EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF CONGENITAL SYPHILIS IN BAHIA BETWEEN 2017 AND 2022
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8286176
¹Laís Caroline Pierdoná
¹Maria Eduarda Ferreira Matheus
²Juliana Leles Costa
RESUMO
Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico da sífilis congênita no estado da Bahia entre os anos de 2017 a 2022. Métodos: A pesquisa é um estudo de um corte transversal, observacional descritivo com enfoque quantitativo e epidemiológico utilizando a base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação de dados de sífilis congênita no período de 2017 a 2022 no estado da Bahia. Resultados: No período estudado foram notificados 7.517 novos casos de sífilis congênita, evidenciando um alto índice de infecção. Observou-se nos recém nascidos diagnóstico precoce, com menos de sete dias de vida e predominância de mães entre 20 e 29 anos, com baixa escolaridade, pardas, que realizaram pré-natal. Considerações finais: Analisando o presente estudo observa-se que os dados evidenciam uma tendência estacionária em relação ao número de casos de sífilis congênita no estado da Bahia no período analisado. Assim entende-se a necessidade de qualificar a assistência pré-natal, com testes para diagnóstico devem ser realizados nos períodos corretos e repetidos, com destaque a acessibilidade e buscas ativas da população alvo
Palavras-chave: Epidemiologia; Infecção Sexualmente Transmissível; Recém-nascido; Sífilis.
ABSTRACT
Objective: To analyze the epidemiological profile of congenital syphilis in the state of Bahia between the years 2017 to 2022. Methods: The research is a cross-sectional, descriptive observational study with a quantitative and epidemiological focus using the database of the Information System for Disease Notification of congenital syphilis data in the period from 2017 to 2022 in the state of Bahia. Results: In the studied period, 7,517 new cases of congenital syphilis were reported, showing a high rate of infection. It was observed in newborns early diagnosis, with less than seven days of life and predominance of mothers between 20 and 29 years old, with low education, brown, who underwent prenatal care. Final considerations: Analyzing the present study, it is observed that the data show a stationary trend in relation to the number of cases of congenital syphilis in the state of Bahia in the analyzed Thus, it is understood the need to qualify prenatal care, with tests for diagnosis should be performed in the correct and repeated periods, with emphasis on the accessibility and active searches of the target population.
Keywords: Epidemiology; Sexually Transmitted Infection; Newborn; Syphilis.
1. INTRODUÇÃO
A sífilis congênita é uma doença infectocontagiosa causada pela disseminação hematogênica transplacentária do Treponema pallidum, bactéria Gram-negativa do grupo das espiroquetas. A transmissão vertical ocorre quando a gestante infectada não é tratada ou é indevidamente tratada, podendo ser transmitida em qualquer estágio da doença materna (FEITOSA J, et al., 2016; PIRES A, et al., 2014; BRASIL, 2008).
A transmissão por meio da placenta ocorre principalmente, durante as primeiras fases da sífilis, primária e secundária, reduzindo a transmissão durante a fase terciária. Além disso, há possibilidade de infecção do recém nascido se o canal de parto houver lesões genitais maternas (PIRES A, et al., 2014; BRASIL, 2008; BRASIL, 2006)
Segundo o Ministério da Saúde (2022), a pesquisa realizada até junho de 2022 em um grupo de 100 mil pessoas, foram registrados mais de 30.000 casos de sífilis em gestantes, sendo mais de 12.000 casos de sífilis congênita (BRASIL, 2022). Desde 1986 a sífilis congênita é uma doença de notificação compulsória, revelando-se um aumento gradativo a cada ano e sendo um problema para a saúde no Brasil (BRASIL, 2008; DOMINGUES R, et al., 2016).
Além da transmissão vertical, a sífilis é transmitida principalmente pela via sexual ou podendo ser por via indireta e transfusão sanguínea. A sífilis possui estágios diferentes: primário, secundário e terciário, além do período de latência. A sífilis primária ocorre após três semanas da infecção com aparecimento do cancro duro, sendo indolor e único, localizado principalmente na região genital (PIRES A, et al., 2014).
