EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF SYPHILIS IN BRAZIL BETWEEN THE YEARS OF 2011 AND 2021
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10208148
Alice Maria da Silva1
Ana Flávia das Mercês Manduca Soares1
Victor Heleno Barros Ribeiro1
Taynara Augusta Fernandes2
RESUMO: Introdução: A sífilis é um problema na saúde pública que foi descoberto há mais de 500 anos, esta patologia é causada pela bactéria Treponema pallidum, que foi descrita em 1905 por Schaudinn & Hoffmann. A doença evolui e apresenta-se em diferentes períodos com mudanças clínicas, sendo suas fases: sífilis primária, secundária e terciária ou congênita e cada sintoma submete-se a sua fase específica. O desenredo grave da sífilis leva a desafios importantes, posto que seu tratamento é de custo baixo, sendo frequente observá-la como um problema de saúde pública na atualidade. Esse estudo teve como objetivo analisar a série histórica da incidência de sífilis adquirida no Brasil, durante os anos de 2011 a 2021. Metodologia: Caracteriza se como um estudo epidemiológico, observacional, analítico do tipo ecológico, onde foram analisados dados populacionais, disponibilizados no DCCI (Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis). De modo, fomentando uma análise quantitativa sobre a sífilis no Brasil entre os anos de 2011 e 2021. Resultados: Verificou-se uma crescente na incidência de sífilis adquirida durante os últimos 11 anos, entretanto, houve um pequeno declínio em 2020, porém com elevação novamente no ano posterior. Discussão: Os motivos para o aumento dos casos são iguais em todo mundo e estão ligados ao aumento de testes rápidos, diminuição no temor em se contaminar e uma menor frequência no uso de preservativos. Tendo em vista que o tratamento está cada vez mais eficiente. Considerações Finais: Conclui-se que houve aumento progressivo nos casos de sífilis no Brasil entre os anos 2011 e 2021, sendo relacionada com a maior cobertura de testagens rápidas e diminuição do uso de preservativos.
Palavras-chave: Sífilis. Treponema Pallidum. Infecções sexualmente transmissíveis. Prevenção de doenças.
ABSTRACT: Introduction: Syphilis is a public health problem that was discovered more than 500 years ago. This pathology is caused by the bacterium Treponema pallidum, which was described in 1905 by Schaudinn & Hoffmann. The disease evolves and presents itself in different periods with clinical changes, its phases being: primary, secondary and tertiary or congenital syphilis and each symptom undergoes its specific phase. The serious outcome of syphilis leads to important challenges, as its treatment is low cost, and it is often seen as a public health problem today. Methodology: This project is characterized as an epidemiological, observational, analytical study of an ecological type, where population data were analyzed, made available at the DCCI (Department of Chronic Diseases and Sexually Transmitted Infections). Therefore, promoting a quantitative analysis of syphilis in Brazil between the years 2011 and 2021. Results: There was an increase in the incidence of syphilis acquired during the last 11 years, however, there was a small decline in 2020, but with an increase again the following year. Discussion: The reasons for the increase in cases are the same across the world and are linked to the increase in rapid tests, a decrease in fear of becoming infected and a lower frequency of condom use. Considering that the treatment is increasingly efficient. Final Considerations: It is concluded that there was a progressive increase in cases of syphilis in Brazil between 2011 and 2021, being related to greater coverage of rapid testing and decreased use of condoms.
Keywords: Syphilis. Treponema Pallidum. Sexually Transmitted Diseases. Disease Prevention.
1 INTRODUÇÃO
A sífilis é um problema na saúde pública que foi descoberto há mais de 500 anos, esta patologia é causada pela bactéria Treponema pallidum, que foi descrita em 1905 por Schaudinn & Hoffmann. A transmissão desta ocorre principalmente por via sexual, que é a sua forma adquirida; no caso de gestantes que possuem a doença e não fizeram tratamento ou não fizeram de maneira adequada, a transmissão se dá por via transplacentária ao bebê, originando a forma congênita (Souza; Rodrigues; Gomes, 2018). É uma enfermidade de notificação compulsória regular (em até sete dias), tanto a forma adquirida, congênita, quanto à sífilis na gestante. Entretanto, a forma adquirida pode ser diferenciada em precoce ou tardia, dependendo do período de infecção e estágio de infectividade (Bottura et al, 2019).
A doença evolui e apresenta-se em diferentes períodos com mudanças clínicas, sendo suas fases: sífilis primária, secundária e terciária ou congênita e cada sintoma submete-se a sua fase específica, sendo assim a sífilis primária tem como característica clínica afetar principalmente pele e mucosa e sua evolução em secundária e terciária acomete órgãos e sistemas e por sua vez, a sífilis congênita pode provocar complicações como abortamento, parto prematuro e baixo peso ao nascer. O desenredo grave da sífilis leva a desafios importantes, posto que seu tratamento é de custo baixo, sendo frequente observá-la como um problema de saúde pública na atualidade (De Carvalho et al, 2022).
