EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF LEPROSY IN BRAZIL IN THE CONTEXT OF THE COVID-19 PANDEMIC: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa1020211090122
Ana Amélia Sousa Bizerra1, Francielle de Freire Bezerra2, Leide Oliveira de Moraes3, Nilza de Jesus Santos Bandeira4, Maria Madalena dos Santos Silva5, Selma Camilo Gomes6, Pedro Henrique Rodrigues Alencar7
RESUMO
Objetivo: analisar o perfil epidemiológico da hanseníase durante a pandemia, bem como identificar os desafios enfrentados no diagnóstico e tratamento dessa doença crônica. Metodologia: este estudo explorou o impacto da pandemia de COVID-19 na hanseníase no Brasil por meio de uma revisão integrativa da literatura. A revisão foi conduzida por meio de um processo bem definido, seguindo uma pergunta norteadora. Foram realizadas buscas em várias bases de dados, incluindo MEDLINE, LILACS, Scielo, com o uso de descritores relacionados à hanseníase e à COVID-19. Resultados: a pandemia de COVID-19 afetou de maneira considerável a hanseníase no Brasil. Observou-se uma redução nas contagens de casos, além da suspensão de serviços de saúde e barreiras no acesso aos tratamentos. Conclusão: esta pesquisa trouxe uma visão mais detalhada sobre como a COVID-19 afetou a hanseníase no Brasil e destacou aspectos importantes que necessitam de cuidados. Entretanto, as implicações deste trabalho para o campo da saúde e enfermagem são evidentes, oferecendo bases para aprimorar o tratamento da hanseníase e de outras questões de saúde coletiva durante períodos de emergência.
Palavras-chave: Hanseníase. COVID-19. Pandemia. Controle. Diagnóstico.
ABSTRACT
Objective: to analyze the epidemiological profile of leprosy during the pandemic, as well as to identify the challenges faced in the diagnosis and treatment of this chronic disease. Methodology: this study explored the impact of the COVID-19 pandemic on leprosy in Brazil through an integrative literature review. The review was conducted through a well-defined process, following a guiding question. Searches were conducted in several databases, including MEDLINE, LILACS, Scielo, using descriptors related to leprosy and COVID-19. Results: the COVID-19 pandemic significantly affected leprosy in Brazil. A reduction in case counts was observed, in addition to the suspension of health services and barriers in access to treatments. Conclusion: this research provided a more detailed view of how COVID-19 affected leprosy in Brazil and highlighted important aspects that require attention. However, the implications of this work for the field of health and nursing are evident, offering a basis for improving the treatment of leprosy and other public health issues during periods of emergency.
Palavras-chave: Leprosy, COVID-19, Pandemic, Control, Diagnosis.
1 INTRODUÇÃO
A hanseníase, uma enfermidade crônica provocada pela bactéria Mycobacterium leprae, permanece como um desafio significativo para a saúde pública em diversas regiões do mundo, mesmo após a pandemia de COVID-19. A paralisação dos serviços de saúde ocasionada pela crise sanitária, além do foco prioritário nos cuidados relacionados à COVID-19, pode ter gerado efeitos consideráveis na identificação, tratamento e controle da hanseníase. Nesse contexto, é essencial investigar o perfil epidemiológico da hanseníase no período pós-pandemia, para compreender de maneira mais aprofundada como essa doença negligenciada foi impactada e quais medidas são necessárias para reverter os possíveis retrocessos em seu controle (ALVES et. Al., 2021).
A pandemia da COVID-19 teve um efeito significativo nas ações de controle da hanseníase, visível em diversos cenários. No Brasil, por exemplo, houve uma redução drástica nas notificações durante esse período, o que indica que muitos casos podem ter ficado sem diagnóstico ou tratamento adequado. Em nações como a Índia, Singh et al. (2020) destacaram dificuldades semelhantes, com uma diminuição na procura por tratamento causada pelas restrições de movimentação e pela prioridade dada à COVID-19. Isso gera preocupações sobre a possibilidade de um aumento nas taxas de transmissão e mudanças no perfil epidemiológico da hanseníase após o fim da pandemia (SINGH et. al., 2020).
