EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF GASTRITIS AND DUODENITIS IN BRAZIL IN THE PERIOD 2019-2023
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE GASTRITIS Y DUODENITIS EN BRASIL EN EL PERÍODO 2019-2023
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248291610
Giovana Ank Alves Ovídio1
Ana Luiza Melo Messias2
Izadora Miranda Gurgel Lopes3
Maria Ivanilde de Andrade4
RESUMO
Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico das hospitalizações, dos óbitos e a taxa de letalidade por gastrite e duodenite em adultos e idosos nas regiões brasileiras, entre 2019 a 2023. Metodologia: Estudo ecológico descritivo e quantitativo, realizado em julho de 2024, utilizando dados secundários disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). Foram analisadas as variáveis faixa etária, regiões brasileiras e temporalidade, calculando a taxa de letalidade hospitalar por gastrite e duodenite. Resultados: nos últimos cinco anos, foram registradas 63.677 internações, sendo o maior número em 2019. Além disso, foram registrados 1.108 óbitos nesse mesmo período de tempo, em 2019 com o maior número de ocorrências. O maior número de internações e óbitos ocorreu na região Nordeste e o menor número de ambos na região Centro-Oeste. O grupo etário mais hospitalizado foi o de 40 a 49 anos, já a faixa etária de 80 anos e mais possui o maior número de óbitos e a maior taxa de letalidade e o grupo mais exposto a doenças e agravos crônicos o que pode explicar o maior número de óbitos. Conclusão: O alto número de internações e óbitos, com disparidades regionais e etárias revela a necessidade de priorizar políticas públicas direcionadas para uma melhoria da qualidade aos serviços de saúde principalmente para esse público.
Palavras-chave: epidemiologia, duodenite, gastrite.
ABSTRACT
Objective: To analyze the epidemiological profile of hospitalizations, deaths and the fatality rate due to gastritis and duodenitis in adults and the elderly in Brazilian regions, between 2019 and 2023. Methodology: Descriptive and quantitative ecological study, carried out in July 2024, using secondary data made available by the Department of Information Technology of the Unified Health System (DATASUS) and the Hospital Information System (SIH/SUS). The variables age group, Brazilian regions and temporality were analyzed, calculating the hospital lethality rate for gastritis and duodenitis. Results: In the last five years, 63,677 hospitalizations were recorded, with the highest number in 2019. In addition, 1,108 deaths were recorded in the same period of time, with 2019 having the highest number of occurrences. The highest number of hospitalizations and deaths occurred in the Northeast region and the lowest number of both in the Central-West region. The most hospitalized age group was 40 to 49 years old, while the age group of 80 years and over has the highest number of deaths and the highest fatality rate and the group most exposed to chronic diseases and conditions, which may explain the higher number of deaths. Conclusion: The high number of hospitalizations and deaths, with regional and age disparities, reveals the need to prioritize public policies aimed at improving the quality of health services, especially for this population.
Keywords: epidemiology, duodenitis, gastritis.
Resumen
Objetivo: Analizar el perfil epidemiológico de las hospitalizaciones, las muertes y la tasa de letalidad por gastritis y duodenitis en adultos y ancianos en regiones brasileñas, entre 2019 y 2023. Metodología: Estudio ecológico descriptivo y cuantitativo, realizado en julio de 2024, utilizando datos secundarios puestos a disposición del Departamento de Informática del Sistema Único de Salud (DATASUS) y del Sistema de Información Hospitalaria (SIH/SUS). Se analizaron las variables rango de edad, regiones brasileñas y temporalidad, calculando la tasa de letalidad hospitalaria por gastritis y duodenitis. Resultados: en los últimos cinco años se registraron 63.677 hospitalizaciones, siendo el mayor número en 2019. Además, se registraron 1.108 muertes en el mismo período de tiempo, en 2019 con mayor número de ocurrencias. El mayor número de hospitalizaciones y muertes se produjo en la región Nordeste y el menor número de ambas en la región Centro-Oeste. El grupo etario más hospitalizado fue el de 40 a 49 años, mientras que el grupo etario de 80 años y más tiene el mayor número de muertes y la mayor tasa de letalidad y es el grupo más expuesto a enfermedades y condiciones crónicas, lo que puede explicar el mayor número de muertes. Conclusión: El elevado número de hospitalizaciones y muertes, con disparidades regionales y de edad, revela la necesidad de priorizar políticas públicas dirigidas a mejorar la calidad de los servicios de salud, especialmente para esta población.
