REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202501310852
Ligia Luana Freire da Silva1; Ana Beatriz Barbosa Plácido1; Letícia Negri1; Gabriel Vargas Maia Chaves1; Isabella Araujo Di Mase1; Caroline Hernandes Ferreira Floriano1; Raquel Teixeira Gomes1; Marcella Silvestre Xavier1; Juliana Verrone Rachid1; Maria Thereza Toledo Penteado1
RESUMO
INTRODUÇÃO: A hemorragia pós parto (HPP) é definida como a perda sanguínea anormal, sendo acima de 500 ml em parto normal e acima de 1.000 ml em parto cesário, ou uma perda sanguínea capaz de gerar instabilidade hemodinâmica. OBJETIVO: O objetivo do presente trabalho é analisar e comparar o perfil epidemiológico qualitativo das internações causadas por Hemorragia Pós Parto (HPP) no período de 10 anos na população em idade fértil em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Utilizou-se as variáveis: número de internações, raças, idade, caráter de internação (CID 072). RESULTADOS: Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo realizado em 2022, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro tinham 1.474.595, 104.548.325 e 8.477.499 mulheres na população, respectivamente. O ano com maior ocorrência foi 2012 (11,6%), seguido de 2020 (10,6%) e 2017 (9,6%). A distribuição dos pacientes internados devido à HPP em relação a raça, se deu: 1) Branca: 630 (26,1%) , 2) Preta: 208 (8,6%), 3) Parda: 840 (34,8%), 4) Amarela: 19 (0,8%), 5) Sem informação: 713 (29,7%). Realizou-se o teste do qui-quadrado entre as duas raças mais acometidas (branca e parda), observou-se p<0,05, indicando assim, uma relação entre a ocorrência dessa morbidade com a cor. Além disso, o teste Odds Ratio=0,73, indicou que a presença da doença é 27% menor entre pessoas brancas. A faixa etária mais prevalente foi a de 20 a 29 anos (46,8%), seguida de 30 a 39 anos (34,6%) e 15 a 29 anos (12,3%). Em relação à faixa etária, realizou-se teste qui-quadrado e observou-se p<0,05 e a análise da regressão logística p = 0,993. A distribuição das internações ocorreu da seguinte forma: 1) Urgência: 2.278 (94,1%), 2) Eletivo: 142 (5,9%). CONCLUSÃO: Os resultados permitiram concluir que nas três cidades avaliadas, as mulheres entre 20 a 29 anos e pardas foram as que apresentaram a maior prevalência de internação por HPP. Sendo o ano 2021 com o maior número de internações. Destaca-se a importância da análise desses dados secundários, pois é por meio destes dados epidemiológicos que é capaz de se elaborar estratégias com o objetivo de diminuir de forma significativa as internações e a morbimortalidade materna devido à HPP.
PALAVRAS-CHAVE: “Hemorragia Pós-Parto”; “Hemorragia Puerperal”; “Hemorragia”.
INTRODUÇÃO
A hemorragia pós parto (HPP) trata-se da perda sanguínea anormal, sendo acima de 500 ml em parto normal e acima de 1.000 ml em parto cesário, ou uma perda sanguínea capaz de gerar instabilidade hemodinâmica (FREITAS, 2021). Ainda segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a HPP é aquela relacionada à gestação ou até 42 dias após o pós-parto (OMS, 2015). Sendo que esta pode ser classificada como HPP primária ou secundária, tendo a primeira como ocorrência nas primeiras 24 horas pós parto, e a segunda posteriormente a esse período (ESMERALDO, 2023).
A HPP (CID 072) é uma afecção prevalente na população feminina, gerando elevados números de óbito no contexto brasileiro. Segundo Esmeraldo (2025) podendo chegar a responsável por 25% das mortes femininas em idade fértil. De acordo com a OMS, o óbito materno obstétrica pode ser classificada em 3 categorias: 1) direta: aquela que tem ligação direta com o ciclo gravídico puerperal, 2) indireta: relacionada com condições pré-existentes que se exacerbam durante a gestação, 3) não especificadas (FREITAS, 2021; OMS, 2015).