A sífilis no Brasil é um notável problema para a saúde pública. Percebe-se que há um grande índice de casos de sífilis adquirida. Diante desse cenário, o presente estudo abarcou o contexto histórico da doença entre 2011 e 2021, analisando, assim, os últimos 10 anos. Entende-se que a criação de estratégias inteligentes para aumentar o nível de informações e sobre a doença pode trazer benefícios, diminuindo os índices de casos da sífilis no país. Dessa forma, no intuito da prevenção de sífilis adquirida e redução dos números de casos, deve-se melhorar a abordagem de ações socioeducativas destinadas à população.
Essa pesquisa é de extrema importância no contexto social, buscando saber os números de casos e relacioná-los com o sexo e com as faixas etárias, entendendo as maneiras de transmissão, para poder elaborar maneiras eficientes de se fazer uma boa prevenção de saúde. Esse estudo teve como objetivo analisar a série histórica da incidência de sífilis adquirida no Brasil, durante os anos de 2011 a 2021.
2 METODOLOGIA
Caracteriza-se como um estudo epidemiológico, observacional, analítico do tipo ecológico, onde foram analisados dados populacionais, disponibilizados no DCCI (Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis). De modo, a desenvolver uma análise, quantitativa sobre a sífilis no Brasil entre os anos 2011 e 2021 e uma pesquisa bibliográfica de como a prevenção em saúde contribui na diminuição do número de casos da mesma.
A pesquisa foi realizada no ITPAC-Porto Nacional, período de coleta entre 2011 e 2021, e a coleta ocorreu no segundo semestre de 2023. A população foi composta por todos os indivíduos contaminados por T. palidum no período de 2011 a 2021. Não há delimitação da amostra pois o estudo ecológico utiliza bases populacionais.
As variáveis do estudo foram o número de casos de sífilis, taxa de 100.000 habitantes por ano de diagnóstico; sexo;.
Por se tratar de uma pesquisa em dados públicos, sem sigilo, não foi necessária nenhuma prerrogativa para que os dados fossem utilizados de maneira integral no trabalho.
Foi feito um estudo analítico, quantitativo, observando os dados presentes, dando foco no número de casos por 100.000 habitantes, quantidade de casos por sexo. Além dessas análises, também foi feita pesquisa bibliográfica, sobre as formas de transmissão da sífilis para compreender como a prevenção em saúde pode auxiliar na diminuição do número de casos.
Os dados foram coletados na plataforma pública DCCI (Departamento de Doenças de condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis), em indicadores epidemiológicos. Então foi realizada uma análise descritiva de tais dados, que foi apresentada na forma de gráficos e tabelas.
O entendimento de como cresceu o número de casos de sífilis no Brasil, detalhando as faixas etárias de idade, sexo, trará para a comunidade de saúde uma clareza de como trabalhar a prevenção de maneira específica, para que assim haja uma redução significativa nos números de casos.
3 RESULTADOS
No período entre 2011 e 2021 foram confirmados 1.115.529 casos de sífilis adquirida no Brasil. A tabela 1 mostra a distribuição de casos por ano e a taxa de detecção por 100.000 habitantes.
Verificou-se uma crescente na incidência de sífilis adquirida durante os últimos 11 anos de estudo (figura 1). Entretanto, havendo um pequeno declínio em 2020, porém com elevação novamente, no ano posterior. Em 2021 foram notificados quase 150.000 casos a mais do que no ano de 2011.
Tabela 1: Distribuição de casos de sífilis por ano e taxa de detecção por 100.000 habitantes.
Figura1: Distribuição de casos de sífilis adquirida por ano.
Verificou-se, ainda, que os homens são mais acometidos pela doença do que as mulheres. A tabela 2 e a figura 2 demonstram a distribuição de casos entre sexo masculino e feminino.
Tabela 2: Distribuição de casos de sífilis adquirida entre sexo masculino e feminino.
Figura 2: Distribuição de casos de sífilis adquirida entre sexo masculino e feminino.
4 DISCUSSÃO
O aumento dos casos de sífilis adquirida no Brasil aumentou entre os anos de 2011 e 2021 (Tabela 1). Os motivos para o aumento dos casos são iguais em todo o mundo e estão ligadas ao aumento de testes rápidos, diminuição no temor em se contaminar com o HIV, visto que o tratamento está cada vez mais eficiente, e há uma menor frequência no uso de preservativos (Lima et al., 2022).
De maneira contrária, foi visto que no ano de 2020, teve uma queda do número de casos em relação aos outros anos (Figura 1). Diante disso é importante lembrar que em 2020 foi o ano em que teve início a pandemia da Covid-19, havendo protocolos de distanciamento social e isolamento, o que pode ter causado diminuição das relações sexuais e do número de parceiros. Contudo, essa diminuição das notificações de sífilis adquirida também pode estar relacionada com a redução de testes nos cidadãos, pois as unidades de saúde estavam cheias de pacientes com problemas respiratórios (Lima et al., 2022).
