PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS INTERNAÇÕES POR NEFROLITÍASE E URETEROLITÍASE NO PIAUÍ ENTRE 2017 E 2024

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF HOSPITALIZATIONS FOR  NEPHROLITHIASIS AND URETEROLITHIASIS IN PIAUÍ BETWEEN 2017 AND 2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506112022


Italo Macedo Pires1; Anailza Cardoso Alencar Oliveira2; Francisco Mário Nogueira Mendes3; Luiz Sabino Alves Júnior4; Marcela Nogueira Mendes5; Martônio Cardoso Alencar Oliveira6; Moisés Martins Costa7; Mônica Oliveira Batista Barros8


Resumo 

O presente estudo traçou o perfil epidemiológico das internações hospitalares por nefrolitíase e  ureterolitíase no estado do Piauí entre os anos de 2017 e 2024, utilizando dados fornecidos pela  Secretaria de Saúde do estado (SESAPI). Ao longo do período analisado, foram contabilizadas 5.211  internações, com maior concentração no ano de 2021. O Hospital Getúlio Vargas destacou-se como a  unidade com maior número de registros, respondendo por 32% dos casos. Observou-se uma redução  significativa de internações durante os anos pandêmicos (2020–2021), com retomada gradativa a partir  de 2022, o que sugere impacto direto da COVID-19 sobre a assistência urológica eletiva. Paralelamente  a isso, a análise da literatura permitiu identificar fatores de risco associados à formação de cálculos  urinários, como hábitos alimentares, hidratação inadequada, obesidade e predisposição genética. Os  achados do estudo foram, em grande parte, compatíveis com a literatura revisada, embora tenham sido  limitados pela ausência de dados demográficos detalhados, como sexo, idade e localização geográfica  dos pacientes. Ainda que tenha enfrentado restrições metodológicas, especialmente quanto à qualidade e abrangência dos dados fornecidos pela SESAPI, o estudo evidenciou padrões relevantes, como a  concentração de atendimentos em poucos centros hospitalares e a existência de unidades com baixa  resolutividade. Assim, os resultados apresentados contribuem para a compreensão do panorama local da  urolitíase, podendo embasar políticas públicas de descentralização do cuidado, alocação de recursos e  aprimoramento da regulação assistencial no estado. 

Palavras-chave: Ureterolitíase, Nefrolitíase, Doenças Urológicas, Sistema Urinário, Hospitalização. 

1. INTRODUÇÃO 

A nefrolitíase é a ureterolitíase, condições caracterizadas pela formação e migração de  cálculos no trato urinário, configuram importantes causas de morbidade no cenário urológico  contemporâneo. Embora historicamente fossem consideradas patologias mais frequentes em  países desenvolvidos, observa-se, nos últimos anos, uma elevação significativa de sua  incidência também em regiões de baixa e média renda, como o Nordeste brasileiro, refletindo  mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares da população (Icer; Gezmen-Karadag,  2019). Nesse contexto, destaca-se o estado do Piauí, cuja realidade epidemiológica ainda carece  de mapeamento sistematizado quanto ao perfil das hospitalizações relacionadas a essas  afecções. 

Paralelamente a isso, é importante destacar que a nefrolitíase acomete  aproximadamente 10% a 15% da população mundial, apresentando tendência de aumento em  diversos grupos etários e socioeconômicos (Carvalho et al., 2025). De forma semelhante, a  ureterolitíase, frequentemente associada à migração de cálculos renais, figura entre as principais  emergências urológicas, sendo responsável por significativa demanda nos serviços de urgência  e internações hospitalares. Segundo Terry (2024), fatores como desidratação crônica, dieta  hiperproteica, ingestão elevada de sal, obesidade e histórico familiar são os principais  determinantes do risco individual para formação de cálculos urinários, sobretudo nos países de clima quente, como o Brasil. 

Além disso, há evidências robustas indicando que o sexo masculino, a faixa etária entre  30 e 60 anos e a etnia branca representam grupos populacionais mais afetados pelas litíases  urinárias (Terry, 2024; Icer; Gezmen-Karadag, 2019). Contudo, conforme apontam Gomes et  al. (2024), essa distribuição tem apresentado modificações ao longo das últimas décadas,  especialmente devido ao aumento da prevalência de obesidade e distúrbios metabólicos entre  mulheres, o que tem estreitado as diferenças entre os sexos. Tais dados evidenciam a  complexidade do panorama epidemiológico atual e reforçam a necessidade de investigações  locais e atualizadas que considerem as especificidades regionais.

Ademais, sob a ótica clínica, a manifestação mais comum das litíases urinárias é a  cólica renal, caracterizada por dor lombar intensa e de início súbito, frequentemente  acompanhada de sintomas como náuseas, vômitos, hematúria e disúria (Carvalho et al., 2025;  Terry, 2024). Embora os episódios de dor intensa motivam a procura por atendimento médico  em unidades de urgência, muitos pacientes acabam evoluindo para internações, especialmente  nos casos em que há obstrução ureteral com repercussão funcional, infecção secundária ou  necessidade de intervenção cirúrgica. 

