PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA SÍFILIS CONGÊNITA NO ESTADO DE GOIÁS NO PERÍODO DE 2019 A 2023 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12729474


Raquel da Silva Rêgo,
Orientador: D’Artagnan Arnaldo Rodrigues Felipe,


RESUMO

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível ocasionada pela bactéria Treponema pallidum e que permanece um problema de saúde pública devido as altas taxas de mortalidade. O objetivo do trabalho é conhecer o perfil epidemiológico dos casos notificados de sífilis congênita no estado de Goiás durante os anos de 2019 a 2023.Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo, transversal e retrospectivo, com levantamento de casos confirmados de sífilis congênita dos últimos cinco anos disponíveis na plataforma Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde que contém o quantitativo geral de dados fornecidos pelo Sistema de Informação de Agravos e Notificação. Nos últimos cinco anos, 2.387casos de sífilis congênita foram notificados no estado de Goiás. Durante esse período, o ano de 2022 foi responsável pela maioria dos números de casos (n = 784) seguido de 2021 (n = 608), sendo prosseguido por uma queda no ano de 2023 (n = 423). No que diz respeito à faixa etária do recém-nascido, identificou-se que até seis dias de vida foi a idade mais acometida pela sífilis congênita (n = 2.320). A segunda faixa etária mais acometida foi entre 28 dias a menor que um ano, acometendo trinta e oito recém-nascidos. O presente estudo evidencia que o aumento da incidência de sífilis congênita notificada no estado de Goiás nos últimos cinco anos determina a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde na realização do pré-natal para que seja estabelecido de forma precoce e realizado o tratamento oportuno.

Palavras-chave: sífilis congênita; cuidado pré-natal; epidemiologia.

ABSTRACT

Syphilis is a sexually transmitted infection caused by the bacterium Treponema pallidum and remains a public health problem due to high mortality rates. The objective of this study is to know the epidemiological profile of reported cases of congenital syphilis in the state of Goiás during the years 2019 to 2023. This is a quantitative, cross-sectional and retrospective study, with a survey of confirmed cases of congenital syphilis in the last five years available on the Informatics Department of the Unified Health System platform, which contains the general amount of data provided by the Disease Information and Notification System. In the last five years, 2,387 cases of congenital syphilis were reported in the state of Goiás. During this period, 2022 accounted for most of the number of cases (n = 784) followed by 2021 (n = 608), followed by a drop in 2023 (n = 423). Regarding the age group of the newborn, it was identified that up to six days of life was the age most affected by congenital syphilis (n = 2,320). The second most affected age group was between 28 days and less than one year, affecting thirty-eight newborns. The present study shows that the increase in the incidence of congenital syphilis reported in the state of Goiás in the last five years determines the need for training of health professionals in the performance of prenatal care so that early treatment can be established and timely treatment carried out.

Keywords: congenital syphilis, prenatal care, epidemiology.

1  INTRODUÇÃO

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) ocasionada pela bactéria Treponema pallidum e que, embora manifeste diagnóstico e tratamento de reduzido custo, permanece um problema de saúde pública devido as altas taxas de mortalidade. Especialmente, a sífilis congênita é uma das relevantes razões de abortamento, morte fetal, natimortalidade, baixo peso ao nascer, prematuridade e malformações congênitas (Soares et al., 2020). 

É importante o controle da sífilis congênita cuja relação está, sobretudo, às complicações que a infecção é capaz de causar no recém-nascido. Ainda que a maioria das crianças não manifestem sintomas ao nascimento, as apresentações da sífilis congênita podem surgir até os dois anos de idade, determinadas por sífilis congênita precoce; ou posteriormente a essa faixa etária, sífilis congênita tardia. Os sintomas, via de regra, estão relacionados a distúrbios dermatológicos, ósseos, oftalmológicos, auditivos, neurológicos, odontológicos, assim como mudanças laboratoriais (Rocha et al., 2021).  

Nota-se que há problemas na qualidade da assistência prestada nos serviços de saúde, principalmente no campo da atenção primária à saúde, como a escassez de penicilina nas unidades, resultando na ausência de oportunidade para o tratamento e encaminhamento dos pacientes para outros serviços. Desse modo, esses são os fatores decisivos para a ampliação dos casos de sífilis adquirida, sífilis gestacional e sífilis congênita a nível nacional. Contudo, destaca-se que os benefícios do sistema de vigilância e a ampliação do uso de testes rápidos, que permitem captação e rastreamento dos casos são auxiliados com o crescimento no número dos casos da sífilis (Soares; Aquino, 2021).

Ao nascer, aproximadamente 60% a 90% dos recém-nascidos com sífilis congênita não possuem sintomas, sendo fundamental a realização de triagem sorológica da gestante na maternidade. Os sinais e sintomas dos pacientes com sífilis congênita podem se identificar a qualquer momento anteriormente aos dois anos de idade, comumente no período neonatal. Por volta de dois terços das crianças apresentam sintomas em três a oito semanas, e ocasionalmente há manifestações clínicas depois dos três a quatro meses (Domingues et al., 2021).

A sífilis gestacional possui tratamento. Por consequência, a sífilis congênita é capaz de ser evitada. Verifica-se que a sua ocorrência é indicativa de falhas no pré-natal, no diagnóstico ou no tratamento. Assim, ao transmitir a doença ao feto pode haver severas implicações, sendo essencial que os casos de sífilis gestacional sejam identificados e tratados de maneira apropriada juntamente com os parceiros sexuais (Maschio-Lima et al., 2020).

Atualmente, a sífilis congênita no Brasil é originária do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), que possui subnotificação e alto percentual de informações ignoradas ou em branco, reduzindo o uso desse sistema em estudos quanto a incidência e aos fatores associados ao aumento da sífilis congênita. No entanto, essa escassez pode ser compensada pelo relacionamento com outros sistemas de informação em saúde, como o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), aumentando a completude e a confiabilidade dos dados. Por sua vez, a análise de séries temporais pode revelar não só a evolução da incidência, mas também fatores associados às mudanças nos padrões de distribuição do agravo, sendo de grande utilidade para agravos de difícil controle, como a sífilis congênita (Heringer et al., 2020). 

O interesse nesse projeto de pesquisa se dá pelo fato de haver pouco conhecimento sobre a evolução da incidência, os fatores relacionados às mudanças nos padrões de distribuição do agravo da sífilis congênita no estado de Goiás. Nesse sentido, é importante frisar o esclarecimento à equipe multiprofissional a respeito das características clínicas e do curso da doença, a fim de ampliar o conhecimento dos profissionais da área da saúde que lidam com esses pacientes e que apresentam difícil controle. 

2  OBJETIVOS

Dada a relevância da temática, o presente trabalho se propõe a conhecer o perfil epidemiológico dos casos notificados de sífilis congênita no estado de Goiásdurante os anos de 2019 a 2023. 

3  MATERIAIS E MÉTODO(S)

Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo, transversal e retrospectivo, com levantamento de casos confirmados de sífilis congênita dos últimos cinco anos disponíveis na plataforma Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) que contém o quantitativo geral de dados fornecidos pelo Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN). 

O estudo foi realizado no estado de Goiás com população (N) de 2.387 pacientes notificados com sífilis congênita nos anos de 2019 a 2023. As variáveis analisadas foram: ano e mês do diagnóstico de sífilis congênita, macrorregião, microrregião e região metropolitana do estado, faixa etária do recém-nascido, escolaridade e faixa etária materna, realização do pré-natal, sífilis materna, tratamento do parceiro, classificação final e evolução dos casos. 

Os critérios de inclusão foram notificação de sífilis congênita, ser morador do estado de Goiás e notificação de pacientes que apresentaram a sífilis congênita no período de 2019 a 2023. Foram excluídas as notificações de pacientes que apresentaram a sífilis congênita fora do período de 2019 a 2023; os casos de pacientes que não possuíam diagnóstico de sífilis congênita e as notificações com dados incompletos.

Nas notificações de sífilis congênita, foram considerados os antecedentes epidemiológicos da mãe (realização do pré-natal e momento do diagnóstico), tratamento da mãe e parceiros. Durante a pesquisa, não foi feita a exportação de dados com nomes dos indivíduos notificados, portanto a identidade dos mesmos foi mantida em sigilo, não havendo necessidade da utilização do Termo de Consentimento Livre Pós Esclarecido e nem aprovação ao Comitê de Ética. 

4 RESULTADOS

Nos últimos cinco anos, 2.387casos de sífilis congênita foram notificados no estado de Goiás. Durante esse período, o ano de 2022 foi responsável pela maioria dos números de casos (n = 784) seguido de 2021 (n= 608), sendo prosseguido por uma queda no ano de 2023 (n = 423) (Tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição absoluta (n = 2.387) dos casos de sífilis congênita por ano e mês do diagnóstico, Goiás.

Mês Diagnóstico20192020202120222023Total
Janeiro49446876237
Fevereiro42485066206
Março55555782249
Abril170567886291
Maio53527065240
Junho48656548226
Julho435975177
Agosto444572161
Setembro1393752129
Outubro415169161
Novembro444159144
Dezembro7355569166
Total95636087844232.387

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net (2024).

O número total de casos esteve distribuído por regiões, sendo divididas em macrorregião, microrregião e região metropolitana do estado de Goiás (Tabela 2). Sendo assim, foi possível observar que no que se refere à macrorregião, a região nordeste do estado (n = 1.023) apresentou o maior número de notificações, seguida da região centro-oeste (n = 503).

Além disso, o entorno de Brasília e a cidade de Goiânia (n = 1.038 e 579, respectivamente) foram as microrregiões mais afetadas pela sífilis congênita. Entretanto, ao observar a região metropolitana, o Distrito Federal e Entorno (n = 1.038), assim como fora da região metropolitana de Goiás (n = 762) apresentaram elevados índices da doença.

Tabela 2 – Quantitativo de diagnósticos de sífilis congênita (n = 2.387) referente à macrorregião, microrregião e região metropolitana, Goiás.

Macrorregião 2019 2020 2021 2022 2023 Total
Sudoeste1201088122331
Nordeste32222773231981.023
Centro-Oeste31139619695503
Centro-Norte36538161231
Centro Sudeste3727410347299
Microrregião      
São Miguel do Araguaia13329
Rio Vermelho1679840
Aragarças1135
Porangatu439319
Chapada dos Veadeiros478120
Ceres254314
Anápolis23376549174
Iporá176317
Anicuns3411220
Goiânia6120123219111579
Vão do Paraná5229
Entorno de Brasília32242783312021.038
Sudoeste de Goiás1111037417305
Vale do Rio dos Bois848121
Meia Ponte281315460
Pires do Rio2510421
Catalão535720
Quirinópolis534416
Região metropolitana      
Goiânia – GO6120124225112587
DF e Entorno – DF/GO/MG32242783312021.038
Fora de Região Metropolitana. – GO219206228109762

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net (2024).

No que diz respeito à faixa etária do recém-nascido (Tabela 3), identificou-se que até seis dias de vida foi a idade mais acometida pela sífilis congênita (n = 2.320). A segunda faixa etária mais acometida foi entre 28 dias a menor que um ano, acometendo trinta e oito recém-nascidos. 

Tabela 3 – Quantitativo de diagnósticos de sífilis congênita (n = 2.387) referente a faixa etária do recém-nascido, Goiás.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net (2024).

A Tabela 4 é referente às características das mulheres notificadas com sífilis na gestação. Observou-se que a idade mais acometida da gestante com sífilis foi entre 20 a 24 anos em 884 pacientes, com alta prevalência em mulheres que realizaram ensino médio completo (n = 553). 

