PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA CHIKUNGUNYA NO TOCANTINS DE 2018 A 2022

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF CHIKUNGUNYA IN TOCANTINS FROM 2018 TO 2022

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11559200


Amélia Faria Dias¹
Cecília Mota Barros²
Vitória da Rocha Miranda Soares3
Taynara Augusta Fernandes4


RESUMO: Introdução: As arboviroses têm sido um dos maiores problemas de saúde pública, causando grande impacto na sociedade. Dentre as arboviroses existem a Dengue, Chikungunya e Zika, transmitidas pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegupti. O estado do Tocantins possui clima que favorece a proliferação desse vetor e, por isso, é considerado endêmico. Objetivos: Avaliar o perfil epidemiológico da Chikungunya no Estado do Tocantins entre 2018 e 2022. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa epidemiológica, descritiva e retrospectiva dos casos notificados e confirmados de Chikungunya, em vítimas residentes no Estado do Tocantins, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. Resultados: Foram notificados 13.865 casos suspeitos de Chikungunya no Estado do Tocantins e desses apenas 30,7% foram confirmados. Há uma concentração de incidência na população mais ativa (de 20 a 59 anos) e um aumento de casos suspeitos entre os meses de Abril a Junho de 2022 com 39,57% dos casos totais. Houve um predomínio de 60,77% dos casos suspeitos serem do sexo feminino, sendo que dessas 2,66% eram gestantes. Considerações Finais: O presente estudo constatou que fatores como o desmatamento ambiental e o aumento da temperatura influem na maior disseminação do vetor. Sendo a Chikungunya, uma doença com sintomas incapacitantes, como a artalgia e a limitação de movimento, e merece uma atenção especial dos gestores públicos para a maior efetivação de medidas de promoção e prevenção da saúde pública.

Palavras-chave: Arboviroses. Chikungunya. Perfil epidemiológico.

ABSTRACT: Introduction: Arboviruses have been one of the biggest public health problems, causing a major impact on society. Among the arboviruses there are Dengue, Chikungunya and Zika, transmitted by the same vector, the Aedes aegypti mosquito. The state of Tocantins has a climate that favors the proliferation of this vector and, therefore, is considered endemic. Objectives: To evaluate the epidemiological profile of Chikungunya in the State of Tocantins between 2018 and 2022. Methodology: This is an epidemiological, descriptive and retrospective study of reported and confirmed cases of Chikungunya, in victims residing in the State of Tocantins, in period from January 2018 to December 2022. Results: 13,865 suspected cases of Chikungunya were reported in the State of Tocantins and of these only 30.7% were confirmed. There is a concentration of incidence in the most active population (aged 20 to 59) and an increase in suspected cases between April and June 2022 with 39.57% of total cases. There was a predominance of 60.77% of suspected cases being female, of which 2.66% were pregnant women. Final Considerations: The present study found that factors such as environmental deforestation and increased temperature influence the greater spread of A. Aegypti. Chikungunya is a disease with disabling symptoms, such as arthalgia and limited movement, and deserves special attention from public managers to ensure greater implementation of public health promotion and prevention measures.

Keywords: Arboviruses. Chikungunya. Epidemiological profile.

1 INTRODUÇÃO

As arboviroses são infecções virais causadas por arbovírus e são transmitidas ao homem e a outros animais por meio da picada de artrópodes hematófagos, que são responsáveis por doenças infecciosas, as quais representam constantes ameaças de epidemias no mundo. E dentre as que possuem grande número de circulação no Brasil, pode-se citar a Dengue (DENV), Chikungunya (CHIKV) e Zika (ZIKV), e essas acabam tornando-se uma ameaça recorrente à saúde pública, pois são transmitidas pelos mesmos vetores, o mosquito Aedes aegypti e Aedes albopictus (Paiva et al., 2021).

Ademais, de acordo com Silva et al. (2018), o vírus Chikungunya (CHIKV) é um Alphavirus com material genético RNA, pertencente à família Togaviridae, sendo principalmente transmitido pela picada de mosquitos vetores do gênero Aedes. E as adaptações do Aedes aegypti, permitiram que se proliferassem nas áreas urbanas e fossem facilmente transportados para outras regiões de diferentes meios de transporte, aumentando assim sua competência vetorial, ou seja, sua capacidade de se infectar com um vírus, replicá-lo e transmiti-lo.