Do ponto de vista terapêutico, observa-se que a abordagem inicial inclui,  predominantemente, medidas de alívio da dor, reposição volêmica e, em alguns casos,  administração de agentes alfa-bloqueadores, como a tamsulosina, com o intuito de facilitar a  expulsão espontânea do cálculo (Carvalho et al., 2025; Gomes et al., 2024). Entretanto, a  depender do tamanho, localização e composição do cálculo, bem como das condições clínicas  do paciente, pode-se indicar desde litotripsia extracorpórea até intervenções endoscópicas ou  cirurgias mais invasivas. 

Outrossim, ressalta-se que a litíase urinária, além de ser uma condição de manejo  complexo em sua fase aguda, configura um importante problema de saúde pública pela alta taxa  de recorrência e pela carga econômica associada às hospitalizações e procedimentos  especializados (Cardoso et al., 2021). De acordo com a mesma autora, a maioria dos episódios  poderia ser evitada com estratégias simples de prevenção, como ingestão adequada de líquidos,  orientação nutricional e controle de fatores de risco como hipertensão, resistência à insulina e  obesidade abdominal. 

Nesse sentido, a literatura científica tem ressaltado a relevância da adoção de medidas  preventivas tanto em nível individual quanto coletivo, sobretudo por meio da promoção de  hábitos alimentares saudáveis, educação em saúde e acompanhamento ambulatorial contínuo  de pacientes com histórico recorrente (Icer; Gezmen-Karadag, 2019; Cardoso et al., 2021).  Destaca-se, ainda, o papel de agentes farmacológicos como os diuréticos tiazídicos, capazes de  reduzir a excreção urinária de cálcio e, consequentemente, o risco de recorrência em indivíduos  com hipercalciúria (Cunha; Gomes; Heilberg, 2021). Embora seu uso esteja bem estabelecido  em protocolos internacionais, a escolha da medicação deve ser individualizada, considerando a  presença de efeitos adversos e o perfil metabólico de cada paciente. 

Ainda que os avanços nas técnicas diagnósticas e terapêuticas tenham aprimorado  significativamente o manejo da nefrolitíase e da ureterolitíase, permanece evidente a  necessidade de vigilância contínua quanto aos padrões de incidência e aos desfechos clínicos  dessas condições na população brasileira. Conforme apontado por Cunha, Gomes e Heilberg (2021), o reconhecimento precoce de pacientes com maior risco de recorrência, bem como a  estratificação adequada dos casos que demandam internação hospitalar, são estratégias  essenciais para reduzir custos ao sistema de saúde e melhorar a qualidade da assistência  prestada. Nesse contexto, estudos epidemiológicos regionais ganham especial relevância ao  permitirem a identificação de perfis clínico-demográficos e de tendências de internação,  viabilizando ações de saúde pública mais direcionadas e eficazes. 

Além disso, de acordo com Carvalho et al. (2025), a compreensão do comportamento  epidemiológico das litíases urinárias deve ser articulada à realidade socioeconômica local,  considerando que fatores como acesso limitado a serviços de saúde especializados, escassez de  medidas preventivas e subnotificação podem influenciar diretamente os indicadores de  morbidade hospitalar. Portanto, a análise do padrão de internações por essas causas, em estados  como o Piauí, apresenta potencial para subsidiar o planejamento de políticas públicas de  prevenção e manejo precoce, bem como para fomentar o desenvolvimento de protocolos  clínicos adaptados à realidade regional. 

De acordo com Terry (2024) e Gomes et al. (2024), a nefrolitíase é a ureterolitíase, por  sua alta prevalência, custo assistencial e impacto na qualidade de vida dos pacientes, devem ser  encaradas como prioridades em programas de saúde pública e linhas de cuidado em urologia e  clínica médica. Sendo assim, torna-se fundamental o desenvolvimento de estudos que não  apenas retratem a realidade atual, mas que também possam servir de base para ações futuras  voltadas à prevenção e ao manejo adequado das litíases urinárias. Diante disso, o presente  estudo tem como objetivo geral analisar o perfil epidemiológico das internações hospitalares  por nefrolitíase e ureterolitíase no estado do Piauí entre os anos de 2017 e 2024.  

2. METODOLOGIA  

Inicialmente, este estudo foi delineado como um perfil epidemiológico, cuja principal  finalidade consistiu na descrição e análise da distribuição de internações hospitalares por  nefrolitíase e ureterolitíase, com base na Classificação Internacional de Doenças (CID-10: N20  e N21), no estado do Piauí, durante o período compreendido entre os anos de 2017 a 2024.  Dessa forma, buscou-se identificar tendências temporais, variações institucionais e padrões de  acometimento relacionados à carga assistencial hospitalar dessas condições urológicas. 

Ademais, embora se trate de um estudo descritivo e retrospectivo baseado em dados  secundários, entendeu-se que seria imprescindível realizar uma análise integrada com a  literatura científica disponível, a fim de oferecer embasamento teórico sólido para a  interpretação dos achados. Essa abordagem mista, quantitativa e qualitativa, viabilizou não apenas a sistematização de dados objetivos oriundos dos registros hospitalares, mas também  permitiu contextualizar e confrontar os resultados obtidos com estudos prévios nacionais e  internacionais. 

