, e subsequentemente o início da TARV, com o propósito de impedir a transmissão vertical do vírus (BRASIL, 2022a). As faixas etárias prevalentes do HIV estão dispostas no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Gráfico do quantitativo em porcentagem da faixa etária de maior prevalência do HIV em gestantes no município de Araguaína, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

Fonte: Dados coletados pelas autoras (2023) na VE.

*valores aproximados pelo Excel.

Na Gráfico 2 é observável que a faixa etária com menor número de casos é a de 11 a 20 anos, com 6 casos, e a faixa etária de 21 a 30 anos segue sendo a com maior número, com 12 casos registrados, e a de 31 a 40 anos com 7 casos, de acordo com os dados disponibilizados pela Secretaria de Vigilância Epidemiológica de Araguaína – Tocantins.

Ainda, diante do Gráfico 2 é possível verificar que a faixa etária de 21 a 30 anos de idade é mais prevalente em casos de HIV em gestantes, possuindo 48% dos casos. A faixa etária de 31 a 40 anos segue sendo a segunda com mais casos, com 28%, e a faixa etária de 11 a 20 anos detendo o menor número de casos, com 24%.

Teixeira et al. (2020) observaram que a faixa etária com maior prevalência de contaminação por HIV foi a de 20 a 29 anos (52,2%), logo após a de 30 a 39 anos (24,5%), também observando uma quantidade considerável de casos na faixa etária de 15 a 19 anos (20,6%). Do mesmo modo Campos et al. (2020) observou que as mulheres da faixa etária de 21 a 30 anos foi com maior número de casos (57,3%), seguido das de faixa etária de 31 a 40 anos (28,2%) e as de 18 a 20 anos (12,6%).

A adolescência é uma fase da vida que é cheia de grandes transformações, seja na parte psíquica, biológica e/ou social, e é justamente nessa fase que ocorre o início precoce da vida sexual, e este vai está possivelmente mais vulnerável para a contaminação por HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, pois podem fazer uso incorreto de preservativos, uso de drogas ilícitas e álcool (BRASIL, 2013b).

Ademais, as mulheres e meninas são mais vulneráveis à transmissão do HIV em decorrência do assentimento da sociedade em relação a violência contra a mulher, à fatores econômicos, sociais, culturais, biológicos, legais, e a relação de poder desregulada entre os gêneros (DUARTE et al., 2014).

Acerca do grau de instrução, encontram-se os seguintes níveis de escolaridade: ensino fundamental completo e incompleto, ensino médio completo e incompleto, ensino superior, e ignorado. A maior parte das gestantes possuía o ensino médio completo (41,67%), seguido de ensino fundamental incompleto (20,83%) e ensino superior completo (20,83%) com a mesma quantidade. Observou-se também que houve parte ignorada (4,17%) das fichas de notificação em relação ao grau de escolaridade das gestantes infectadas, conforme os dados constantes no gráfico 3.

Gráfico 3 – Gráfico do quantitativo do Grau de Instrução das gestantes HIV-positivas atendidas no município de Araguaína, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

Fonte: Dados coletados pelas autoras na VE em 2023. Legenda: EFI (ensino fundamental incompleto), EFC (ensino fundamental completo), EMI (ensino médio incompleto), EMC (ensino médio completo), ESI (ensino superior incompleto), ESC (ensino superior completo), NI (não informado/ignorado).

Dos Santos et al. (2019) identificou um predomínio da contaminação por HIV em mulheres com baixo grau de escolaridade, apresentando o ensino fundamental incompleto com 48,8% de prevalência, e o ensino médio completo com 15,5% de casos registrados. Esses dois níveis de escolaridade também foram identificados no presente estudo, sendo que o ensino fundamental incompleto e o ensino superior completo com o mesmo percentual, sendo de 20,83% dos casos, e o ensino médio completo com maior número de casos registrados, com 41,67%.

O ensino fundamental incompleto também foi identificado apresentando o maior número de casos registrados de gestantes infectadas, com 25,53% do total de casos do estudo apresentado por Paes et al. (2017). Distintivamente, Lima et al. (2017) analisou que o ensino superior completo apresentou o maior percentual de casos registrados (69,2%) entre as gestantes HIV positivas estudadas.

Em 2021 foram registradas 8.323 gestantes com infecção do HIV no Brasil, sendo que destas, cerca de 1.073 eram da região norte, e com relação à escolaridade, foi identificado um percentual de 25,2% de ignorada, o que prejudica bastante o estudo dessa variável (BRASIL, 2022a).

De acordo com Brasil (2022a) a maior quantidade (1028) de gestantes portadoras do HIV em 2022 tinham ensino médio completo, seguida das que possuíam ensino fundamental incompleto (845), e depois as que tinham ensino médio incompleto (537). Por volta de 416 gestantes infectadas possuíam ensino fundamental completo, e cerca de 136 tinham ensino superior completo, o que demonstra uma tendência com o grau de instrução das gestantes analisadas pelo presente estudo.

