EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF HUMAN VISCERAL LEISHMANIASIS IN IMPERATRIZ-MA
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8293296
Lindomar Faria De Freitas Júnior1
Edduardo Willker Teixeira De Rezende1
James Dean Martins Barbosa1
Maria Luiza De Oliveira Costa1
Nathália Braga Mota1
Bruna Pereira Carvalho Sirqueira2
RESUMO
O número de casos de Leishmaniose Visceral Humana (LVH) no Brasil se expandiu rapidamente nas últimas três décadas. Estima-se que a incidência seja por volta de 400.000 casos/ano com o número de óbitos flutuando entre 20.000 e 40.000/ano. Esse crescimento foi associado à mudança na epidemiologia da doença durante o tempo e a esse fenômeno denominou-se urbanização da doença, já que a maioria dos casos ocorreu nas grandes cidades em contraste com a endêmica tipicamente rural, como se acreditava anteriormente. A importância das LVH reside não apenas na elevada incidência e ampla distribuição geográfica, mas também na possibilidade de assumir formas graves, com altas taxas de mortalidade, sobretudo nos casos não tratados. O Nordeste, principalmente o Maranhão, ainda é uma das principais regiões que contribui para esse alto índice de endemicidade. Nesse sentido, com esse aspecto atual de urbanização e um cenário diferente do registrado pelas literaturas quando a LVH possuía predomínio rural, constata-se a necessidade de avaliação atualizada do perfil epidemiológico dos municípios, trabalho ainda não registrado em Imperatriz-MA. Assim, a atual pesquisa tem como objetivo central determinar o perfil epidemiológico dos casos de LVH notificados no município de Imperatriz através do SINAN no período de 2011 a 2020. Para isso, foi realizado um estudo descritivo, transversal e retrospectivo, com base na ficha padrão de notificação do SINAN, que é formada por oito componentes: dados gerais, notificação individual, dados de residência, antecedentes epidemiológicos, dados clínicos, dados laboratoriais/classificação do caso e tratamento. Foram notificados 535 casos de Leishmaniose Visceral Humana, entre os anos de 2011 a 2020. Foi evidenciado que em 2018, ocorreram 111 casos (21%), um acréscimo significante em relação ao ano de 2012, que ocorreu apenas 19 (4%). Percebeu-se que em todos os anos, houve um valor significante de casos autóctone no município de Imperatriz, o qual foram 101 (91%) somente em 2018. Do mesmo modo, foram notificados mais homens que mulheres. Quanto a evolução, grande parte dos notificados foram curados da doença, entretanto houve óbitos por LVH e outras causas. É evidente a contribuição do conhecimento para o desenvolvimento de ações comunitárias para monitorar a Leishmaniose Visceral, a favor do controle de sua distribuição em locais específicos. Ao contrário do que discorrem vários estudiosos, este estudo defende à necessidade de continuar desvendando os conhecimentos que se articulam com a potência de ação comunitária. RESULTADOS. O estudo permitiu uma melhor definição do perfil das áreas de transmissão e/ou de risco, dos indivíduos mais acometidos e da efetividade das estratégias atualmente adotadas no controle dessa doença.
Descritores: Leishmaniose Visceral. Epidemiologia. Prevenção de Doenças. Estratégias de Saúde.
ABSTRACT
The number of Human Visceral Leishmaniasis (HVL) cases in Brazil has expanded rapidly over the past three decades. The incidence is estimated to be around 400,000 cases/year with the number of deaths fluctuating between 20,000 and 40,000/year. This growth has been associated with the change in the epidemiology of the disease over time and this phenomenon has been termed urbanization of the disease, as most cases have occurred in large cities in contrast to the typically rural endemicity as previously believed. The importance of HVL lies not only in the high incidence and wide geographical distribution, but also in the possibility of assuming severe forms, with high mortality rates, especially in untreated cases. The northeast, especially Maranhão, is still one of the main regions that contributes to this high rate of endemicity.In this sense, with this current aspect of urbanization and a scenario different from that recorded by the literature when the HVL had rural predominance, there is a need for updated evaluation of the epidemiological profile of municipalities, work not yet recorded in Imperatriz. Thus, the current research aims to determine the epidemiological profile of cases of Human Visceral Leishmaniasis reported in the municipality of Imperatriz through SINAN from 2011 to 2020. For this, a descriptive, cross-sectional and retrospective study was conducted, based on the standard SINAN notification form, which is formed by eight components: general data, individual notification, residence data, epidemiological background, clinical data, laboratory data / case classification, treatment. A total of 535 cases of Human Visceral Leishmaniasis were notified between the years 2011 to 2020. It was evidenced that in 2018, 111 cases occurred (21%), a significant increase in relation to the year 2012, which occurred only 19 (4%) . It was noticed that in all years, there was a significant amount of autochthonous cases in the municipality of Imperatriz, which were 101 (91%) only in 2018. Similarly, more men than women were reported. As for the evolution, most of those notified were cured of the disease, however, there were deaths from HVL and other causes. The contribution of knowledge to the development of community actions to monitor visceral leishmaniasis, in favor of controlling its distribution in specific locations, is undoubted. Contrary to what several scholars argue, this study defends the need to continue unraveling the knowledge that coadunulates with the Power of community action. RESULTS. The study allowed a better definition of the profile of the areas of transmission and/or risk, of the most affected individuals and of the effectiveness of the strategies currently adopted in the control of this disease.
