PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA HEMORRAGIA PÓS PARTO EM BRASÍLIA E SÃO PAULO ENTRE 2013 A 2023

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202502092030


Lígia Luana Freire da Silva1; Giovanna Vieira Giovanelli1; Marina Domanico Apinhanesi dos Santos1; Giulia Bonini Panebianco1; Giulia Vieira1; Juliana Pereira Del Cistia1; Gabriella Matacheiro Chiarioni1; Maria Eduarda Siqueira Valério1; Anna Julia de Paula Abreu1; Lucas Ribeiro Borges de Carvalho2


RESUMO:

INTRODUÇÃO: A hemorragia pós parto (HPP) é definida como a perda sanguínea anormal, sendo acima de 500 ml em parto normal e acima de 1.000 ml em parto cesáreo, ou uma perda sanguínea capaz de gerar instabilidade hemodinâmica. OBJETIVO: O objetivo do presente trabalho é analisar e comparar o perfil epidemiológico qualitativo das internações causadas por HPP no período de 10 anos na população fértil em Brasília e São Paulo. METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Foram selecionados e comparados os dados relativos a internações devido a HPP entre 2013 a 2023 em Brasília e São Paulo. Utilizou-se as variáveis: número de internações, raças, idade, caráter de internação (CID 072). RESULTADOS: Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo realizado em 2022, Brasília e São Paulo tinham 1.474.595 e 104.548.325 mulheres na população, respectivamente. Entre essas mulheres, houve 468 e 1.448 internadas em Brasília e São Paulo, respectivamente, internadas devido à HPP. Em Brasília o ano com maior internações foi de 2019 (14,1%), enquanto em São Paulo foi de 2021 com 14,5%. Em relação à raça, tanto em São Paulo quanto em Brasília teve-se a raça parda como a mais acometida, sendo respectivamente 50% e 51,7%. Em ambas as cidades, a faixa etária mais acometida foi a de 30 a 39 anos, sendo Brasília (66%) e São Paulo (67,5%). Em ambas cidades as internações em caráter de urgência foram mais prevalentes, sendo 457 (97,2%) e 1.366 (94,3%) em Brasília e São Paulo respectivamente. DISCUSSÃO: Entre os anos de 2013 a 2023, no Brasil houve 10.746 internações na urgência devido à HPP, sendo que Brasília representou 2,75% e São Paulo 10,30% dessas internações. Tal dado é concordante com Sibalsky (2024), que mencionou a pouca incidência da internação por HPP em Brasília e a elevada em São Paulo (responsável pelo maior número de casos no país). Em ambas cidades a idade entre 30 a 39 anos apresentou a maior ocorrência, concordante com Sibalsky (2024) que mencionou a faixa etária mais acometida acima de 35 anos, porém discordante da faixa etária abaixo de 15 anos. Segundo Moura (2018), em seu estudo 40,8% das mulheres representavam a raça branca, valor discrepante dos 7,90% em Brasília e concordante com os 48,2% em São Paulo no presente estudo. CONCLUSÃO: Os resultados permitiram concluir que em Brasília e em São Paulo as mulheres entre 30 a 39 anos e pardas foram as que apresentaram a maior prevalência de internação por HPP. Sendo o ano 2019 com o maior número de internações em Brasília e 2021 em São Paulo. Destaca-se a importância da análise desses dados secundários, pois é por meio destes dados epidemiológicos que é capaz de se elaborar estratégias com o objetivo de diminuir de forma significativa a internação e a morbimortalidade materna devido à HPP.

PALAVRAS-CHAVE: “Hemorragia Pós-Parto”; “Hemorragia Puerperal”; “Hemorragia”.

INTRODUÇÃO

A hemorragia pós parto (HPP) é definida como a perda sanguínea anormal, sendo acima de 500 ml em parto normal e acima de 1.000 ml em parto cesáreo, ou uma perda sanguínea capaz de gerar instabilidade hemodinâmica (FREITAS, 2021). Ainda segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a HPP é aquela relacionada à gestação ou até 42 dias após o pós-parto (OMS, 2015).

A HPP (CID 072) é uma afecção prevalente na população feminina, gerando elevados números de óbito no contexto brasileiro. Segundo a OMS, o óbito materno obstétrica pode ser classificada em 3 categorias: 1) direta: aquela que tem ligação direta com o ciclo gravídico puerperal, 2) indireta: relacionada com condições pré-existentes que se exacerbam durante a gestação, 3) não especificadas (FREITAS, 2021; OMS, 2015). 

Segundo Sibalsky (2024), os fatores de risco associados à HPP são idade abaixo de 15 anos e acima de 35 anos, anormalidade estrutural em órgãos reprodutivos, conflitos familiares, baixa escolaridade, dependência de drogas (lícitas e/ou ilícitas) e riscos ocupacionais.

OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho foi analisar o perfil epidemiológico qualitativo e comparativo das internações causadas por Hemorragia Pós Parto (HPP) no período de 10 anos na população de idade fértil em Brasília e São Paulo.

 METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), os quais encontram-se disponíveis no banco de dados online do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foi realizada coleta de dados de internação em Brasília (DF) e São Paulo (SP) devido a hemorragia pós parto (HPP) durante os anos de 2013 a 2023.

As variáveis coletadas e estudadas foram: morbidade hospitalar do SUS, ano de internação, faixa etária e cor/raça. A análise estatística dos dados foi realizada por meio do uso de frequências relativas com auxílio do programa Excel e o Tabwin 3.6.

A coleta dos dados foi realizada em 2024, sendo selecionados os dados relativos a internações devido a HPP entre 2013 a 2023 em Brasília e São Paulo. Utilizou-se as variáveis: número de internações, raças, idade, caráter de internação (CID 072).

Em conformidade com a Resolução no 4661/2012, como o estudo trata-se de uma análise realizada por meio de banco de dados secundários de domínio público, este não foi encaminhado para apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo realizado em 2022, Brasília e São Paulo tinham respectivamente 1.474.595 e 104.548.325 mulheres na população.

Em Brasília houve 468 pacientes internados devido ao HPP. Essas internações foram distribuídas: I) 2013: 19 (4,1%). II) 2014: 18 (3,8%), III) 2015: 15 (3,2%), IV) 2016: 42 (9%), V) 2017: 46 (9,8%), VI) 2018: 32 (6,8%), VII) 2019: 66 (14,1%), VIII) 2020: 62 (13,2%), IX) 2021: 55 (11,8%), X) 2022: 57 (12,2%), XI) 2023: 56 (12%). Sendo o ano com maior internações em 2019, seguido por 2020 e 2022.

Já em São Paulo houve 1.448 mulheres internadas devido à HPP, sendo 3 vezes mais o número de pacientes em São Paulo. As internações foram distribuídas: I) 2013: 93 (6,4%), II) 2014: 114 (7,9%), III) 2015: 117 (8%), IV) 2016: 136 (9,4%), V) 2017: 154 (10,7%), VI) 2018: 148 (10,2%), VII) 2019: 119 (8,2%), VIII) 2020: 153 (10,6%), IX) 2021: 161 (11,1%), X) 2022: 131 (9%), XI) 2023: 116 (8,5%). Sendo o ano com maior internações sendo o de 2021, seguido por 2017 e 2020.

Assim, o ano de 2020 apresentou-se com elevado número de internações em ambas as cidades.

Gráfico 1. Morbidade Hospitalar por Hemorragia Pós Parto no Distrito Federal e São Paulo entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.

Em relação a raça, em Brasília houve a seguinte distribuição entre 2013 a 2023: I) branca: 37 (8%), II) preta: 20 (4,3%), III) parda: 149 (32,4%), IV) amarela: 2 (0,4%) e V) sem informação: 252 (54,8%). Sendo a raça parda a mais acometida. Destaca-se a importância do preenchimento adequado dos dados, para melhor monitoramento, uma vez que mais de 50% das pacientes não apresentavam tal informação (Gráfico 1).

Já em São Paulo a distribuição conforme a raça foi de: I) Branca: 533 (38,2%), II) Preta: 135 (9,3%), III) Parda: 554 (38,3%), IV) Amarela: 12 (0,8%), V) Sem informações: 214 (13,4%). Sendo a raça parda a mais acometida, concordante com os dados observados em Brasília. Além disso, percebe-se que as fichas sem o preenchimento de raça são bem menos numerosas quando comparadas às de Brasília.

Gráfico 2. Distribuição por raças em relação à morbidade hospitalar por Hemorragia Pós Parto no Distrito Federal e São Paulo entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.

Realizando o teste Qui-quadrado com os dados de Brasília e São Paulo, na cor branca, preta e parda, tem-se um p<0,05, mostrando que há uma associação significativa entre o estado e a cor das pacientes acometidas por HPP.

Tabela 1. Distribuição por Hemorragia Pós Parto por faixa etária, Distrito Federal e São Paulo entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.

As mulheres internadas em Brasília foram separadas em grupos de faixas etárias: I) 10 a 14 anos: 3 (1%), II) 15 a 29 anos: 59 (20,5%), III) 30 a 39 anos: 190 (66%), IV) 40 a 49 anos: 35 (12,2%), V) 50 a 59 anos: 1 (0,35%).