Palabras clave: epidemiología, duodenitis, gastritis.
1 INTRODUÇÃO
A duodenite e a gastrite se caracterizam por inflamações multifatoriais nas mucosas do trato gastrointestinal, sendo que a primeira afeta o duodeno, porção inicial do intestino grosso, e a segunda, a mucosa gástrica do estômago. A gravidade dessas doenças é definida pelo curso de tempo, características histológicas e distribuição anatômica da inflamação. Ambas podem ser agudas, em que a inflamação é temporária podendo haver ou não sintomas hemorrágicos e ter como causa isquemia, medicamentos, radiação, queimaduras e agentes infecciosos. E também crônicas, quando o grau de inflamação progride gradualmente, ao longo de anos, podendo gerar escoriações ulcerativas se não tratadas.1
A gastrite, especialmente quando cronificada, é uma doença comum, grave e amplamente subestimada na prática clínica. Além disso, ela pode ser categorizada de duas formas – atrófica e não atrófica -, que são formas de gastrite que apresentam estágios diferentes ao longo da vida, sendo a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, a principal causa. Na forma atrófica, ocorre uma inflamação agressiva e duradoura, que gera a perda de glândulas oxínticas e de células parietais na atrofia do corpo do estômago e consequente disfunção da mucosa estomacal, causando a redução (hipocloridria) ou ausência (acloridria) da produção de ácido clorídrico, o que torna esse órgão mais suscetível ao câncer gástrico e às úlceras pépticas. A forma grave da gastrite atrófica também pode estar acompanhada de falhas na absorção de vitaminas, como a B12, micronutrientes e medicamentos. Já na não atrófica, a atrofia do corpo estomacal não ocorre, logo as glândulas e células são preservadas, porém, se não tratada, pode evoluir para a forma atrófica.2
Considerando a significância da temática, o estudo objetiva analisar as hospitalizações, os óbitos e a taxa de letalidade por gastrite e duodenite em adultos e idosos nas regiões do Brasil, nos anos de 2019 a 2023.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo ecológico, observacional e descritivo, com abordagem quantitativa, realizado em julho de 2024. A pesquisa teve por base a análise de dados secundários disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). O período analisado compreende janeiro de 2019 a dezembro de 2023, com abrangência da população distribuída nas seguintes faixas etárias: 40 a 49 anos, 50 a 59 anos, 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 anos e mais.
Foram obtidos dados sobre taxa de mortalidade, óbitos e internações hospitalares pelo Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). A seleção dos casos específicos foi realizada por meio da Lista de Morbidade CID-10, abrangendo duodenite e gastrite (K29). As variáveis analisadas incluíram faixa etária, ano da internação e regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). Além disso, calculou-se a taxa de letalidade hospitalar. Após a coleta, a tabulação dos dados aconteceu por meio de uma análise estatística descritiva, no software Office Microsoft Excel. Em razão da pesquisa ter sido realizada a partir de uma base de dados de domínio público, logo, preservando a identidade dos participantes, foi dispensada à submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), conforme estabelecido na Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
3 resultadoS
Durante o período analisado, foram registradas no Brasil, em todas as faixas etárias, 63.677 internações devido à gastrite e duodenite. O número total de hospitalizações variou de 17.362 em 2019 a 10.737 em 2021, sendo esses, o maior e menor registro respectivamente. Entre 2019 e 2023 foram notificados 1.108 óbitos, sendo 273 (maior registro de óbitos) em 2019 e 197, (menor registro) em 2020, conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1. Óbitos e internações processados nos anos 2019 a 2023.
