REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411220753
Thaís Sousa da Silva;
Orientador (a): Fernando de Velasco Lino
RESUMO
Introdução: A dengue tem se tornado um problema significativo de saúde pública em muitas regiões tropicais e subtropicais ao redor do mundo. Essa é causada por um dos quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) e é transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti. No Brasil, um estudo demonstrou que a mortalidade por dengue tem variado ao longo dos anos, com um aumento significativo em casos graves. Entre 2000 e 2015, o número de mortes por dengue aumentou em 639%. Objetivo: Descrever o Perfil Epidemiológico da dengue em um hospital regional do Distrito Federal entre os meses de outubro de 2023 a maio de 2024. Método: Estudo epidemiológico descritivo com coleta de dados retrospectiva. Foram incluídos recém-nascidos e pacientes com até 13 anos, 11 meses e 29 dias que tenham sido admitidos no hospital regional do Distrito Federal em questão entre os meses de outubro de 2023 a maio de 2024. Resultados: Foram selecionados 425 casos de pacientes entre 28 dias de vida a 14 anos incompletos. A média da idade foi de 6,9 anos, com desvio padrão (DP) de 4,4 anos, cerca de 61,2% dos pacientes eram do sexo masculino e 38,4% do sexo feminino; cerca de 19,3% dos pacientes tinham alguma doença crônica. 59,8% dos pacientes foram encaminhados para enfermaria, ficando internados um média de 4 dias (DP de 1,6 dias). Cerca de 2,8% dos pacientes foram encaminhados para Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e 0,2% dos pacientes foram à óbito, esses dados demonstram que, durante o período do estudado, houve uma taxa de letalidade de 0,24%. Os pacientes permaneceram com dengue em média por 4,5 dias (DP 2,1 dias), no qual os principais sinais de alarme foram sangramento de mucosa (27,8%), dor abdominal (20%) e plaquetopenia (17,4%), porém, em cerca de 24% dos pacientes não houve nenhum tipo de sinal de alarme. Houveram casos de conversão de diagnóstico em somente 8,7% dos pacientes, no qual o mais frequente foi gastroenterocolite (13,5%). Conclusão: Os pacientes pediátricos diagnosticados com dengue em um hospital regional do Distrito Federal são em sua maioria do sexo masculino, entre 5 a 14 anos incompleto de idade, com uma alta frequência de necessidade de internações com uma média de 4,5 dias. Há uma baixa letalidade, porém, a identificação de sinais de alarmes como sangramento de mucosa, dor abdominal e plaquetopenia podem contribuir para um tratamento precoce desses pacientes.
Palavras-chaves: Dengue. Epidemiologia. Pediatria. Fatores de risco.
ABSTRACT
Introduction: Dengue has become a significant public health problem in many tropical and subtropical regions around the world. It is caused by one of the four dengue virus serotypes (DENV-1, DENV-2, DENV-3, and DENV-4) and is primarily transmitted by the Aedes aegypti mosquito. In Brazil, a study demonstrated that dengue mortality has varied over the years, with a significant increase in severe cases. Between 2000 and 2015, the number of dengue-related deaths increased by 639%. Objective: To describe the epidemiological profile of dengue in the Southwest Health Region of the Federal District between October 2023 and May 2024. Method: This is a descriptive epidemiological study with retrospective data collection. Newborns and patients up to 13 years, 11 months, and 29 days old, who were admitted to health units in the Southwest Health Region of the Federal District between October 2023 and May 2024, were included. Results: A total of 425 cases were selected, involving patients aged between 28 days and under 14 years. The average age was 6.9 years, with a standard deviation (SD) of 4.4 years; approximately 61.2% of the patients were male and 38.4% were female. About 19.3% of the patients had a chronic disease. Around 59.8% of the patients were admitted to the ward, staying an average of 4 days (SD of 1.6 days). Approximately 2.8% of the patients were transferred to the Intensive Care Unit (ICU), and 0.2% of the patients died, indicating a case fatality rate of 0.24% during the study period. Patients remained with dengue for an average of 4.5 days (SD 2.1 days), with the main warning signs being mucosal bleeding (27.8%), abdominal pain (20%), and thrombocytopenia (17.4%). However, about 24% of the patients did not exhibit any warning signs. Diagnostic conversion occurred in only 8.7% of the patients, with the most frequent being gastroenterocolitis (13.5%). Conclusion: Pediatric patients diagnosed with dengue in the Southwest Health Region of the Federal District are mostly male, aged between 5 and under 14 years, with a high frequency of hospitalization, averaging 4.5 days. Although the fatality rate is low, the identification of warning signs such as mucosal bleeding, abdominal pain, and thrombocytopenia may contribute to the early treatment of these patients.