1 INTRODUÇÃO
As leishmanioses são infecções causadas por protozoários do gênero Leishmania, parasitas intracelulares obrigatórios das células do sistema fagocítico mononuclear (BRASIL, 2014; ALVES, 2009). A transmissão ocorre através da picada de insetos fêmeas pertencentes à Ordem Diptera, Família Psychodidae e Subfamília Phlebotominae (VON ZUBEN; DIONÍSIO, 2016; MARCONDES; ROSSI, 2013). No homem, a infecção pode se apresentar especialmente nas formas clínicas tegumentar e a visceral, estando relacionada à espécie de parasita envolvida e à resposta do hospedeiro à infecção (GUIMARÃES et al., 2014; PAHO, 2015). Elas representam um conjunto de aspectos clínicos e diversidade epidemiológica de notável relevância e, entre as parasitoses, só perdem para a malária em número de óbitos (ALVES, 2009).
Nas Américas, a Leishmaniose Tegumentar (LT) possui como agentes etiológicos L. braziliensis, L. guyanensis, L. amazonenses, e seu espectro clínico inclui três formas principais: cutânea, cutâneo-mucosa e difusa. As manifestações dessas vertentes incluem desde úlceras com bordas salientes “em moldura” e fundo vermelho granuloso, infiltrações e destruição de tecido cartilaginoso, culminando em graves deformações e complicações e nódulos disseminados (LAURA; ALMEIDA, 2011). Já a Leishmaniose Visceral Humana (LVH), causada no Brasil pela L. chagasi, cujo vetor é especialmente as fêmeas da espécie Luyzomialongipalpis, associa-se a um curso crônico com acometimento de vísceras internas, como fígado, baço e intestino. O hospedeiro humano pode ser assintomático ou manifestar sintomas clássicos dessa parasitose, como febre de curso prolongado, hepatoesplenomegalia, pancitopenia, emagrecimento, tosse seca, hipergamaglobulinemia, diarreia, vômitos, icterícia (SUNDAR; SINGH, 2016). As recomendações brasileiras indicam que os casos suspeitos devem ser ratificados por meio de critérios clínicos e laboratoriais, em que o paciente deve ter pelo menos um resultado positivo a partir dos seguintes exames: exame parasitológico de aspiração da medula óssea, teste de anticorpo imunofluorescente ou teste rápido. O tratamento está relacionado com medidas farmacológicas – uso de antimonial pentavalente e, no caso de falha deste, anfotericina B – associados também a medidas de controle (ASSIS et al., 2016). O Brasil destaca-se como um dos maiores focos de leishmaniose em todo o mundo, com milhares de casos notificados a cada ano e surtos esporádicos relatados nos centros rurais e urbanos (GUIMARÃES et al., 2014).
Por ser de notificação compulsória, todo caso suspeito deve ser notificado e investigado pelos serviços de saúde por meio da ficha de investigação padronizada pelo Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN). Esse sistema reúne, transmite e difunde os dados gerados a partir da notificação de casos pelo sistema de vigilância epidemiológica para os três níveis de governo. O instrumento de coleta de dados contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina. Todos os campos desta ficha devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for negativa (BRASIL, 2014).
As leishmanioses estão entre as seis endemias mundiais de maior prioridade. Nas Américas, a LVH é considerada endêmica em 12 países, tendo sido registrados um total de 45.490 casos de LVH entre 2001 e 2013. Em 2013, um total de 3.389 casos foram registrados em 8 países das Américas, destes quais 96% dos indivíduos acometidos estão no Brasil com um total de 3.253 casos (PAHO, 2015).