Assim, ao buscar aprofundar os conhecimentos sobre a Chikungunya, Brasil (2017) aponta que a enfermidade pode progredir por três fases distintas: aguda, subaguda e crônica. E que após o período de incubação, inicia-se a fase aguda ou febril, a qual se estende até o 14º dia e que alguns pacientes podem apresentar persistência de dores articulares após a fase aguda, marcando o início da fase subaguda, com duração de até três meses. E, quando os sintomas persistem por mais de três meses, entra-se na fase crônica, sendo que durante essas fases, as manifestações clínicas podem variar conforme o sexo e a idade do paciente. O exantema, vômitos, sangramento e úlceras orais parecem estar mais associados ao sexo feminino, enquanto dor articular, edema e febre prolongada são mais comuns em pacientes mais velhos.  

Sob outra vertente, o Ministério da Saúde, por meio de Brasil (2018), afirmou que naquele ano o Tocantins registrou a maior incidência de casos prováveis de dengue no Brasil, com 1.984 casos por 100 mil habitantes, seguido pelo Acre, que possui 164 casos por 100 mil habitantes, e Goiás com 109 casos por 100 mil habitantes. Sendo que a circulação viral da Zika e da Chikungunya no Tocantins teve início em dezembro de 2015, com 12 casos confirmados de Zika e 1 caso de Chikungunya em todo o estado (SESAU, 2020).

Outrossim, esse artigo tem como foco descrever um perfil epidemiológico da Chikungunya no Estado do Tocantins entre 2018 e 2022, já que este apresenta um clima que propicia a multiplicação de vetores e por este motivo é considerado estado endêmico. Assim, tal objetivo será alcançado ao calcular a taxa de incidência da Chikungunya no Estado do Tocantins nos anos citados, identificando a faixa etária e o sexo mais acometido pela doença e descrevendo como foi realizado o critério de confirmação da doença nos casos possibilitando assim demonstrar a evolução dos casos da Chikungunya no período estudado.

2 METODOLOGIA

Esse artigo foi baseado em uma pesquisa epidemiológica, descritiva e retrospectiva dos casos notificados e confirmados de Chikungunya, em vítimas residentes no Estado do Tocantins, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. Tal enfermidade faz parte dos agravos e doenças de notificação compulsória, em que a ficha de notificação deve ser preenchida pelo serviço de saúde local, e posteriormente inserido no Sistema de Informação e Agravos de Notificação (SINAN), na secretaria de saúde estadual e por fim, consolidado em nível Federal.

Desse modo, o projeto foi realizado com as bases de dados epidemiológicos: SINAN, Secretaria Estadual de Saúde e boletins epidemiológicos, em suas versões on- line, durante o primeiro semestre de 2024. E a população do estudo é composta por casos notificados e confirmados de vítimas da Chikungunya, residentes em todos os municípios do Estado do Tocantins no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. E como se trata de um estudo epidemiológico do tipo ecológico, não há delimitação de amostra por critérios de inclusão e exclusão, pois trabalha-se com bases populacionais.

Ademais, as variáveis utilizadas foram: idade, gênero/sexo, raça, mês do ano e critério de confirmação da doença. Com a coleta e análise de dados presentes nos sistemas de dados epidemiológicos do Estado do Tocantins: SINAN, Secretaria Estadual de Saúde e boletins epidemiológicos, em suas versões on-line. Além disso, os dados foram analisados descritivamente levando em consideração as variáveis mencionadas. Os resultados estão apresentados em texto, tabelas e gráficos relacionando dados numéricos e percentuais.

Por fim, a pesquisa fez uso de dados secundários do perfil de indivíduos com diagnóstico de Chikungunya no Estado do Tocantins, sendo esses, de domínio público, disponíveis para acesso no sítio eletrônico do SINAN da Secretaria Estadual de Saúde e boletins epidemiológicos. Tal base de dados não permite a identificação de pessoas, conforme Ofício nº 17/2022/CONEP/SECNS/MS, e não foi necessário a submissão do projeto de pesquisa à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa.