Keywords: Dengue. Epidemiology. Pediatrics. Risk factors.
1. INTRODUÇÃO
A dengue tem se tornado um problema significativo de saúde pública em muitas regiões tropicais e subtropicais ao redor do mundo. Essa é causada por um dos quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) e é transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti. A infecção pode variar de uma febre leve a uma doença grave e potencialmente fatal, conhecida como dengue grave. Globalmente, estima-se que até 100 milhões indivíduos podem ser infectados por dengue todos os anos, resultando em uma carga econômica significativa (Guo et al., 2017).
Na pediatria, a dengue tem mostrado variações geográficas significativas. Em Bangladesh, um estudo multicêntrico durante a epidemia de 2019 revelou que um terço dos casos confirmados eram em crianças, com manifestações clínicas que incluíam febre, dor de cabeça, mialgia e dor retro-orbital (Yesmin et al., 2023). Em outro estudo na República Dominicana, observou-se que as características comuns entre os pacientes pediátricos incluíam trombocitopenia, dor abdominal e vômito, com erupção cutânea e trombocitopenia severa sendo sinais precoces importantes para prever dengue grave (Mena Lora et al., 2014).
No Brasil, um estudo demonstrou que a mortalidade por dengue tem variado ao longo dos anos, com um aumento significativo em casos graves. Entre 2000 e 2015, o número de mortes por dengue aumentou em 639% (Araújo et al., 2017). No boletim informativo do Centro de Operações de Emergência (COE) de 21 atualizado em março de 2024, demonstrou a ocorrência de 682 óbitos por conta desta condição no Brasil, não obstante, a taxa de letalidade de óbitos sobre o total de casos graves foi de 5,2% em 2023 e até março de 2024 a taxa de mortalidade registrada foi de 3,59% (BRASIL, 2024). Cabe destacar também que no estado do Amazonas, fatores associados a um maior risco de morte incluíram idade superior a 55 anos, sangramento gastrointestinal, hematúria e trombocitopenia (Pinto et al., 2016).
A mortalidade específica por dengue em crianças é menor comparada a adultos, contudo representa um desafio de saúde pública. Em um estudo no Espírito Santo, entre 2007 a 2013, 11,3% dos casos pediátricos apresentaram dengue grave, no qual houve uma taxa de mortalidade menor do que em adultos, porém com maior frequência de complicações como hemorragias e vazamento plasmático (Vicente et al., 2016).
Não obstante, na literatura tem sido observado que a faixa etária pediátrica mais prevalente para dengue é entre 5 e 14 anos, mas isso pode variar muito entre as regiões brasileiras. No estado do Paraná por exemplo, um estudo observou que as crianças menores de um ano foram as mais afetadas entre 2019 a 2020, especialmente durante o período entre maio de 2019 e março de 2020 (Stacechen & Souza, 2023). No Maranhão, a prevalência de casos graves de dengue foi maior em crianças menores de 15 anos, representando 66% dos casos de dengue grave relatados entre 2002 e 2011 (Dias et al., 2017).
As manifestações clínicas da dengue podem variar amplamente em crianças, desde sintomas leves como febre e erupções cutâneas até complicações graves como choque e falência de órgãos. Durante um estudo no sul da Índia, as crianças afetadas apresentaram principalmente febre, dor abdominal, vômitos e mialgia. Além disso, a trombocitopenia foi um achado comum, presente em 82,7% dos casos (Sahana & Sujatha, 2015).
Outras complicações como sangramentos gastrointestinais, hepatomegalia e derrame pleural também são frequentemente observadas em casos graves de dengue pediátrica. Outro estudo indiano demostrou que manifestações hemorrágicas foram significativamente mais comuns em casos de dengue grave (Mishra et al., 2016). Sendo assim, a identificação precoce de sinais de alerta e um manejo adequado são cruciais para reduzir a mortalidade na população pediátrica.
O diagnóstico da dengue é geralmente baseado em critérios clínicos e testes laboratoriais como o NS1, IgM e IgG. Em um estudo realizado em um hospital de referência em Bangladesh, observou-se que as crianças com dengue grave apresentaram níveis elevados de SGOT e SGPT, indicando disfunção hepática, especialmente durante o período de pandemia como o COVID-19 (Rosalina et al., 2023).
Contudo, a variação nos perfis clínicos e epidemiológicos destaca a necessidade de estratégias de manejo personalizadas e uma vigilância contínua para prevenir surtos e mitigar complicações graves. Neste sentido, a vacina contra a dengue tem sido um foco importante de pesquisa e desenvolvimento, com o objetivo de prevenir a doença em populações vulneráveis, incluindo crianças (Biswal et al., 2019; Hss et al., 2013; López-Medina et al., 2020; Luhm et al., 2023; Villar et al., 2015).
A vacina tetravalente da dengue (CYD-TDV), conhecida como Dengvaxia, foi avaliada em um estudo de fase 3 em cinco países da América Latina. O estudo envolveu crianças saudáveis de 9 a 16 anos, que foram randomizadas para receber três doses da vacina ou placebo. A eficácia da vacina contra a dengue sintomática confirmada virologicamente foi de 60,8% e contra hospitalizações por dengue foi de 80,3%. A segurança do CYD-TDV foi semelhante ao placebo, sem diferenças marcantes nas taxas de eventos adversos (Villar et al., 2015).
Outro estudo de fase 3 avaliou a vacina tetravalente TAK-003 em crianças e adolescentes de 4 a 16 anos em regiões endêmicas da Ásia e América Latina. A eficácia global da vacina foi de 80,2%, com 95,4% de eficácia contra hospitalizações por dengue. O estudo mostrou que a vacina foi bem tolerada e eficaz contra dengue sintomática (Biswal et al., 2019). Em outro estudo, a vacina TAK-003 demonstrou ser imunogênica e segura em crianças e adolescentes. A resposta de anticorpos permaneceu elevada 18 meses após a vacinação, com títulos de anticorpos contra os quatro sorotipos da dengue (Sáez-Llorens et al., 2017).
A segurança e imunogenicidade da vacina CYD-TDV foram avaliadas em crianças de 2 a 11 anos na Malásia. Os resultados mostraram um perfil de segurança satisfatório, com a maioria dos eventos adversos sendo leves a moderados e transitórios. A vacina induziu uma resposta humoral balanceada contra os quatro sorotipos do vírus da dengue (Hss et al., 2013).
Cabe destacar que a vacina tetravalente contra a dengue, CYD-TDV (Dengvaxia®), foi a primeira a ser aprovada no Brasil em 2015. Estudos de eficácia indicam que a vacina apresenta diferentes níveis de proteção dependendo do sorotipo do vírus. Um estudo populacional realizado no sul do Brasil reportou uma eficácia geral de 33,7% contra casos prováveis de dengue e 20,1% contra casos confirmados laboratorialmente. A vacina mostrou maior eficácia contra os sorotipos DENV-1 e DENV-4, mas não foi eficaz contra o DENV-2 (Luhm et al., 2023). Outro estudo realizado no estado do Paraná entre 2016 a 2019 também destacou a variabilidade na eficácia da vacina. A eficácia geral foi de 31,2% para pelo menos uma dose, com maior eficácia observada em grupos etários mais velhos e para os sorotipos DENV-1 e DENV-4 (Luhm et al., 2021).
Além disso, a vacina tetravalente do Instituto Butantan (Butantan-DV), que está em fase avançada de desenvolvimento, mostrou-se promissora em estudos de fase 2, demonstrando segurança e robustas respostas de anticorpos neutralizantes contra os quatro sorotipos do vírus da dengue (Kallas et al., 2020).
Apesar dos avanços, a vacinação contra a dengue ainda enfrenta diversos desafios, no qual a hesitação vacinal e a aceitação da vacina são questões significativas, especialmente em relação às novas vacinas. Além disso, a eficácia variável contra diferentes sorotipos do vírus da dengue e a necessidade de múltiplas doses para imunização completa são fatores que auxiliam na aceitação da população. Um estudo transversal descritivo revelou que 60,5% dos indivíduos receberam pelo menos uma dose da vacina, mas apenas 28,6% completaram as três doses recomendadas. Contudo, a adesão foi maior entre as faixas etárias de 9 a 14 anos e entre 28 a 44 anos, sendo que as mulheres apresentaram maior frequência de adesão ao esquema vacinal completo do que os homens (Preto et al., 2020).