O fator mais provável dessa redução do número de caso é que com as medidas aderidas no período de pandemia e a lotação das unidades básicas de saúde (UBS) com pacientes com problemas respiratórios, tenha diminuído o número de testagem rápidas e assim diminuindo o número de notificações dos casos de sífilis adquirida no Brasil em 2020. Em 2021, com uma maior flexibilização nas medidas sanitárias de distanciamento e isolamento, os casos voltaram a subir.
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) estão presente no quadro de doenças delicadas da saúde pública, por apresentarem complicações que afetam a saúde reprodutiva e por aumentar o risco de transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV), como o caso da sífilis, que acomete em mais de seis milhões de pessoas anualmente (De Peder, 2019).
De acordo com pesquisa realizada por Menezes et. al. (2021) por dados quantitativos levantados em notificações de casos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), através da separação dos dados por sexo ficou evidente que a população masculina se manifestou com maior número de casos com sífilis, evidenciando uma predisposição dos mesmos se colocarem em maiores situações de risco do que as mulheres.
A falta de políticas públicas voltadas para o sexo masculino é uns dos agravantes da falta de procura pelo tratamento preventivo, de forma que a procura só acontece após a doença já ter se manifestado (Dantas et. al., 2017; Godoy et. al., 2021). Insuficiências de compressão da doença, dificuldade de acesso aos serviços de tratamento, possibilita maior propagação dos casos entre o sexo masculino e transmissão mais facilitada quando tratados inadequadamente (Tebet, 2019).
A predominância do sexo masculino nos casos de propagação da sífilis em relação as mulheres, pode se justificar, também, pelo perfil primitivo e cultural do homem em não se atentar aos cuidados preventivos. Comprova-se que o cenário atual é cheio de possibilidades, os relacionamentos se tornaram mais abertos, aumentou a diversidade de parceiros, a poligamia e o sexo casual (Menezes et. al., 2021).
Entende-se que os homens necessitam de mais atenção em relação aos cuidados preventivos na relação sexual. Sendo uma pauta de políticas de saúde que deve ser tratada com muita responsabilidade, pensando em mais estratégias de ensino sobre prevenção de ISTs voltadas para o público masculino.
A prevenção em saúde desempenha um papel fundamental na diminuição dos casos de sífilis adquirida. E para reduzir os números de casos é de extrema importância ressaltar que as estratégias de prevenção devem ser adaptadas às características e necessidades da população local, levando em consideração fatores socioculturais e adotar estratégias que visam uma prevenção adequada e eficaz. Além de uma detecção efetiva dos casos, para assim chegar a um tratamento com apostada cura dos casos de sífilis.
Nesse sentido, é importante promover campanhas de educação sexual abrangente e adequada, fornecendo informações precisas sobre os riscos da sífilis, modos de transmissão e medidas preventivas, como a importância do uso de preservativos em todas as relações sexuais (Avelleira; Bottino, 2006). Garantindo que os serviços de saúde estejam disponíveis e acessíveis para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento da sífilis. Isso inclui oferecer testes rápidos para detecção de sífilis em unidades de saúde, facilitando o acesso ao tratamento oportuno e aconselhamento para a população (Brasil, 2022).
Assegurar que todas as pessoas diagnosticadas com sífilis recebam o tratamento adequado com antibióticos recomendados. Além disso, é importante acompanhar a resposta ao tratamento e realizar os exames de controle necessários para garantir a cura da infecção evitando assim que a mesma seja transmitida (Domingues et al, 2021). Além de estabelecer parcerias com organizações comunitárias e profissionais de saúde para fortalecer as ações de prevenção da sífilis centrado na pessoa. Isso pode incluir escuta ativa facilitando o vínculo médico paciente, sem preconceitos, campanhas de conscientização e orientação a pessoas com vida sexual ativa, eventos educativos e programas de alcance direcionados a populações específicas (Brasil, 2022).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que teve aumento progressivo nos casos de sífilis no Brasil durante os anos entre 2011 e 2021. As principais causas para essa crescente é o aumento do número de testagens rápidas, e a diminuição do uso de preservativo. Em 2020 teve uma baixa em relação aos outros anos, possivelmente por conta da pandemia do COVID-19, que com as medidas de distanciamento, teve-se uma redução no número de parceiros sexuais. Outro fator é que as UBS estavam lotadas de pacientes com problemas respiratórios, diminuindo assim o número de testagens. Os homens foram predominantes nos números de casos, ao que tudo indica é que culturalmente os homens tendem a ter mais relações sexuais desprotegidas do que as mulheres.
Entende-se que a prevenção de saúde é algo necessário para que os casos possam diminuir. Com uma população mais bem informada sobre a prevenção e transmissão, os números serão reduzidos.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmico(a) do Curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional
2Professora Doutora do ITPAC – Porto Nacional