Campos, Carmindo Carlos Cardoso**; Lins, Valquíria de Andrade**; Cardoso, Ericleison***
* Trabalho de conclusão do curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – Campus Recife
** Acadêmicos de graduação de Fisioterapia
*** Mestre em farmacologia, professor da disciplina de neurofisiologia
Resumo
Este trabalho é um estudo epidemiológico descritivo-analítico, com base em levantamento bibliográfico científico, no período de 1996 a 2006; com o objetivo de verificar a prática fisioterapêutica mais utilizada pelos acadêmicos nas clínicas escolas da cidade do Recife e o conhecimento destes a acerca da terapia manual e termofotoeletroterapia. Foram entrevistados 100 acadêmicos de clínicas escolas mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Os questionários apresentavam questões objetivas e subjetivas, visando uma avaliação quantitativa e qualitativa das informações coletadas. Foi verificado que a prática fisioterapêutica priorizada entre os acadêmicos é a termofotoeletroterapia (48% ± 9,7), bem como um bom conhecimento técnico-científico e prático a cerca das terapias manual e termofotoelétrica. Independente da terapêutica utilizada; mostrou-se de forma clara a necessidade de humanizar e individualizar o atendimento e as necessidades de cada paciente.
Palavras chaves: Terapia manual, termofotoeletroterapia, humanização
Introdução
Na área da saúde, fala-se insistentemente de ambientes desumanizados, tecnicamente perfeitos, mas sem alma e ternura humana. Sabemos que a tecnologia é essencial, desejável e necessária à modernização do atendimento aos pacientes, tornando-se útil para prolongar a vida e diminuir o sofrimento de muitas pessoas. No entanto, não se deve deixar o paciente de lado dando prioridade aos aparelhos. Lopes (1998), menciona que deve-se levar em conta os seus problemas, temores e suas necessidades, pontos fundamentais para uma abordagem individualizada; buscando uma melhor prática terapêutica com melhores resultados. Carraro (2000), complementa quando relata a necessidade de chamar a atenção para as possibilidades de humanizar a aplicação de práticas simples, antigas e corriqueiras, lembrando que muitas vezes estão à disposição e não as valorizamos em detrimento da sofisticação.
Em 2005, Fogaça et alii, realizou um estudo com objetivo de avaliar os níveis de cortisol salivar antes e após a massagem terapêutica shantala em lactentes sadios. O estudo contou com a participação de 11 crianças, com idade média de 5 meses de vida; que foram submetidas a sessões de massagens terapêutica – 15 minutos em média, duas vezes ao dia, durante dois dias consecutivos. O procedimento foi repetido após intervalo de uma semana. O nível de cortisol, foi mensurado através da saliva coletada três vezes ao dia: manhã, tarde e noite. Pela manhã e a tarde eram coletas amostras antes e após a sessão de massagem. A noite apenas era coletada amostra de saliva e não era realizada a massagem, pois sabe-se que no período noturno, existe uma tendência fisiológica para a queda do nível de cortisol devido ao efeito do ciclo circadiano. Desta forma não era necessário a aplicação da massagem para diminuir o nível do cortisol circulante. Os resultados mostram que houve modificação nos valores de cortisol salivar pós-massagem, refletindo possível adaptação do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal nos lactentes.
Muito utilizado no Brasil e em outros países subdesenvolvidos do mundo, o Projeto Mãe-canguru, pode explicitamente demonstrar a grande importância dos efeitos do ato de tocar e do contato pele-a-pele. Entre maio de 2003 e junho de 2004, foi conduzido um ensaio clínico randomizado por Miltersteiner et alii (2005), onde a população estudada foi constituída de bebês pré-termos nascidos no Hospital Geral de Caxias do Sul, RS. A amostra foi de 34 bebês, com idade gestacional entre 28 e 37 semanas, de ambos os sexos, assistidos em incubadoras, ventilados espontaneamente, com peso inferior a 2.000g, em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A posição mãe-canguru foi realizada uma hora após a amamentação. A mãe permaneceu com o bebê seguro pelo avental do hospital, em contato direto com o seu corpo, mantendo-o com 60º de inclinação. O posicionamento em prono foi realizado com os bebês do grupo-controle uma hora após a amamentação. A elevação de 20º permitida pelo suporte do colchão da incubadora foi realizado no período de uma hora com a presença da mãe e sem mudanças na posição do bebê durante a intervenção. O estudo foi realizado de forma diária e consecutiva no curso de sete dias. Estatisticamente a alta hospitalar no grupo canguru ocorre aproximadamente dois dias antes do grupo controle. À medida que o pré-termo tem alta mais precoce da UTIN, há menor exposição a infecções nosocomiais, melhora na sua qualidade de vida, a integração familiar é mais precoce, melhora a competência da mãe no cuidado com seu filho e diminuição dos custos no atendimento a esse bebê.
Em 1999 foi realizado um estudo entre profissionais de fisioterapia, na cidade de Rio Claro, SP; com o objetivo de verificar quantos haviam recebido orientações acadêmicas sobre massoterapia. Quando Lorenzetto et al (2002), avaliaram os resultados, constatou-se que apenas 1 entre 20, haviam recebido orientações. Normalmente estes profissionais devem estar aptos na instrumentalização de técnicas manuais, com conhecimento técnico-científico e desta forma atingir a dimensão profissional desejada. Na vida acadêmica prática, percebe-se um domínio da utilização de aparelhagem eletro-eletrônica sobre as terapias manuais.
Objetivos
Verificar a prática fisioterapêutica mais utilizada entre acadêmicos atuantes em clínicas escolas na cidade de Recife: terapia manual e/ou aparelhagem eletro-eletrônica; bem como seus conhecimentos técnico-científicos, suas perspectivas e observações práticas.
Metodologia
O presente trabalho trata de um estudo epidemiológico descritivo-analítico, com base num levantamento bibliográfico científico, no período de 1996 a 2006; tendo como fontes: livros, periódicos e revistas indexadas da área de fisioterapia e afins, bem como em base de dados eletrônicos; e aplicação de questionários a acadêmicos atuantes em clínicas-escolas. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Agamenon Magalhães, Recife-PE, em 30 de novembro de 2006, conforme as normas para pesquisas, envolvendo seres humanos, resolução 196/96. Foram realizados em 4 clínicas-escola na cidade do Recife, questionários entre os acadêmicos atuantes em cada instituição, em estágio supervisionado, cursando entre o 6º e o último período, totalizando 100 amostras – 25 amostras por instituição; de forma aleatória e voluntária, nos meses de março e abril de 2007, mediante assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados coletados, foram avaliados segundo o método de estimativa de proporção, utilizando-se do softwear GRAPHPAD PRISM (versão 3.0).
Elaboração do questionário
Foi baseado nas percepções práticas dos autores durante estágio em clínica escola, onde evidenciava-se a prática termofotoelétrica em oposição as orientações acadêmicas teóricas, que resaltam a prática da terapia manual. Cada questionário apresentava 10 questões, que solicitava respostas objetivas e subjetivas, a cerca de suas perspectivas e prática terapêutica na clínica-escola.
Resultados e discussão:
Na análise dos 100 acadêmicos atuantes em clínicas escolas na cidade do Recife; a primeira questão feita a eles, foi sobre a prática terapêutica que deve ser priorizada durante o atendimento de seus pacientes. Para uma homogenização de resultados, foram indicadas as três práticas fisioterapêuticas mais abordadas: mecanoterapia, terapia manual e termofotoeletroterapia, dentre as quais a de maior destaque foi a terapia manual com 73% de escolha. Também foram questionados sobre a prática terapêutica mais utilizada pelos colegas acadêmicos na clínica escola (Gráfico1). Discordantemente, o resultado não foi a terapia manual e sim a termofotoeletroterapia com 48%(Tabela 1).
Dentre os motivos mais relatados para a priorização da terapia manual em seus atendimentos, os acadêmicos mencionaram que a prática caracteriza a essência da fisioterapia, pois trabalha com o melhor instrumento desta profissão: as mãos; diferenciando-a das demais da área de saúde e a não necessidade de aparelhos. Evidenciam também os efeitos benéficos do toque, proporcionando mais resultados, sendo mais eficiente e gerando maior feedback entre terapeuta-paciente, garantindo uma terapêutica individualizada e gerando maior confiança do paciente. Conforme Pimenta (2001); qualquer técnica que utiliza as mãos, reforça a confiança do doente.
