EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF TUBERCULOSIS IN THE MUNICIPALITY OF VOLTA REDONDA FROM 2015 TO 2024
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506190820
Auriston Ferraz da Costa1
Gabriel Lenoir Bicalho2
Vanessa Lima Batista2
Vasco Junior Mariano de Oliveira2
RESUMO
A Tuberculose é um sério problema de saúde pública no Brasil e no mundo, com maior incidência em países subdesenvolvidos, configura-se como uma verdadeira tragédia nacional e mundial, resultado de séculos de desigualdade social, falta de investimento do estado em promoção e educação em saúde de qualidade.
Nesse sentido, a tuberculose constitui um verdadeiro problema de saúde pública, não apenas pela interrupção de vidas, mas também pelos altos gastos públicos por parte do Sistema Único de Saúde na tentativa de recuperação anterior ao óbito. Dessa forma, este estudo tem como objetivo descrever o perfil epidemiológico da tuberculose no município de Volta Redonda de 2015 a 2024 e correlacioná-lo ao perfil do Estado do Rio de Janeiro e Brasil. Para isso, foram utilizados banco de dados secundários disponibilizados pelo Departamento de Informática do SUS a fim de se calcular taxas de mortalidade dos últimos 10 anos na população em geral, por sexo, cor/raça e faixa etária e proporção de novos casos nas três diferentes esferas. Como resultados, constatou-se um perfil de casos de tuberculose mais baixo no município de Volta Redonda comparando com o estado do Rio de Janeiro e Brasil, em números absolutos no período de 2015 a 2024, bem como uma proporção maior de casos no sexo masculino e nos adultos jovens. Tais desfechos evidenciam a gravidade do problema e reforçam a necessidade de estudos no sentido de maior esclarecimento sobre as ações necessárias para minimizar a problemática.
Palavras-chave: Tuberculose; Epidemiologia; Saúde pública.
ABSTRACT
Tuberculosis is a serious public health problem in Brazil and worldwide, with a higher incidence in underdeveloped countries. It is a true national and global tragedy, the result of centuries of social inequality and lack of state investment in quality health promotion and education.
In this sense, tuberculosis constitutes a true public health problem, not only because of the interruption of lives, but also because of the high public spending by the Unified Health System to recover patients before death. Thus, this study aims to describe the epidemiological profile of tuberculosis in the municipality of Volta Redonda from 2015 to 2024 and correlate it with the profile of the State of Rio de Janeiro and Brazil. To this end, secondary databases provided by the SUS Information Technology Department were used to calculate mortality rates for the last 10 years in the general population, by sex, color/race and age group, and the proportion of new cases in the three different spheres. The results showed that the municipality of Volta Redonda had the lowest tuberculosis case profile compared to the state of Rio de Janeiro and Brazil, in absolute numbers from 2015 to 2024, as well as a higher proportion of cases among males and young adults. These outcomes highlight the seriousness of the problem and reinforce the need for studies to provide greater clarification on the actions needed to minimize the problem.
Keywords: Tuberculosis; Epidemiology; Public health.
1. INTRODUÇÃO
A infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, bacilo de Koch, causador da tuberculose, é uma problemática antiga que o Brasil conhece, mas se mostrou persistente como epidemia desde 2017 quando os números voltaram a crescer. Em 2023, mais de 80 mil brasileiros foram infectados pelo bacilo (III DIRETRIZES PARA TUBERCULOSE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2009). Além disso, a tuberculose é a segunda infecção que mais mata no mundo, cerca de 4 mil pessoas/dia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
Em 2023, cerca de 1,25 milhão de pessoas morreram com tuberculose. Desse número, 161 mil são acometidos com o vírus da imunodeficiência adquirida, HIV (OMS, 2025).
Segundo o WHO Global Report, estima-se que 10,6 milhões de pessoas adoeceram por tuberculose em todo o mundo, em 2020. Antes da Covid-19, a tuberculose era a doença infecciosa que mais matava pessoas em todo o mundo. Estima-se que para se controlar o avanço da doença no mundo, seria necessário investimento de US$ 13 bilhões, no entanto o valor investido atualmente é de aproximadamente US$ 5,4 bilhões (THE WHO GOBAL TUBERCULOSIS, 2023).
