PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA SEPSE EM UNIDADES HOSPITALARES DE ALAGOAS EM COMPARAÇÃO AO CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO DA SEPSE NO NORDESTE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7810658


Ana Beatriz Dantas Conde Lima1
Aylla Vanessa Ferreira Machado2
Laércio Pol-Fachin3


RESUMO: A sepse pode ser definida como uma disfunção orgânica e potencialmente fatal que decorre de uma resposta desregulada à uma infecção previamente instalada. Constitui um grave problema de saúde mundial, estimando-se cerca de 670 mil óbitos por ano. O objetivo do presente trabalho é analisar do ponto de vista epidemiológico os casos notificados como sepse em unidades hospitalares de Alagoas e do Nordeste, e como o estado se comporta em relação aos números regionais para internações, média permanência e óbitos, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. Este é um estudo epidemiológico de delineamento observacional analítico, o qual teve como base dados coletados no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022, disponível através do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Alagoas registra um total de 7.160 pacientes internados por sepse durante os anos de 2018 a 2022. Desses, 2.493 (34,87%) evoluíram para óbito. A nível regional o percentual de óbitos alcançou 45,35%, com 56.588 óbitos nos 124.755 internamentos. A maioria dos pacientes permaneceu internado por uma média de 7,5 a 8,5 dias em Alagoas e 10,8 a 11 dias no Nordeste. O estado apresenta, portanto, números de internações e óbitos em declínio a partir de 2019 e média permanência por sepse estáveis, com números gerais para todos esses critérios abaixo das médias para a região Nordeste.

Palavras chaves: Sepse. Unidade de Terapia Intensiva. Epidemiologia.

ABSTRACT: Sepsis can be defined as a potentially fatal organ dysfunction that results from a dysregulated response to a previously installed infection. It is a serious global health problem, with an estimated 670,000 deaths per year. The objective of the present work is to analyze from an epidemiological point of view the cases notified as sepsis in hospital units in Alagoas and the Northeast, and how the state behaves in relation to regional numbers for hospitalizations, average stay and deaths, in the period from January 2018 to December 2022. This is an epidemiological study of analytical observational design, which was based on data collected in the Hospital Information System (SIH) from the period January 2018 to December 2022, available through the Department of Informatics of the Unified Health System (DATASUS). Alagoas records a total of 7,160 patients hospitalized for sepsis during the years 2018 to 2022. Of these, 2,493 (34.87%) evolved to death. Regionally, the percentage of deaths reached 45.35%, with 56,588 deaths in the 124,755 hospitalizations. Most patients remained hospitalized for an average of 7.5 to 8.5 days in Alagoas and 10.8 to 11 days in the Northeast. The state therefore has declining numbers of hospitalizations and deaths from 2019 and stable average length of stay for sepsis, with overall numbers for all of these criteria below the averages for the Northeast region.

Keywords: Sepsis. Intensive Care Unit. Epidemiology.

INTRODUÇÃO

De acordo com o novo consenso publicado pela Society of Critical Care Medicine (SCCM) e a European Society of Critical Care Medicine, a sepse pode ser definida como uma disfunção orgânica e potencialmente fatal que ocorre como uma resposta desregulada à uma infecção previamente instalada (MACHADO et al., 2016; SINGER et al., 2016). Constitui um grave problema de saúde no mundo, sendo, no Brasil, a principal causa de óbito nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), estimando-se cerca de 670 mil óbitos por sepse por ano. É também umas das principais causas de mortalidade hospitalar tardia, sobrepondo-se ao infarto agudo do miocárdio e o câncer (DE AZEVEDO; PROQUALIS, 2016), tendo maior chance de desfecho favorável quando identificada e tratada precocemente.

A fisiopatologia da sepse é complexa e abrange a ativação precoce de respostas pró e anti-inflamatórias em resposta à presença de um agente agressor infeccioso resultando em disfunção orgânica (FALLON et al., 2018a; SEPSE, 2015). A nível celular, a interrupção da homeostase do sistema imunológico frente à infecção ou lesão tecidual contribui para que haja um influxo anormal das células imunes para órgãos distais, principalmente em situações em que não há de forma clara a origem da infecção ou do dano tecidual. Assim, todos os órgãos acabam se tornando suscetíveis, sobretudo os sistemas pulmonar, hepático, renal e gastrointestinal (FALLON et al., 2018b). 

Dentre os estudos publicados acerca da epidemiologia da sepse, destaca-se o “Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis” (PROGRESS), por ter revelado uma significativa diferença na taxa de mortalidade entre outros países do mundo e o Brasil, que apresentou 56,1%, contrariando a média global de 39,2% e dos 5 países com os maiores números de internação por sepse avaliados neste estudo, no qual o Brasil ocupa o 4º lugar e no tocante à taxa de mortalidade, 1º, sendo eles: Alemanha 1.855 (36,3%), Argentina 1.269 (46,6%), Canadá 1.215 (30,3%), Brasil 969 (56,1%) e Índia 803 (37,4%) (BEALE et al., 2019). A nível nacional, o estudo BASES, verificou a densidade de incidência real e desfecho da sepse nas UTIs brasileiras, evidenciando essa condição como problema de saúde pública com densidade de incidência estimada em 57 em 1000 pacientes/dia (SEPSE, 2015; SILVA et al., 2004). Quanto à ocupação, estudo Sepse Brasil revelou que 16,7% dos leitos de UTI são utilizados por pacientes com sepse, além disso, é relatado um elevado nível de mortalidade por sepse nas UTIs no Brasil (SALES JÚNIOR et al., 2006), no qual um dos principais fatores que corroboram para esse desfecho é o reconhecimento tardio (CONDE et al., 2013).