A cor autodeclarada em 87,5% das notificações registradas das gestantes foi a parda, sendo que as raças preta, branca e amarela fixaram com percentual de 4,16% nas três (Tabela 1).

Tabela 1 – Percentual da raça/cor autodeclarada das gestantes HIV positivas atendidas no município de Araguaína, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

Raça/Cor
AnoBrancaPretaAmarelaParda
2013
2014100,00%
2015
201633,33%66,66%
2017100,00%
2018100,00%
2019100,00%
202012,50%87,50%
202150,00%50,00%
2022100,00%
2023100,00%
Geral4,00%4,00%4,00%88,00%

Fonte: Dados coletados pelas autoras na VE em 2023.

*Valores aproximados pelo Excel.

Teixeira et al. (2020) em sua pesquisa identificou a raça/cor com maior predomínio a Parda (75,1%), semelhantemente com o presente estudo, contudo, encontrando mais cinco raças, sendo a branca e preta com mesmo percentual (7,5%), a amarela (0,8%) e a indígena (1,2%), visto que essa última não foi autodeclarada pelas gestantes dessa pesquisa. Assim como no estudo de Figueiredo Junior et al. (2019) a cor parda também foi a de maior prevalência, com 80% dos casos registrados.

O maior quantitativo de gestantes infectadas com HIV notificadas no ano de 2022 também foram das autodeclaradas pardas (51,8%), seguidas das brancas (29,3%), preta (13,7%), amarela (0,7%) e indígenas (0,3%) (BRASIL, 2022a).

De acordo com os dados do IBGE (2022), a maioria (45,3%) dos brasileiros se autodeclaram pardos, o que pode significar que a cor autodeclarada pelas gestantes do presente estudo, não tem relação com a infecção pelo HIV, entretanto, são coletadas devido fazerem parte das informações que devem constar na ficha de Notificação Compulsória do Ministério da Saúde (MS).

Os bairros que apresentam maiores números de casos de HIV em gestantes estão expostos no Gráfico 5.

Gráfico 5 – Quantitativo e percentual de notificações de HIV em gestantes por bairros de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

Fonte: Dados colhidos pelas autoras na VE em 2023.

*valores aproximados pelo Excel.

Através do Gráfico 5 é possível identificar os bairros com maior quantidade de casos de HIV em gestantes, como o setor JK que apresenta um alto índice de gestantes infectadas, cerca de 16,66% (3), do qual pode ser em razão desse ser um bairro localizado próximo a rodovia, onde passam muitas pessoas diferentes diariamente, e que propicia um aumento de prostituição, e que causará transmissão de diversas IST e de HIV, entre os residentes e viajantes.

Em contrapartida, setores mais localizados próximo ao centro da cidade também apresentam números preocupantes em relação à transmissão do HIV em gestantes. Os setores Araguaína Sul, Santa Terezinha e São João, evidenciam o mesmo percentual de casos com 11,11% (2). Já os restantes dos setores que estão dispostos no gráfico 5, expressam a mesma quantidade de casos, por volta de 5,55% (1). Não pode abster-se de que há prováveis subnotificação de casos, o que irá implicar em aumento de casos de gestantes infectadas com HIV, por isso é muito importante a realização correta das Fichas de Notificação Compulsória.

Os dados referentes ao motivo de contaminação/infecção do HIV em gestantes foram por meio de transmissão vertical, sexual, transfusão sanguínea, injetáveis, e acidente com material biológico. Estes, estão dispostos no Gráfico 6.

Gráfico 6 – Percentual do modo de transmissão do HIV em gestantes no município de Araguaína, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

Fonte: Dados coletados pelas autoras na VE em 2023.

*valores aproximados pelo Excel

Diante do Gráfico 6 fica evidente que a relação sexual com homens foi o maior motivo para a transmissão das gestantes por HIV, em 88,00% (22) dos casos registrados, contudo pode ser observado que a transmissão vertical, uso de drogas injetáveis e a transfusão sanguínea também contribuíram para a infecção por HIV nas gestantes notificadas, sendo que todas essas tiveram 4,00% (1) do percentual dos dados analisados..

A relação sexual com homens sendo o fator com maior percentual de transmissão/infecção do HIV em gestantes (Gráfico 6) deixa claro que o uso de preservativos não foi realizado durante as relações sexuais dessas gestantes. Figueiredo Junior et al. (2019) observou durante o seu estudo que cerca de 31,7% das gestantes analisadas já utilizaram o preservativo como método preventivo do HIV, contudo, não se sabe dizer se faziam uso frequentemente ou apenas esporadicamente, e por isso, é importante instigar mais as pacientes no momento do preenchimento da ficha de Notificação Compulsória, pois trará mais informações para futuras pesquisas sobre o presente assunto.