Enquanto em São Paulo, os grupos de faixa etária são distribuídos: I) 10 a 14 anos: 5 (0,5%), II) 15 a 29 anos: 242 (21,9%), III) 30 a 39 anos: 746 (67,5%), IV) 40 a 49 anos: 110 (10%), V) 50 a 59 anos: 3 (0,3%).

Tabela 2. Frequência das internações por HPP e outras causas no Distrito Federal e São Paulo entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.

As internações em Brasília foram realizadas sob duas classificações: I) urgência: 457 (97,2%) II), eletivo: 13 (2,8%). Enquanto em São Paulo foi: 1) Urgência: 1.366 (94,3%) e 2) Eletivo: 82 (5,7%). Sendo concordante em ambos o caráter de internação sob emergência mais frequente em ambas as cidades.

DISCUSSÃO

Segundo Sibalsky (2024) entre os anos de 2019 a 2023, no Brasil houve 10.746 internações na urgência devido à HPP. Sendo os dados de Brasília, entre 2019 a 2023, representando 2,75% das internações no país. Corroborando com Medeiros (2018), o qual não apontou Brasília como uma localização muito prevalente às internações causadas por HPP. Em contraponto, Sibalsky (2024) aponta São Paulo como o maior responsável de casos por HPP, chegando a 2.117 casos (19,7%), o que também corrobora com os dados do trabalho, com São Paulo sendo responsável 1.448 casos.

Brasília contou com 82% dos casos de HPP com idade entre 30 a 39 anos, 82% e 6,8% entre 40 a 49 anos. Segundo Sibalsky (2024), as faixas etárias mais acometidas com HPP são acima de 35 anos e abaixo de 15 anos. Sendo que no presente trabalho, houve discordância da faixa etária abaixo de 15 anos, com apenas 0,6% da amostra, porém observou-se concordância com a faixa etária acima de 35 anos, mostrando-se elevada a quantidade de mulheres internadas por HPP. Tais dados foram discordantes dos encontrados em Sibalsky (2024) o qual teve maior internações na faixa etária de 20 a 29 anos (45,8%).  Tais dados também foram concordantes em São Paulo, o qual mostrou a faixa etária mais acometida a acima de 35 anos (10%).

Em Brasília, em relação à raça das mulheres internados devido à HPP, no trabalho de Moura (2018) 40,8% das mulheres representavam a raça branca, valor discrepante dos 7,90% no presente estudo. Enquanto em São Paulo, foi a raça parda (50%).

De acordo com Sibalsky (2024), a maior parte das internações ocorreu em caráter emergencial, o que o presente trabalho trouxe concordante, visto que em Brasília 97,20% foram atendimentos em caráter emergencial. Concordante com a realidade que aconteceu em São Paulo com 94,30% de atendimentos em caráter emergencial.

CONCLUSÃO

Os resultados permitiram concluir que em Brasília e em São Paulo as mulheres entre 30 a 39 anos e pardas foram as que apresentaram a maior prevalência de internação por HPP. Sendo o ano 2019 e 2021 com o maior número de internações, em Brasília e São Paulo, respectivamente. Destaca-se a importância da análise desses dados secundários, pois é por meio destes dados epidemiológicos que é capaz de se elaborar estratégias com o objetivo de diminuir de forma significativa as internações e a morbimortalidade materna devido à HPP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREITAS, STHEPHANINE MOURÃO et al. HEMORRAGIA PÓS-PARTO: CARACTERÍSTICAS, TRATAMENTO E PREVENÇÃO. Brazilian Journal of Surgery & Clinical Research, v. 37, n. 3, 2021.

MEDEIROS, Lidiane Tavares et al. Mortalidade materna no estado do Amazonas: estudo epidemiológico. Revista Baiana de Enfermagem, v. 32, 2018.

MICHELS, Bruna Depieri; MARIN, Daniela Ferreira D.’Agostini; ISER, Betine Pinto Moehlecke. Análise temporal da letalidade materna hospitalar no pós-parto segundo risco gestacional e via de parto, nas regiões do Brasil, 2010-2019. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 31, n. 3, p. e2022461, 2022.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Brasileiro de 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2022.

Organização das Nações Unidas. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (Internet). Brasília: Organização das Nações Unidas; 2015. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/91863-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentável>. Acesso em 17 de outubro de 2024.

SIBALSZKY, Sophia Queiroz Chaves; CAIXETA, Maria Clara Silveira; CAIXETA, Cátia Aparecida Silveira. Análise do perfil epidemiológico brasileiro por hemorragia pós-parto. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 8, p. 1323-1328, 2024.


1Discentes da Universidade Nove de Julho, São Paulo, Sp.

2Docente da Universidade Nove de Julho, São Paulo, Sp.