Para tanto, os dados primários relacionados às internações hospitalares não estavam  disponíveis diretamente em plataformas abertas como o DATASUS-TABNET. Por essa razão,  tornou-se necessário solicitar formalmente essas informações à Secretaria de Estado da Saúde  do Piauí (SESAPI). A solicitação foi realizada por meio de e-mail institucional e pelo sistema  oficial do governo federal (Gov.br), em 03 de setembro de 2024. As informações foram  respondidas e enviadas pela secretaria no dia 11 de setembro de 2024, já organizadas em  formato tabular (planilha Excel), o que facilitou a posterior análise estatística e construção de  representações gráficas. 

Ainda que o pedido tenha incluído detalhamentos fundamentais como sexo, idade,  município, macrorregião de saúde, sazonalidade e fluxos regulatórios hospitalares, os dados  fornecidos apresentaram-se de forma genérica e superficial, restringindo a profundidade da  análise. Apesar dessa limitação, os registros recebidos foram suficientes para a execução dos  objetivos propostos, especialmente no que tange à contagem e distribuição de casos por unidade  hospitalar, ano de ocorrência e CID-10. 

Paralelamente à coleta dos dados epidemiológicos, foi realizada uma busca estruturada  de literatura científica, a qual teve como propósito fornecer o suporte conceitual e analítico  necessário à discussão dos achados. Para isso, adotou-se como estratégia a utilização dos  seguintes descritores em saúde: “Nefrolitíase”, “Ureterolitíase”, “Doenças Urológicas”,  “Sistema Urinário” e “Hospitalização”. Tais termos foram combinados entre si pelo operador  booleano “AND”, a fim de garantir maior precisão e relevância aos resultados. 

Conforme previamente estabelecido, a busca bibliográfica foi conduzida nas bases de  dados eletrônicas Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde  (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical  Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), entre os meses de setembro e  outubro de 2024. Inicialmente, a estratégia de busca resultou em um total de 849 artigos  científicos. 

Em seguida, foram aplicados filtros específicos que delimitavam os resultados para  textos completos, disponíveis gratuitamente, publicados entre os anos de 2019 e 2025, e escritos  em português ou inglês. A aplicação desses critérios reduziu o número de estudos para 120.  Posteriormente, foi realizada a triagem por leitura dos títulos e resumos, o que resultou na  exclusão de artigos duplicados entre as bases, estudos que abordavam temas não relacionados diretamente com nefrolitíase e ureterolitíase, bem como artigos com escopo divergente do  objetivo proposto por este trabalho. Ao final do processo de triagem e elegibilidade, 17 artigos  científicos foram selecionados para compor o corpus teórico da análise, os quais foram  utilizados na seção de discussão para embasar e comparar os resultados obtidos a partir do perfil  epidemiológico descrito. 

Posteriormente à seleção dos artigos, deu-se início ao processo de extração,  categorização e análise dos dados, tanto da literatura científica quanto dos registros  epidemiológicos obtidos junto à SESAPI. Com relação aos dados empíricos, estes foram  organizados em uma planilha eletrônica desenvolvida na plataforma Microsoft Excel, que  serviu como base para a tabulação e visualização das informações. Cada linha da planilha  correspondeu a um registro hospitalar anual, discriminando os campos “Ano da internação”,  “CID-10 (N20 ou N21)”, “Estabelecimento hospitalar (nome e CNES)” e “Quantidade de  internações”. Essa estrutura permitiu a realização de análises estratificadas por unidade  hospitalar, por período e por categoria diagnóstica, ainda que com limitações previamente  mencionadas quanto à ausência de dados demográficos e geográficos mais específicos. 

Além disso, foram construídas tabelas descritivas e gráficos lineares e de colunas para  representar visualmente a evolução temporal das internações, a distribuição proporcional por  instituição de saúde, bem como a tendência epidemiológica ao longo dos períodos analisados,  os quais foram subdivididos em três fases principais: pré-pandemia (2017–2019), pandemia  (2020–2021) e pós-pandemia (2022–2024). Essa divisão temporal foi adotada com base nas  recomendações metodológicas de estudos recentes sobre impacto da COVID-19 na assistência  hospitalar eletiva e emergencial. 

Outrossim, foi realizado um cálculo da média aritmética de internações por hospital,  bem como do desvio-padrão correspondente, com o intuito de descrever o comportamento  central da distribuição entre os 80 hospitais analisados. Destaca-se que, nesse conjunto,  identificaram-se 5 hospitais com apenas uma internação ao longo de todo o período, sinalizando  possíveis questões relacionadas à baixa resolutividade, ausência de regulação de pacientes, ou  limitações infraestruturais. 

Em relação à literatura selecionada, os 17 artigos finais foram lidos na íntegra, sendo  extraídas informações referentes ao ano de publicação, título, autores, país de realização,  objetivos, metodologia empregada, principais resultados e conclusões. Tais dados foram  sintetizados em uma tabela comparativa, a qual viabilizou a categorização temática dos estudos,  facilitando sua aplicação na discussão dos achados epidemiológicos. 