3 RESULTADOS

Inicialmente, a Tabela 1 evidenciou que entre os anos de 2018 e 2022 foram notificados 13.865 casos suspeitos de Chikungunya no Estado do Tocantins e desses apenas 30,7% foram confirmados, sendo que após uma análise clínica foram descartados 64,84% dos casos suspeitos. E vale ressaltar também o aumento expressivo de casos em 2022, que apontou 9.208 casos suspeitos, os quais equivalem a 66,41% do total de casos suspeitos durante o período total analisado.

Tabela 1: Análise descritiva da quantidade de casos suspeitos de Chikungunya no Estado do Tocantins durante o período analisado. Fonte: Datasus, 2024

Em outra perspectiva, quando se observa a faixa etária dos casos suspeitos, há uma concentração de incidência na população mais ativa (de 20 a 59 anos) com 45,73% dos casos de todo o período analisado, com ênfase no ano de 2022, em que se verificou um aumento expressivo de casos, os quais podem ser observados no Gráfico 1. E dos 9.208 casos em que se relacionou a faixa etária, 10,68% têm acima de 60 anos.

Gráfico 1: Análise descritiva das variáveis relacionadas à faixa etária dos casos suspeitos de Chikungunya no Estado do Tocantins durante o período analisado. Fonte: Datasus, 2024.

Paralelamente, de acordo com o Gráfico 2, ficou claro um aumento de casos suspeitos entre os meses de Abril a Junho de 2022 com 39,57% dos casos totais, sendo que nos demais meses dos cinco anos analisados não há registros de variações bruscas de constatação de casos suspeitos.

Gráfico 2: Análise descritiva das variáveis relacionadas ao mês do ano que iniciou os sintomas dos casos suspeitos de Chikungunya no Estado do Tocantins durante o período analisado. Fonte: Datasus, 2024.

De outro modo, houve um predomínio de 60,77% dos casos suspeitos serem do sexo feminino, sendo que dessas 2,66% eram gestantes. Observou-se também que 70,34% dos casos ocorreram em pessoas pardas. E, verificou-se que 4,31% dos casos foram ignorados por motivos não especificados, 54,07% obtiveram confirmação laboratorial, 41,47% foram ratificados pela perspectiva clínica-epidemiológica. Por fim, quanto à evolução dos casos, 85,29% apresentaram cura, 14,51% foram ignorados, 25 pessoas faleceram por outras causas e 1 caso de óbito está sob investigação.

4 DISCUSSÃO

Os primeiros casos de Chikungunya foram identificados no Brasil nos estados da Bahia e do Amapá, e de 2014 em diante que eles se intensificaram nos demais estados da federação. Sabe-se também que o sistema de vigilância da Chikungunya obteve maior eficácia por ser baseado no da dengue e por isso permitiu maior identificação de casos suspeitos em todo o país, com ênfase no Tocantins, que é um estado da região Norte com altas temperaturas sazonalmente, o que foi evidenciado nos 39,57% dos casos totais verificado nos meses de Abril a Junho de 2022, e tal perspectiva está relacionada com a reprodução e densidade populacional do vetor adulto que permite maior transmissão do vírus nessa faixa do ano (Pinto et al., 2023).

Nesse enfoque, Pontes et al. (2021) chamou a atenção da importância do impacto da subnotificação e sub-diagnóstico como entrave à atuação da vigilância e dos cuidados em saúde por parte dos agentes estatais em mitigar o aumento de casos dessa enfermidade. O que se observou nos 54,07% dos casos que obtiveram confirmação laboratorial constatados por esse estudo e na importância de avaliar sinais e sintomas típicos da Chikungunya, como a artralgia, edema, deformidade e limitação de movimento, fadiga, cefaleia, prurido, exantema, dor neuropática, fenômeno de Raynaud, distúrbios do sono e da memória, entre outros, os quais são vitais a observação pelo médico que analisa o paciente suspeito até chegar aos 41,47% de diagnóstico pela perspectiva clínica-epidemiológica obtidos nesse estudo (Sousa et al., 2023).

Em outra vertente, a Fiocruz (2021) chama atenção quanto à relação dos casos de Chikungunya com a pandemia de COVID-19, pois quanto ao diagnóstico e notificação, observou-se uma mudança de perspectiva de recursos materiais e humanos para a pandemia. Tal visão permitiu que os anos de 2020 e 2021 continuassem com valores brandos e em 2022, com o arrefecimento da pandemia e com o advento da vacinação e a mudança de governo possibilitassem retorno de pesquisas e efetivação da análise da realidade local, as quais viabilizaram uma concentração de 66,41% dos casos suspeitos em 2022 em comparação aos cinco anos analisados (Couceiro et al., 2022).