Em contrapartida, nota-se elevados índices no item ignorado/branco (n = 696), sendo necessário melhor treinamento aos profissionais que realizam a notificação. Ainda, o número de casos no período estudado é menor entre as gestantes analfabetas (n = 11). O diagnóstico de sífilis durante o pré-natal foi efetuado em 1.456 pacientes, embora 703 receberam o diagnóstico no momento do parto/curetagem. Ademais, 1.960 pacientes afirmaram terem realizado pré-natal corretamente.

Tabela 4 – Quantitativo de diagnósticos de sífilis congênita (n = 2.387) referente às características das mulheres notificadas por apresentarem sífilis na gestação, Goiás.

Faixa etária 2019 2020 2021 2022 2023 TOTAL
Em branco713171047
10-14346114
15-19314012613079478
20-243198222303158884
25-2939913518888513
30-3466688552271
35-3933313828130
40-4416816747
45-491113
Escolaridade      
Ign/Branco3203156210124696
Analfabeto424111
1ª a 4ª série incompleta do EF10711533
4ª série completa do EF1212131350
5ª a 8ª série incompleta do EF4999710448352
Ensino fundamental completo37535428172
Ensino médio incompleto9412012669409
Ensino médio completo272135231113553
Educação superior incompleta111315948
Educação superior completa59131138
Sífilis materna      
Ign/Branco3016221583
Durante o pré-natal63343834922411.456
No momento do parto/curetagem2159183221138703
Após o parto38234426131
Não realizado1235314
Realização de pré-natal
Ign/Branco3519211186
Sim94395146453531960
Não897511859341
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net (2024).

Referente ao tratamento do parceiro (Tabela 5), 1.373 relataram não terem feito qualquer tipo de tratamento a partir do diagnóstico de suas mulheres, seguido de 571 parceiros que afirmaram terem submetidos ao tratamento.

Tabela 5 – Quantitativo de diagnósticos de sífilis congênita (n = 2.387) referente ao tratamento do parceiro, Goiás.

Tratamento parceiro 20192020 2021 2022 2023 TOTAL
Ign/Branco29312113196443
Sim314314219687571
Não43273454572401.373
Total95636087844232.387

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net (2024).

Em relação à classificação final, foi possível observar número expressivo de sífilis congênita recente (n = 2.263), seguido por 90 casos descartados e 3 casos de sífilis congênita tardia. Além disso, houveram 31 casos de natimorto/aborto devido a doença (Tabela 6). 

Tabela 6 – Quantitativo de diagnósticos de sífilis congênita (n = 2.387) referente a classificação final, Goiás.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net (2024).

No que tange a evolução da sífilis congênita (Tabela 7), nota-se que a maioria dos pacientes (n = 2.141) mantiveram a vida após o nascimento. Entretanto, 34 foram a óbito pelo agravo notificados e 28 por outra causa.

Tabela 7 – Quantitativo de diagnósticos de sífilis congênita (n = 2.387) referente a evolução, Goiás.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net (2024).

5 DISCUSSÃO 

Nos últimos cinco anos, 2.387casos de sífilis congênita foram notificados no estado de Goiás. Durante esse período, o ano de 2022 foi responsável pela maioria dos números de casos, sendo prosseguido por uma queda em 2023. No estudo de Heringer et al. (2020) foi possível observar tendência crescente do agravo, verificando aumento de casos em 16% ao ano, que afetou 23,2 casos/1.000 nascidos vivos no ano de 2016. 

As características de idade do recém-nascido do presente estudo corroboram com o que é apontado na literatura, identificando que até seis dias de vida foi a idade mais acometida pela sífilis congênita (n = 2.320). A segunda faixa etária mais acometida foi entre 28 dias a menor que um ano, acometendo trinta e oito recém-nascidos. Este achado assemelha-se ao da pesquisa de Nagai et al. (2021). 

No estudo de Almeida et al. (2021), os autores evidenciaram que grande parte das gestantes com sífilis era da raça branca e possuía nove ou mais anos de escolaridade. Além disso, 46,8% das pacientes obtiveram recém-nascido com sífilis congênita. Para Costa et al. (2023), 66,7% dos casos de sífilis gestacional dos participantes de seu estudo foram caracterizadas por mães com menos de oito anos de estudos.

Heringer et al. (2020) identificaram 754 casos de sífilis congênita, apresentando incidência média de 11,9 casos/1.000 nascidos vivos. Pacientes jovens, com idade entre 10 a 19 anos e 20 a 24 anos, com baixa escolaridade e sem pré-natal foram mais frequentes. Corroborando com tais achados, observa-se que no presente estudo a idade mais acometida da gestante com sífilis foi entre 20 a 24 anos, com alta prevalência em mulheres que realizaram ensino médio completo.

Evidências ressaltam que o número de consultas pré-natais foi o único fator que teve associação com a sífilis congênita, sendo notório que conforme aumentou o número de consultas, reduziu a ocorrência (Almeida et al., 2021). 

Dentro deste contexto, os dados encontrados no presente estudo são compatíveis com os descritos no estudo de Heringer et al. (2020), onde 57,6% obtiveram o diagnóstico de sífilis durante o pré-natal e as demais pacientes descobriram a infecção exclusivamente na internação para o parto ou para a realização de curetagem, ou esta informação foi desconsiderada.

Como fatores contribuintes para o aumento da incidência de sífilis congênita no Brasil, destacam-se o contexto social da gestante, as intercorrências no diagnóstico, tratamento e atenção às grávidas, além da escassez de políticas públicas e no sistema de notificação (Morais; Passo; Eleutério Junior, 2022). A fim de evitar a transmissão vertical da sífilis, é imprescindível que as gestantes recebam o diagnóstico precoce e o tratamento adequado (Oliveira et al., 2024).

Nota-se que a sífilis congênita ainda é causa de mortalidade perinatal. Pacientes que não receberam tratamento de infecção materna apresenta consequências adversas na gestação, compreendendo a perda fetal precoce, o parto prematuro, o baixo peso ao nascer e a doença congênita entre os recém-nascidos. A escassez da assistência pré-natal é o primordial preditor de mortalidade por sífilis congênita devido ao período em que é realizado o rastreamento, o diagnóstico e a orientação que a gestante necessita quanto ao tratamento oportuno e as possíveis complicações da não adesão (Maciel et al., 2023). 

Achados da literatura evidenciam que, atualmente, a mortalidade por sífilis congênita em neonatos aumentou, sobretudo devido a carência de assistência pré-natal. Dessa forma, cabe aos gestores de saúde estabelecer a sífilis como preferência nas políticas públicas, educando as gestantes a respeito do valor do acompanhamento pré-natal, a fim de diminuir as taxas de mortalidade por sífilis congênita (Maciel et al., 2023). 

Um dos motivos que auxiliam para o aumento no número de casos é a qualidade do pré-natal à gestante de forma negligenciada. Ainda, há o fato de que o Brasil passou por um desabastecimento da penicilina, medicamento indicado pelo Ministério da Saúde para o tratamento da sífilis gestacional, devido à ausência dos componentes para fabricar o medicamento. Por conseguinte, reflete em uma maior transmissão da doença para o recémnascido (Neves et al., 2021).

Um estudo realizado em Porto Velho, Rondônia, comprovou a importância da assistência pré-natal para o diagnóstico de sífilis congênita, evidenciando que mais da metade dos casos (51,2%) possuem diagnóstico na assistência pré-natal. Ainda, o estudo verificou falha na identificação precoce da sífilis congênita e no tratamento impróprio ou na falta de tratamento dos parceiros (Moraes, 2021).

Em consonância com os dados encontrados, é relatado na literatura que a maioria dos parceiros não recebem tratamento a partir do diagnóstico de suas mulheres ou o tratamento é realizado inapropriadamente, sendo capaz de gerar reinfecção (Costa et al., 2023; Heringer et al., 2020). A não realização do tratamento da mãe e do parceiro apresentaram justificativas mais frequentes para definir o caso de sífilis congênita, onde 33 recém-nascidos com sífilis manifestaram intercorrência ao nascimento (Almeida et al., 2021).