Para compreender em sua totalidade os efeitos da COVID-19 sobre a hanseníase e suas características epidemiológicas posteriores, é fundamental conduzir uma análise detalhada e examinar as táticas indispensáveis para reduzir possíveis regressos no controle dessa enfermidade desprezada. Vale ressaltar que a hanseníase é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela organização Médicos sem Fronteiras como uma doença que recebe pouca atenção.
Conforme mencionado por Garcia et al., (2011), a enfermidade é chamada assim devido à sua alta frequência em nações em desenvolvimento, particularmente em regiões rurais e em áreas urbanas com menos recursos. Além disso, a limitada realização de estudos e a falta de aporte da indústria farmacêutica para a criação de medicamentos e terapias são aspectos que contribuem para essa situação.
Dessa forma, o Brasil é classificado como uma nação com elevada taxa de incidência de hanseníase, situando-se em segundo lugar no ranking mundial de países com o maior número de casos, apenas atrás da Índia. De acordo com o levantamento mais recente, realizado em 2022 pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde, foram registrados mais de 17 mil novos casos da doença (BRASIL, 2023).
Além disso, organizações sem fins lucrativos que trabalham na erradicação da hanseníase, como o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) e a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), destacam a questão do subdiagnóstico e da subnotificação dos casos da doença no Brasil, problemas que foram exacerbados pela sobrecarga e degradação dos serviços de saúde durante a pandemia da Covid-19 (MORHAN, 2022).
A premissa básica dessa questão é que o colapso do sistema de saúde durante o auge da pandemia de COVID-19 pode ter levado à suspensão dos programas de diagnóstico e prevenção da hanseníase, além de restringir o acesso aos serviços de suporte para indivíduos afetados pela doença. Assim, o objetivo principal deste estudo é analisar o perfil epidemiológico da hanseníase no Brasil, focando especialmente no período pós-pandemia da COVID-19.
Portanto, o estudo que se propõe começa a partir de uma pergunta essencial no âmbito da saúde coletiva: “qual é o perfil epidemiológico da hanseníase no Brasil após a crise da COVID-19?”
A importância desta pesquisa se amplia no contexto acadêmico ao auxiliar na compreensão das consequências da pandemia para a manutenção dos programas de controle da hanseníase, oferecer uma visão mais completa sobre a adaptação dos sistemas de saúde em momentos de crise e atuar como fundamento para investigações futuras em saúde pública e epidemiologia.
Durante o projeto, serão expostas análises e resultados referentes aos efeitos da COVID-19 nos programas de monitoramento da hanseníase, as táticas implementadas para sua recuperação após a pandemia e as dificuldades que os indivíduos afetados pela doença encontram ao acessar os serviços de saúde. Essa investigação será realizada através da avaliação de dados epidemiológicos, estudos de caso e métodos qualitativos, com o objetivo de responder à questão central e alcançar os objetivos específicos estabelecidos.
Diante de todos os contextos, o objetivo do estudo foi analisar o perfil epidemiológico da hanseníase durante a pandemia, bem como identificar os desafios enfrentados no diagnóstico e tratamento dessa doença crônica.
2 METODOLOGIA
A pesquisa realizada foi uma revisão integrativa, que é caracterizada por sintetizar resultados obtidos em pesquisas de artigos voltados para o tema em questão. Será feito analises diante dos artigos pesquisados com a finalidade de ter uma melhor noção da prevalência nesses profissionais da saúde.
A revisão integrativa seguiu os seguintes passos: identificação do tema e formulação da questão da pesquisa/ estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão dos estudos para amostragem/ coleta dos dados que serão extraídos dos estudos/ análise crítica dos estudos selecionados/ interpretação dos resultados/ apresentação da síntese estabelecida e revisão dos conteúdos. (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A busca na literatura foi realizada nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) ,e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) através dos Descritores em Saúde (DECs): “Perfil epidemiológico”, “Hanseníase”, “pós Covid-19” e “Brasil, separador pelos operadores boleanos AND e OR.
Como critérios de inclusão foram escolhidos artigos que compreendiam entre os anos de 2017 a 2023 em inglês e português, já como critérios de exclusão: estudos incompletos, artigos duplicados, relatos de experiência, de revisão e dissertações e teses. A seleção de dados atendeu uma organização através do fluxograma de prisma (2020). Ao final os resultados foram categorizados em um quadro obtendo as seguintes informações: autor/obra, título, objetivo, e principais resultados, sendo posteriormente utilizados para o embasamento na discussão.
A seleção ocorreu por meio de leitura de títulos, resumos, a leitura na íntegra dos textos como forma de selecioná-los de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Depois das buscas, foram contabilizados um número de artigos e após a clivagem a exclusão de trabalhos. Durante esta fase, a pesquisadora avaliou os artigos completos de forma crítica e independente e farão as devidas seleções. Discordâncias entre os revisores foram resolvidas por consenso.
No processo de análise foram coletados dados referentes ao periódico (título, ano de publicação), aos autores (nomes completos) e ao estudo (objetivo, vinculação acadêmica, referencial teórico, tipo de estudo, aspectos metodológicos, resultados e recomendações). A interpretação dos dados foi fundamentada nos resultados da avaliação criteriosa dos artigos selecionados.
O fluxograma estabelecido na figura 01 apresenta na íntegra o percussor metodológico da etapa de buscas de artigos na literatura, bem como a seleção por critérios de inclusão por base de dados, onde foram selecionados 08 estudos.
Figura 1: Fluxograma de busca e seleção dos artigos
Fonte: Fluxograma PRISMA (2020).
Foram identificados 229 artigos, dos quais 117 encontravam-se na base de dados LILACS, 34 na base de dados da MEDLINE e 78 na base de dados SCIELO. Destes, 08 foram excluídos por duplicidade, 10 por estarem incompletos, 07 por serem relatos de experiência, 12 de revisão e 06 sendo teses e dissertações. Após a triagem 186 foram avaliados para elegibilidade, sendo 120 excluídos por títulos e resumos. Após essa etapa 29 foram selecionados para a leitura na íntegra onde 21 foram excluídos por não atenderem a questão norteadora, e 8 escolhidos para compor a amostra final.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A seguir, o Quadro 1 apresenta os dados dos autores, o ano dos artigos, os métodos, e principais resultados das amostras, onde as informações foram categorizadas para a realização da discussão do estudo levando em consideração Autor/ano, título, objetivos e métodos e resultados.
Quadro 01: Artigos encontrados
AUTOR/ANO | TÍTULO | OBJETIVO E MÉTODOS | RESULTADOS |
Silva et al., (2023) | Enfrentamento da hanseníase em tempos de Covid-19: uma experiência exitosa de implantação de um sistema de rastreamento em área endêmica do Nordeste | Objetivo: Relatar a experiência de enfrentamento da prevalência oculta de hanseníase por uma equipe de atenção primária à saúde do interior do estado de Sergipe durante a pandemia de Covid-19. Método: oferta de exame dermatológico aos indivíduos que buscaram atendimento na unidade de saúde do bairro Cidade Nova, em Estância, Sergipe. Confirmado o diagnóstico de hanseníase, foi introduzido o tratamento com esquema de poliquimioterapia da Organização Mundial da Saúde (PQT-OMS) e os contatos foram examinados, respeitando-se as medidas sanitárias de prevenção à contaminação | No período analisado, foram avaliados 235 indivíduos, sendo feitos seis diagnósticos clínicos de hanseníase (2,5%), entre os quais um em menor de 15 anos de idade. No município, durante todo o ano de 2020, registou-se o total de nove casos novos de hanseníase. Sem o projeto, o coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase no município seria de 4,3/100 mil habitantes e, com o projeto, esse coeficiente foi três vezes superior (12,9/100 mil habitantes). |
Al et al., (2022) | Impacto da pandemia de Covid-19 no diagnóstico da hanseníase no Brasil: um estudo ecológico e de base populacional | Avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 no diagnóstico de hanseníase no Brasil em 2020. Método: estudo de base populacional e do tipo ecológico, utilizando ferramentas de análise espacial e casos notificados de hanseníase no Brasil (2015 a 2020). | dos casos de hanseníase no Brasil em 2020 (em menores de 15 anos -56,82%). O diagnóstico de hanseníase multibacilar aumentou (8,1%). Houve tendência decrescente na incidência de hanseníase na população geral entre 2015 e 2020 no Brasil. Os mapas de distribuição espacial mostram redução de até 100% nos novos casos de hanseníase em alguns estados. |