No geral, apesar dos avanços em relação a prevenção da dengue realizada pelo Governo Federal e do Brasil ser pioneiro na imunização contra dengue, ainda há muitos desafios em relação a prevenção desta condição de saúde, tendo em vista que, principalmente no período de chuva, aumenta consideravelmente a ocorrência de casos desta. Desta forma, o presente estudo propõe demonstrar o perfil epidemiológico da dengue na população pediátrica, contribuindo assim para que haja o levantamento de informações importantes para ampliar os programas de prevenção desta condição de saúde.
2. OBJETIVO
2.1. Geral
Descrever o Perfil Epidemiológico da dengue em um hospital regional do Distrito Federal entre os meses de outubro de 2023 a maio de 2024.
2.2. Específicos
– Verificar se a incidência de casos de dengue varia entre diferentes faixas etárias e sexos;
– Verificar a porcentagem de internação hospitalar;
– Comparar os achados com o número de casos da sazonalidade anterior;
– Verificar letalidade da doença em um hospital regional do Distrito Federal no período em questão;
– Avaliar se existe um aumento na incidência de casos de dengue durante os meses mais chuvosos dentro do período estudado;
– Verificar se as características clínicas dos casos de dengue variam significativamente ao longo do período de estudo.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo com coleta de dados retrospectiva. Foram incluídos no estudo recém-nascidos e pacientes com até 13 anos, 11 meses e 29 dias que tenham sido admitidos em um hospital regional do Distrito Federal entre os meses de outubro de 2023 a maio de 2024.
Foram selecionadas informações dos prontuários dos participantes referentes a data de admissão; idade; sexo; destino do paciente; tempo de internação; dias com dengue; doença crônica; principais sinais de alarme; conversão de diagnóstico.
Os dados foram tabulados em planilhas do Excel e analisados estatisticamente pelo SPSS vs. 21. Foi realizado análise descritiva, demonstrando a frequências e percentuais dos achados no qual foi possível descrever as características demográficas dos pacientes (idade, sexo) e a distribuição dos casos de dengue. Medidas de Tendência Central e Dispersão: Como média, mediana, desvio padrão para variáveis contínuas como idade, tempo entre o início dos sintomas e a admissão na unidade de saúde.
Foi realizado também o teste Qui-Quadrado (χ²): para avaliar a associação entre variáveis categóricas, como a relação entre sexo, com o desfecho (alta ou óbito) e a conversão de diagnóstico. Teste t de Student ou Mann-Whitney: Para comparar a média de uma variável contínua entre dois grupos independentes, como o tempo de internação e os principais sinais de alarme. Análise de Variância (ANOVA) ou Kruskal-Wallis: para comparar as médias de uma variável contínua entre mais de dois grupos. E regressão logística para identificar fatores de risco associados a desfechos binários, como alta ou óbito, e avaliar a influência de variáveis independentes (idade, sexo, destino do paciente, principais sinais de alarme) sobre a probabilidade de um determinado desfecho.
O estudo foi submetido à avaliação ética do Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos, conforme estipulado na resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os princípios de beneficência, não maleficência, justiça e autonomia foram os guias fundamentais do estudo. Os pesquisadores se comprometem a iniciar o recrutamento e a coleta de dados somente após a aprovação explícita do Comitê. Não há conflitos de interesse por parte dos pesquisadores. Além disso, houve a dispensa do contato com os participantes para a obtenção dos termos de consentimento livre e esclarecido e de assentimento, conforme previsto no capítulo IV, inciso IV.8 da Resolução do CNS- MS número 466 de 2012.
4. RESULTADOS
Foram selecionados 425 casos de pacientes entre 28 dias de vida e 14 anos incompletos, que foram admitidos com diagnóstico de dengue em um hospital regional do Distrito Federal, entre os meses de outubro de 2023 e maio de 2024. A média de idade foi de 6,9 anos, com desvio padrão (DP) de 4,4 anos. Cerca de 61,2% dos pacientes eram do sexo masculino e 38,4% do sexo feminino; aproximadamente 19,3% dos pacientes tinham alguma doença crônica.
Cerca de 59,8% dos pacientes foram encaminhados para a enfermaria, ficando internados por uma média de 4 dias (DP de 1,6 dias). Não obstante, cerca de 2,8% dos pacientes foram encaminhados para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e 0,2% dos pacientes foram a óbito. Esses dados demonstram que, durante o período estudado, houve uma taxa de letalidade de 0,24%.
Os pacientes permaneceram com dengue, em média, por 4,5 dias (DP de 2,1 dias), sendo que os principais sinais de alarme foram sangramento de mucosa (27,8%), dor abdominal (20%) e plaquetopenia (17,4%). Entretanto, em cerca de 24% dos pacientes, não houve nenhum tipo de sinal de alarme. Houve casos de conversão de diagnóstico em apenas 8,7% dos pacientes, sendo o mais frequente gastroenterocolite (13,5%).
Figura 1: Distribuição do sexo dos pacientes incluídos no estudo
Figura 2: Faixa etária dos pacientes incluídos no estudo
Figura 3: Destino e tempo de internação dos pacientes incluídos no estudo
Figura 4: Dias com dengue e casos de doenças crônicas
Figura 5: Principais sinais e alarmes
Na correlação com o sexo, observou-se que as pacientes do sexo feminino tinham, em média, 7,2 anos (DP 4,4 anos), sendo que cerca de 18,4% tinham alguma doença crônica. A maioria das pacientes foi encaminhada para a enfermaria (59,5%), permanecendo internadas, em média, por 3,9 dias (DP 1,6 dias) e permanecendo com a doença, em média, por 4,8 dias (DP 2 dias) (Tabela 01).
Em relação aos principais sinais de alarme, cerca de 33,1% das pacientes apresentaram sangramento de mucosa, 20,9% tiveram plaquetopenia e 18,4% relataram dor abdominal. Não havia nenhum tipo de sinal de alarme em cerca de 21,5% das pacientes. Houve conversão do diagnóstico em cerca de 9,8% das pacientes, sendo a mais frequente febre sem sinais de localização, em 12,5% dos casos (Tabelas 2 e 3).
Nos pacientes do sexo masculino, a média de idade foi de 6,8 anos (DP 4,4 anos), sendo que cerca de 20% tinham alguma doença crônica. A maioria dos pacientes foi encaminhada para a enfermaria (60%), ficando internados, em média, por 4,1 dias (DP 1,7 dias) e permanecendo com a doença, em média, por 4,5 dias (DP 2,2 dias) (Tabela 01).
Em relação aos principais sinais de alarme, cerca de 24,6% dos pacientes apresentaram sangramento de mucosa, 15,4% tiveram plaquetopenia e 21,2% relataram dor abdominal. Não havia nenhum tipo de sinal de alarme em cerca de 25,8% dos pacientes. Houve conversão do diagnóstico em cerca de 8% dos pacientes, sendo a mais frequente gastroenterocolite, em 19% dos casos (Tabelas 2 e 3).
Tabela 1: Achados referentes a admissão associados ao sexo
Tabela 2: Principais sinais de alarme associados ao sexo
Tabela 3: Achados da conversão de diagnóstico associado ao sexo.
5. DISCUSSÃO
No presente estudo, com o objetivo principal de descrever o Perfil Epidemiológico da dengue em um hospital regional do Distrito Federal entre os meses de outubro de 2023 a maio de 2024, observou-se que a maior parte dos pacientes (61,2%) eram do sexo masculino, com uma média de idade de 6,9 anos. Entre os sinais de alarme mais comuns, destacaram-se o sangramento de mucosa (27,8%), a dor abdominal (20%) e a plaquetopenia (17,4%). A taxa de letalidade foi relativamente baixa (0,24%), com somente um óbito registrado. A maior parte dos pacientes ficaram internados por um período médio de 4,5 dias, com 5,98% dos casos necessitando de tratamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Em comparação com estudos recentes, os dados indicam que a distribuição da dengue no hospital regional em questão, segue um padrão semelhante ao observado em outras regiões endêmicas. E estudo realizado em 2023 por Araújo et al. na região Nordeste do Brasil também identificou uma maior prevalência da dengue em pacientes pediátricos do sexo masculino, o que corrobora os achados do presente estudo. A taxa de hospitalização variou entre 20% a 30%, refletindo a gravidade dos casos observados durante os surtos mais recentes (ARAÚJO et al., 2023).
Além disso, o boletim epidemiológico do Monitoramento dos casos de dengue referente nº 21 de 2024, demonstrou que no Distrito Federal houve um aumento de 1.242,2% no número de casos prováveis de dengue em residentes no DF se comparado ao mesmo período de 2023. O documento demonstra também que houveram um total de 15,1% de casos de dengue ocorridos entre as recémnascidos a adolescentes de até 14 anos no DF, sendo que as faixas etárias com maior predominância de casos foram entre 5 a 9 anos (35,5%) e entre 10 a 14 anos (40,8%).