Em relação à classificação final da sífilis congênita, nota-se que o presente estudo identificou um número expressivo de sífilis congênita recente (n = 2.263), seguido por 90 casos descartados e três casos de sífilis congênita tardia. Segundo Trento; Moreira (2022), a maioria das crianças com sífilis congênita possuíam menos de sete dias de vida e foram diagnosticadas como sífilis congênita recente.

A sífilis congênita é um evento sentinela, uma vez que pode ser evitada por ações eficientes e adequadas pelo cuidado de saúde promovido para com a grávida. Por ser uma doença vulnerável à prevenção, o acontecimento leva à avaliação desfavorável do funcionamento da rede de atenção à saúde. A prevenção da sífilis congênita ocorre a partir do momento que a gestante infectada e o seu parceiro sexual recebam o diagnóstico e sejam devidamente tratados durante a assistência pré-natal. Embora ocorra aumento da cobertura pré-natal, ainda verifica reduzida efetividade de ações preventivas da sífilis congênita no país (Silva et al., 2019).

No que tange a evolução da sífilis congênita, nota-se que a maioria dos pacientes (n = 2.141) mantiveram a vida após o nascimento. Entretanto, 34 foram a óbito pelo agravo notificados e 28 por outra causa. Em discordância com tais achados, Festa et al. (2023) relatou em seu estudo que dos 27.713 casos de sífilis congênita notificados, 1.320 evoluíram para óbito, sendo que 871 foram fetais e 449, infantis (Festa et al., 2023).

Evidências apontam que a morte proveniente por sífilis congênita é considerada um evento sentinela da assistência pré-natal. Como medidas de prevenção do óbito, é necessário ações eficientes nos serviços de saúde e a importância de sua notificação/investigação pela vigilância epidemiológica (Belo et al., 2021).

Como fatores de risco para a sífilis congênita, destaca-se a baixa cobertura pré-natal, o a educação materna inapropriada, o diagnóstico tardio e a falta de conscientização. Para uma prevenção eficiente da doença é necessária uma abordagem multifacetada com melhorias na qualidade da assistência pré-natal, acesso igualitário aos cuidados de saúde, educação em saúde e políticas públicas integradas. A testagem constante e o uso de tecnologias educacionais são fundamentais para a prevenção da transmissão vertical da sífilis, além de aprimorar os resultados de saúde neonatal (Negreiros; Do Nascimento; Da Silva, 2024).

Desse modo, sugere a necessidade de melhorias na infraestrutura das unidades de saúde do país, a capacitação dos agentes de saúde e uma demanda apropriada para um acompanhamento integral e adequado para as grávidas diagnosticadas com sífilis (Coutinho et al., 2021).

6 CONCLUSÕES 

A partir das evidências alcançadas no presente estudo, certifica-se que o aumento de casos de sífilis congênita tem sido atestado em variadas investigações dos estados brasileiros, destacando o estado de Goiás. Uma das justificativas para o aumento desses casos é a não identificação precoce da doença no período gestacional e o tratamento ausente ou indevido às pacientes e seus parceiros.

A análise do perfil epidemiológico da sífilis congênita é imprescindível para o manejo adequado, com a finalidade de detectar e realizar o tratamento precoce, a fim de evitar demais complicações. Ao observar o perfil epidemiológico das pacientes notificadas com sífilis na gestação, há prevalência de faixa etária entre 20 a 24 anos, com índice de escolaridade médio. Diante ao diagnóstico de sífilis durante o pré-natal, foi possível evidenciar que a maioria recebeu o diagnóstico no momento do parto/curetagem, porém afirmaram terem realizado pré-natal corretamente.

O aumento da incidência de sífilis congênita notificada no estado de Goiás nos últimos cinco anos determina a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde na realização do pré-natal para que seja estabelecido de forma precoce e realizado o tratamento oportuno.

REFERÊNCIAS

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