Deps et al., (2022) | Detecção de casos de hanseníase no Brasil: um acúmulo de casos não diagnosticados devido ao estudo baseado na pandemia de Covid-19 | Objetivo: detectar o comportamento dos casos de hanseníase no Estado do Espírito Santo, durante a pandemia da Covid-19. Método: análise dos dados divulgados pelo Sinan. | Impacto da Covid19 na taxa de detecção de novos casos no Espirito Santo, em 2021, com a taxa média para 2020/2021 (6,9/10 000),metade dos 3 anos anteriores (12,0/10 000) (Fig. 1 ) e queda da taxa em menores de 15 anos de 3,1/100 000 em 2017–2019 para 1,1/100 000 em 2020/2021. |
De barros et al., (2021) | Uma avaliação do impacto relatado da pandemia de Covid-19 nos serviços de hanseníase usando uma pesquisa online com profissionais de centros de referência em hanseníase | Objetivo: mensurar o impacto da Covid-19 nos serviços de hanseníase e na gestão da doença e os mecanismos de apoio disponíveis para os clientes dos serviços de hanseníase em centros de referência. Método: pesquisa online transversal foi realizada entre 19 de maio e 7 de julho de 2020, com profissionais de saúde em centros de referência em hanseníase. | Constatou-se que 80% dos serviços de diagnóstico de hanseníase foram reduzidos. |
Matos et al., (2021) | Impacto da pandemia de Covid-19 no diagnóstico de novos casos de hanseníase no Nordeste do Brasil, 2020 | Objetivo: apresentar dados epidemiológicos relacionados a doenças tropicais negligenciadas (DTNs) no estado de Tocantins e discutir como a pandemia de Covid-19 afetou a incidência e o tratamento dessas doenças. Método: coleta de dados epidemiológicos sobre três DTNs específicas (vírus da dengue, leishmaniose cutânea e hanseníase) no estado de Tocantins, para os anos de 2015 a 2020 | O número de casos de hanseníase aumentou constantemente durante 2015- 2019. No início do surto da Covid-19 houve uma mudança abrupta no número de casos de hanseníase (queda). Isso sugere que a pandemia afetou negativamente o diagnóstico e tratamento da hanseníase na região. |
Santos et al., (2021) | Covid-19 e a incidência de doenças tropicais negligenciadas: reflexões a partir de tempos de pandemia | Objetivo: apresentar dados epidemiológicos relacionados a doenças tropicais negligenciadas (DTNs) no estado de Tocantins e discutir como a pandemia de Covid-19 afetou a incidência e o tratamento dessas doenças. Método: coleta de dados epidemiológicos sobre três DTNs específicas (vírus da dengue, leishmaniose cutânea e hanseníase) no estado de Tocantins, para os anos de 2015 a 2020. | O número de casos de hanseníase aumentou constantemente durante 2015- 2019. No início do surto da Covid-19 houve uma mudança abrupta no número de casos de hanseníase (queda). Isso sugere que a pandemia afetou negativamente o diagnóstico e tratamento da hanseníase na região. |
Marques et al., (2021) | Impacto da doença coronavírus 2019 nos diagnósticos de hanseníase no Brasil | Objetivo: verificar o impacto da Covid-19 no diagnóstico de Hanseníase. Método: comparativo do número de casos de pacientes com hanseníase diagnosticados entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020, a partir de dados coletados no Sinan. | A diminuição dos casos de pacientes com hanseníase no Brasil atingiu 18.223 (-48,4%), correspondendo a uma redução média de 1.518 casos por mês durante a pandemia de Covid-19. |
Lima et al., (2021) | Tendência temporal, distribuição e autocorrelação espacial da hanseníase no Brasil: estudo ecológico, 2011 a 2021 | no Brasil, de 2011 a 2021. Método: estudo ecológico, dos dados do Sinane uso de modelo de regressão polominal. Cálculo da taxa de detecção anual de casos novos de hanseníase por 100 mil habitantes. | Os achados apontaram para a tendência crescente da incidência de hanseníase no Brasil, nas regiões Norte, CentroOeste e Nordeste e em 20 unidades da federação entre 2011 e 2019; contudo, houve decréscimo em grande parte do país ao se considerarem os anos pandêmicos. |
Fonte: Autoras (2024).