Este estudo tem como objetivo descrever o perfil epidemiológico da tuberculose no município de Volta Redonda e sua comparação com o estado do Rio de Janeiro e Brasil, no período de 2015 a 2024. Trata-se de um estudo de base populacional, de série temporal, construído a partir de dados oficiais disponibilizados pelo TABNET.
Volta Redonda é um município brasileiro do estado do Rio de Janeiro, Região Sudeste do país. Situado no Sul Fluminense, também é conhecido como a “Cidade do Aço”, por abrigar a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). É cortada pelo Rio Paraíba do Sul, que corre de oeste para leste, sendo a principal fonte de abastecimento de água do município e também responsável pelo seu nome, devido a uma curva do rio (IBGE, HISTÓRICO, 2018)
Sua população estimada para 1.º de julho de 2020 era de 273 988 habitantes, distribuídos em uma área de 182,105 km², o que a torna, em número de habitantes, a maior cidade do Sul Fluminense e a terceira maior do interior do estado, apesar de figurar apenas na 71ª posição por área territorial do estado. Uma pesquisa do IBGE, divulgada em 2013, classificou Volta Redonda como a segunda cidade com a maior vocação poluidora do estado, ficando atrás somente da capital, Rio de Janeiro. Seu santo padroeiro é Santo Antônio e seu lema em latim é Flumen Fulmini Flexit, ou seja, “o rio ante o raio dobrou-se”, (ATLAS BRASIL, 2025).
Volta Redonda está em uma região estratégica, a 321 km da cidade de São Paulo, maior metrópole do Brasil, e a 131 km da cidade do Rio de Janeiro, segunda maior metrópole nacional e capital fluminense. Também está próxima de cidades-polos regionais de outros estados, como Juiz de Fora (181 km) e São José dos Campos (229 km) e de outras cidades importantes, como Angra dos Reis (93 km), Taubaté (189 km), Petrópolis (149 km), Resende (51 km), Cabo Frio (280 km), dentre outras.
Possui o quarto mais alto IDH entre os municípios fluminenses, de 0.771 (em 2010), ficando atrás somente de Niterói e da capital, Rio de Janeiro, no Grande Rio, e de Rio das Ostras (IBGE, TERRITÓRIOS, 2018).
2. METODOLOGIA
2.1 Tipo de revisão
Trata-se de um estudo ecológico, de base populacional, de série temporal, utilizando dados construído a partir de dados oficiais disponibilizados pelo TABNET. A pesquisa populacional permite a análise de agravos e suas variáveis utilizando os fatores tempo, lugar e espaço. Nos estudos ecológicos a análise de dados destaca determinada população, o que permite analisar a problemáticas e suas variáveis, com intuito de apresentar dados epidemiológicos pertinentes.
2.2 Critérios de inclusão e exclusão
Os critérios de inclusão e exclusão utilizados foram; variáveis selecionadas – sexo, faixa etária, cor/raça, faixa de CID10 (tuberculose) e casos de residência ou ocorrência.
As categorias utilizadas para o estudo foram as seguintes: A150 – A 153, da CID 10, que correspondem aos casos.
2.3 Características epidemiológicas
As características epidemiológicas referem-se à etiologia, região de saúde, faixa etária, cor/raça e sexo. O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) foi a fonte de dados utilizada no seguimento de Sistema de Informação sobre mortalidade por agressão.
2.4 Extração e síntese dos dados
Para a análise da taxa de casos de tuberculose no município de Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro e Brasil, o banco de dados consultado foi o TABNET em uma série histórica de 10 anos (2015 a 2024). Foram utilizadas as categorias de A150 – 153, da CID 10, que correspondem aos casos tuberculose. Os critérios utilizados foram casos por faixa etária determinada e sexo, casos por ocorrência e ano do diagnostico, casos por ocorrência por categoria CID10 e ano de diagnostico, diagnostico por cor/raça e ano dos diagnostico. As apresentações dos dados foram feitas de forma descritiva e através de gráficos organizados em categorias que responderam à questão problema.