A fisioterapia reconhece a necessidade e a importância do tratamento globalizado, tanto no sentido da biodinâmica como holístico. Segundo Nascimento et al (2004), o ser humano é uma combinação de distintos aspectos: biológicos, psicológicos, sociais e espirituais; é um ser somativo que interage com seu ambiente interno e externo e adapta-se a ele para alcançar metas. Esse paradigma tem como pressuposto que o todo é a soma de suas partes. Baseado nesta afirmação questionou-se aos acadêmicos, qual dentre estas modalidades terapêuticas seria mais indicada para abordar um paciente de forma global e tratar quadros clínicos de psicossomatização. A abordagem mais indicada foi a terapia manual: 48% ± 9,7% e mecanoterapia com 47% ± 9,7, para trabalhos de abrangência global. Quando refere-se a quadros de psicossomatização, o melhor recurso foi a terapia manual com 75% ± 8,4%. Pois nestes casos, é de extrema importância os benefícios do toque, o relaxamento, a conscientização, o alívio da dor e a geração do bem-estar. De acordo com Moyzés et al (2004); os momentos em que as pessoas são submetidas ao toque e/ou massagens, geralmente relaxam as “defesas”. Da mesma forma, Hoga (2003); afirma que o toque, a escuta empática e as demais práticas que interagem a essência do cuidado humano, podem ser recursos fundamentais do processo de cura.
Diante da imensa gama de possibilidades de se adquirir informações, dentro da área fisioterapêutica; foi questionado aos acadêmicos em qual das três áreas eles se interessariam em aprimorar seus conhecimentos: mecanoterapia, terapia manual, termofotoeletroterapia ou nenhuma destas (Gráfico 2). A terapia manual destacou-se com 65%, seguido da mecanoterapia(20%) e da termofotoeletroterapia(12%). 3% dos entrevistados querem aprimorar seus conhecimentos em outra área que não foi mencionada neste trabalho (Tabela 2).
Baseando-se no estudo feito por Lorenzetto et al(1999) onde observou que apenas 1 entre 20 fisioterapeutas, em seu período acadêmico, haviam recebido informações a cerca de terapia manual. Foi questinado aos acadêmicos de Recife, a cerca do nível de conhecimento técnico-científico da terapia manual e termofotoeletroterapia (Tabela 3). Em oposição ao estudo realizado por Lorenzetto, todos os acadêmicos haviam recebido informações em terapia manual e relataram possuir bom conhecimento nesta área, bem como na termofotoeletroterapia.
Questionou-se também aos acadêmicos, quais os aspectos de maior relevância para a prática da terapia manual e termofotoeletroterapia durante o tratamento fisioterapêutico (Tabela 4).
Uma questão que foi abordada durante as entrevistas aos acadêmicos, foi a respeito do grau de satisfação dos pacientes em relação a utilização da terapia manual (Gráfico 3). Foi verificado enorme aceitação pela técnica (91% ± 5,6). Destacando-se os seguintes aspectos: promove maior relaxamento, favorece melhor feedback entre terapeuta-paciente, oferecendo um tratamento individualizado, gerando maior confiança, há real diminuição de queixas álgicas, apresenta maior eficácia pois utiliza os efeitos benéficos do toque. Brandão et alii (2005), menciona que o toque e a atenção dispensados ao paciente aumenta a auto-estima e reduz a ansiedade. Da mesma forma, Souza et al (2004), relata que a massagem diminui as tensões, melhora o mau humor, aumenta a auto-estima e estimula a descoberta do próprio corpo, pois facilita o contato consigo mesmo. Cesana (2004), complementa este comentário quando afirma que a massagem é um recurso alternativo de suma importância para trabalhos de consciência corporal, de auto-conhecimento e de auto-organização.
De acordo com os acadêmicos, alguns pacientes (8% ± 5,3), relatam não sentir melhora no quadro clínico e preferem outra modalidade terapêutica. Quando questionado o motivo desta opinião, os estudantes mencionam que a questão é cultural, estes pacientes acreditam mais na utilização dos aparelhos eletro-eletrônicos. Outros pacientes (1% ± 1,9) não sentem diferença.
Conclusão:
Foi verificado neste trabalho que a termofotoelétrica é a prática fisioterapêutica mais utilizada entre os acadêmicos de clínicas escola na cidade do Recife, bem como um bom nível de conhecimento técnico-científico e prático a cerca das terapias manual e termofotoelétrica; evidenciando-se este conhecimento na termofotoeletroterapia. Sabe-se que a tecnologia é essencial, desejável e necessária à modernização do atendimento aos pacientes em fisioterapia, tornando-se útil para prolongar a vida e diminuir o sofrimento de muitas pessoas. Mas, devemos chamar a atenção para as possibilidades de humanizar a aplicação de práticas simples e corriqueiras, lembrando que muitas vezes estão à nossa disposição e não as valorizamos em detrimento da sofisticação.Que este trabalho possa servir como fonte de dados para novas pesquisas, favorecendo um melhor conhecimento técnico-científico, bem como o aperfeiçoamento e humanização do atendimento fisioterapêutico.
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