Esse cenário demonstra o quanto essa condição interfere diretamente na saúde pública do país, tornando-se de extrema importância a exposição de sua prevalência e gravidade como forma de encorajar a qualificação profissional para identificar de maneira precoce os sinais de suspeição, visando uma assistência imediata e adequada. Essa conduta de qualificação resultará em melhores prognósticos, minimizando as possíveis consequências deletérias que possam surgir, como a falência orgânica ou até mesmo óbito (MELECH; PAGANINI, 2016; SILVA et al., 2017).

Diante de toda a sua importância, o diagnóstico de sepse permanece desafiador, apesar da força tarefa na maioria das vezes é realizado beira-leito mediante anamnese e exame físico associado a componentes hemodinâmicos que geralmente estão atrelados a hipotensão e taquicardia, tendo uma resposta evidente a antibióticos ou de forma retrospectiva quando os dados de seguimento ficam disponíveis. (SANDS; BATES; LANKEN, et al.,1997; LEVY; FINK, MARSHALL, et al., 2001).

São fatores de risco que contribuem para sepse à admissão em unidade de terapia intensiva; bacteremia; idade avançada; imunossuprimidos; pacientes portadores de comorbidades, câncer e infecções preexistentes; condições que estão relacionadas à capacidade do indivíduo em reagir à infecção e à probabilidade de evoluir com falência múltipla de órgãos em resposta à infecção (SANDS; BATES; LANKEN, et al.,1997; PRADO et al., 2018). Quanto aos sítios mais frequentes, destacam-se os focos pulmonar, abdominal e urinário no Brasil e no mundo (JÚNIOR et al., 2017; SINGER et al., 2016).

Perante o exposto, o objetivo deste trabalho foi analisar à luz da epidemiologia os casos de pacientes internados por sepse em unidades hospitalares de Alagoas e como o Estado se comporta em comparação ao contexto regional, quanto ao número de internações, média de permanência e número de óbitos, do período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022.

METODOLOGIA

Este é um estudo epidemiológico de delineamento observacional analítico, o qual teve como base dados coletados no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022, disponível através do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). As informações coletadas foram referentes à população de Alagoas e Nordeste, tendo como variáveis no presente estudo: número de internações por sepse, média de permanência em dias e taxa de mortalidade. A busca ocorreu em 26 de março de 2023.

Os números expostos neste trabalho foram obtidos e analisados utilizando o programa Microsoft Excel 2019. Em conformidade com a Resolução nº 510/2016 do Comitê Nacional em Saúde, este estudo não necessitou de aprovação por parte de um Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos, por se tratar de informação disponível em caráter de domínio público no Sistema de Informações Hospitalares (SIH), plataforma online do Ministério da Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Figura 1 – Número de internações por sepse em unidades hospitalares do estado de Alagoas e número de óbitos de 2018-2022 SIH-SUS, março de 2023.

O número total de pacientes internados por sepse em Alagoas durante os anos de 2018 a 2022 equivale a 7.160 pessoas. Desses, 2.493 (34,87%) evoluíram para óbito. A nível regional o percentual de óbitos alcançou 45,35%, com 56.588 óbitos nos 124.755 internamentos, cerca de 10 pontos percentuais a mais. Na Figura 1 estão descritos os números de internações e óbitos, respectivamente, que ocorreram neste período em estudo no estado de Alagoas. Na Figura 2 estão expostos os números de internações e óbitos no cenário regional, neste caso, Nordeste.

Figura 2 – Número de internações por sepse em unidades hospitalares da região Nordeste e número de óbitos de 2018-2022. SIH-SUS, março de 2023.

Evidencia-se que, em Alagoas, tanto o número de internações por sepse quanto o número de óbitos decrescem desde 2019. Em contrapartida, desde 2020, esses números estão em ascensão no que diz respeito ao Nordeste. Em 2022 o número de internações no estado foi de 1.038 com 363 óbitos, ambas variáveis são as menores desde 2018, enquanto os números regionais para o mesmo ano evidenciam maior número de internações e segundo maior número de óbitos do quinquênio.

Como exposto na Figura 3, a maioria dos pacientes permaneceu por uma média de 7,5 a 8,5 em Alagoas e 10,8 a 11 dias no Nordeste. Ambos cenários com números menores que a média calculada por Barreto et al. (2016), de 24 dias em UTI. Sabe-se que idade, foco infeccioso e comorbidades prévias podem interferir no tempo de hospitalização, no entanto, as médias supracitadas para Alagoas e Nordeste estão em concordância e acima, respectivamente, do resultado obtido por um estudo realizado em Unidades de Terapia Intensiva de um hospital na região Nordeste que apresentou 7 dias como tempo médio de internação por sepse (ROCHA et al., 2021).

Figura 3 – Média permanência (dias) por sepse em unidades hospitalares da região Nordeste e do estado de Alagoas de 2018-2022. SIH-SUS, março de 2023.

CONCLUSÃO

A sepse constitui um grave problema de saúde pública, com alta prevalência e altas taxas de óbito nas unidades hospitalares. Após análise dos dados do presente estudo, conclui-se que nos anos de 2018 a 2022 Alagoas apresentou média permanência estável, declínio no número de internações e óbitos a partir de 2019, com números gerais para todos esses critérios abaixo das médias para a região nordeste.

REFERÊNCIAS

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1Acadêmica de Medicina pelo Centro Universitário CESMAC. E-mail: anabeatrizdcl@hotmail.com
2Acadêmica de Medicina pelo Centro Universitário CESMAC. E-mail: ayllamachad@gmail.com
3Doutor em Biologia Celular e Molecular pelo Centro de Biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: laercio.fachin@cesmac.edu.br