2.5 Método proposto
De acordo com o método proposto, o projeto não necessita de apreciação ética, ou seja, como se trata de um estudo com uso de dados secundários direto do sistema de dados epidemiologicos DATA-SUS, extraido pelo TABNET, serão analisados os CID-10 de acordo com municipio escolhido e em comparativo ao estado e ao pais para avaliar o tema proposto do trabalho. O estudo não necessita da aprovação/apreciação de uma equipe de ética conforme a resolução 510.
3. RESULTADOS
É possível perceber na tabela 1, que o município de Volta Redonda apresentou um aumento no índice de novos casos no decorrer dos anos avaliados, esse índice se mantém em uma crescente tanto no estado do Rio de Janeiro quanto a nível nacional. Quando observamos o índice de novos casos em 2020 nota-se uma leve queda dos numeros absoluto. Vale destacar que no ano de 2020 tivemos uma pandemia (covid 19) que pode justificar a leve queda nos novos casos de tuberculose nas 3 esferas. O ano de 2024 apresenta maior índice em comparação com outros anos da serie avaliada o município de Volta Redonda segue o mesmo perfil das demais.
Na tabela 1, foi listada o número total de casas de tuberculose diagnosticada, subdivididas por ano do diagnóstico, listadas segundo frequência absoluta e proporção de acordo com as esferas geográficas.
Tabela 1 – CASOS CONFIRMADOS NOTIFICADOS NO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO – Período: 2015 a 2024.
ANO | VR | RJ | BR |
2015 | 160 | 13.369 | 85.462 |
2016 | 155 | 13.647 | 86.210 |
2017 | 183 | 13.926 | 90.295 |
2018 | 235 | 14.864 | 94.735 |
2019 | 295 | 15.102 | 96.655 |
2020 | 192 | 13.717 | 86.236 |
2021 | 171 | 15.094 | 91.385 |
2022 | 230 | 16.166 | 103.322 |
2023 | 289 | 16.960 | 109.807 |
2024 | 273 | 17.230 | 111.521 |
TOTAL | 2.183 | 150.615 | 955.658 |
Gráfico 1 – casos confirmados notificados no sistema de informação de agravos de notificação na população masculina/feminina por região de ocorrência – período: 2015 a 2024.

Descrição do gráfico1: Gráfico em colunas de taxa de novos casos de tuberculose masculina e feminina à cada 100 mil habitantes por região, mostra que o município de Volta Redonda segue o mesmo perfil do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil ao todo. Importante perceber que a taxa de novos casos na população masculina tende a apresentar índices muito superiores aos observados na população feminina em todas as esferas.
Gráfico 2 – Casos confirmados notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, por faixa etária e região de ocorrência (acumulado 2015 a 2024).

Descrição do gráfico 2: Gráfico em colunas de taxa de casos confirmados por faixa etária: Em relação a proporção de casos, foi analisado a faixa etária e a região através de gráfico em colunas onde observou que a faixa etária jovem entre 15 a 39 anos é a mais acometida chegando a uma média de 48,03%. Seguido da faixa etária 40 a 64 anos que chega a 34,63% do percentual de casos. A população acima de 64 anos representa cerca de 9,18% e a primeira infância aparece com de 2,18% dos casos. Em relação a região de ocorrência, na faixa etária jovem de 15 a 29 anos aparece consideravelmente alto em todas as esferas. As demais faixas etárias também apresentam baixa diferença significativa entre as regiões analisadas, em relação ao município de Volta Redonda quando avaliamos o número de casos por 100 mil habitantes observamos uma caracteristica semelhante as demais esferas.
Gráfico 3 – Casos confirmados de tuberculose por cor/raça (acumulado 2014 a 2023).

Descrição do gráfico 3: Gráfico em colunas de taxa de mortalidade por COR E RAÇA, em relação a proporção de óbitos por cor/raça, foi analisado a cada 100 mil habitantes por novos casos da doença, sendo assim é possível observar taxas maiores entre a população parda comparado com a população preta e branca. Esses índices se mostram elevado tanto nas esferas estadual e federal, já na esfera municial observamos um perfil diferente onde o número de brancos diagnosticados é maior em comparação a população preta e parda.