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Referente às cinco regiões do país, o maior número de internações concentra-se na região nordeste, responsável por 24.877 internações (39,06%), seguida pela região sudeste, com 14.260 (22,39%) e norte, com 11.466 (18%) internações. As regiões com menor número de internações são a região sul, com 7.465 internações (11,72%), e a região centro-oeste, com 5.609 casos (8,80%).
Quanto aos óbitos processados nas regiões brasileira, a região nordeste representa 41,24% com 457 óbitos registrados no mesmo período, enquanto a região centro-oeste possui o menor registro de óbitos do país, com 57 óbitos (5,14%) (Tabela 2.).
Esse cenário está relacionado às diferentes condições socioeconômicas que influenciam na incidência das comorbidades em cada região, sendo elas determinantes para o aumento da transmissão da Helicobacter pylori, posto que um baixo consumo de vegetais e frutas, a pouca conscientização sobre higienização das mãos e outras implicações decorrentes do subdesenvolvimento econômico são essenciais para evitar essa disseminação4.
Tabela 2. Óbitos e internações distribuídos nas cinco regiões do Brasil nos anos de 2019 a 2023.
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Em relação à faixa etária, o maior número de casos foi registrado entre pessoas de 40 a 49 anos, representando 24,42% de adoecimento, com 15.554 internações. Em contrapartida, o menor número de casos foi observado na faixa etária de pessoas com 80 anos e mais, que apresentaram 7.721 casos (12,12%). Oposto ao encontrado, a letalidade hospitalar e o número de óbitos por faixa etária foram maiores entre os pacientes de 80 anos e mais (4,41%) quando comparado aos pacientes de 40 a 49 anos (0,54%).
O aumento do número de casos de gartrite e duodenite nos mais idosos pode estar relacionado ao fato de que esse é o grupo populacional que mais cresce e que está mais exposto a doenças e agravos crônicos, já que a prevalência dessas doenças aumenta conforme a idade, como indicado na Tabela 3.1,3
Além disso, a região geográfica e as questões socioeconômicas são fatores que influenciam na incidência dessas comorbidades, visto que podem ser determinantes para o aumento da transmissão da bactéria Helicobacter pylori.
Tabela 3. Internações, óbitos e letalidade hospitalar por faixa etária (2019-2023).
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
A letalidade hospitalar foi superior em 2022, com uma taxa de 1,93% quando comparado com os anos de 2019, 2020, 2021 e 2023. Em relação às regiões brasileiras, a maior taxa ocorreu na região sudeste, seguido pelo sul, nordeste e norte, enquanto a região centro-oeste apresentou a menor letalidade, com 1,01%. Essa diferença pode ser justificada pela possibilidade de vieses de informação relacionado aos bancos de dados, devido à subnotificação e/ou à diferença no acesso aos serviços de saúde entre as regiões estudadas (Tabela 4.).
Tabela 4. Letalidade hospitalar de 40 a 80 anos/ano, segundo regiões (2019-2023).
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
3.1 Discussão dos resultados
Os resultados mostraram, a partir da análise epidemiológica, a prevalência, distribuição geográfica e o impacto da gastrite e duodenite no Brasil. Situação essa que permitiu ter uma visão mais abrangente das hospitalizações, óbitos e taxa de letalidade nas distintas faixas etárias e regiões do país.
No período analisado, destaca-se a elevada carga da doença, com mais de 63.677 internações registradas na faixa etária de 40 a 80 anos. Isso reflete o quão frequente são essas condições de saúde, além da complexidade em lidar com as possíveis complicações, principalmente em indivíduos mais idosos, no qual a letalidade hospitalar e número de óbitos é mais elevada. Ressalta-se que o aumento do envelhecimento global causou mudanças significativas em relação ao aparecimento da duodenite e gastrite no Brasil, com um crescimento expressivo na incidência e mortalidade causada por essas doenças.