Não obstante, na Região de Saúde Sudoeste do DF, a qual o hospital regional em questão se localiza, os sorotipos mais prevalentes foram DenV-1 (8,8%) e o DenV-2 (91,2%) (BRASÍLIA, 2024). As faixas etárias pediátricas mais frequentes no DF vão de encontro ao que foi observado no presente estudo, entre 5 a 9 anos (32,5%) e entre 10 a 14 anos (36,8%), demonstrando assim que esta faixa etária tem um maior risco na população pediátrica.
Outro ponto importante é a análise da sazonalidade da dengue, que mostrou um aumento significativo no número de casos durante os meses mais chuvosos, conforme esperado para essa condição. Estudo realizado no estado de São Paulo em 2024, também destacam a correlação entre o aumento das chuvas e o aumento da incidência de dengue. Esse padrão sazonal foi confirmado por Luhm et al. (2024), que identificou uma relação direta entre o volume de precipitação e a quantidade de casos de dengue notificados em diferentes regiões do país (LUHM et al., 2024).
No entanto, a letalidade observada no presente estudo é relativamente baixa em comparação com outras regiões. No Amazonas a letalidade foi significativamente maior, com índices próximos a 1%, como reportado por Pinto et al. (2023) (Pinto et al., 2023). Isso pode ser atribuído a diferenças no acesso ao atendimento médico e nas condições socioeconômicas das populações estudadas. No entanto, cabe destacar que, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico, nº 21 de 2024, houve um aumento considerável de óbitos na região de Saúde Sudoeste do Distrito Federal, a qual o hospital regional em questão faz parte, de um caso em 2023 para 105 casos em 2024 (BRASÍLIA, 2024), contudo, cabe salientar que o boletim citado acima demonstra casos de todas as faixas etárias, no qual é predominante a população adulta. Sendo assim, esses achados não corroboram com os achados do presente estudo, o qual foi realizado com a população pediátrica e em um uma única unidade de saúde da região de Saúde Sudoeste do Distrito Federal. De acordo com o Informe Semanal nº 10 Arboviroses Urbanas – SE 33 | 19 de agosto de 2024, observou-se que houve no Distrito Federal uma letalidade de 4,3, sendo essa abaixo da média nacional (5,4) (BRASIL, 2024).
Em termos de complicações associadas à dengue em crianças, o presente estudo apontou para uma prevalência de complicações graves como a plaquetopenia, que está em linha com os achados de Vicente et al. (2023) em uma coorte pediátrica no Espírito Santo. A identificação precoce desses sinais de alarme é crucial para a redução da mortalidade, no qual a intervenções precoces reduz significativamente os óbitos entre crianças afetadas por dengue grave (VICENTE et al., 2023).
No contexto epidemiológico mais amplo, o Distrito Federal tem observado uma tendência crescente nos casos de dengue nos últimos anos, conforme reportado nos boletins informativos do Ministério da Saúde. Além disso, o padrão epidemiológico da dengue no Distrito Federal compartilha semelhanças com outras regiões tropicais, porém, apresenta particularidades que devem ser consideradas na formulação de políticas de saúde pública. No qual demonstra a eficácia variável das vacinas contra dengue, como observado em estudos realizados com a vacina tetravalente (CYD-TDV), ressaltando a necessidade de estratégias de imunização adaptadas ao contexto local, considerando as diferenças nos sorotipos predominantes e a resposta imunológica da população (VILLAR et al., 2024).
No geral, o presente estudo contribui significativamente para o entendimento do perfil epidemiológico da dengue em um hospital regional do Distrito Federal. Os achados, em consonância com a literatura recente e dados epidemiológicos mais amplos, reforçam a necessidade de vigilância contínua e de intervenções de saúde pública direcionadas para mitigar o impacto da dengue na população pediátrica.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o desenvolvimento do presente estudo, pode-se concluir que os pacientes pediátricos diagnosticados com dengue em um hospital regional do Distrito Federal são em sua maioria do sexo masculino, entre 5 a 14 anos incompleto de idade, com uma alta frequência de necessidade de internações com uma média de 4,5 dias. Apesar da letalidade em pacientes pediátricos ser baixa (0,24%), medidas de intervenção e tratamento precoce poderia contribuir para diminuição do número de internações nessa população. Cabe salientar também que os sinais de alarme foram bem diversificados, sendo que 24% dos pacientes não tinha nenhum tipo de sinal, porém, os sinais mais frequentes em até 28% dos pacientes foram sangramento de mucosa, dor abdominal e plaquetopenia.