A influência da pandemia de COVID-19 sobre a identificação e diagnóstico da hanseníase é um assunto de grande importância. Pesquisas efetuadas no Brasil e em diversas nações da América Latina demonstraram claramente que a pandemia gerou um efeito marcante na comunicação e no reconhecimento da hanseníase.
Os efeitos mais significativos da pandemia em relação à Hanseníase incluem um crescimento no número de casos, intensificação das reações hansênicas, especialmente do tipo II, subnotificação de casos, ocorrências de coinfecção, interrupção na assistência da atenção primária e o uso de medicamentos imunossupressores (MATOS et al., 2021).
Em relação aos indivíduos com Hanseníase no cenário da COVID-19, é conhecido que eles apresentam maior susceptibilidade à infecção pelo SARS-CoV-2, devido à sua condição de fragilidade em várias áreas. Isso se deve tanto às orientações de distanciamento social quanto à diminuição dos atendimentos nas instituições de saúde (MARQUES et al., 2021).
A saúde na atenção primária enfrenta sérias preocupações que contribuem para a demora no tratamento, afetando, a longo prazo, a vida das pessoas afetadas pela Hanseníase (FACCHINI NETO, 2020). Além disso, esse período favoreceu um afastamento da Estratégia de Saúde da Família (ESF), pois as medidas de proteção implementadas resultaram na redução dos atendimentos a esses pacientes e a outros com doenças crônicas, levando à subnotificação dos casos de Hanseníase (AL et al., 2022).
Pesquisas realizadas, como a de Deps et al. (2022) no Espírito Santo, evidenciam as dificuldades enfrentadas durante a pandemia. As informações mostram uma diminuição na identificação de novos casos de hanseníase, notadamente entre crianças e adolescentes com menos de 15 anos. Tal fato sugere que a pandemia pode ter contribuído para a subnotificação dos casos, o que é alarmante, visto que a identificação precoce é crucial para frear a disseminação da doença.
De Barros et al. (2021) conduziram um estudo com trabalhadores da saúde em unidades especializadas em hanseníase, com o objetivo de analisar as consequências da pandemia sobre os serviços de diagnóstico e tratamento da condição. Os achados revelaram uma queda considerável nos serviços de diagnóstico da hanseníase, evidenciando os obstáculos enfrentados pelos profissionais da saúde durante esse período.
Nesse cenário, as pesquisas destacaram a importância de implementar abordagens versáteis e ajustáveis que assegurem a continuidade das iniciativas de controle da hanseníase, mesmo diante de crises de saúde pública. É essencial aprimorar a habilidade dos serviços de saúde para identificar e tratar casos de hanseníase de maneira eficaz, enquanto se preservam as medidas de prevenção contra a COVID-19 (LIMA et al., 2021).
As dificuldades no acesso a serviços de saúde para indivíduos com hanseníase se intensificaram durante a pandemia da COVID-19, conforme demonstram as pesquisas e relatos apresentados. A vivência descrita por SILVA et al. (2023) na zona rural de Sergipe indica que a disponibilização de exames dermatológicos em unidades de saúde pode representar uma abordagem eficaz para superar essas barreiras, viabilizando a identificação precoce da doença. Contudo, essa iniciativa promissora pode não ser aplicável em todas as localidades e necessita de recursos consideráveis.
Lima et al. (2022) ressaltaram que, antes da pandemia, havia um aumento na frequência da hanseníase no Brasil, particularmente nas áreas Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Contudo, durante os anos relacionados à pandemia, essa tendência se inverteu em várias regiões do país. Essa mudança pode sugerir que houve uma subnotificação dos casos de hanseníase, já que o acesso aos serviços de saúde foi prejudicado pelas restrições e pelo receio de contrair a COVID-19.
A pesquisa realizada por Santos et al., (2021) em Tocantins destaca essa preocupação, evidenciando uma alteração significativa no número de casos de hanseníase no início da pandemia. Essa diminuição súbita indica que a pandemia teve um impacto adverso no diagnóstico e tratamento da hanseníase na localidade. Esses dados refletem as dificuldades enfrentadas por indivíduos com hanseníase, que provavelmente postergaram a procura por atendimento médico em decorrência do receio relacionado à COVID-19.