3. RESULTADOS 

Inicialmente, ao analisar os dados extraídos das internações hospitalares por  nefrolitíase e ureterolitíase no estado do Piauí, entre os anos de 2017 e 2024, observa-se um  total de 5.211 casos registrados no período. Essa amostra contempla 80 hospitais distintos,  sendo possível traçar um panorama detalhado da distribuição, concentração, tendência temporal  e impacto epidemiológico dessas condições. De forma geral, os registros permitem a  compreensão de padrões consistentes quanto à sobrecarga institucional, sazonalidade indireta e  repercussões da pandemia sobre os serviços urológicos.

(Fonte: Gráfico de Autoria Própria)

No tocante à evolução anual, constata-se que os anos de 2019 e 2021 marcaram,  respectivamente, o pico do período pré-pandêmico e o maior valor absoluto de toda a série, com  707 e 889 internações, respectivamente. Paralelamente a isso, nota-se que o ano de 2020,  fortemente impactado pela pandemia da COVID-19, apresentou uma queda expressiva para 511  casos, o que corresponde a uma redução de aproximadamente 27,7% em relação ao ano anterior.  Essa queda representa um marco importante na trajetória das internações, uma vez que coincide  com a interrupção ou adiamento de procedimentos eletivos nos principais centros hospitalares  do estado. Assim, evidencia-se um efeito direto da crise sanitária sobre o manejo clínico e  cirúrgico das litíases urinárias no Piauí.

(Fonte: Gráfico de Autoria Própria)

Ademais, ao se comparar os três grandes blocos temporais, pré-pandemia (2017– 2019), pandemia (2020–2021) e pós-pandemia (2022–2024), observa-se que, embora o número  de internações tenha sido mais elevado no período inicial (1.945 casos), houve uma  considerável compensação nos anos seguintes. Durante a fase pandêmica, registraram-se 1.400  casos, e no período pós-pandêmico, 1.866 internações foram computadas. Dessa forma, pode se inferir que, apesar da interrupção temporária das atividades eletivas, os serviços hospitalares  do estado apresentaram uma rápida capacidade de absorção da demanda reprimida, culminando  em um aumento notável já em 2021. 

Além disso, quando se avalia a distribuição institucional das internações, percebe-se  uma concentração marcante em poucos estabelecimentos. O Hospital Getúlio Vargas (CNES  2726971), por exemplo, foi responsável por 1.680 internações, o que corresponde a 32,2% de  todos os casos do estado. Essa sobrecarga, que se repetiu ao longo de todos os anos analisados,  atingiu seu ápice em 2022, com 343 registros, e demonstra a centralidade desse hospital  enquanto unidade de referência no tratamento de litíases urinárias complexas. Em seguida,  destaca-se a Unidade de Urgência de Teresina Prof. Zenon Rocha (CNES 5828856), com 523  casos (10%), e o Hospital Regional Tibério Nunes (CNES 2365146), com 224 internações  (4,3%). Dessa maneira, é possível afirmar que apenas três hospitais concentraram 46,4% de  toda a demanda estadual, o que corrobora a existência de um modelo assistencial centralizado,  no qual as unidades terciárias acabam absorvendo a maior parte da casuística, inclusive aquela  que poderia ser manejada em centros de menor complexidade. 

Tabela 1. 10 hospitais com maiores números de internações

CNESEstabelecimento Total de InternaçõesAno com mais internações
2726971 HOSPITAL GETÚLIO VARGAS 1680 2022 (343)
5828856 UNIDADE DE URGÊNCIA DE TERESINA PROF.  ZENON ROCHA HUT 523 2021 (105)
2365146 HOSPITAL REGIONAL TIBÉRIO NUNES 224 2020 (46)
2323680 HOSP. REG. SEN. DIRCEU ARCOVERDE 218 2019 (46)
2365375 HOSPITAL FLORISA SILVA 215 2021 (159)
3285391 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE  FEDERAL DO PIAUÍ 196 2018 (56)
2323451 HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR DIRCEU ARCOVERDE 182 2021 (159)
2324288 HOSPITAL LOCAL DE LUZILÂNDIA 171 2019 (43)
2365154 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PARNAÍBA 143 2018 (35)
4009622 HOSPITAL REGIONAL JUSTINO LUZ 128 2022 (42)
(Fonte: Tabela de Autoria Própria)

Outrossim, é relevante destacar que esse padrão de concentração institucional não é  homogêneo. Ainda que existam hospitais com alta densidade de atendimentos, observa-se, na  outra extremidade, um conjunto de cinco instituições que registraram apenas uma única  internação em todo o período: a Maternidade Dona Evangelina Rosa (CNES 2323397), a UMS  de Miguel Alves (CNES 2323605), o Hospital Nossa Senhora das Vitórias (CNES 2609673), a  UMS Josias Carvalho (CNES 2766671) e a Unidade Mista de Arraial (CNES 2766930). Esse  dado, que representa 6,25% da amostra hospitalar, revela uma profunda desigualdade no acesso  e na resolutividade local, podendo refletir tanto a ausência de estrutura para diagnóstico e  intervenção quanto a subnotificação ou encaminhamento sistemático para os grandes centros. 

Em relação à análise estatística da distribuição das internações por hospital, o valor  médio entre os 10 maiores estabelecimentos foi de 368 internações por unidade, com desvio padrão elevado, indicando acentuada dispersão entre as instituições. Esse resultado é  influenciado, sobretudo, pela magnitude dos atendimentos do Hospital Getúlio Vargas, que  distorce a média geral. Quando se remove esse hospital da amostra, a média das demais  instituições se aproxima de 224 casos, com variações menores entre elas, o que sugere maior  homogeneidade na média secundária dos centros regionais. 

Conforme demonstrado nos dados, a Unidade de Urgência de Teresina Prof. Zenon  Rocha HUT, por exemplo, concentrou 523 atendimentos no período e atingiu seu ápice em  2021, com 105 internações, justamente no momento de retomada dos procedimentos após a  fase crítica da pandemia. Da mesma forma, o Hospital Florisa Silva e o Hospital da Polícia  Militar Dirceu Arcoverde apresentaram comportamentos semelhantes, com 159 casos em 2021  cada, o que evidencia uma tendência de reorganização da rede assistencial com vistas à reabsorção da demanda reprimida. Tais comportamentos sugerem que as instituições com maior  capacidade instalada foram as responsáveis por absorver o acúmulo de casos eletivos,  especialmente durante e após o colapso hospitalar associado à pandemia. 

Ademais, ao comparar os dados absolutos com os percentuais de participação dos  hospitais, torna-se ainda mais claro o desequilíbrio na distribuição da casuística entre os  serviços. O Hospital Getúlio Vargas, por si só, foi responsável por quase um terço de todas as  internações (32,2%), um número desproporcional quando comparado aos demais serviços. Tal  disparidade demonstra que, mesmo com o fortalecimento de algumas unidades regionais, ainda  persiste uma dependência significativa de hospitais de maior porte, sobretudo na capital, para  o tratamento definitivo de litíases renais e ureterais. 

Sendo assim, a análise revela que, embora o estado do Piauí disponha de uma rede  hospitalar relativamente ampla, apenas uma fração dos estabelecimentos é efetivamente  responsável pela execução da maioria dos procedimentos relacionados às calculoses urinárias. 

Tabela 2. Lista de Artigos utilizados na confecção do artigo

Autor(es) e Ano Estudo ecológicoResultados e Discussão Conclusão
ABREU JÚNIOR,  J. de; FERREIRA  FILHO, S. R.,  2020.Estudo ecológicoHouve correlação entre aumento  da temperatura ambiental e internações por nefrolitíase nas regiões  urbanas analisadas.Mudanças climáticas podem impactar negativamente na prevalência de cálculos renais.
ALVES, B. M. et  al., 2023.Revisão sistemáticaExplora a acurácia de modelos de  inteligência artificial na predição  de sepse após ureteroscopia.A inteligência artificial pode otimizar a estratificação de risco  em procedimentos endourológicos.
BRASIL. Ministério da Saúde – CONITEC, 2019.Relatório técnicoA ureterolitotripsia mostrou eficácia superior à LECO, com custo  aceitável e impacto positivo na  rede pública.A tecnologia foi recomendada  para incorporação no SUS,  desde que o custo seja compatível.
CARDOSO, Ana  Luiza de Castro,  2021.Revisão de literaturaEvidencia que mudanças no estilo  de vida, como aumento da ingestão hídrica e modificação dietética, são eficazes na prevenção da  nefrolitíase.A educação em saúde é essencial para reduzir a incidência de  litíase renal e suas complicações.
CARVALHO, M. de et al., 2025.Diretriz clínica (revisão baseada em  evidências)Apresenta orientações clínicas  atualizadas sobre a abordagem diagnóstica e terapêutica da nefrolitíase, com ênfase em medidas dietéticas, farmacológicas e cirúrgicas.Recomenda estratégias individualizadas baseadas em achados  clínicos, laboratoriais e fatores  de risco, com o objetivo de reduzir a recorrência dos cálculos.
CARVALHO, M.  de; HEILBERG, I.  P., 2024.Artigo de opiniãoAnalisa o potencial terapêutico  dos inibidores de SGLT2 no contexto da nefrolitíase.Embora promissora, a terapêutica com SGLT2 ainda carece de  estudos específicos controlados  em humanos.
CICERELLO, E.;  CIACCIA, M.;  COVA, G.; MANGANO, M., 2019.Estudo de coorte observacional retrospectivoUso de citrato de potássio reduziu a recorrência de cálculos e melhorou sintomas em pacientes com  rim esponjoso medular.A terapêutica mostrou-se eficaz  como medida preventiva e de  controle clínico.
CUNHA, T. da S.;  GOMES, S. A.;  HEILBERG, I. P.,  2021.Revisão narrativaExplora o papel dos diuréticos tiazídicos na prevenção de cálculos  de oxalato de cálcio, destacando  eficácia e efeitos adversos.Diuréticos tiazídicos podem ser  úteis na prevenção secundária,  com atenção à monitorização  eletrolítica.
DANILOVIC, A.  et al., 2021.Estudo transversalAnalisou pacientes com cálculos  de estruvita, verificando alterações metabólicas em parte dos indivíduos.A investigação metabólica pode  ser útil mesmo em casos considerados infecciosos.
GOMES, Nicole  Silva et al., 2024.Revisão de literaturaDescreve fisiopatologia, fatores  predisponentes e opções terapêuticas para nefrolitíase, ressaltando  o impacto da alimentação e hidratação adequada.O tratamento e prevenção eficazes dependem da identificação  dos fatores causadores e da adesão ao manejo clínico proposto.
ICER, M. A.;  GEZMEN-KARA DAG, M., 2019.Revisão de literaturaAssocia padrões alimentares ao  risco de nefrolitíase, apontando  alimentos que aumentam ou diminuem a formação de cálculos.Modificações dietéticas específicas são importantes no controle da litogênese.
ILIAS, D. et al.,  2022.Estudo prospectivoA curva de aprendizado em ureteroscopia semi-rígida se estabilizou após cerca de 40 procedimentos.Treinamento consistente reduz  riscos e melhora os desfechos cirúrgicos.
McCORMICK, N.  et al., 2024.Emulação de  ensaio clínico  (target trial  emulation)Inibidores de SGLT2 foram associados a menor incidência de recorrência de cálculos em pacientes com nefrolitíase ou gota.Medicamentos dessa classe representam uma potencial alternativa na prevenção secundária.
PAZ, J. E. G. et  al., 2021. Relato de casoDescreve obstrução ureteral bilateral em felino jovem, tratada com  sucesso por ureterotomia.Casos raros também exigem  abordagem diagnóstica rápida e  intervenção cirúrgica eficaz.
RODRIGUES, F.  G. et al., 2020.Estudo observacionalPacientes com litíase apresentaram menor adesão à dieta tipo  DASH, associando-se à maior incidência de cálculos.A promoção de hábitos alimentares saudáveis pode reduzir o  risco de nefrolitíase.
SILVA, T. H. C. D.  et al., 2022.Estudo pros pectivoDemonstrou que a curva de aprendizado para ureteroscopia semi-rígida estabiliza após cerca de 40  procedimentos.Experiência prática é essencial  para reduzir complicações e otimizar o tempo operatório.
TERRY, Russel,  2024.Resumo clí nico baseado  em evidência  (BMJ Best  Practice)Aponta os principais métodos diagnósticos, classificação dos tipos  de cálculos e tratamento de primeira linha para cada subtipo de  nefrolitíase.A abordagem deve ser centrada  no tipo de cálculo, histórico clínico e fatores de risco do paciente.
ZETUMER, S. et  al., 2019.Estudo observacional re trospectivo  (coorte multicêntrica)Multiplicidade de cálculos aumentou a escolha por nefrolitotomia percutânea em detrimento da  ureteroscopia.A complexidade anatômica influencia diretamente a decisão  terapêutica.
(Fonte: Tabela de Autoria Própria)

4. DISCUSSÕES  

Inicialmente, constata-se que o elevado número de internações (5.211 no total) reflete  a persistência da urolitíase como uma condição de significativa morbidade, demandando  frequentemente hospitalizações e intervenções cirúrgicas. De acordo com Cicerello et al.  (2019), a recorrência de cálculos urinários, especialmente em condições predisponentes como  o rim esponjoso medular, requer vigilância clínica contínua e, muitas vezes, múltiplas  hospitalizações ao longo da vida. Assim, os dados piauienses corroboram o entendimento de que a nefrolitíase não apenas representa um evento agudo, mas uma doença crônica de manejo  complexo. 

Paralelamente a isso, a distribuição dos casos ao longo do tempo revelou um padrão  oscilatório, fortemente influenciado pelo contexto pandêmico. Como apontado por McCormick  et al. (2024), a pandemia da COVID-19 provocou profundas alterações na rotina hospitalar de  diversos países, interrompendo serviços eletivos e promovendo acúmulo de demanda cirúrgica.  Esse fenômeno foi refletido também nos dados analisados, uma vez que houve uma queda  significativa nas internações em 2020, seguida de um expressivo aumento em 2021. Essa leitura  é compatível com a observação de Alves et al. (2023), segundo os quais a reorganização da  rede hospitalar no pós-pandemia demandou novas estratégias de priorização clínica e uso de  ferramentas tecnológicas, como inteligência artificial, para otimizar a triagem e a tomada de  decisão. 

Ademais, é necessário destacar que os resultados obtidos respondem diretamente aos  objetivos centrais deste trabalho, ao evidenciar os padrões de distribuição geográfica,  institucional e temporal das internações. A análise identificou, por exemplo, que apenas três  hospitais, sendo eles o Getúlio Vargas, o Hospital de Urgências de Teresina Zenon Rocha e  Tibério Nunes, foram responsáveis por quase metade de todos os casos, caracterizando um  padrão de hiperconcentração assistencial. De acordo com Danilovic et al. (2021), esse tipo de  centralização tende a sobrecarregar os centros terciários, além de limitar o acesso oportuno a  pacientes residentes em regiões menos favorecidas. Nesse contexto, a escassez de unidades  aptas a realizar intervenções endourológicas pode levar ao agravamento de casos inicialmente  simples, exigindo maior complexidade terapêutica posteriormente. 