A importância das leishmanioses reside não apenas na elevada incidência e ampla distribuição geográfica, mas também na possibilidade de assumir formas graves, com altas taxas de mortalidade nos casos não tratados de LVH e alta morbidade nos casos de LT. Todas estas informações demonstram o relevante papel da doença no cenário regional e nacional e a necessidade de melhor compreensão dos aspectos epidemiológicos envolvidos (SUNDAR; SINGH, 2016).
Conhecer o perfil epidemiológico de uma região é fundamental para elaboração e eficiência de políticas públicas frente a uma determinada patologia, a exemplo da LVH. Essa infecção é endêmica no estado do Maranhão e em Imperatriz, possuindo alta prevalência. Entretanto, não é conhecido o perfil epidemiológico dessa parasitose em muitas regiões maranhenses, especialmente em Imperatriz. Logo, qual o perfil epidemiológico dos casos de leishmaniose visceral humana notificados em Imperatriz nos últimos 10 anos?
O número de casos de LVH no Brasil se expandiu rapidamente nas últimas três décadas. Esse crescimento foi associado à mudança na epidemiologia da doença durante o tempo e a esse fenômeno denominou-se urbanização da doença, já que a maioria dos casos ocorreu nas grandes cidades em contraste com a endêmica tipicamente rural, como se acreditava anteriormente (CONTI et al., 2016).
O nordeste, ainda é uma das principais regiões que contribui para esse alto índice de endemicidade (SINAN, 2014). Ressalta-se que não há estudos que abordem os números de casos notificados da LVH e sua incidência na última década no Maranhão. Salienta-se que algumas pesquisas foram desenvolvidas com a finalidade de compreender a epidemiologia da LVH nos municípios que formam a Ilha de Upaon-Açu (São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa), porém não há informações sobre a evolução da doença em todo o estado do Maranhão. Desta forma, o conhecimento de regiões de maior incidência ou de maior risco de casos, como Imperatriz, é fundamental para a adequação de recursos e direcionamento das ações de saúde (FURTADO et al., 2015).
A cidade de Imperatriz, enfrenta as consequências do processo de urbanização, com modificações ambientais causadas por ações antrópicas e da migração de populações rurais para as periferias urbanas. Atrelado a isso, observa-se uma constante adaptação ao peridomicílio do Lutzomyialongipalpis, que migra principalmente devido às decorrências do processo de expansão das cidades. Nesse sentido, com esse aspecto atual de urbanização e um cenário diferente do registrado pelas literaturas quando a LVH possuía predomínio rural, constata-se a necessidade de avaliação atualizada do perfil epidemiológico dos municípios, trabalho ainda não registrado em Imperatriz (BRASIL, 2014; GÓES; JERALDO, 2013).
O plano de controle da LVH embasa as estratégias na detecção e tratamento de casos humanos, controle dos reservatórios domésticos e controle de vetores. Todavia, essas medidas foram insuficientes para prevenir a expansão da doença. O ingresso da LVH nas cidades configura um cenário epidemiológico distinto daquele previamente conhecido, demandando uma nova racionalidade para os sistemas de vigilância e de controle (WERNECK, 2010). O conhecimento sobre o perfil epidemiológico local auxilia na promoção de políticas públicas mais direcionadas e efetivas para minimizar a incidência e morbidade da LVH.
O presente estudo teve como objetivo determinar o perfil epidemiológico dos casos Leishmaniose Visceral Humana notificados no município de Imperatriz através do SINAN no período de 2011 a 2020.
2 METODOLOGIA
A pesquisa constituiu de um estudo descritivo, transversal e retrospectivo (GIL, 2002) dos casos dos casos de Leishmaniose Visceral Humana, no município de Imperatriz-MA, no período de 2011 a 2020. Os dados foram obtidos por meio Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), serviço gerido pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde.
A área compreendida pelo estudo foi a cidade de Imperatriz, localizada ao sudoeste do estado do Maranhão. Conforme o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o município possui 1.368,987 km² com uma população de 247.505 habitantes, com 94,76% vivendo em área urbana. O clima é tipicamente tropical quente e úmido, com inverno seco; o bioma é constituído de cerrado e floresta amazônica.
Foram incluídos para a pesquisa todos os casos notificados (autóctones, transferidos, recidivas) no município de Imperatriz. Foram considerados casos de Leishmaniose Visceral todas as notificações com diagnóstico comprovado através de mielograma, imunofluorescência indireta (maior ou igual a 1/80) e aqueles casos com suspeita clínico-epidemiológica.