Em relação aos serviços prestados aos pacientes com Hanseníase, o estudo de Marques et al. (2021) detectou uma alteração na prioridade do atendimento, onde outras condições de saúde passaram a receber mais atenção em relação aos indivíduos afetados pela doença. Durante a pandemia, de fato, houve uma realocação dos profissionais da saúde da atenção primária, como médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, que foram direcionados para o atendimento em serviços de saúde secundária, especialmente em ambulatórios dedicados aos casos de COVID-19 e em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) (MENDONÇA et al., 2022). Essa situação teve um impacto negativo sobre o diagnóstico da Hanseníase.
Outro estudo realizado por Deps et al. (2022) apontou uma diminuição na identificação de novos casos de hanseníase no estado do Espírito Santo ao longo da pandemia, com um impacto significativo entre a população de até 15 anos. Essa queda é alarmante, uma vez que a doença comumente atinge crianças e jovens. O acesso restrito aos serviços de saúde pode ter sido um fator que influenciou essa diminuição.
Nesse cenário, é evidente a importância de as autoridades de saúde pública e os profissionais da saúde prestarem atenção às dificuldades que pessoas acometidas pela hanseníase enfrentam para acessar serviços de saúde, principalmente em momentos de crise, como a pandemia de COVID-19. Assegurar a manutenção de atendimentos e diagnósticos adequados para a hanseníase, enquanto se adotam estratégias para prevenir a COVID-19, é essencial.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, é possível afirmar que as metas estabelecidas neste trabalho foram atingidas, oferecendo uma avaliação do perfil epidemiológico da hanseníase no Brasil, considerando os efeitos da pandemia de COVID-19. Observou-se que a hanseníase, uma enfermidade frequentemente ignorada, foi negativamente afetada pela pandemia, levando a uma significativa diminuição das notificações de novos casos, especialmente entre o público jovem. Essa situação requer ações urgentes, com o intuito de fortalecer a vigilância, o diagnóstico e o tratamento da hanseníase em meio ao contexto pandêmico.
As políticas públicas são fundamentais na identificação e no manejo eficaz da hanseníase, utilizando abordagens diversificadas que atendem às demandas específicas de cada local. Isso abrange a criação de sistemas de monitoramento epidemiológico, a capacitação de profissionais de saúde e a realização de campanhas informativas para promover a detecção precoce e aumentar a conscientização entre a população.
A assegurar o acesso geral ao tratamento, a conexão com iniciativas de saúde correlacionadas e a metodologia multidisciplinar têm como objetivo proporcionar uma cobertura abrangente e um cuidado completo. O acompanhamento da qualidade do serviço e o fomento à pesquisa e à inovação são esforços permanentes para melhorar o manejo da hanseníase.
A importância fundamental dos enfermeiros na identificação antecipada, apoio emocional e conscientização para a prevenção é ressaltada, beneficiando de maneira expressiva a qualidade de vida das pessoas impactadas pela hanseníase.
Este trabalho oferece uma contribuição significativa para a compreensão das dificuldades impostas pela COVID-19 no combate à hanseníase, ressaltando a necessidade urgente de intervenções efetivas em saúde pública e enfermagem. Entretanto, é crucial admitir a importância de realizar mais investigações, especialmente aquelas que analisem como a COVID-19 afetou a hanseníase ao longo de um período prolongado, evidenciando a tradição de descaso com essa enfermidade.
REFERÊNCIAS
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MARQUES, N. P. et al. Impacto da doença coronavírus 2019 no diagnóstico da hanseníase no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 54, p. 1-4, 2021.
4Discente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade Paulista – UNIP Campus Imperatriz-MA
e-mail: nilzadejesus95@gmail.com.
5Discente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade Paulista – UNIP Campus Imperatriz-MA
e-mail: mmssilva073@gmail.com.
6Discente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade Paulista Campus Imperatriz-MA
e-mail: selmacg-@hotmail.com
7Docente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade Paulista Campus Imperatriz-MA (PPGMAD/UNIR).