Outrossim, é válido correlacionar os achados com as diretrizes nacionais para o manejo  da litíase urinária. Conforme destacado por Carvalho et al. (2025), a abordagem da nefrolitíase  deve ser pautada por uma avaliação clínica criteriosa, complementada por exames de imagem  e investigação metabólica. Contudo, essa conduta ideal ainda enfrenta barreiras na prática,  especialmente em regiões com infraestrutura limitada. No Piauí, a ausência de dados sobre  perfil etário, sexo, origem dos pacientes e critérios de complexidade limita a avaliação da  conformidade dos atendimentos em relação às diretrizes. Essa limitação, já apontada por  Danilovic et al. (2021) e corroborada por Cardoso (2021), compromete a implementação de  estratégias preventivas individualizadas. 

Apesar dessas limitações, os resultados aqui apresentados encontram respaldo em  diversos estudos prévios. Gomes et al. (2024) e Terry (2024), por exemplo, enfatizam a  importância da adoção de medidas não farmacológicas e mudanças no estilo de vida como estratégias eficazes para reduzir a incidência e recorrência da nefrolitíase. Ainda que este estudo  não tenha acesso às variáveis clínicas e comportamentais dos pacientes internados, a elevada  taxa de hospitalizações observada sugere que há lacunas importantes na implementação de  ações preventivas e no controle ambulatorial da doença. 

Seguindo essa perspectiva, as análises comparativas com estudos internacionais, como  os realizados por Icer e Gezmen-Karadag (2019), reforçam a relação direta entre fatores  dietéticos e o risco de formação de cálculos urinários. Segundo os autores, dietas ricas em sódio,  proteínas animais e oxalato elevam significativamente a litogenicidade urinária. Ainda que o  presente estudo não contempla dados sobre hábitos alimentares da população afetada, a  literatura sugere que intervenções educativas em nível populacional poderiam contribuir para a  diminuição das taxas de internação, especialmente em regiões com predominância de dieta  tradicional e hidratação inadequada. 

Além dos fatores dietéticos, outros elementos como o uso de medicamentos também  foram abordados na literatura revisada. Segundo Cunha, Gomes e Heilberg (2021), os diuréticos  tiazídicos representam uma medida eficaz na prevenção da recidiva de cálculos de oxalato de  cálcio, especialmente em pacientes hipercalciúricos. Contudo, o uso prolongado desses  medicamentos exige seguimento ambulatorial rigoroso, o que pode não estar disponível em  regiões com oferta limitada de serviços especializados. Nesse sentido, McCormick et al. (2024)  destacaram o potencial benefício dos inibidores do cotransportador sódio-glicose tipo 2  (iSGLT2) na redução da incidência de nefrolitíase, tanto em pacientes com litíase prévia quanto  naqueles com gota. Essa evidência recente amplia as opções terapêuticas farmacológicas e deve  ser considerada em protocolos de manejo a longo prazo, especialmente para populações de risco  elevado. 

Outrossim, uma das abordagens que vem ganhando destaque em âmbito científico é a  adoção de padrões alimentares protetores, como a dieta DASH. Conforme descrito por  Rodrigues et al. (2020), indivíduos que seguem esse padrão alimentar apresentam menor  propensão à formação de cálculos urinários, resultado atribuído à maior ingestão de frutas,  vegetais e laticínios com baixo teor de gordura, além de menor consumo de sódio e proteínas  animais. Ainda que este estudo não tenha avaliado diretamente a dieta dos pacientes internados,  a elevada carga de internações sugere que programas populacionais de educação nutricional  poderiam desempenhar papel relevante na prevenção primária da urolitíase. 

Além das estratégias de prevenção e farmacoterapia, a literatura também enfatiza a  importância de estratégias cirúrgicas eficazes. Zetumer et al. (2019) demonstraram que a  multiplicidade de cálculos impacta diretamente nas decisões cirúrgicas e nos desfechos operatórios, exigindo planejamento personalizado. Em paralelo, Silva et al. (2022) e Ilias et al.  (2022) evidenciaram que a experiência do cirurgião influencia significativamente o tempo  operatório, a taxa de complicações e a necessidade de reintervenções, reafirmando a  importância de centros com volume adequado de procedimentos para garantir bons resultados  clínicos. 

Contudo, mesmo com os avanços tecnológicos e cirúrgicos, há cenários clínicos  desafiadores. Segundo Danilovic et al. (2021), os formadores de cálculos de estruvita  apresentam perfil metabólico diferenciado, com menor prevalência de anomalias urinárias  clássicas, o que exige condutas distintas. Esses achados alertam para a necessidade de  individualização terapêutica, sobretudo em regiões como o Piauí, onde a heterogeneidade das  condições clínicas pode ser acentuada pela desigualdade de acesso à assistência especializada. 

No que se refere à epidemiologia ambiental, Abreu Júnior e Ferreira Filho (2020)  analisaram a influência do clima nas internações por litíase, evidenciando maior incidência nos  meses mais quentes. Embora o presente estudo não tenha contemplado a variável sazonalidade  por ausência de dados mensais, essa associação é particularmente relevante em estados do  semiárido nordestino, como o Piauí, que apresentam longos períodos de altas temperaturas,  fator sabidamente relacionado à hipoconcentração urinária. 

Por conseguinte, os dados apresentados também apontam para desigualdades  importantes na distribuição institucional das internações. Como foi demonstrado, apenas dez  hospitais concentraram a maioria dos casos, enquanto outras instituições registraram apenas uma internação em oito anos. Essa discrepância pode decorrer de múltiplos fatores, como  centralização da regulação, ausência de infraestrutura adequada, ou mesmo subnotificação.  Segundo o relatório técnico da CONITEC (2019), a disponibilidade de ureterolitotripsia ainda  é limitada em diversos pontos do território nacional, o que reforça a necessidade de  investimento em capacitação e distribuição equitativa de tecnologias. 

Frente a essas observações, torna-se necessário reconhecer as limitações do presente  estudo. A principal fragilidade reside na base de dados utilizada, que, apesar de oficial e  disponibilizada sob solicitação direta à SESAPI, não contemplou variáveis essenciais como  sexo, idade, causa específica da internação, procedência geográfica, dados laboratoriais ou tipo  de intervenção realizada. Essa limitação restringe análises mais robustas, como a avaliação de  sazonalidade, identificação de perfis clínico-demográficos e comparação entre macrorregiões.  Além disso, a ausência de dados sobre mortalidade, tempo de permanência e desfecho  hospitalar dificulta estimativas de impacto clínico mais precisas.

Entretanto, o presente estudo também apresenta pontos fortes. Em primeiro lugar,  trata-se de um levantamento epidemiológico original, que contempla uma série histórica  extensa (2017–2024) e avalia de forma detalhada a distribuição institucional das internações  por urolitíase no estado do Piauí. Em segundo lugar, ao integrar dados de produção hospitalar  com evidências científicas de alta qualidade, o trabalho oferece subsídios tanto para a  formulação de políticas públicas quanto para a reavaliação de práticas clínicas locais. 

Dessa forma, os achados aqui discutidos contribuem para a ampliação do  conhecimento sobre a realidade da nefrolitíase em contextos sub-representados na literatura,  além de estimular a reflexão sobre a necessidade de descentralização assistencial, padronização  de protocolos, e incentivo à prevenção. Embora o tema da urolitíase seja amplamente estudado  em países desenvolvidos, ainda persistem lacunas significativas no Brasil, especialmente em  estados das regiões Norte e Nordeste, como bem ilustrado pelos dados do presente trabalho. 

Assim sendo, futuras pesquisas deverão priorizar o aprofundamento da caracterização  clínica dos pacientes, o acompanhamento longitudinal dos casos e a incorporação de  indicadores de qualidade assistencial. A integração entre vigilância epidemiológica e sistemas  de informação hospitalar será, portanto, fundamental para o avanço da urologia pública no  Brasil. 

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Diante da análise realizada, é possível afirmar que os objetivos propostos neste estudo  foram plenamente atingidos. A partir da sistematização e interpretação crítica dos dados  epidemiológicos fornecidos pela Secretaria de Saúde do Estado do Piauí, foi possível traçar um  perfil das internações hospitalares por nefrolitíase e ureterolitíase no período de 2017 a 2024,  com destaque para a distribuição institucional dos casos, a tendência epidemiológica em três  fases distintas (pré-pandemia, pandemia e pós-pandemia) e a concentração de atendimentos em  poucos hospitais de referência. 

Embora o estudo tenha enfrentado limitações significativas quanto à granularidade dos  dados disponíveis, como ausência de informações sociodemográficas, clínicas e regionais mais  específicas, ele foi devidamente executado e se mostra altamente relevante ao evidenciar  desigualdades na assistência urológica no estado, além de ressaltar a necessidade de  descentralização do atendimento e fortalecimento da prevenção. 

De forma sintética, o trabalho demonstrou que o número total de internações no  período foi de 5.211, sendo o Hospital Getúlio Vargas o principal centro de referência, com  1.680 internações. Houve redução acentuada no número de casos durante a pandemia da COVID-19, seguida de uma recuperação expressiva no período subsequente. Além disso, a  revisão de literatura permitiu integrar achados clínicos e terapêuticos relevantes, que dialogam  com os dados locais, oferecendo subsídios para futuras políticas públicas e estratégias  assistenciais voltadas à urolitíase no estado. 

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1Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e mail: impiresme09@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e mail: anailzacardoso55@gmail.com
3Graduação em Medicina pela Universidade CEUMA e-mail: marionog@hotmail.com
4Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba e-mail: luizsabinjr@gmail.com
5Pediatra pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPAR e-mail: marcelanmendes@hotmail.
6Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e mail: martonioalencar544@gmail.com
7Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e mail: moises.iesvap2023@gmail.com
8Residente em pediatria no Hospital Estadual Dircel Arcoverde – HEDA e-mail:  monicaoliveira_batista@hotmail.com