A sífilis secundária ocorre após o período de latência, disseminando por todo o corpo em forma de máculas eritematosas, as lesões são bem características em regiões palmares e plantares. A segunda fase perdura por aproximadamente os dois anos da doença com surto e latência. A sífilis terciária desenvolve-se lesões com aspecto de granulomas destrutivos que se estendem para pele e mucosas, sistema cardiovascular e nervoso (PIRES A, et al., 2014; AVELLEIRA J, et a., 2006) .
A transmissão durante a gestação tem a probabilidade de ocorrer entre 50-100% durante a fase primária e secundária, passando a ser 10% na fase tardia. A sífilis congênita na maioria dos casos é assintomática até o primeiro ano de vida, sendo caracterizada de precoce, porém alguns recém nascidos apresentam alterações como prematuridade, baixo peso, hepatomegalia, esplenomegalia e lesões cutâneas (PIRES A, et al., 2014; BRASIL, 2008)
As lesões cutâneo-mucosas podem estar presentes desde o nascimento, apresentando-se em face e extremidades como lesões bolhosas e exantemáticas. Quando as alterações ocorrem a partir do segundo ano de vida, a sífilis congênita é chamada de tardia, sendo alterações irreversíveis, as mais comuns são: ceratite, surdez e retardo mental² ³ ⁸. Além disso, na sífilis congênita tardia as alterações como tíbia em “Lâmina de Sabre”, articulações de Clutton, fronte “olímpica”, nariz “em sela” e dentes incisivos medianos superiores deformados são frequentes (PIRES A, et al., 2014; BRASIL, 2008 AVELLEIRA et al., 2008; BRASIL, 2006).
O diagnóstico da sífilis congênita se baseia em uma somatória de história clínica, epidemiologia, além de exames laboratoriais, sorológicos e imagem (FEITOSA J, et al., 2016). Os métodos utilizados possuem duas categorias, pesquisa direta e teste imunológico (BRASIL, 2015). A escolha do exame deve ser considerada além da disponibilidade, e ser realizada de acordo com o estágio da infecção (PIRES A, et al., 2014; BRASIL, 2015).
A identificação da bactéria por pesquisa direta, embora não seja utilizado frequentemente, é um meio de diagnóstico preciso, sendo eles campo escuro, considerado teste padrão ouro, pesquisa direta com material corado e pela imunofluorescência direta (FETOSA J, et al., 2016; PIRES A, et al., 2014; BRASIL, 2006). A pesquisa direta pelo T. pallidum são indicados na fase da sífilis recente, quando há grande quantidade de microrganismos (PIRES A, et al., 2014; BRASIL, 2015). Os testes imunológicos permanecem sendo a principal escolha para o diagnóstico de sífilis e são organizados em dois grupos, treponêmicos e não treponêmicos (BRASIL, 2006; BRASIL 2015). Utilizados para a confirmação do diagnóstico e triagem e acompanhamento do tratamento, respectivamente (PIRES A, et al., 2014).
Os testes imunológicos/sorológicos indicam a presença de anticorpos se houver contato do organismo com o T. pallidum (PIRES A, et al., 2014) . Sorologia não treponêmica, cujo principal e mais utilizado no Brasil é o teste VDRL, por sua técnica simples, rápida e de baixo custo (BRASIL, 2006). O resultado pode ser obtido de forma qualitativa, reagente ou não, e quantitativa, através da titulação (FEITOSA J, et al., 2016; BRASIL, 2006). Os testes treponêmicos, conhecidos como testes confirmatórios, de caráter qualitativo detectam anticorpos antitreponêmicos específicos, dentre os mais utilizados FTA-Abs e TPHA (FEITOSA J, et al., 2016; BRASIL, 2015).
