REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411301428
Jadson Douglas Lopes Leite1 / Marcus Vinicius da Silva Pereira2 / Andréa Karla Barcellos Gabao3 / Thaís Araruna Lucena4 / Rayssa Macedo Rodrigues5 / André Ricardo de Alencar Roza e Véras6 / Ana Rita de Santana Barros7 / Caroline Louise Gabao de Menezes8 / Rafaela Gabao Loureiro9 / Bruna Oliveira Ribeiro10 / Mohanna Caroline Oliveira Meireles11 / Ana Jamile de Paiva Escarião12
RESUMO:
Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico da hanseníase no Brasil entre os anos de 2013 e 2023. Métodos: Estudo de caráter epidemiológico transversal descritivo, utilizando a análise de dados epidemiológicos, coletados através do Departamento de Informática do SUS – DATASUS. Resultados: A análise da distribuição de casos de hanseníase por sexo no Brasil entre 2013 e 2023 revela uma predominância significativa de casos em indivíduos do sexo masculino. De um total de 355.053 casos registrados, as regiões Norte e Nordeste, juntas, representam 61,2% do total de casos. Em relação à raça/cor os dados revelam um quadro de desigualdade, com destaque para a maior prevalência entre pessoas autodeclaradas pardas. Considerações Finais: Os dados apontam para a necessidade de estratégias de saúde pública mais eficientes, com foco na educação em saúde, diagnóstico precoce e no fortalecimento do sistema de notificação e acompanhamento dos casos, especialmente em regiões com maior vulnerabilidade social e de acesso à saúde.
PALAVRAS-CHAVES: Hanseníase, Epidemiologia, Mycobacterium leprae.
ABSTRACT:
Objective: To analyze the epidemiological profile of leprosy in Brazil from 2013 to 2023. Methods: A descriptive cross-sectional epidemiological study, using epidemiological data analysis collected through the Department of Informatics of the Unified Health System – DATASUS. Results: The analysis of the distribution of leprosy cases by sex in Brazil from 2013 to 2023 reveals a significant predominance of cases among male individuals. Out of a total of 355,053 reported cases, the North and Northeast regions together represent 61.2% of the total cases. Regarding race/color, the data indicate a pattern of inequality, with a higher prevalence among self-declared mixed-race individuals. Final Considerations:The data point to the need for more effective public health strategies focused on health education, early diagnosis, and the strengthening of case reporting and monitoring systems, especially in regions with higher social vulnerability and limited access to healthcare.
KEYWORDS: Leprosy, Epidemiology, Mycobacterium leprae.
1. INTRODUÇÃO:
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae (DE OLIVEIRA et al., 2022). Sua principal característica é o envolvimento dos nervos periféricos, da pele e das mucosas, podendo resultar em deformidades físicas e incapacidades permanentes, como neuropatias, se não tratada adequadamente (COSTA et al., 2024). O agente causador é um bacilo álcool-ácido resistente, de crescimento extremamente lento, podendo variar em função da resposta imunológica do indivíduo e que causa infecção através do contato estreito e prolongado com indivíduos infectados, especialmente em ambientes endêmicos (SUGAWARA-MIKAMI et al., 2022).
A doença é classificada em dois tipos principais, a paucibacilar e a multibacilar, que refletem a quantidade de bacilos presentes no organismo e estão associadas a diferentes respostas imunológicas e manifestações clínicas (JUNIOR et al., 2022). A classificação em paucibacilar e multibacilar reflete precisamente essas diferenças, sendo a forma multibacilar mais prevalente em regiões endêmicas, como o Brasil, e associada a um maior risco de transmissão (DA SILVA et al., 2024). Em indivíduos com uma resposta imune eficaz (forma tuberculóide), a infecção é controlada, resultando em menos lesões e danos. Por outro lado, em pacientes com resposta imune inadequada (forma virchowiana), o bacilo se multiplica descontroladamente, levando a danos graves nos nervos periféricos e na pele (LUQUETTI et al., 2024).
A baciloscopia é um dos métodos fundamentais no diagnóstico da hanseníase, especialmente nas formas multibacilares, como a forma virchowiana. Trata-se de um exame laboratorial que consiste na coleta de material por meio de raspagem intradérmica (geralmente do lóbulo da orelha ou de lesões cutâneas) para a pesquisa do Mycobacterium leprae (DAMASCENO et al., 2023). A presença de bacilos no exame confirma o diagnóstico de hanseníase, especialmente nos casos em que há alta carga bacilar. No entanto, nas formas paucibacilares, como a indeterminada e tuberculóide, a baciloscopia pode ser negativa devido à baixa concentração de bacilos, o que torna o diagnóstico clínico mais desafiador (MOREIRA et al., 2023). Nesses casos, é necessário considerar uma combinação de critérios clínicos, como lesões cutâneas características e comprometimento dos nervos periféricos, além de outros exames complementares, como a histopatologia e a reação em cadeia da polimerase (PCR), que pode detectar o DNA do M. leprae mesmo em amostras com baixa carga bacilar (DA SILVA SOUZA et al., 2022). O diagnóstico precoce e preciso é crucial para interromper a transmissão e evitar complicações e incapacidades relacionadas à doença (LIMA et al., 2024).
A forma Indeterminada (HI) é considerada a fase inicial da doença, frequentemente assintomática e com carga bacilar muito baixa. A resposta imunológica do paciente ainda é eficaz, permitindo um bom controle da progressão da doença, o que resulta em altas taxas de cura quando tratada adequadamente (YONEMOTO et al., 2022). O tratamento da hanseníase foi revolucionado com a introdução da poliquimioterapia (PQT), que permite a cura da doença e interrompe sua transmissão, porém com várias reações adversas (PIRES et al., 2021). A evolução dessa doença pode ser gradual, tornando necessário um diagnóstico precoce e um acompanhamento rigoroso para evitar complicações permanentes sobretudo na atenção básica (DIAS et al., 2024).
Dado o contexto, o artigo a seguir tem como objetivo analisar o perfil epidemiológico da hanseníase baseado em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) entre os anos de 2013 e 2023.
2. METODOLOGIA:
O presente estudo é de caráter epidemiológico transversal descritivo, baseado em dados extraídos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) no período entre janeiro de 2013 e dezembro de 2023. As variáveis selecionadas para análise incluem: Ano de diagnóstico (2013 a 2023), Raça/cor da pele (Branca; Preta; Amarela; Parda; Indígena; Ignorado), Escolaridade, Classificação operacional da hanseníase (Paucibacilar e Multibacilar), e Desfecho clínico (Cura, Abandono de tratamento, Óbito por hanseníase, Óbito por outras causas e Ignorado). Foram também analisadas as Regiões de Saúde (Regiões, Estados e Municípios) onde ocorreram os registros.
Os dados referentes aos casos diagnosticados no período de 2013 a 2023 foram extraídos do sistema DATASUS e exportados para planilhas do Microsoft Excel, onde foram registrados, tabulados e analisados por meio de técnicas estatísticas descritivas. Em relação aos critérios de exclusão, foram desconsiderados os registros de pacientes cuja localidade de residência não pôde ser identificada, bem como aqueles sem diagnóstico confirmado ou sem registros completos no sistema de saúde (DATASUS) durante o período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023. Este estudo é de natureza secundária e utiliza dados de domínio público disponibilizados pelo DATASUS, conforme previsto pela Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos dados sobre a hanseníase no Brasil, no período de 2013 a 2023, revela disparidades significativas na distribuição dos casos notificados, evidenciando variações nos padrões epidemiológicos entre as regiões do país. De um total de 355.053 casos registrados, observa-se uma concentração expressiva nas regiões Norte e Nordeste, que, juntas, representam 61,2% do total de casos, com 66.659 notificações (18,8%) no Norte e 150.878 (42,4%) no Nordeste. A Região Norte apresentou uma taxa de 51% (33.868) das ocorrências e na região Nordeste, foram registrados 150.878 casos (42,4%), tornando-se a região com o maior número absoluto de notificações. O estado do Pará lidera com o maior número de casos notificados, totalizando 33.868, representando 9,5% do total nacional.
O estado do Maranhão foi o que mais se destacou, com 41.480 registros, representando 27,5% dos casos nordestinos. Na Região Sudeste, que notificou 51.171 casos (14,4% do total), o estado de São Paulo liderou com 17.892 notificações, correspondendo a 35% dos registros da região. Embora essa seja uma das regiões mais desenvolvidas do Brasil, fatores como concentração urbana e migração podem contribuir para a manutenção desses índices além do Programa de Controle da Hanseníase que contribui para o aumento dos diagnósticos no estado de São Paulo (GALLIGANI et al., 2024). Por outro lado, a Região Sul apresentou 11.642 casos, representando 3,3% do total nacional, sendo o Paraná o estado com o maior número de registros (8.026 casos, ou 69% da região). A baixa densidade populacional e melhores condições socioeconômicas podem justificar a menor prevalência de hanseníase no Sul (LIMA et al., 2022).
No Centro-Oeste, foram notificados 74.703 casos (21% do total), com destaque para o estado de Goiás, que respondeu por 61,7% (46.110) das ocorrências na região. A alta incidência pode estar relacionada ao fluxo migratório e às deficiências no diagnóstico e tratamento oportunos (BARBOSA et al., 2024).
Gráfico 1 – Casos confirmados de Hanseníase e notificados ao SINAN por região no Brasil no período de 2013 a 2023.
Fonte: Pereira MVS, et al., 2024. Baseado nos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SinanNet.
Gráfico 2 – Notificações de Hanseníase por estado de acordo com Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SinanNet entre 2013 – 2023.
Fonte: Pereira MVSP, et al., 2024. Baseado nos dados do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
Em relação à escolaridade dos casos de hanseníase no Brasil entre 2013 e 2023, os dados revelam que 48,9% (173.872 casos) ocorreram em pessoas com até o Ensino Fundamental incompleto, indicando maior prevalência entre indivíduos com menor nível de educação. Dos 355.053 casos notificados, 19,4% (69.012) envolvem pacientes cuja escolaridade foi ignorada ou deixada em branco, enquanto 8,6% (30.446) são analfabetos.
A Região Nordeste lidera em notificações com 150.878 casos, dos quais 35,4% tinham escolaridade até a 4ª série incompleta ou menos. Na Região Norte, dos 66.659 casos, 36,7% foram de pessoas com escolaridade baixa. No Sudeste, dos 51.171 casos, 20% envolveram pacientes com Ensino Médio completo ou superior incompleto. A Região Sul teve menor número de casos (11.642), com 10,3% entre pessoas com Ensino Médio completo, enquanto o Centro-Oeste notificou 74.703 casos, com 18,9% apresentando apenas o Ensino Fundamental incompleto. Apenas 4,9% (17.324) dos casos foram registrados em pessoas com ensino superior completo, sugerindo que níveis educacionais mais altos estão associados a um menor risco de hanseníase (DA SILVA et al., 2020).
Gráfico 3 – Escolaridade por Região notificados ao SINAN no Brasil, no período entre 2013 a 2023.
Fonte: Pereira MVS, et al., 2024. Baseado nos dados do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
Em relação à raça/cor os dados revelam um quadro de desigualdade, com destaque para a maior prevalência entre pessoas autodeclaradas pardas. Dos 355.053 casos registrados, 58,7% (208.397) foram notificados nessa categoria. Isso evidencia um impacto significativo da hanseníase entre a população parda, que historicamente enfrenta maiores vulnerabilidades socioeconômicas e barreiras de acesso aos serviços de saúde (ALVES et al., 2023). Os registros para a população preta somam 12,6% (44.754 casos) e os indivíduos autodeclarados brancos representam 23,6% (83.951) dos casos.
A distribuição por regiões revela padrões distintos. No Nordeste, que registrou 150.878 casos, 64,5% (97.251) foram de pessoas pardas, refletindo a composição racial da região e as desigualdades sociais prevalentes. No Norte, dos 66.659 casos, 70,6% (47.083) envolveram pessoas pardas, seguido por 11,3% (7.549) entre a população preta, destacando um contexto de maior vulnerabilidade nesses estados. Por outro lado, a Região Sudeste apresentou 41% dos casos entre pessoas brancas (20.989 de 51.171), com menor proporção de notificações entre a população parda (39,5%). Já o Sul teve 69,3% (8.069 de 11.642) dos casos em pessoas brancas.
No Centro-Oeste, que somou 74.703 casos, a maioria (55,2%, ou 41.260) também foi registrada entre pardos, com uma proporção significativa entre brancos (29,9% ou 22.338). Casos envolvendo pessoas indígenas foram mais prevalentes no Norte, com 36,9% (589 de 1.595) do total nacional de casos indígenas. Porém é necessário destacar que 3,6% dos casos (12.892) foram registrados sem identificação racial (categoria ignorada/branco), o que aponta para uma lacuna importante na coleta de dados que pode prejudicar o entendimento completo do perfil epidemiológico da hanseníase e limita a efetividade das políticas públicas direcionadas ao controle da doença.
Gráfico 4 – Frequência de notificação por Raça. Período: 2013 –2023.
Fonte: Pereira MVS, et al., 2024. Baseado nos dados do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
No que se refere à investigação por baciloscopia, a região Norte apresentou um total de 66.659 notificações, com 20.711 (31%) casos classificados como “Ignorado/Branco”, 11.766 (18%) como “Positivo”, 14.238 (21%) como “Negativo” e 19.944 (30%) com exames “Não realizados”. A alta proporção de exames não realizados (30%) destaca uma possível lacuna nos serviços de saúde, que pode dificultar o diagnóstico e a intervenção precoce.
No Nordeste, a maior região em termos de casos notificados (150.878), a distribuição foi de 54.814 (36%) como “Ignorado/Branco”, 26.227 (17%) como “Positivo”, 32.866 (22%) como “Negativo” e 36.971 (24%) com exames “Não realizados”. Novamente, a proporção de casos com exames não realizados é relevante, alcançando 24%, o que pode refletir dificuldades logísticas e de acesso aos exames na região. Na região Sudeste, com 51.171 notificações, 17.870 (35%) casos foram “Ignorados/Brancos”, 11.456 (22%) positivos, 14.441 (28%) negativos e 7.404 (14%) sem realização do exame. A proporção de dados ignorados é elevada, mas a taxa de exames não realizados (14%) é a mais baixa entre as regiões, o que sugere que o sistema de saúde pode ter um melhor acesso a exames nesta área, embora ainda existam desafios a serem superados.
A região Sul teve 11.642 notificações, com 3.651 (31%) casos “Ignorados/Brancos”, 4.092 (35%) positivos, 2.958 (25%) negativos e 941 (8%) casos com exames não realizados. A proporção de exames não realizados é bastante baixa, o que é um sinal positivo em termos de acesso ao diagnóstico. No entanto, ainda há uma preocupação com os casos ignorados, que podem indicar falhas no preenchimento das fichas ou na categorização de dados. Por fim, a região Centro-Oeste, com 74.703 notificações, mostrou 26.121 (35%) casos “Ignorados/Brancos”, 11.069 (15%) positivos, 15.584 (21%) negativos e 21.929 (29%) com exames não realizados.
Gráfico 5 – Resultado de exames para investigação/diagnóstico notificados ao SINAN no Brasil no período: 2019–2023.
Fonte: Pereira MVS, et al., 2024. Baseado nos dados do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
A análise da distribuição de casos de hanseníase por sexo no Brasil entre 2013 e 2023 revela uma predominância significativa de casos em indivíduos do sexo masculino. Do total de 355.052 casos registrados, 57% (201.929) são de pacientes do sexo masculino, enquanto 43% (153.098) são do sexo feminino. Na Região Norte, por exemplo, 61,1% dos casos foram registrados em homens (40.676 de 66.659), e na Região Nordeste, essa porcentagem chega a 56,1% (84.666 de 150.878). Já na Região Sudeste, os homens representam 57% (29.140 de 51.170) dos casos, refletindo a tendência observada no restante do país. No Centro-Oeste, a proporção de casos masculinos é ainda mais pronunciada, com 54,2% (40.452 de 74.703) dos casos sendo em homens.
Tabela 1 – Notificações de acordo com o sexo por Região direcionados ao SINAN no Brasil. Período: 2019 –2023.
Sexo | Casos Masculinos | Casos Femininos | Total de Casos |
Região Norte | 40.676 | 25.981 | 66.659 |
Região Nordeste | 84.666 | 66.197 | 150.878 |
Região Sudeste | 29.140 | 22.025 | 51.170 |
Região Sul | 6.995 | 4.647 | 11.642 |
Região Centro-Oeste | 40.452 | 34.248 | 74.703 |
Total Geral | 201.929 | 153.098 | 355.052 |
Fonte:Pereira MVS, et al., 2024. Baseado nos dados do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
No que se refere à classificação, foram registrados 355.053 casos, com a maior parte deles sendo classificados como “MULTIBACILAR” (274.170 casos, representando 77,3% do total), enquanto 80.363 (22,6%) casos foram classificados como “PAUCIBACILAR”, e apenas 520 casos (0,1%) ficaram com a classificação “Ignorado/Branco”. Analisando as regiões, a Região Norte, com 66.659 casos, apresentou 12 casos (0,02%) classificados como “Ignorado/Branco”, 15.139 (22,7%) como “PAUCIBACILAR” e 51.508 (77,2%) como “MULTIBACILAR”.
Na Região Nordeste, com 150.878 casos, 178 (0,12%) foram “Ignorados/Brancos”, 41.099 (27,2%) classificados como “PAUCIBACILAR” e 109.601 (72,7%) como “MULTIBACILAR”. Assim como na Região Norte, a Região Nordeste também apresenta uma alta prevalência de casos MULTIBACILARES, o que pode estar relacionado a um número maior de casos mais avançados, possivelmente devido a dificuldades no acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequado. Na Região Sudeste, com 51.171 casos, a distribuição foi de 15 casos (0,03%) “Ignorados/Brancos”, 12.973 (25,4%) como “PAUCIBACILAR” e 38.183 (74,6%) como “MULTIBACILAR”.
A Região Sul, com 11.642 casos, teve 6 casos (0,05%) “Ignorados/Brancos”, 1.927 (16,5%) “PAUCIBACILAR” e 9.709 (83,5%) “MULTIBACILAR”. A predominância de casos MULTIBACILARES na região é elevada, embora a proporção de casos PAUCIBACILARES seja um pouco maior comparada a outras regiões, sugerindo um perfil de hanseníase em estágios mais avançados em grande parte dos casos. A Região Centro-Oeste, com 74.703 casos, apresentou 309 (0,4%) “Ignorados/Brancos”, 9.225 (12,3%) “PAUCIBACILAR” e 65.169 (87,2%) “MULTIBACILAR”. A alta porcentagem de casos MULTIBACILARES nessa região reforça a tendência observada nas outras regiões, indicando que a doença está em estágios mais graves, possivelmente devido a dificuldades no diagnóstico precoce e na detecção de sinais iniciais da hanseníase (CAMPIOL et al., 2020).
Tabela 2 – Notificações de acordo com classificação por Região ao SINAN no Brasil. Período: 2013 –2023.
Região de Notificação | Ignorado | PAUCIBACILAR | MULTIBACILAR | Total |
Região Norte | 12 | 15.139 | 51.508 | 66.659 |
Região Nordeste | 178 | 41.099 | 109.601 | 150.878 |
Região Sudeste | 15 | 12.973 | 38.183 | 51.171 |
Região Sul | 6 | 1.927 | 9.709 | 11.642 |
Região Centro-Oeste | 309 | 9.225 | 65.169 | 74.703 |
Total | 520 | 80.363 | 274.170 | 355.053 |
Fonte:Pereira MVS, et al., 2024. Baseado nos dados do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
Os dados apresentados no Gráfico 5 revelam uma predominância do tipo clínico dimorfo, que representa a maior parte dos casos em todas as regiões. Em termos absolutos, a região Norte possui um total de 66.659 casos, sendo que 36.611 são classificados como dimorfa, o que equivale a aproximadamente 54,9% dos casos na região. Este padrão também é observado nas demais regiões, com destaque para a região Nordeste, que apresenta o maior número absoluto de casos (150.878), dos quais 62.593 (41,5%) são dimorfos. A classificação tuberculóide se destaca em várias regiões, embora em menor proporção que o tipo dimorfo. No total geral (Brasil), são 43.594 casos classificados como tuberculóides, representando aproximadamente 12,3% dos casos totais. A região Norte, por exemplo, possui 7.423 casos tuberculóides, o que corresponde a cerca de 11,1% dos casos na região.
O tipo virchowiana, que indica formas mais graves e avançadas da doença, é mais prevalente na região Centro-Oeste, com 48.389 casos, o que corresponde a 64,9% do total de casos da região. No entanto, em termos nacionais, os casos virchowianos representam 17,9% do total. Vale destacar a categoria não classificada, que soma 21.295 casos em todo o Brasil, representando aproximadamente 6% dos casos. Esse dado sugere que há uma quantidade considerável de casos que ainda não foram classificados de forma precisa, o que pode ser um ponto de atenção para melhorar o diagnóstico e o acompanhamento da hanseníase.
Gráfico 6 – Notificações de acordo com o sexo por Região de notificação de acordo com a forma clinica notificados ao SINAN no Brasil. Período: 2019 –2023.
Fonte:Pereira MVS, et al., 2024. Baseado nos dados do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
A distribuição de casos entre os diferentes resultados possíveis, como cura, transferência de município ou estado, óbito e abandono, oferece uma visão ampla da eficácia do sistema de saúde no manejo dessa doença. Observa-se que a maior parte dos casos foi registrada como curados, com um total de 255.218, o que representa aproximadamente 71,3% do total de casos notificados. Esse dado é um reflexo positivo dos esforços de controle e tratamento da hanseníase, que, quando detectada precocemente e tratada adequadamente, pode levar à cura completa. Contudo, o abandono do tratamento é uma preocupação, com 23.473 casos de abandono, representando cerca de 6,5% do total. A transferência de pacientes entre municípios, estados ou países é também um indicador relevante, com 16.080 casos de transferências para outro município (4,5% do total), 6.909 casos para outros estados (1,9%), e 165 para outros países, representando uma pequena fração do total. Outro dado de relevância é o número de óbitos, que totalizou 5.831 casos, representando 1,6% dos casos notificados. Embora este número seja relativamente baixo, ele ainda evidencia a gravidade das complicações da hanseníase quando não tratada adequadamente, principalmente nas formas mais avançadas da doença, como a virchowiana (TRAÚZOLA et al., 2022).
É importante destacar o número de casos com diagnóstico incorreto, somando 5.831, o que representa cerca de 1,6% do total de registros. Em termos regionais, a região Nordeste apresentou a maior quantidade de casos, com 152.595 registros, correspondendo a 42,6% do total. Isso reflete a alta carga de hanseníase nesta área, que ainda enfrenta desafios significativos em termos de acesso e qualidade do tratamento. Já a Região Norte, com 67.056 casos (18,7%), também tem números expressivos, o que pode estar relacionado a dificuldades de acesso a serviços de saúde em algumas áreas remotas.
Gráfico 6 – Notificações de acordo com o sexo por Região de notificação de acordo com a forma clinica notificados ao SINAN no Brasil. Período: 2019 –2023.
Fonte:Pereira MVS, et al., 2024. Baseado nos dados do Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
As análises realizadas ao longo deste estudo revelam um panorama detalhado sobre os casos de hanseníase no Brasil, com foco nas diferentes classificações, características demográficas e regionais. Observa-se uma grande variação na distribuição dos casos de hanseníase entre as regiões do país, com destaque para as regiões Norte e Nordeste, que concentram a maior parte dos casos notificados. A predominância de casos multibacilares, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, sugere desafios no diagnóstico precoce e no controle da doença, o que pode estar relacionado a dificuldades de acesso ao tratamento e a condições de saúde públicas mais vulneráveis nessas áreas. Além disso, a análise das características de escolaridade e raça dos indivíduos notificados aponta para desigualdades socioeconômicas e educacionais que podem influenciar o acesso a cuidados médicos adequados. A alta prevalência de casos ignorados ou com dados em branco indica lacunas significativas na coleta e notificação de informações essenciais para o acompanhamento da evolução da hanseníase no país. Portanto, os dados apontam para a necessidade de estratégias de saúde pública mais eficientes, com foco na educação em saúde, diagnóstico precoce e no fortalecimento do sistema de notificação e acompanhamento dos casos, especialmente em regiões com maior vulnerabilidade social e de acesso à saúde. A contínua atualização das bases de dados e o acompanhamento rigoroso dos casos são essenciais para a elaboração de políticas públicas mais eficazes no combate à hanseníase.
5. REFERÊNCIAS:
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1UFMT – dlopesleite@gmail.com
2Acadêmico de medicina – AFYA Faculdade de Ciências Médicas de Santa Inês – medviniciuspereira@gmail.com
3Universidade Gama Filho – andkarla@yahoo.com.br
4Faculdade Integrada de Patos – thais_araruna@hotmail.com
5Faculdade de Medicina Nova Esperança – rayssa_macedo@hotmail.com
6Centro Universitário Cesmac – andrericardo.alencar@hotmail.com
7Universidade Tirandes – anarita.pdf@gmail.com
8AFYA -Faculdade de Ciências médicas de Jaboatão dos Guararapes-PE – carolgabao@yahoo.com.br
9Faculdade Pernambucana de Saúde – rafagabaoloureiro@gmail.com
10Medicina – UNIG – brunaoribeiro_@hotmail.com
11FAMENE – Faculdade de Medicina Nova Esperança – mohanna_hanna@hotmail.com
12Universidade Federal de Campina Grande – mile_escariao@yahoo.com.br