Chama a atenção para maior prevalência de internações e óbitos se concentraram no nordeste, região com pior condições socioeconômicas e menor qualidade de vida. Nesse sentido, enfatiza-se que as precárias condiçoes socioeconômicas e dificuldades no acesso aos serviços de saúde da região, favorece a proliferação da Helicobacter Pylori. Logo, é importante salientar que a variação regional nos índices de internação e mortalidade, sobrepõe às desigualdades existentes no acesso à serviços de saúde e nas condições socioeconômicas da região prevalente.
A relação da gastrite e duodenite com a idade também é relevante, em que o grupo etário de 40 a 49 anos apresentou o maior número de casos, constatando uma maior incidência dessas comorbidadades na população adulta.
Diante dos resultados e análises desses dados, podem ser criadas estratégias e políticas públicas visando a prevenção e um manejo mais adequado para a gastrite e duodenite, priorizando as regiões e faixas etárias mais acometidas.
4 CONCLUSÃO
O presente estudo forneceu uma análise do perfil epidemiológico das hospitalizações, óbitos e taxas de letalidade por gastrite e duodenite no Brasil noas anos 2019 a 2023. Os resultados avaliados revelaram um cenário preocupante, destacando um total de 63.677 internações e 1.108 óbitos relacionados a essas doenças. Revelou também uma concentração significativa de casos na região nordeste e uma elevada taxa de letalidade entre indivíduos com 80 anos ou mais.
O estudo apresentou limitações como possíveis subnotificações que decorre da análise de dados secundários. Além disso, a ausência de informações mais detalhadas, tornam-se impeditivos para uma análise mais acurada. Logo, recomenda-se a elaboração de novos estudos que explorem de forma mais aprofundada a epidemiologia dessas comorbidades, assim como seus fatores de risco e eficácia das intervenções.
Diante disso, é de extrema importância a priorização de estratégias e políticas públicas direcionadas para a melhoria do atendimento e assistência dessas comorbidades nos serviços de saúde brasileiro.
A melhoria da assistência médica, a capacitação de profissionais e a realização de métodos preventivos contra essas doenças, especialmente nas regiões mais afetadas e nas faixas etárias com maior risco de complicações, certamente modificará as estatísticas levantadas. O trabalho multiprofissional e interdisciplinar com foco nas disparidades regionais e etárias é uma forma eficaz de prevenir o aparecimento da gastrite e duodenite e tratar de forma efetiva os casos já existentes.
REFERÊNCIAS
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1 Acadêmica do 3° período de Medicina
AFYA Faculdade de Ciências Médicas de Ipatinga (Univaço) – Ipatinga, MG
Rua João Patrício Araújo, 179, Bairro Veneza 1, Ipatinga/MG
E-mail: gio.ank0303@gmail.com
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2 Acadêmica do 8° período de Medicina
Universidade José do Rosário Vellano -UNIFENAS BH
Rua Líbano, 66, Bairro Itapoã, Belo Horizonte-MG
E-mail: analuizamessias2014@gmail.com
(31) 97146-1225
3 Acadêmica da 6ª etapa de Medicina
Faculdade da saúde e ecologia humana (FASEH) Vespasiano MG, Brasil
E-mail: izadora04lopes@gmail.com
Rua São Paulo, 958, Jardim Alterosa, Vespasiano-MG
(31) 98740-5554
4 MsC, Doutoranda em Biotecnologias em Saúde (UnP)
Docente da FASEH-Vespasiano-MG, Brasil
Rua São Paulo, 958, Jardim Alterosa, Vespasiano-MG
E-mail: vaninhaenf@hotmail.com
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