O tratamento neonatal de sífilis congênita abrange todos aqueles casos diagnosticados como sífilis confirmada ou provável. Neonatos assintomáticos quando os títulos maternos não caíram após tratamento adequado na gestação, ou caso o seguimento da criança não possa ser realizado, também devem receber tratamento (GUINSBURG R, et al., 2010). A penicilina cristalina ou procaína são as drogas de escolhas (GUINSBURG R, et al., 2010). O tratamento e a droga de escolha são indicados de acordo com avaliação clínica e de exames complementares (BRASIL, 2006). O tratamento materno realizado no primeiro trimestre costuma evitar a infecção fetal. O esquema terapêutico completo, utilizando com penicilina é considerado treponêmico. Quando o tratamento é realizado de forma incompleta é considerado uma falha terapêutica (GUINSBURG R, et al., 2010).
A sífilis congênita tem grande impacto para a saúde pública tendo em vista a alta taxa de óbito fetal e neonatal, além de possíveis sequelas graves que repercutem ao longo da vida, como lesões neurológicas (FEITOSA J, et al., 2016). Entretanto, é uma doença de fácil prevenção, cujo rastreio e diagnóstico fazem parte do pré-natal adequado, e tratamento, que tem caráter curativo, e está disponível na rede pública de saúde (PIRES A, et al., 2014). O diagnóstico e tratamento adequado reduzem a transmissão vertical em até 97% (DOMINGUES R, 2016) .
Apesar dos recursos disponíveis no sistema único de saúde, os casos de sífilis congênita ainda existem em grande quantidade. Em 2013, foram registrados no Sinan 21.382 casos de sífilis em gestantes no Brasil, com taxa de detecção de 7,4 casos por 1.000 nascidos vivos. A notificação de casos de sífilis congênita também tem aumentado no Brasil, apresentando 13.705 casos notificados em menores de um ano de idade, com taxa de incidência de 4,7 casos por 1.000 nascidos vivos, no mesmo ano (BRASIL, 2015). Na Bahia, entre os anos de 2000 a 2012, foram registrados 3.227 casos de sífilis congênita por ano (PIRES A, et al., 2014).
Nesse sentido, o objetivo deste estudo é identificar o perfil epidemiológico dos casos de sífilis congênita no estado da Bahia de 2017 a 2022.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa é um estudo é um corte transversal, observacional descritivo com enfoque quantitativo e epidemiológico utilizando a base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, disponíveis no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no endereço eletrônico (http://indicadoressifilis.aids.gov.br) no período de 2017 a 2022 no estado da Bahia.
A população estudada foi composta por todos casos de sífilis congênita (n=7.510) no período mencionado no estado da Bahia. Os dados coletados durante abril e maio de 2023 foram organizados em planilhas do Microsoft Office Excel para serem apresentados em forma de tabelas. Além disso, foi utilizado artigos como fonte eletrônica científica da Scientific Eletronic Library online (SciELO) e U.S National Library of Medicine (pubMed), sendo “sífilis” AND “congênita” os termos para as pesquisas.