Foram obtidos dados secundários da doença a partir do banco de dados do SINAN para Leishmaniose Visceral Humana, no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2020. Conforme informado pelo Ministério da Saúde/DATASUS, de 2011 a 2020, os casos notificados nesse período totalizam 535 na cidade de Imperatriz. Uma ficha padrão foi formada por oito componentes: dados gerais, notificação individual, dados de residência, antecedentes epidemiológicos, dados clínicos, dados laboratoriais/classificação do caso, tratamento e conclusão.
As variáveis independentes coletadas incluíram ano de notificação, sexo, raça/cor da pele, idade, escolaridade, zona e bairro de residência, ocupação, manifestações clínicas, co-infecção HIV, diagnóstico parasitológico, diagnóstico imunológico, tipo de entrada, tratamento recebido, critério de confirmação, caso autóctone do município de residência e evolução do caso.
Quanto aos aspectos éticos, a pesquisa seguiu as normas da Resolução 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde e obedeceu aos princípios básicos da bioética: beneficência, em que se compromete a ter resultados benéficos para a sociedade e não-maleficência, no qual não trará nenhum prejuízo intencional. Todas as informações coletadas serão para uso exclusivo dessa pesquisa, sem outros fins.
A determinação da normalidade dos dados para cada tipo de parâmetro analisado foi realizada utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov. Os dados foram tabulados e analisados através do software SPSS Statistic® 22. As frequências absolutas e relativas de todas as variáveis foram determinadas, assim como, os coeficientes de incidência anual e de prevalência no período total de estudo. O coeficiente de incidência foi calculado pela divisão do número de casos relatados pela população residente no mesmo local pelo período e o resultado foi multiplicado por 100.000. Esse dado foi padronizado de acordo com área residencial, sexo e idade uma vez que essas variáveis representam dados disponíveis pelo SINAN/MS e IBGE. Foram aplicados testes de correlação de Pearson e Qui-Quadrado para verificar possíveis correlações entre faixa etária, gênero, área residencial e coeficientes de incidência e evolução dos casos, utilizando-se intervalo de confiança de 5%.
3 RESULTADOS
Após busca de dados disponibilizados no TABNET/SINAN, foram notificados 535 casos de Leishmaniose Visceral Humana, entre os anos de 2011 a 2020. Foi evidenciado que em 2018, ocorreram 111 casos (21%), representado na coluna 8, um acréscimo significante em relação ao ano de 2012, que ocorreu apenas 19 (4%) representado na coluna 2 conforme mostra o Gráfico 1.
Gráfico 1. Demonstração de casos confirmados segundo Ano 1° Sintoma(s) de Leishmaniose Visceral Humana.
Fonte: SINAN (Imperatriz), 2022.
Observando a Tabela 1 apresentada abaixo, percebeu-se que em todos os anos, houve um valor significativo de casos autóctone no município de Imperatriz, o qual foram 101 (91%) somente em 2018. Do mesmo modo, foram notificados mais homens que mulheres.
Tabela 1. Demonstrativo de casos autóctone e sexo de casos confirmados de LVH.
CASO AUTÓCTONE | Ano | Total n(%) | |||||||||
2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | ||
Sim | 50 | 16 | 22 | 24 | 24 | 68 | 95 | 101 | 58 | 27 | 485(91%) |
Não | 5 | 3 | 1 | 0 | 2 | 9 | 4 | 8 | 9 | 0 | 41(8%) |
Indeterminado | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 | 4 | 2 | 0 | 0 | 9(2%) |
SEXO | |||||||||||
Masculino | 27 | 10 | 18 | 13 | 18 | 42 | 61 | 71 | 39 | 17 | 316(59%) |
Feminino | 29 | 9 | 5 | 11 | 8 | 37 | 42 | 40 | 28 | 10 | 219(41%) |
Fonte: SINAN (Imperatriz), 2022.
Quanto a raça/cor, a Tabela 2 evidencia que a cor parda (55%) foi a que mais prevaleceu. O mesmo ocorreu em idades de 0 a 19 anos (70%), ficando evidente que crianças e adolescentes são os mais acometidos pela LVH. Devido a idade, o Ensino Fundamental incompleto (18%) foi o mais apontado na pesquisa de notificação pelo SINAN.