4. DISCUSSÃO
Os dados encontrados neste estudo permitiram enfocar na situação dos casos de tuberculose no município de Volta Redonda e contribuir para a formação de propostas de intervenções mais efetivas. No período analisado, os resultados revelaram elevadas taxas de novos casos nas regiões estudadas, com predomínio de casos ocorridos no sexo masculino. Sendo a faixa etária de 15 e 39 anos com maior precentual (48,03%). Em relação a cor/raça observamos maior percentual em pessoas pardas.
As altas taxas de novos casos de tuberculose no sexo masculino podem estar associadas a vida vivenciada pelo sexo masculino, com maior risco a ambientes que favorecem o aumento desses indicadores (OMS, 2011).
Segundo a Global Tuberculosis Control, a doença afeta mais homens do que mulheres em razão de fatores econômicos, culturais e sociais. Os homens são mais acometidos devido a uma maior exposição pela sua vida social e menor procura de serviços de saúde, possibilitando maior chance de infecção com o bacilo (OMS, 2011).
Observa-se um aumento desses indicadores entre os sexos, na faixa etária jovem que é mais atingida pela doença. Diversos estudos demostram um predomínio do sexo masculino em relação a sexo feminino no número total de novos casos. Os jovens, possuem uma maior tendência do abandono escolar precoce, sendo mais expostos a fatores sociais adversos para o seu desenvolvimento. É importante destacar, que a prevalência de raça/cor não branca em associação com a evasão escolar é muito superior devido aos fatores socioeconômicos pré-existentes.
Os resultados deste estudo revelam a gravidade da doença entre adultos jovens nas regiões estudadas, sendo a faixa etária de 15 a 39 anos a mais afetada chegando a uma média de 48,03%, entre 40 a 64 anos a uma média de 34,63% e entre 64 e mais a uma média de 9,18%. A pesquisa aponta que o maior percentual de novos casos são do sexo masculino no município de Volta Redonda, do RJ e no Brasil. Em relação a região de ocorrência, na faixa etária jovem de 15 a 39 anos aparece em igualdade sem grandes diferenças significativas entre as regiões, com uma considerável sobreposição à nível nacional.
5. CONCLUSÃO
A realização desta pesquisa, nos possibilitou observar que a população adulto jovem, masculina, parda e economicamente ativa foi mais acometida pela tuberculose, apesar da maioria dos casos evoluir para a cura ainda não alcançamos a taxa de cura preconizada pelo ministério da saúde. O desafio em se combater a doença ainda é muito grande, conhecer o perfil da população acometida no município de Volta Redonda possibilita a implantação de estratégias voltadas para a população mais vulnerável. Assim, para o controle da tuberculose se faz fundamental melhoria dos fatores relacionados aos serviços de saúde: notificação dos casos suspeitos (sistema de informação confiável), ampliação dos atendimentos descentralizados que proporcionam a implementação do tratamento supervisionado, investimento na capacitação dos profissionais, fortalecimento do trabalho em equipe e otimização de fluxograma de referência e contra referência e maior conscientização dos pacientes quanto ao tratamento da doença.
6. REFERÊNCIAS
ATLAS BRASIL, CONSULTA. VOLTA REDONDA. Link de acesso: http://www.atlasbrasil.org.br/. 2025.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Banco de dados do Sistema Único de Saúde. DATASUS. Informações de Saúde, Sistema de Informações sobre Tuberculose. Acesso: maio de 2025.
BRASIL, OMS. Banco de dados Organização Mundial de Saúde. OMS. 2011.
III DIRETRIZES PARA TUBERCULOSE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2009. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. Acesso: 01 de julho 2025.
GENEVA, WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Health Organization. GLOBAL TUBERCULOSIS CONTROL. TB prevalence surveys: a handbook. 2011.
GENEVA, THE WHO. GLOBAL TUBERCULOSIS. Numbers ISBN: 978-92-4-008385-1. 2023.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. 2018. «Divisão Territorial Brasileira 2016». Acesso: 30 de maio de 2025.
¹Professor do Curso de Medicina da UniFOA
²Alunos do Curso de Medicina da UniFOA