A pesquisa baseia-se no perfil epidemiológico maternos para os critérios de inclusão com as seguintes variáveis: idade materna (10-14 anos, 15-19 anos, 20-29 anos, 30-39 anos, > 40 anos), escolaridade (analfabeto, 5⁰ a 8⁰ série, ensino fundamental completo, ensino médio completo e superior completo), raça e cor (branca, preta e parda), realização do pré natal (sim ou não), momento do diagnóstico (durante o pré-natal, no parto/curetagem, após o parto), tratamento (adequado, inadequado, não realizado) e óbitos por sífilis congênita em menores de um ano. Além disso, a pesquisa também baseia-se em variáveis relacionadas ao RN: Casos de sífilis congênita segundo idade da criança ( < 7 dias, 7-27 dias, 28-364 dias, um ano), Casos de sífilis congênita segundo diagnóstico final (sífilis congênita recente, sífilis congênita tardia, aborto por sífilis, natimorto por sífilis). Os dados foram organizados no pacote office, Microsoft excel e apresentados em tabelas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A sífilis congênita é uma doença que pode ser evitada e tratada corretamente durante os cuidados pré-natal. As medidas de controle, vigilância e prevenção são primordiais, pois a transmissão materna para o feto está principalmente relacionada ao início tardio do acompanhamento e baixa frequência de consultas pré-natal, dificultando dessa forma um diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Essa realidade associa-se em locais que têm baixos níveis de escolaridade e a piores condições socioeconômicas, dificultando o aconselhamento familiar (FEITOSA J, et al., 2016; GUINSBURG R, et al., 2010)
Entre 2017 e 2022 foram diagnosticados 7.517 casos novos de sífilis congênita no estado da Bahia, observou-se que em 2018 obteve-se maior números de casos comparados aos anos antecedentes e subsequentes, conforme a Tabela 1. Esse aumento de casos pode ser justificado pelo boletim epidemiológico de sífilis (2019) da Bahia, o qual retratou que se obteve o aprimoramento do Sistema de Vigilância, melhoria na notificação de casos pelos profissionais de saúde e a descentralização dos testes rápidos municípios do Estado da Bahia, com execução da testagem rápida, prioritariamente, nas unidades básicas de saúde (MAGALHÃES A, et a., 2019).
Tabela 1 – Casos e taxa de detecção (por 1.000 nascidos vivos) em menores de um ano com sífilis congênita. Bahia, 2017-2022.
ANOS | N° de casos | Taxa de detecção |
2017 | 1.379 | 6,8 |
2018 | 1.543 | 7,5 |
2019 | 1.251 | 6,3 |
2020 | 1.317 | 7 |
2021 | 1.443 | 7,6 |
2022 | 584 | – |
TOTAL | 7.517 |
² Total não se aplica quando referido ao dado de taxa de detecção.
FONTE: DATASUS/2022
Ao analisar a porcentagem de casos segundo a idade da criança (tabela 2), nota-se uma similaridade de percentual entre os anos analisados (2017 a 2022), em que a maioria dos recém-nascidos são diagnosticados em menos de 7 dias de vida, sendo seguida por crianças de 7 a 364 dias. Estudos evidenciam que a partir dos 7 dias poucos casos são notificados ou diagnosticados, refletindo essa redução significativa nas outras idades avaliadas (HERINGER ALDS, et al., 2020).
Em relação ao diagnóstico final, a sífilis congênita classificada como recente obteve-se maior número de casos durante os anos analisados na Bahia com a maior taxa em 2017 (96,3%), assim como ocorreu nos restantes dos estados do Brasil, segundo dados do SINAN.
Apesar da baixa porcentagem de aborto e natimorto evidenciada na Tabela 2, um estudo realizado na Bahia em 2019 afirma que aproximadamente 40% de mulheres com sífilis congênita não tratadas desencadeiam aborto espontâneo e natimorto. Segundo o SINAN, a Bahia em 2021 obteve-se uma taxa de 3,1%, um aumento percentual comparado aos anos antecedentes, assim como em todo o país, pois nesse ano percebeu-se um incremento de 12,9% nos casos de abortos e natimortos em relação ao ano de 2020. Esse aumento de casos deveu-se provavelmente à falta de diagnóstico (especificamente com baixa oferta de testes para sífilis), além da escassa vigilância, capacitação dos profissionais e tratamento adequado, corroborando para desfechos desfavoráveis (SILVA G, et al., 2020; FERREIRA D, et al., 2020; HERINGER ALDS, et al., 2020).
O momento diagnóstico materno destacou-se com maior percentual durante o pré-natal, principalmente durante o ano de 2018 com 55,3%. O boletim epidemiológico da Bahia de 2019, correlaciona essa taxa com baixa qualidade da assistência ao pré-natal, pois mesmo com a melhoria no diagnóstico de SC antes do parto, não foi o suficiente para diminuir a transmissão e o agravo. Além disso, um estudo realizado em Brasília que avaliou o perfil epidemiológico nacionalmente, relatou níveis insatisfatórios de atendimento adequado no Brasil durante o pré-natal, pois menos da metade das gestantes receberam um acompanhamento satisfatório (MAGALHÃES, A, et al., 2019; SOUZA W, et a., 2016).