Tabela 2. Demonstrativo de casos confirmados de LVH, conforme raça/cor da pele, idade e escolaridade
RAÇA/COR DA PELE | Ano | Total n(%) | |||||||||
2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | ||
Branca | 3 | 2 | 7 | 1 | 2 | 5 | 7 | 11 | 7 | 4 | 49(9%) |
Preta | 3 | 3 | 0 | 1 | 2 | 3 | 2 | 3 | 6 | 5 | 28(5%) |
Amarela | 0 | 0 | 0 | 21 | 0 | 0 | 1 | 0 | 49 | 17 | 88(16%) |
Parda | 23 | 14 | 16 | 0 | 21 | 67 | 65 | 82 | 5 | 0 | 293(55%) |
Indígena | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 | 3 | 26 | 14 | 0 | 1 | 46(9%) |
Ign/Branco | 27 | 0 | 0 | 0 | 1 | 2 | 1 | 0 | 0 | 31(6%) | |
IDADE | |||||||||||
0-19 anos | 29 | 10 | 14 | 21 | 15 | 55 | 81 | 84 | 48 | 20 | 377(70%) |
20 a 39 anos | 13 | 6 | 5 | 1 | 4 | 13 | 11 | 15 | 10 | 2 | 80(15%) |
40 a 59 anos | 8 | 2 | 2 | 1 | 5 | 5 | 6 | 7 | 5 | 2 | 43(8%) |
60 a 69 anos | 1 | 1 | 1 | 1 | 2 | 4 | 1 | 3 | 2 | 3 | 19(4%) |
> 70 anos | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 | 4 | 2 | 2 | 0 | 10(2%) |
Ign/Branco | 5 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 6(1%) |
ESCOLARIDADE | |||||||||||
Analfabeto | 1 | 0 | 1 | 0 | 2 | 2 | 3 | 5 | 0 | 0 | 14(3%) |
Ens. Fund. Inc. | 12 | 4 | 4 | 3 | 8 | 14 | 18 | 15 | 12 | 4 | 94(18%) |
Ens. Fund. Comp. | 11 | 1 | 3 | 0 | 0 | 2 | 2 | 7 | 2 | 3 | 31(6%) |
Ens. Médio Incompleto | 3 | 4 | 0 | 0 | 1 | 4 | 3 | 2 | 1 | 2 | 20(4%) |
Ens. Médio Completo | 1 | 3 | 0 | 0 | 0 | 4 | 2 | 6 | 6 | 1 | 23(4%) |
Ens. Sup. Incompleto | 1 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 4 | 0 | 0 | 0 | 6(1%) |
Ens. Superior completo | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 2 | 0 | 3(1%) |
Ign/Branco | 1 | 0 | 0 | 1 | 0 | 9 | 67 | 2 | 2 | 2 | 84(16%) |
Não se aplica | 26 | 7 | 15 | 20 | 13 | 44 | 4 | 74 | 42 | 15 | 260(49%) |
Fonte: SINAN (Imperatriz), 2022.
A pesquisa realizada pelo SINAN evidenciou que a maioria dos casos, não foram notificados como co-infecção HIV (Gráfico 2), como também a maioria não realizou o teste parasitológico (Gráfico 3).
Gráfico 2. Demonstrativo de casos confirmados de LVH, conforme coinfecção HIV
Fonte: SINAN (Imperatriz), 2022.
Gráfico 3. Demonstrativo de casos confirmados de LVH, conforme Diagnóstico Parasitológico
Fonte: SINAN (Imperatriz), 2022.
Quanto ao diagnóstico imunológico, de 2011 a 2017, os resultados foram positivos e de 2018 a 2020, prevaleceu para os não realizados. Em todos os anos, os maiores índices apontaram para casos novos, com a maioria dos casos confirmados por critérios laboratoriais (Tabela 3).
Tabela 3. Demonstrativo de casos confirmados de LVH, conforme tipo de entrada e critério de confirmação
Fonte: SINAN (Imperatriz), 2022.
Quanto a evolução, grande parte dos notificados apresentaram o desfecho como curados, entretanto houve óbitos por LV e outras causas associada, conforme demonstra o Gráfico 4.
Gráfico 4. Demonstrativo de casos confirmados de LV, conforme Evolução do caso
Fonte: SINAN (Imperatriz), 2022.