No atual estudo não foi possível investigar se as pacientes faziam uso ou não de preservativos, já que as informações que continham na vigilância epidemiológica foram mais superficiais, e até mesmo, incompletas.

A escolha mais adequada e segura para prevenir a infecção do HIV entre os casais sorodiferentes é a adesão à Terapia Antirretroviral (TARV), que se for realizada de forma correta irá deixar os níveis da carga viral do HIV baixos, e irá mantê-los indetectável (BRASIL, 2022d).

No que diz respeito à importância do uso regular e correto de preservativos (masculino e feminino) é necessário considerar fatores como acordos e dinâmicas nas relações, a pretensão de ter filhos, as circunstâncias de acesso aos insumos de prevenção, como também a particularidade de projetos pessoais (BRASIL, 2018a).

No que tange sobre a detecção do HIV, foram realizados testes que iniciaram desde a triagem, testes rápidos 2 e 3, teste confirmatório e teste para resultado final, que estão dispostos na Tabela 2.

Tabela 2 – Quantitativo e percentual dos modos de testagem e resultado final para detecção e confirmação do HIV em gestantes no município de Araguaína, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

Modos de testagem para detecção do HIV em gestantes
TestesPositivo/reagenteNegativo/não reagenteNão realizadoIgnorado
Teste de Triagem121102
Teste Rápido 11654
Teste Rápido 214155
Teste Rápido 31510
Teste Confirmatório1294
Resultado final205
Total7474425
Percentual49,33%4,66%29,33%16,66%

Fonte: Dados coletados pelas autoras na VE em 2023.

*valores aproximados pelo Excel.

Na Tabela 2 é possível verificar que nos testes de triagem teve 12 casos positivos e 1 negativo, contudo, teve 10 casos não realizados e cerca de 2 ignorados. Nos testes rápidos 1, 2 e 3 no total teve 30 casos positivos/reagentes, e somente 1 caso negativo/não reagente, mas houve cerca de 44 casos que não foram realizados e/ou ignorados. Em contrapartida, no teste confirmatório deteve 12 casos positivos/reagentes e 13 não realizados e/ou ignorados, já no resultado final foi observado que houve 20 casos positivos/reagentes e apenas 5 negativos/não reagentes. Então em todos os testes realizados houve cerca de 49,33% de resultados positivos/reagentes, 4,66% de resultados negativos;não reagentes, 29,33% de testes não realizados e cerca de 16,66% de testes ignorados, no período de janeiro de 2013 a agosto de 2023.

De acordo com os dados apresentados acima, vimos que a quantidade de testes não realizados ou ignorados é preocupante, pois, para que seja realizado um correto tratamento das gestantes HIV-positivas, com os antirretrovirais, é necessário que seja feito um diagnóstico precoce, para que assim seja possível uma prevenção da transmissão vertical para o feto (BRASIL, 2018b).

Para que haja uma redução de possíveis infecções, seja entre casais ou até mesmo da mãe para o feto, é necessário que se aborde um aconselhamento para IST/HIV/AIDS, que é recomendado pelo Ministério da Saúde, e é uma ferramenta útil na promoção da saúde e na prevenção da transmissão do HIV através do diagnóstico precoce (BRASIL, 2005).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prevalência de gestantes infectadas pelo HIV atendidas no município de Araguaína/TO, no período de tempo analisado pelo estudo, se mostrou alta (88), e é elucidado neste estudo que o perfil das gestantes HIV-positivas são mulheres de 21 a 30 anos, com ensino médio completo, cor parda, que residem em setores da periferia da cidade, e que a transmissão ocorreu por meio da relação sexual com homens. Diante disso, é evidente que devem ser ampliadas as ações de prevenção para esse público alvo, a fim de reduzir os índices de infecção e os riscos de transmissão vertical.

Ressalta-se a importância de criação/ampliação das ações de educação em saúde focadas na mulher, com o intuito de reduzir a quantidade de gestantes infectadas, que na sua grande maioria estão na fase reprodutiva. A importância e necessidade dessas ações voltadas para a mulher tem o propósito de diminuir o percentual de crianças soropositivas para HIV.

Desta forma, é de suma importância a necessidade de alimentação correta das Fichas de Notificação Compulsória, para que em trabalhos futuros seja possível o estudo de mais dados epidemiológicos das gestantes com HIV, da cidade de Araguaína/TO.

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¹Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto UNITPAC Campus Araguaína/TO. e-mail: thay.o.silva.007@gmail.com

²Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto UNITPAC Campus Araguaína/TO. e-mail: samarap841@gmail.com

³Orientadora. Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto UNITPAC Campus Araguaína/TO. Mestre em Meio Ambiente (CEUMA). e-mail: karina.mesquita@unitpac.edu.br

4Tradutor. Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto CEUMA Campus Imperatriz/MA. Mestre em Medicina Tropical (UNB). e-mail: mttocantins@gmail.com