Tabela 2- Distribuição percentual de casos de sífilis congênita segundo a idade da criança, diagnóstico final da criança por ano e momento do diagnóstico da sífilis materna. Bahia, 2017-2022.
2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | |
IDADE | % | % | % | % | % | % |
< 7 dias | 94,4 | 94,7 | 94,8 | 96,2 | 96,6 | 96,2 |
7 – 27 dias | 2,9 | 3 | 3,3 | 1,8 | 1,5 | 1,8 |
28 – 364 dias | 2,4 | 2,1 | 1,2 | 1,7 | 1,8 | 2 |
1 ano | 0,3 | – | 0,3 | 0,1 | – | – |
DIAGNÓSTICO FINAL | ||||||
Recente | 96,3 | 94,8 | 95,4 | 96,1 | 94,6 | 94,9 |
Tardio | 0,1 | 0,2 | 0,5 | 0,2 | 0,1 | 0 |
Aborto | 1,8 | 2,9 | 2,3 | 1,9 | 3,1 | 1,7 |
Natimorto | 1,8 | 2,9 | 2,3 | 1,9 | 2,1 | 3,4 |
MOMENTO DO DIAGNÓSTICO | ||||||
Pré natal | 53,7 | 55,3 | 53,6 | 45,1 | 48,8 | 46,9 |
Parto/curetagem | 27,3 | 28,6 | 32,6 | 34,9 | 32,9 | 33,2 |
Após parto | 12,5 | 10,3 | 7,4 | 10,8 | 10,5 | 5,5 |
² Total não se aplica quando referido ao dado de taxa de detecção.
FONTE: DATASUS/2022
A tabela 3 aborda o percentual de sífilis congênita conforme a idade materna, sendo a idade mais relevante 20 a 29 anos, resultado semelhante em estudo feito na cidade de Maceió, 2019¹². Estudos referem que a predominância de mulheres gestantes com essa faixa etária sendo diagnosticadas com sífilis esteja relacionada a vida sexual ativa associado a escassa educação voltada à prática sexual e ineficiência de planejamento familiar corroboram para esse cenário (FERREIRA D, et al., 2020; LIMA M, et al., 2019).
Porém, notou-se também uma considerável percentual de pacientes com a faixa etária de 15 a 19 anos, principalmente no ano de 2018 com 23,7%, uma pesquisa realizada no Maranhão em 2018 sobre sífilis em gestantes, destacou essa elevada prevalência com início da vida sexual precoce, necessitando de uma divulgação para essa idade sobre práticas sexuais no início da vida sexual, pois isso evitaria Infecções sexualmente transmissíveis (IST) (FERNANDES J, et al., 2021).
Tabela 3- Distribuição percentual de casos de sífilis congênita segundo faixa etária, escolaridade, raça/cor, realização do pré-natal e tratamento da mãe por ano de diagnóstico. Bahia, 2017-2022
2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | |
IDADE | % | % | % | % | % | % |
10 – 14 anos | 1,2 | 0,8 | 1,4 | 1,1 | 0,7 | 1,2 |
15 – 19 anos | 22,6 | 23,7 | 21,7 | 20,3 | 18,1 | 18,3 |
20 – 29 anos | 50 | 50,6 | 53,3 | 53,4 | 56,5 | 55,1 |
30 – 39 anos | 21,5 | 20,4 | 18,9 | 20,7 | 20,8 | 20,9 |
ESCOLARIDADE | ||||||
Analfabeto | 0,6 | 0,5 | 0,5 | 0,2 | 0,3 | 1 |
5° a 8° serie incompleta | 23,7 | 23 | 20,5 | 16,8 | 19,5 | 17,5 |
Fundamental completo | 7,9 | 7,1 | 7,1 | 6,8 | 7,6 | 7 |
Médio completo | 13,1 | 13,7 | 12,5 | 15,3 | 14,6 | 16,6 |
Superior completo | 0,9 | 0,5 | 0,4 | 1,1 | 1,2 | 0,7 |
RAÇA | ||||||
Branca | 5,7 | 4,1 | 3,4 | 3,9 | 4,8 | 4,3 |
Preta | 16,9 | 15,6 | 11,7 | 10,6 | 13,9 | 15,2 |
Parda | 62,6 | 63,3 | 67,9 | 75,8 | 68,9 | 68,5 |
PRÉ NATAL | ||||||
Sim | 78,1 | 77,8 | 79,2 | 75,6 | 78,3 | 71,1 |
Não | 12,5 | 14,5 | 12,3 | 14,3 | 12,1 | 15,4 |
² Total não se aplica quando referido ao dado de taxa de detecção.
FONTE: DATASUS/2022
Em relação à escolaridade nota-se um elevado percentual em pacientes com 5⁰ a 8⁰ série incompleta em todos os anos analisados, porém destacando-se o ano de 2017 com 23,7%. Em relação a isso, um estudo realizado na Bahia em 2019, evidenciou que a baixa escolaridade influencia no ineficaz conhecimento sobre prevenção de doenças ou como obter acesso à saúde, tornando-se um problema educacional (CERQUEIRA L, et al., 2019) .
A variável em relação à raça/cor, a parda obteve-se predominância nos períodos analisados com maior percentagem em 2020 com (75,8%), sendo seguido pela raça/cor preta, destacando-se em 2017 com 16,9%. Na realização do pré-natal observou-se que a maioria das gestantes realizaram o pré-natal, notando-se uma semelhança com outros estudos realizados no Brasil.
Um estudo realizado em Niterói-RJ também identificou que a maioria realizou o pré-natal, porém com acompanhamento incompleto, número de consultas inadequadas ou início tardio. O mesmo estudo observou que a sífilis congênita está relacionada a fatores econômicos, sociais, acesso à saúde, infraestrutura que, muitas vezes, acomete a população mais vulnerável (HERINGER ALDS, et al., 2020).
A tabela 4 demonstra que na Bahia a maioria das gestantes realizam um tratamento inadequado de sífilis durante a gestação, destacando-se principalmente o ano de 2017 com 815 casos de tratamento inadequado, sendo seguido em 2021 com 804 casos, demonstrando que o perfil se mantém o mesmo após anos. Um estudo realizado em Espírito Santo também obteve resultados semelhantes, em que somente 3,8% das gestantes realizaram o tratamento adequado (CALIMAN M, et al., 2020).
Dessa forma, segundo uma pesquisa realizado em São Paulo sobre o perfil epidemiológico de gestantes no Brasil, correlaciona que no país o diagnóstico de sífilis em gestantes nem sempre é acompanhado de um tratamento oportuno e redução de sífilis congênita. Concluindo-se que é necessária uma assistência mais adequada, pois diversos estudos demonstram falhas durante o pré-natal em relação ao tratamento, refletindo até mesmo em casos de óbitos devido a sífilis congênita. (RAMOS A, et al., 2022; MAGALHÃES A, et a., 2019).
Tabela 4- Casos de sífilis congênita segundo esquema de tratamento da mãe por ano de diagnóstico e casos de óbitos por sífilis congênita em menores de um ano. Bahia, 2017-2022.
2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | |
TRATAMENTO | N | n | n | n | n | n |
Adequado | 60 | 73 | 51 | 42 | 55 | 19 |
Inadequado | 815 | 800 | 760 | 757 | 804 | 242 |
Não realizado | 323 | 315 | 372 | 249 | 339 | 387 |
ÓBITOS | ||||||
Casos | 12 | 17 | 6 | 10 | 10 | – |
FONTE: DATASUS/2022
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados evidenciam uma tendência estacionária em relação ao número de casos de sífilis congênita no estado da Bahia no período analisado. Essa situação pode estar relacionada a não realização do pré-natal ou como visto na maior parte dos casos, quando não aderido de forma correta, com início tardio, não realizando número de consultas adequadas.
Além de fatores sociodemográficos, baixa escolaridade, acessibilidade inadequado aos programas na rede de saúde, refletindo em tratamentos não realizados ou de forma inadequada. Analisando isso, entende-se a necessidade de qualificar a assistência pré-natal, com destaque a acessibilidade, buscas ativas da população alvo. No estudo realizado mesmo que o maior número de diagnostico seja realizado durante o pré-natal, existe uma grande quantidade de recém-nascidos diagnosticados apenas no parto, contribuindo ainda mais para possíveis sequelas graves. Os testes para diagnóstico devem ser ampliados e realizados no período adequado e repetidos ao menos uma vez durante a gestação.
A subnotificação de casos no SINAN podem comprometer e subestimar o real perfil epidemiológico da sífilis congênita no estado da Bahia, dessa forma é fundamental que os profissionais de saúde estejam cientes e bem orientados sobre a importância do preenchimento correto e completo das fichas de notificações. A partir disso, pode-se obter uma melhor compreensão do perfil epidemiológico de Sífilis congênita de acordo com as sub-regiões na Bahia e implementar estratégias de acordo com a necessidade de cada local buscando diminuir a quantidade de casos e a adesão correta ao tratamento.
5. REFERÊNCIAS
1- FEITOSA, José et al. Artigo de Revisão: Sífilis congênita. Revista de Medicina e Saúde de Brasília, [S. l.], p. 286-297, 23 set. 2016.
2- PIRES, Ana et al. OCORRÊNCIA DE SÍFILIS CONGÊNITA E OS PRINCIPAIS FATORES RELACIONADOS AOS ÍNDICES DE TRANSMISSÃO DA DOENÇA NO BRASIL DA ATUALIDADE – REVISÃO DE LITERATURA. Revista UNINGÁ Review, [S. l.], p. 58-64, 23 jun. 2014.
3- COORDENADORIA DE CONTROLE DE DOENÇAS (São Paulo). Serviço de Vigilância Epidemiológica. Sífilis congênita e Sífilis na gestação. Revista de Saúde Pública, Scielo, p. 768-672. 2008.
4- PROGRAMA NACIONAL DE DST/AIDS (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde Programa Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o Controle da Sífilis Congênita. MINISTÉRIO DA SAÚDE, [S. l.], p. 1-73. 2006.
5- MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Sífilis: entenda o que é, qual a prevenção e o tratamento disponível no SUS. [S. l.], 3 nov. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/outubro/sifilis-entenda-o-que-e-qual-a-prevencao-e-o-tratamento-disponivel-no-sus#:~:text=Em%202021%2C%20foram%20registrados%20no,de%20um%20ano%20por%201.
6- DOMINGUES , Rosa. Incidência de sífilis congênita e fatores associados à transmissão vertical da sífilis: dados do estudo Nascer no Brasil. Cad. Saúde Pública, [S. l.], p. 1-12, 9 jun. 2016.
7- GUINSBURG , Ruth et al. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTO DA SÍFILIS CONGÊNITA. Sociedade Brasileira de Pediatria , [S. l.], p. 1-17, 20 dez. 2010
8- AVELLEIRA, João et al. Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. Educação Médica Continuada, [S. l.], p. 1-16. 2006.
9- Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêut icas (PCDT). MINISTÉRIO DA SAÚDE, [S. l.], p. 1-122, 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_clinico_diretrizes_terapeutica_atencao_integral_pessoas_infeccoes_sexualmente_transmissiveis.pdf.
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¹ Graduandas em Medicina no Centro Universitário Maurício de Nassau de Barreiras (UNINASSAU). lais_pierdona@hotmail.com e duda-fm@hotmail.com
²Docente no Centro Universitário Maurício de Nassau de Barreiras (UNINASSAU). profajulianaleles@gmail.com