4 DISCUSSÃO
Em pesquisa realizada entre 2006 e 2009, a LVH está distribuída em 21 unidades federadas do Brasil e foi na região Sul nesse período, quando houve a primeira notificação de caso autóctone canino e humano, respectivamente, no Estado do Rio Grande do Sul (DIAS et al., 2022). Em 2010 o estado de Santa Catarina notificou seu primeiro caso canino e no ano de 2017 houve registros de casos humanos (DIAS et al., 2022). No estado do Paraná a notificação do primeiro caso de LV canina ocorreu mais tardiamente, em 2012, e em 2015 o primeiro registro de caso autóctone de LVH (SESA, 2018; TRENCH et al., 2016). No Nordeste, em todo Estado do Maranhão, foram notificados em 2020, 338 casos de autóctone (SINAN, 2022).
Quanto ao sexo, os achados apontam que o sexo masculino foi o mais acometido. Um estudo realizado no período de 2013 a 2017 no Brasil apresentou que há predomíniodo sexo masculino corroborando com os dados encontrados. A média nas regiões brasileiras entre os gêneros, foi de aproximadamente 13:7, respectivos de masculino para feminino. O masculino foi predominante em todas as regiões, corroborando o que já foi demonstrado em estudo com método similar de Rangel et al. (2015) realizado no estado de São Paulo, no qual os dados foram coletados no SINAN sobre letalidade entre 1999 a 2013 e o risco de óbitos por estratificação epidemiológica dos municípios e regionais de Vigilância Epidemiológica entre 2011 a 2013.
Neste estudo houve predomínio da idade de 0 a 19 anos, na cidade de Imperatriz, no período de 2011 a 2020, o que também demonstra a pesquisa Rangel et al. (2015). Em um estudo realizado por Cunha e colaboradores (2020), a faixa etária de 0 a 19 anos de idade foi predominante nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-oeste. Na região Sul, a idade mais predominante foi de 20 a 39 anos, no período de 2013 a 2017.
A Leishmaniose Visceral Humana, no Brasil, acomete pessoas de todas as idades, em zonas endêmicas com 80% dos casos registrados que incidem em crianças menores de 10 anos. Após essa idade, os registros se tornam menos frequentes (SILVA et al., 2016).
O Maranhão possui uma população estimada em mais de 7 milhões de habitantes, uma área territorial de 331.936,949 km², com densidade demográfica de 19,81 hab/km², sendo que, 322.491mil são crianças do sexo masculino e 312.910 mil do sexo feminino com faixa etária de 0 a 4 anos, 343.766 mil crianças do sexo masculino e 329.882 mil do sexo feminino com idade variando entre 5 a 9 anos e 367.451 mil meninos e 357.576 mil meninas de 10 a 14 anos de idade (IBGE, 2017).
Quanto à evolução clínica da LVH estima-se que 51,7% evoluem para cura, muitas vezes por conta de abandono de tratamento e transferência, registraram-se 0,3% e 31,1%, respectivamente. É relevante considerar que uma parcela dos indivíduos com a doença pode evoluir a óbito. Nesse contexto, salienta-se a importância das medidas de controle e prevenção, bem como de diagnóstico e tratamento precoce (BARATA et al., 2011).
A moradia pode ser vista como um meio de importância funcional quando o assunto é o urbano. A morada do homem pode ser considerada fundamental para garantir a qualidade de vida das pessoas, e deveria pelo menos corresponder às necessidades culturais e demográficas de cada população (JARA; HIDALGO; SALCEDO, 2011).
Contudo, essas transformações no ambiente podem favorecer o aparecimento de focos de doenças vetoriais, como ocorrem com a proliferação dos flebotomíneos, transmissores das leishmanioses, nas áreas periurbanas como tem sido verificado, facilitando a transmissão para o homem. A saúde das populações está diretamente relacionada ao ambiente vivido, ao habitat, ao local de morada do homem. Um ambiente saudável pode proporcionar bem-estar físico e mental aos indivíduos. Em contrapartida, um ambiente insalubre pode comprometer seriamente a sobrevivência humana, nos mais variados graus. Com isso, temos o espaço geográfico enquanto determinante social da saúde das populações (AMARO; COSTA, 2017).
O ambiente onde vive a criança tem grande influência sobre as situações de saúde ou doença pelas quais elas passam. Habitação de qualidade, água potável e condições sanitárias são direitos humanos e necessidades básicas para uma vida saudável. Por essa razão os ambientes são transformados, para suprir as necessidades humanas. Contudo, estas alterações podem gerar impactos negativos na saúde, se forem concretizadas de forma não adequada (CARVALHO, 2013).