Estudos de Figueiredo, Brito e Souza (2020) e Nogueira (2021) apontaram como perfil prevalente da Chikungunya no Brasil, a mulher acima de 40 anos e com baixa- média escolaridade, sendo que tal assertiva foi alcunhada pela menor percepção de combate ao vetor e medidas de prevenção e pela residência por vezes em locais insalubres, os quais possuem maior exposição ao Aedes aegypti. O que foi corroborado pelo estudo presente, o qual contou com uma predominância de 60,77% dos casos do sexo feminino e predominância na faixa etária de 20 a 59 anos com 45,73% dos casos totais pertencendo a esse grupo.

Em outro enfoque, a presença de 2,66% dos casos analisados pertencendo às gestantes remonta à necessidade de explanar que pode causar contaminação intraparto em uma taxa de até 50% transmissão vertical em pacientes com o vírus. Além de que essa arbovirose que por vezes se mostra assintomática, pode incidir em malformações e até morte fetal. E, por fim, verificou-se também uma incidência de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor de até 2 anos em crianças expostas ao vírus (Sousa et al., 2023).

E na perspectiva das condições favoráveis à propagação do aedes, Ribeiro et al. (2019) e Almeida, Cota e Rodrigues (2020) elencam como a situação socioambiental favorece a disseminação do vetor. Por exemplo, a coleta de lixo, a estrutura das moradias, as instalações sanitárias inadequadas e a organização urbana favorecem o aumento de criadores e a reprodução dos vetores, o que vai de encontro ao perfil prevalente de casos de Chikungunya no Brasil encontrado por Nogueira (2021) e coadunado pelos 60,77% de casos do sexo feminino encontrados nesse estudo, sendo que o fator renda não pôde ser analisado no estudo diante da ausência de dados nas plataformas analisadas perante ao tema.

Observando ainda o quadro ambiental, Barreto, Gomes e Castro (2021) corroboraram a relação supracitada ao elencar que o aumento do desmatamento e a diminuição da biodiversidade contribuem para a propagação de vetores e de doenças tropicais negligenciadas diante do maior contato do homem com tais hospedeiros. Tal perspectiva é muito latente no estado do Tocantins, pois ele se encaixa no bioma cerrado que é marcado por um aumento recente da produção de grãos, como a soja, a qual tem gerado mais desmatamento e intensificação do quadro de vulnerabilidade ao aumento dos vetores.

Outrossim, Araújo et al. (2020) identificou que a artralgia, um dos principais sintomas da Chinkungunya, estava presente em 88,9% dos pacientes idosos entrevistados no seu estudo, com um alerta especial dessa população que costuma apresentar comorbidades como a hipertensão e do diabetes mellitus, os quais podem intensificar as manifestações da doença supracitada. Tal público foi identificado no presente estudo em 10,68% dos casos que continham a faixa etária e aponta a necessidade de manejo adequado da doença de modo a diminuir os gastos públicos com internação, dispersão de medicamentos e reabilitação (Bower, 2021).

5    CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo constatou que fatores como o desmatamento ambiental e o aumento da temperatura influem na maior disseminação do A. Aegypti, sendo que tais medidas relacionadas com condições socioambientais precárias reverberam no fato de que o Tocantins apresenta dados relevantes sobre a Chikungunya, uma doença com sintomas incapacitantes, como a artralgia e a limitação de movimento e merece uma atenção especial dos gestores públicos para a maior efetivação de medidas de promoção e prevenção da saúde.

O panorama é resguardado por um sistema de vigilância público que, por vezes, se mostra ineficaz resultando em subnotificação e subdiagnosticação, os quais insuflam a cobrança da população em aumentar a realização de mais trabalhos científicos sobre a temática, bem como de uma eficaz vigilância e avaliação estratégica perante a doença por parte de órgãos como o SINAM para que se permita entender o real panorama da doença no Tocantins e no Brasil.

6    REFERÊNCIAS

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¹ Acadêmica do curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
²Acadêmica do curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
3Acadêmica do curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
4Professora doutora do curso de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos