PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA HANSENÍASE NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS-MA NO PERÍODO DE 2019 A 2023

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11623397


Glenda dos Santos Corrêa 1
Natália Silva Almeida1
Amanda Valeria Correia Vale 1
Amanda Karoline Vieira de Alencar 1
Aline Dias Leite 1
Orientador: Prof. Ms. Ademilton Costa Alves 2


RESUMO

INTRODUÇÃO: A hanseníase é uma infecção de caráter crônico, que tem como agente etiológico a bactéria Mycobacterium leprae. Esse patógeno acomete principalmente a pele e nervos periféricos, tendo preferência pelas células Schwann. No ranking epidemiológico da hanseníase, o Brasil se encontra em segundo lugar sendo o país com maior ocorrência no mundo, e o Maranhão é um estado com números expressivos de casos de hanseníase. No ano de 2021, segundo o último boletim epidemiológico, a capital São Luís teve uma taxa de detecção de 23,66/100.000 mil habitantes para novos casos. O presente estudo é de suma importância para ressaltar a situação atual da hanseníase no município e reavaliar o perfil epidemiológico, que tem papel primordial para ações futuras de rastreio, acompanhamento e tratamento.

OBJETIVOS: Analisar dados epidemiológicos da hanseníase, a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período de 2019 a 2023 na capital São Luís-MA.

MÉTODOS: O presente estudo refere-se a uma pesquisa de caráter epidemiológica, quantitativa e descritiva, onde foram coletados dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Sendo o grupo-alvo portadores de hanseníase notificados no SINAN entre 2019 a 2023 na capital, São Luís-MA. Para analisar o perfil epidemiológico da hanseníase no município, foram usadas as seguintes variáveis: número de casos, gênero, raça, faixa etária, escolaridade, classificação operacional, forma clínica e grau de incapacidade física.

RESULTADOS: Entre 2019 a 2023, período de coleta de dados no SINAN, foram notificados cerca de 13.259 mil casos no estado do Maranhão. E somente no município de São Luís concentraram-se cerca de 2.656 mil dessas notificações, totalizando aproximadamente 20,03% dos casos no estado. Verificou-se a maior frequência em homens (57,37%); entre indivíduos pardos (68,63%); em faixa etária de 40 a 49 anos (19,12%); pessoas com ensino fundamental incompleto (34,41%), a forma multibacilar (89%) com maior percentual; a forma clínica Dimorfa (60,42%) é a mais prevalente e o grau de incapacidade física GRAU 0 (46,08%) foi o mais recorrente.

CONCLUSÃO: Em síntese, embora tenha sido constatado a diminuição dos casos de hanseníase no período analisado, vale ressaltar, que essa patologia ainda é considerada uma doença negligenciada no país e de alto poder de contágio. Sendo assim, necessário a continuidade de campanhas de conscientização; ações que detectem novos casos de forma precoce; criar medidas que contribuam na maior adesão e continuidade ao tratamento; capacitação dos profissionais de saúde para um diagnóstico correto e melhor manejo em relação a doença, a fim de obter-se o controle e diminuição no número de casos da hanseníase no município.

Palavras-chaveMycobacterium leprae. Epidemiologia. Doenças negligenciadas.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Leprosy is a chronic infection, whose etiological agent is the bacterium Mycobacterium leprae. This pathogen mainly affects the skin and peripheral nerves, with a preference for Schwann cells. In the epidemiological ranking of leprosy, Brazil is in second place, being the country with the highest occurrence in the world, and Maranhão is a state with a significant number of leprosy cases. In 2021, according to the latest epidemiological bulletin, the capital São Luís had a detection rate of 23.66/100,000 thousand inhabitants for new cases. The present study is extremely important to highlight the current situation of leprosy in the municipality and reevaluate the epidemiological profile, which plays a key role in future screening, monitoring and treatment actions.

PURPOSE: Analyze epidemiological data on leprosy, from the Notifiable Diseases Information System (SINAN) for the period from 2019 to 2023.

METHODS: The present study refers to an epidemiological, quantitative, and descriptive research, where data were collected from the Notifiable Diseases Information System (SINAN). The target group is leprosy carriers notified in SINAN between 2019 and 2023 in the capital, São Luís- MA. To analyze the epidemiological profile of leprosy in the municipality, the following variables were used: number of cases, gender, race, age group, education, operational classification, clinical form and degree of physical disability. 

RESULTS: Between 2019 and 2023, the data collection period in SINAN, around 13,259 thousand cases were reported in the state of Maranhão. And in the municipality of São Luís alone, around 2,656 thousand of these notifications were concentrated, totaling approximately 20.03% of cases in the state. The highest frequency was found in men (57.37%); among brown individuals (68.63%); in the age group of 40 to 49 years (19.12%); people with incomplete primary education (34.41%), the multibacillary form (89%) with the highest percentage; the Dimorphous clinical form (60.42%) is the most prevalent and the degree of physical disability GRADE 0 (46.08%) was the most recurrent.

CONCLUSION: In summary, although there was a decrease in leprosy cases during the period analyzed, it is worth highlighting that this pathology is still considered a neglected disease in the country and has a high contagion potential. Therefore, it is necessary to continue awareness campaigns; actions that detect new cases early; create measures that contribute to greater adherence and continuity of treatment; training of health professionals for a correct diagnosis and better management of the disease, in order to obtain control and reduce the number of leprosy cases in the municipality.

Keywords: Mycobacterium leprae. Epidemiology. Neglected diseases.

1 INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma infecção de caráter crônico, que tem como agente etiológico a bactéria Mycobacterium leprae. Esse patógeno acomete principalmente a pele e nervos periféricos, tendo preferência pelas células Schwann. Levando a disfunções dermato-neurológicas sensitivas e motoras, e quando em estágio avançado e sem acompanhamento médico, pode causar deformidades físicas e invalidez ao seu portador (MARQUETTI et al., 2021). 

Existem teorias sobre o surgimento da hanseníase há cerca de 3 a 4 mil anos na Índia, China e Japão. Entretanto, existem provas de seu surgimento na época de Ramsés ll, há 4300 anos a.C, no Antigo Egito. E segundo alguns estudos ela é advinda da África ocidental e Oriente Médio, se espalhando por conta das migrações da época. No Brasil os primeiros registros documentados, foi no Rio de Janeiro em 1600. E em 1737 foram detectados cerca 300 portadores do mal de Hansen (FERREIRA, 2019).

No ranking epidemiológico da hanseníase, o Brasil encontra-se em segundo lugar sendo o país com maior ocorrência no mundo. Em 2021, dentro do território brasileiro, as regiões com as maiores taxas de detecção foram o Centro-Oeste (20,50/ 100.000 habitantes), Norte (17,13/ 100.000 habitantes) e o Nordeste (13,89/ 100.000 habitantes). E no mesmo ano, o Maranhão ocupa o terceiro lugar entre os estados do país, na detecção de novos casos de hanseníase (SILVA et al., 2020; BRASIL, 2023). 

Essa enfermidade, é diferenciada em paucibacilar e multibacilar. A hanseníase Paubacilar é caracterizada quando o indivíduo apresenta até cinco lesões, considerada menos grave, diferenciando-se em Tuberculóide e Indeterminada; e a hanseníase Multibacilar quando tem mais de cinco lesões, sendo a forma mais agressiva, classificando-se, em Virchowiana e Dimorfa (MENESES et al., 2020). 

Entretanto, cada subtipo apresenta características clínicas específicas. Nas paucibacilares, a hanseníase Indeterminada, o portador tem manchas esbranquiçadas dessensibilizadas, sem acometimento dos nervos periféricos. Nesse tipo, antes do surgimento das lesões há um período de incubação, de 2 a 5 anos. Aparecem em menor quantidade e podem se instalar em qualquer parte do corpo (JATOBÁ, 2021).

Já na forma Tuberculóide, as lesões podem apresentar-se em forma de uma placa na pele ou por várias lesões com bordas delimitadas com o interior hipocrômico dessensibilizadas, geralmente, com ausência de suor e pêlos na região da lesão; e com menos frequência pode acometer os nervos, causando perda de função (GRANGEIRO, 2019).

Em relação às formas multibacilares, a Dimorfa é caracterizada pela presença de diversas manchas avermelhadas ou hipocrômicas, com bordas irregulares ou podem apresentar lesões semelhantes a hanseníase Tuberculoide; essas lesões podem estar dessensibilizadas ou não, essa forma tem a capacidade de acometer o sistema neural periférico, causando dificuldade de mobilidade no seu portador (LIMA, 2018).

A hanseníase Virchowiana, caracteriza-se por lesões com infiltração, avermelhadas, de bordas irregulares e simétricas. Esse subtipo acarreta ao portador nódulos, hansenomas, tubérculos; pode afetar o tecido cartilaginoso da orelha, cotovelo e nariz, ocasionar a queda de cílios e sobrancelhas, podendo até causar alterações nervosas e multissistêmicas (BRAGANHOLI et al, 2019; SANTANA et al, 2022).

Além das manifestações clínicas, a hanseníase pode interferir no emocional de seu portador, logo que, as alterações dermatológicas causam impacto psicológico (ansiedade, tristeza e depressão); e social (preconceito, dificuldade de relacionamento e autoestima), já que a ocorrência de lesões ao longo do corpo reflete uma interferência direta na apresentação desse indivíduo (CAMALIONTE, 2022).

A hanseníase também pode ser qualificada pelo seu grau de incapacidade física (GIF) em seu portador, sendo de GRAU 0 ao II, onde é definido a partir do nível de acometimento neural dos olhos, pés e mãos. No GRAU 0, não há acometimento dessas áreas; o GRAU I, refere-se à ocorrência da dessensibilização nos olhos, pés e mãos; e já no GRAU II, há além da dessensibilização, o processo de deformação nessas regiões do corpo (MARTINS et al, 2019).

A forma de transmissão da hanseníase ainda não é totalmente definida, porém, acredita-se que a principal via de acometimento é pelo trato respiratório superior, quando o indivíduo tem contato próximo de forma prolongada com portadores sem tratamento. Podendo ter outras formas de transmissão menos frequentes, como exposição a hansenomas ulcerados; materiais biológicos de infectados; contato com tatus e chimpanzés. Existem fatores como idade, sexo, saneamento básico, moradia, desnutrição, higiene e genéticos que podem contribuir diretamente para o processo de infecção dessa enfermidade (ALVES, 2018). 

Atualmente existe uma variabilidade diagnóstica na detecção da hanseníase, abrangendo o clínico e o laboratorial. Na clínica, é avaliado a presença de manchas/ lesões brancas ou avermelhadas com perda de sensibilidade. Quando partimos para o laboratorial, inicia-se pela baciloscopia, onde haverá análise microscópica do raspado da lesão, para validar a presença do Mycobacterium leprae. Além disso, podem ser realizada biópsia da lesão, teste de hipersensibilidade (Mitsuda) e até a PCR – Reação em Cadeia da Polimerase, para detectar o DNA do bacilo (NASCIMENTO et al., 2023). 

Quando o diagnóstico é positivo, seu tratamento é feito por poliquimioterapia. O tratamento é oferecido pelo Sistema Único de Saúde – SUS, tendo a combinação de três antimicrobianos sendo a dapsona, rifampicina e clofazimina, por um período de 6 a 12 meses, de acordo com o grau da doença. Durante o tratamento, os portadores da hanseníase são acompanhados mensalmente pelas Unidades Básicas de Saúde- UBS até seu processo de cura (BRASIL, 2023). 

Mesmo sendo uma doença da antiguidade, a hanseníase não tem meios específicos de prevenção, portanto, é necessário que seja realizado o diagnóstico prévio; educar a população acerca da doença; e realizar o tratamento contínuo e adequado aos seus portadores. Outro meio alternativo, preventivo, é o uso da vacina para tuberculose – Bacillus Calmette-Guérin (BCG) – que age também em alguns casos de hanseníase (CUNHA et al., 2019).

O Maranhão é um estado com números expressivos de casos de hanseníase. Em 2021, segundo o último boletim epidemiológico, a capital São Luís teve uma taxa de detecção de 23,66/100.000 mil habitantes para novos casos (BRASIL, 2023). Logo, o presente estudo é de suma importância para ressaltar a situação atual da hanseníase no município e reavaliar o perfil epidemiológico, que tem papel primordial para ações futuras de rastreio, acompanhamento e tratamento.

Diante dos dados apresentados, foi validada a necessidade de uma pesquisa qualitativa-quantitativa abordando a hanseníase no estado do Maranhão, especificamente, no município de São Luís. Portanto, o objetivo desde artigo é analisar dados epidemiológicos da hanseníase, a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período de 2019 a 2023.

2 METODOLOGIA

2.1 Casuística 

O presente estudo refere-se a uma pesquisa de caráter epidemiológica, quantitativa e descritiva, onde foram coletados dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Sendo o grupo-alvo portadores de hanseníase notificados no SINAN entre 2019 a 2023 na capital, São Luís- MA.

2.2 Coletas de dados

Os dados obtidos foram coletados no período de janeiro a março de 2024 via eletrônica, por meio do SINAN, utilizando o banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Ministério da Saúde (DATASUS). Para analisar o perfil epidemiológico da hanseníase no município, sendo usadas as seguintes variáveis: número de casos, gênero, raça, faixa etária, escolaridade, classificação operacional, forma clínica e grau de incapacidade física.

2.3 Análise de dados 

Após extraídas as principais informações clínicas e epidemiológicas registradas no SINAN. Os dados obtidos foram tabulados em planilhas no programa Microsoft Office Excel® 2021. Além, da elaboração de gráficos e tabelas utilizando o mesmo programa.

2.4 Critérios de inclusão e exclusão 

Foram incluídos na pesquisa os dados dos casos referentes a hanseníase dentro das variáveis estipuladas registradas no SINAN, no período de 2019 a 2023 em São Luís- MA, sendo excluídos os dados que estão fora desses parâmetros analisados. 

2.5 Aspectos éticos 

Por ser uma pesquisa com coleta de informações eletrônica de dados secundários de domínio público, não houve necessidade de submissão e aprovação desta pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP.

3 RESULTADOS

Entre 2019 a 2023, período de coleta de dados no SINAN, foram notificados cerca de 13.259 mil casos no estado do Maranhão. E somente no município de São Luís concentraram-se cerca de 2.656 mil dessas notificações, totalizando aproximadamente 20,03% dos casos no estado. Podemos verificar que durante o período analisado, o ano que obteve mais casos foi em 2019, com 888 casos no ano, liderando com o percentual de 33,43% dos casos confirmados (GRÁFICO 1).

Gráfico  1 – Casos confirmados de hanseníase no período de 2019 a 2023 em São Luís – MA.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

         Entre as variáveis sociodemográficas coletadas, para análise do perfil do indivíduo acometido, podemos perceber que ao longo dos anos a maior parte dos casos confirmados foram na população masculina. Durante 2019 a 2023, os homens somaram 57,37% dos casos, enquanto as mulheres obtiveram 42,62% dessas notificações. E em ambos os gêneros, houve maior ocorrência de notificações da hanseníase em 2019, sendo decrescente os casos ao longo dos anos posteriores (GRÁFICO 2).

Gráfico  2 – Casos confirmados de hanseníase segundo gênero no período de 2019 a 2023 em São Luís- MA.

Fonte:  Sistema de informação de Agravos de Notificação (SINAN)

             Em relação às raças, durante o período de coleta, foram mais comuns entre indivíduos pardos, totalizando 68,63% dos casos confirmados de hanseníase, em contrapartida, na população indígena e amarela os casos notificados de hanseníase foram mínimos ou inexistentes (GRÁFICO 3).  

Gráfico  3 – Casos confirmados de hanseníase segundo a raça no período de 2019 a 2023 em São Luís – MA

Fonte:  Sistema de informação de Agravos de Notificação (SINAN)

           Na análise da variável faixa etária dos casos confirmados e notificados da hanseníase, diante dos dados coletados é possível verificar que a hanseníase acomete pessoas em ambas as idades. No entanto, os indivíduos entre 40 a 49 anos ocupam o primeiro lugar em número de casos, sendo 508 casos de hanseníase nessa faixa etária, totalizando 19,12% (TABELA 1).

Tabela 1 – Casos confirmados de hanseníase segundo faixa etária no período de 2019 a 2023 em São Luís – MA.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Em referência a variável escolaridade, com 914 casos notificados, o grupo de maior contingente foram o de pessoas com ensino fundamental incompleto, tendo um percentual de 34,41% dos casos. Sendo observado, o menor número de casos em indivíduos com nível superior incompleto ou completo (TABELA 2).

Tabela 2 – Casos confirmados de hanseníase segundo a escolaridade no período de 2019 a 2023 em São Luís – MA.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)

             Na perspectiva das variáveis para análise clínica da hanseníase, no período pesquisado, nota-se que a classificação operacional mais diagnosticada no rastreamento foi a multibacilar, com 89% dos casos. E já na classificação paucibacilar foram 11% dos casos (GRÁFICO 4).

Gráfico  4 – Casos confirmados de hanseníase segundo classificação operacional-diagnosticada no período de 2019 a 2023 em São Luís-MA.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)

Na perspectiva das subclassificações clínicas da hanseníase, a forma Dimorfa é a mais prevalente, ao longo dos cinco anos teve 60,42% dos casos notificados pelo SINAN. Em segundo lugar, temos a forma Virchoviana entre os casos mais comuns, com 21,72% das notificações.  A forma Indeterminada (3,65%) e Tuberculoide (7,8%), são as menos recorrentes na população (GRÁFICO 5). 

Gráfico  5 – Casos confirmados de hanseníase segundo formas clínicas no período de 2019 a 2023 em São Luís-MA. 

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)

         Em continuidade na análise das variáveis, temos o grau de incapacidade física (GIF) da hanseníase, termo que categoriza em níveis de incapacidades, o grau de evolução dessa patologia. Em ambos os anos do período de coleta, o grau de incapacidade física GRAU 0 foi o mais recorrente, com 46,08% dos casos notificados. E com menor número de casos o grau de incapacidade GRAU II, com 15,51%. (GRÁFICO 6).

Gráfico  6 – Casos confirmados de hanseníase segundo grau de incapacidade física no período de 2019 a 2023 em São Luís – MA.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)

4 DISCUSSÃO

Diante dos resultados expostos no Gráfico 1, foi constatado que houve uma queda no número de infecções por hanseníase no município de São Luís-MA, durante o período de coleta de dados. No ano de 2019, foram notificados 888 casos e ao longo dos 5 anos ocorreu o decréscimo desses casos confirmados. E já no ano de 2023, foram confirmados somente 145 casos, resultado possivelmente proveniente do processo de subnotificações da hanseníase.

Estima-se que a queda de casos notificados de hanseníase na faixa temporal coletada, seja consequência da pandemia do SARS-Cov-2, que teve início em 2019 e temos resquícios até os dias atuais. Devendo estar vinculada diretamente às medidas profiláticas de proteção como o lockdown, antissepsia de superfícies e o uso de máscara; o conjunto dessas ações pode ter contribuído para a diminuição do processo infecção-transmissão entre a população. Por outro viés, o período de isolamento social pode ter sido um fator que contribuiu dificultando o acesso da população aos serviços de saúde levando a possíveis não diagnósticos dessa patologia (OLIVEIRA et al., 2022).

De acordo com os resultados coletados no Gráfico 2, a hanseníase tem uma maior prevalência em homens, acumulando 57,37% dos casos confirmados no período coletado. Tal fato, também pode ser ressaltado nos artigos científicos publicados por Silva et al. (2019) e Oliveira et al. (2020), onde nesses estudos as causas destacadas foram que os homens estão mais expostos ao bacilo devido os locais ocupados por eles e a falta da cobertura de programas assistências voltadas para a saúde do homem. Além do fator social, já que uma parcela representativa dos homens não tem o costume de cuidar da saúde e aparência pessoal, negligenciando aos sinais clínicos da doença. 

Em relação a menor frequência dos casos registrados no público feminino, vale destacar o fator biológico, onde elas apresentam melhor resposta imunológica frente ao Mycobaterium leprae, favorecendo uma menor prevalência e gravidade da doença. E em diferença aos homens, historicamente, as mulheres tendem a cuidar mais da saúde. Além de ter mais acesso às campanhas de serviços de saúde, na atenção básica como pré-natal, exame de Papanicolau, prevenção ao câncer de mama, facilitando o diagnóstico precoce de inúmeras doenças, incluindo a hanseníase (RAMINHO et al., 2022, SALES et al.,2020).

Quando partimos para análise da raça nos casos de hanseníase, de acordo com o Gráfico 3, podemos ver que pessoas pardas e negras lideram em número de acometimentos. Porém, a população parda é a mais atingida, isso é consequência da maior concentração dessa etnia no país. Em 2022, segundo o último censo do IBGE, cerca de 45,34% dos indivíduos se autodeclararam pardos, sendo o maior percentual entre as raças. Esse contingente também é reflexo de um processo histórico, geográfico e de miscigenação na população brasileira (JESUS et al., 2021).

Outro fator alarmante é o baixo número de casos detectados na população indígena, no Brasil temos cerca de 1,7 milhões de indígenas e 31,22% concentram-se na região Nordeste. Mesmo essa população sendo um percentual significativo no país, há baixo índice de casos, podendo ser consequência da lacuna de assistência à saúde nesse grupo, tendo como fatores interferentes a localização das reservas indígenas, dificultando o acesso de profissionais e serviços de saúde. Outras barreiras que devem ser destacadas como a língua nativa e suas práticas culturais (BARROS et al., 2024, BRASIL, 2023).

Ao avaliarmos a faixa etária da hanseníase, os resultados encontrados por Santos et al., (2023), são semelhantes ao do presente estudo. Na tabela 1, na capital São Luís a maior frequência encontrada estar entre indivíduos de 40 a 49 anos. Percebe-se que está patologia tem a capacidade de infecção em ambas as idades, porém afeta principalmente a população adulta, em consequência da hanseníase passar por um longo processo de incubação, e esse intervalo de tempo é um dos fatores que contribuem para o baixo número de detecção dos casos em crianças e adolescentes (COSTA et al., 2020).

Dentre os casos confirmados de hanseníase, na Tabela 2, podemos analisar a maior prevalência na população com ensino fundamental incompleto. É notório, a associação entre maior concentração da hanseníase na população com menor grau de escolaridade; isso por aspectos sociais, econômicos, culturais e de acesso à saúde. Esses fatores interferem no conhecimento acerca dessa patologia, limitando seu entendimento sobre sintomas, processo de infecção-transmissão e tratamento adequado, gerando diagnóstico atrasado ou até a falta de identificação da doença (CASTRO; SILVA, 2023). 

Assim que adentramos no quesito classificação operacional, temos um alto percentual da forma multibacilar, com 89% dos casos. Essa porcentagem dos casos está ligada diretamente com as formas clínicas mais prevalentes, sendo a Dimorfa com 56,89% e a Virchoviana 21,72% dos casos. É um fator preocupante para saúde pública, sendo reflexo da não procura de atendimento no tempo adequado, as formas clínicas multibacilares tem um alto poder de contágio e maior probabilidade de causar incapacidades aos seus portadores (BUCATER; DIAS, 2020).

Segundo o Gráfico 6, que apresenta uma síntese do grau de incapacidade (GIF) das notificações durante o período de coleta, onde GRAU 0 foi o mais frequente, somando 47,2 % dos casos notificados pelo SINAN no período de coleta de dados. Esse resultado é um bom prognóstico para o combate da hanseníase, podendo ser deduzido que houve diagnósticos prévios, êxito nas ações de prevenção e gestão dessa patologia; assim diminuindo as sequelas nos portadores dessa enfermidade (GÓIS et al., 2020).

5 CONCLUSÃO

Diante dos resultados analisados segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) pode-se afirmar que houve um decréscimo nos casos de hanseníase no município de São Luís-MA no período de 2019 a 2023, entretanto, mesmo com essa queda à presença dessa patologia ainda é muito preocupante na capital maranhense. 

Ao analisar o cenário atual da hanseníase, constatou-se que essa enfermidade é mais prevalente no gênero masculino; na população de cor parda; em faixa etária de 40 a 49 anos e com ensino fundamental incompleto. E quando analisamos as características clínicas, as formas multibacilares são as mais frequentes, especificamente, a Dimorfa e a maioria dos indivíduos afetados têm GRAU 0 de incapacidade física.

Em síntese, embora tenha sido constatado a diminuição dos casos de hanseníase no período analisado, vale ressaltar que essa patologia ainda é considerada uma doença negligenciada no país e de alto poder de contágio. Sendo assim, necessário a continuidade de campanhas de conscientização; ações que detectem novos casos de forma precoce; criar medidas que contribuam na maior adesão e continuidade ao tratamento; capacitação dos profissionais de saúde para um diagnóstico correto e melhor manejo em relação a doença, a fim de obter-se o controle e diminuição no número de casos da hanseníase no município.

REFERÊNCIAS

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1 Acadêmico do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.
2 Docente do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.