Para isso, é necessário a implantação de ações voltadas para as intervenções e educação em saúde, juntamente com a equipe de saúde, para abordagem dos fatores condicionantes e determinantes que levam o indivíduo a contrair a doença e os meios de prevenção visando beneficiar toda a população. Deve haver também capacitação dos profissionais de saúde para sensibilizar a comunidade sobre a importância da preservação do meio ambiente e sobre as formas de evitar a proliferação da doença, visando assim a redução da transmissão da LVH (PEREIRA et al., 2014).
A educação em saúde é uma das ferramentas da promoção da saúde, prática não muito difundida no sistema de saúde, ressaltando-se a necessidade dos profissionais em receberem uma educação permanente que abranjam novas possibilidades metodológicas de atuação (SALCI et al., 2013).
A educação dos indivíduos no contexto econômico e social mais vulnerável à leishmaniose atua como ferramenta para a promoção da saúde, pois apropriação do ciclo de contaminação da doença contribui na capacitação dessa população, criando estratégias para prevenção da doença, pautadas na articulação entre os serviços de saúde, além da criação de meios de higiene e nutrição saudável (MARTINS et al., 2018).
Desse modo, o profissional que trabalha com a saúde pública necessita reconhecer o quão é importante o trabalho dos agentes comunitários de saúde e de endemias, especialmente por serem os pilares dos programas de saúde voltados para a atenção básica, instituídos pelo governo, servindo de comunicadores e tradutores desses programas para a população, como um elo entre os outros profissionais e a comunidade (COSTA et al., 2017)
5 CONCLUSÃO
Diante dos resultados encontrados, fica evidente que a cidade de Imperatriz é uma cidade endêmica, com a maioria dos casos autóctone e com uma de freqüência significativa, condição que agrava a Saúde Pública, por ser uma doença de transmissão intensa e que afeta todas as camadas sociais.
O presente estudo permitiu constatar ainda que os pacientes com LVH do município de Imperatriz, estado do Maranhão, aparentemente não diferem do perfil de outras regiões do país, principalmente observando os quesitos idade entre 0 e 19 anos, sexo masculino, cor da pele parda e baixa escolaridade.
É indiscutível a contribuição do conhecimento para o desenvolvimento de ações comunitárias para monitorar a Leishmaniose Visceral Humana, a favor do controle de sua distribuição em locais específicos. Ao contrário do que discorrem vários estudiosos, este estudo defende a necessidade de continuar desvendando os conhecimentos que ainda se apresentam limitados.
REFERÊNCIAS
ALVES, Waneska Alexandra. Leishmaniose visceral americana: situação atual no Brasil Leishmaniasis: currentsituation in Brazil. World Health, v. 6, p. 25-29, 2009.
AMARO, Renata Rufino; WAGNER, Alexandre Costa. Transformações socioespaciais no estado do Rio de Janeiro enquanto determinante social da saúde: No contexto das leishmanioses. Hygeia: Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, v. 13, n. 26, p. 198, 2017.
BARATA, Ricardo Andrade et al. Controle da leishmaniose visceral no município de Porteirinha, estado de Minas Gerais, no período de 1998 a 2003. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 44, p. 386-388, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Manual de vigilância e controle da Leishmaniose Visceral. 1a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. 120 p.
CARVALHO, AI de; FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Determinantes sociais, econômicos e ambientais da saúde. Fundação Oswaldo Cruz. A saúde no Brasil em, v. 2030, p. 19-38, 2013.
CONTI, Renata Vivas et al. Visceral leishmaniasisepidemiologicevolution in timeframes, basedondemographicchangesandscientificachievements in Brazil. 2016.
COSTA, George José Alves et al. Avaliação da percepção sobre zoonoses com agentes de saúde, combate a endemias e docentes de escola públicas, do entorno da Estação Ecológica de Caetés, Região Metropolitana do Recife-PE, Brasil. Medicina Veterinária (UFRPE), v. 11, n. 1, p. 67-75, 2017.
DA CUNHA, Camila Rodrigues et al. Tipificação Epidemiológica dos casos de Leishmaniose Visceral Humana no Brasil, no período de 2013 A 2017. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 41, p. e2578-e2578, 2020.
DA SILVEIRA, Jefferson Alves Vieira; DE OLIVEIRA, Evaldo Hipólito. Leishmaniose Visceral: análise epidemiológica e temporal no Estado do Maranhão, Brasil. Research, Society andDevelopment, v. 9, n. 8, p. e838986537-e838986537, 2020.