7. REFERÊNCIAS
Araújo VEM, Bezerra JMT, Amâncio FF, Passos VMA, Carneiro M. Increase in the burden of dengue in Brazil and federated units, 2000 and 2015: analysis of the Global Burden of Disease Study 2015. Rev Bras Epidemiol. 2017 May;20Suppl 01(Suppl 01):205-216. Portuguese, English. doi: 10.1590/19805497201700050017.
BRASIL. Dengue e Outras Arboviroses. Informativo diário (21/03/2024). Ministério da Saúde. Centro de Operações de Emergência (COE), Disponível em: file:///C:/Users/arthu/Downloads/Informe%20Di%C3%A1rio%20COE%20Deng ue%20n%C2%BA%2018%20-%2021%20de%20mar%C3%A7o%20de%202024.pdf
BRASIL. Dengue e Outras Arboviroses. Informativo diário (19/08/2024). Ministério da Saúde. Centro de Operações de Emergência (COE). Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt–br/assuntos/saude–de–a–az/a/arboviroses/informe–semanal/informe–semanal–sna–no10.pdf/view.
BRASÍLIA. Monitoramento dos casos de dengue até a Semana Epidemiológica 21 de 2024 no Distrito Federa. Ano 19, nº 21, maio de 2024. Disponível em: https://www.saude.df.gov.br/documents/37101/0/21_BOLETIM_SEMANAL_DENGUE_SE_21+DF+2024.pdf/09b8b501-449c-6bd3-d2a6-9dbfb667719a?t=1717176602290#:~:text=Em%20rela%C3%A7%C3%A3o%2 0ao%20monitoramento%20das,para%20PCR%2C%20sendo%201009%20rea gentes.
Biswal S, Reynales H, Saez-Llorens X, Lopez P, Borja-Tabora C, Kosalaraksa P, et al. Efficacy of a Tetravalent Dengue Vaccine in Healthy Children and Adolescents. N Engl J Med. 2019 Nov 21;381(21):2009-2019. doi: 10.1056/NEJMoa1903869.
Dias JJ Júnior, Branco MDRFC, Queiroz RCS, Santos AMD, Moreira EPB, Silva MDSD. Analysis of dengue cases according to clinical severity, São Luís, Maranhão, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 2017 Nov 6;59:e71. doi: 10.1590/S1678-9946201759071.
Guo C, Zhou Z, Wen Z, Liu Y, Zeng C, Xiao D, Ou M, Han Y, Huang S, Liu D, Ye X, Zou X, Wu J, Wang H, Zeng EY, Jing C, Yang G. Global Epidemiology of Dengue Outbreaks in 1990-2015: A Systematic Review and Meta-Analysis. Front Cell Infect Microbiol. 2017 Jul 12;7:317. doi: 10.3389/fcimb.2017.00317.
Hss AS, Koh MT, Tan KK, Chan LG, Zhou L, Bouckenooghe A, Crevat D, Hutagalung Y. Safety and immunogenicity of a tetravalent dengue vaccine in healthy children aged 2-11 years in Malaysia: a randomized, placebo-controlled, Phase III study. Vaccine. 2013 Dec 2;31(49):5814-21. doi: 10.1016/j.vaccine.2013.10.013.
Kallas EG, et al. Safety and immunogenicity of the tetravalent, live-attenuated dengue vaccine Butantan-DV in adults in Brazil: a two-step, double-blind, randomised placebo-controlled phase 2 trial. Lancet Infect Dis. 2020 Jul;20(7):839-850. doi: 10.1016/S1473-3099(20)30023-2.
López-Medina E, Biswal S, Saez-Llorens X, Borja-Tabora C, Bravo L, Sirivichayakul C, et al. Efficacy of a Dengue Vaccine Candidate (TAK-003) in Healthy Children and Adolescents 2 Years after Vaccination. J Infect Dis. 2022 May 4;225(9):1521-1532. doi: 10.1093/infdis/jiaa761.
Luhm, K. R., et al.. Dengue Vaccine Effectiveness: Results from a Six-Year Population-Based Cohort Study in Southern Brazil. medRxiv (Cold Spring Harbor Laboratory). 2023 Dec 29
Luhm, K. R., et al. Dengue Vaccine Effectiveness: A Population Cohort Study from 2016 to 2019. 2021.
Mena Lora AJ, Fernandez J, Morales A, Soto Y, Feris-Iglesias J, Brito MO. Disease severity and mortality caused by dengue in a Dominican pediatric population. Am J Trop Med Hyg. 2014 Jan;90(1):169-72. doi: 10.4269/ajtmh.130440. Epub 2013 Nov 11.
Mishra S, Ramanathan R, Agarwalla SK. Clinical Profile of Dengue Fever in Children: A Study from Southern Odisha, India. Scientifica (Cairo). 2016;2016:6391594. doi: 10.1155/2016/6391594.
Pinto RC, Castro DB, Albuquerque BC, Sampaio Vde S, Passos RA, Costa CF, Sadahiro M, Braga JU. Mortality Predictors in Patients with Severe Dengue in the State of Amazonas, Brazil. PLoS One. 2016 Aug 26;11(8):e0161884. doi: 10.1371/journal.pone.0161884. PMID: 27564084; PMCID: PMC5001629.
Prompetchara E, Ketloy C, Thomas SJ, Ruxrungtham K. Dengue vaccine: Global development update. Asian Pac J Allergy Immunol. 2020 Sep;38(3):178-185. doi: 10.12932/AP-100518-0309
Preto C, Maron de Mello A, Cesário Pereira Maluf EM, Teixeira Krainski E, Graeff G, de Sousa GA, da Silva LR, Vieira da Costa-Ribeiro MC, da Cruz Magalhães Buffon M, Shimakura SE, Raboni SM, Siqueira de Carvalho D, Luhm KR. Cobertura vacinal e adesão ao programa de vacinação contra dengue no estado do Paraná, Brasil. Vacina. 22 de janeiro de 2021;39(4):711-719. doi: 10.1016/j.vaccine.2020.12.030.
Rosalina I, Riyadi Adrizain, Chindy Arya Sari, Alam A, Djatnika Setiabudi. Liver Function Profile of Pediatric Patients with Dengue Viral Infection Admitted to a Tertiary Referral Hospital during the COVID-19 Pandemic. Althea Medical Journal. 2023 Jun 30;10(2).
Sahana KS, Sujatha R. Clinical profile of dengue among children according to revised WHO classification: analysis of a 2012 outbreak from Southern India. Indian J Pediatr. 2015 Feb;82(2):109-13. doi: 10.1007/s12098-014-1523-3.
Stacechen, B. de A., & Souza, G. S. de. (2023). Dengue in children under 15 years: clinical and epidemiological aspects, state of Paraná, in the period of 2019 and 2020. International Journal of Health Science. 2023 Jul 3;3(46):2–15.
Sáez-Llorens X, Tricou V, Yu D, Rivera L, Tuboi S, Garbes P, et al. Safety and immunogenicity of one versus two doses of Takeda’s tetravalent dengue vaccine in children in Asia and Latin America: interim results from a phase 2, randomised, placebo-controlled study. Lancet Infect Dis. 2017 Jun;17(6):615-625. doi: 10.1016/S1473-3099(17)30166-4
Villar L, Dayan GH, Arredondo-García JL, Rivera DM, Cunha R, Deseda C, Reynales H, Costa MS, Morales-Ramírez JO, Carrasquilla G, Rey LC, Dietze R, Luz K, Rivas E, Miranda Montoya MC, Cortés Supelano M, Zambrano B, Langevin E, Boaz M, Tornieporth N, Saville M, Noriega F; CYD15 Study Group. Efficacy of a tetravalent dengue vaccine in children in Latin America. N Engl J Med. 2015 Jan 8;372(2):113-23. doi: 10.1056/NEJMoa1411037.
Vicente CR, Cerutti Junior C, Fröschl G, Romano CM, Cabidelle AS, Herbinger KH. Influence of demographics on clinical outcome of dengue: a cross-sectional study of 6703 confirmed cases in Vitória, Espírito Santo State, Brazil. Epidemiol Infect. 2017 Jan;145(1):46-53. doi: 10.1017/S0950268816002004.
Yesmin S, Ahammad AM, Sarmin S, Rafi MA, Islam S, Hasan MJ. Clinical Profile of Pediatric Cases of Dengue during the 2019 Epidemic in Bangladesh: A Multicenter Cross-Sectional Study. Mymensingh Med J. 2023 Apr;32(2):502509.