DIAS, Tábata Pereira et al. Leishmaniose visceral na região sul do Brasil: análise crítica frente a evolução epidemiológica. Research, Society andDevelopment, v. 11, n. 5, p. e45711528361-e45711528361, 2022.
DOS SANTOS, Eliana do Socorro Monteiro et al. Aspectos epidemiológicos da leishmaniose visceral. Revista eletrônica acervo saúde, n. 23, p. e959-e959, 2019.
FURTADO, Aline Santos et al. Análise espaço-temporal da leishmaniose visceral no estado do Maranhão, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, p. 3935-3942, 2015.
GÓES, Marco Aurélio de Oliveira; JERALDO, Verònica de Lourdes Sierpe. Características clínicas e epidemiológicas dos pacientes internados com leishmaniose visceral em hospital de referência. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, v. 11, n. 3, p. 227-231, 2013.
IBGE. Panorama do Maranhão. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/panorama>. Acesso em: 22 set 2022.
JARA, Jorge Jiménez; HIDALGO, Marisa Torres; HANSEN, Rodrigo Salcedo. A cidade na perspectiva dos determinantes da saúde. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE Diretora Mirta Roses Periago Subdiretora Socorro Gross, p. 197, 2011.
MARCONDES, Mary; ROSSI, Claudio Nazaretian. Leishmaniose visceral no Brasil. BrazilianJournalofVeterinaryResearchand Animal Science, v. 50, n. 5, p. 341-352, 2013.
MARTINS, Camila Paiva et al. Monitoramento epidemiológico como instrumento de apoio à gestão de saúde: análise das notificações de leishmaniose visceral em Sobral, Ceará. Revista de Administração em Saúde, v. 18, n. 72, 2018.
PAHO, WHO. Leishmaniases: Epidemiological Report of the Americas. Leishmaniasis Rep, 2015.
PEREIRA, Simara Rubens; MARTINS, Maria Margarete Brito; SILVA, Bianka Sousa Martins. Perfil sociodemográfico de crianças com leishmaniose visceral de um hospital estadual de feira de Santana–BA. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, v. 4, n. 3, p. 196-199, 2014.
RANGEL, Osias et al. Leishmaniose visceral no estado de São Paulo: tendência geral da letalidade entre 1999 a 2013 e o risco de óbitos por estratificação epidemiológica dos municípios e regionais de Vigilância Epidemiológica entre 2011 a 2013. BEPA. Boletim Epidemiológico Paulista, v. 12, n. 143, p. 1-8, 2015.
SALCI, Maria Aparecida et al. Educação em saúde e suas perspectivas teóricas: algumas reflexões. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 22, p. 224-230, 2013.
Secretaria de Saúde do Estado do Paraná. (SESA) (2018). Alerta epidemiológico N° 01/2018 – DVDTV/CEVA/SVS. Superintendência de Vigilância em saúde. Vigilância Epidemiológica da Leishmaniose Visceral Humana no Paraná. Paraná.
SILVA, Larissa Barros et al. Fatores associados à leishmaniose visceral na área endêmica de Codó, estado do Maranhão, Brasil. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, v. 6, n. 2, p. 74-80, 2016..
SINAN. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (BR), Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde (BR). Casos confirmados de Leishmaniose Visceral, Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas – 1990 a 2014 [Internet]. Portal da Saúde. 2014. p. 1. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/maio/20/LV-Casos.pdf. Acesso em: agosto/2022.
SINAN. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (BR), Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde (BR). Casos confirmados de Leishmaniose Visceral, Brasil, Maranhão e Imperatriz [Internet]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/leishvma.def. Acesso em: agosto/2022.
TRENCH, F. J. P. et al. Firstreportofautochthonous visceral leishmaniosis in humans in Foz do Iguaçu, Paraná State, Southern Brazil. Ann ClinCytolPathol, v. 2, n. 6, p. 1041, 2016.
WERNECK, Guilherme L. Expansão geográfica da leishmaniose visceral no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 26, p. 644-645, 2010.
ZUBEN, Andrea Paula Bruno von; DONALÍSIO, Maria Rita. Dificuldades na execução das diretrizes do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral em grandes municípios brasileiros. Cadernos de Saúde Pública, v. 32, 2016.
1 Graduando do Curso de Medicina Universidade CEUMA, Imperatriz, MA, Brasil.
2 Docente do Curso de Medicina, Universidade CEUMA, Imperatriz, MA, Brasil