Segundo Sibalsky (2024), os fatores de risco associados à HPP são idade abaixo de 15 anos e acima de 35 anos, anormalidade estrutural em órgãos reprodutivos, conflitos familiares, baixa escolaridade, dependência de drogas (lícitas e/ou ilícitas) e riscos ocupacionais.
OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho é analisar e comparar o perfil epidemiológico qualitativo das internações causadas por Hemorragia Pós Parto (HPP) no período de 2013 a 2023 na população fértil em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), os quais encontram-se disponíveis no banco de dados online do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foi realizada coleta de dados de internação em Brasília (DF), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) devido a hemorragia pós parto (HPP) durante os anos de 2013 a 2023.
As variáveis coletadas e estudadas foram: morbidade hospitalar do SUS, ano de internação, faixa etária e cor/raça. A análise estatística dos dados foi realizada por meio do uso de frequências relativas com auxílio do programa Excel e o Tabwin 3.6.
A coleta dos dados foi realizada em 2024, sendo selecionados os dados relativos a internações devido a HPP entre 2013 a 2023 em Brasília. Utilizou-se as variáveis: número de internações, raças, idade, caráter de internação (CID 072).
Em conformidade com a Resolução no 4661/2012, como o estudo trata-se de uma análise realizada por meio de banco de dados secundários de domínio público, este não foi encaminhado para apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa.
RESULTADOS
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo realizado em 2022, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro tinham 1.474.595, 104.548.325 e 8.477.499 mulheres na população, respectivamente.
Os casos de internações dos 3 estados devido à HPP foram distribuídos da seguinte forma: 1) 2013: 170 (7,0%), 2) 2014: 186 (7,7%), 3) 2015: 190 (7,9%), 4) 2016: 226 (9,4%), 5) 2017: 231 (9,6%), 6) 2018: 221 (9,2%), 7) 2019: 218 (9,0%), 8) 2020: 255 (10,6%), 9) 2021: 281 (11,6%), 10) 2022: 221 (9,2%), 11) 2023: 209 (8,7%). Sendo o ano com maior ocorrência 2021 (11,6%), seguido de 2020 (10,6%) e 2017 (9,6%) (Gráfico 1).
Gráfico 1. Morbidade Hospitalar por Hemorragia Pós Parto no Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.
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A distribuição dos pacientes internados devido à HPP em relação a raça, se deu: 1) Branca: 630 (26,1%) , 2) Preta: 208 (8,6%), 3) Parda: 840 (34,8%), 4) Amarela: 19 (0,8%), 5) Sem informação: 713 (29,7%). Destaca-se a importância do preenchimento correto das fichas de notificação, uma vez que quase 30% da amostra não tinha tal informação. A raça parda foi a mais acometida dentro da amostra (Gráfico 2).
Gráfico 2. Distribuição das raças da morbidade Hospitalar por Hemorragia Pós Parto no Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.
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Tabela 1. Distribuição da morbidade por HPP e outras afecções no Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.
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Realizando-se o teste do qui-quadrado entre as duas raças mais acometidas (branca e parda), observou-se p<0,05, indicando assim, uma relação entre a ocorrência dessa morbidade com a cor. Além disso, o teste Odds Ratio=0,73. (Tabela 1).
Os casos de HPP dos 3 estados, foram distribuídos nas seguintes faixas etárias: 1) 10 a 14 anos: 18 (0,6%), 2) 15 a 29 anos: 387 (12,3%), 3) 20 a 29 anos: 1470 (46,8%), 4) 30 a 39 anos: 1.086 (34,6%), 5) 40 a 49 anos: 176 (5,6%), 6) 50 a 59 anos: 4 (0,1%). Sendo a faixa etária mais prevalente a de 20 a 29 anos, seguida de 30 a 39 anos e 15 a 29 anos (Tabela 2).
Tabela 2. Distribuição por Hemorragia Pós Parto no Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.
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Em relação à faixa etária, realizou-se teste qui-quadrado e observou-se p<0,05 e a análise da regressão logística p = 0,993.
Os atendimentos foram feitos na forma de dois caráter, em urgência e eletivo. A distribuição das internações ocorreu da seguinte forma: 1) Urgência: 2.278 (94,1%), 2) Eletivo: 142 (5,9%). Tendo-se individualmente, as internações em Brasília foram distribuídas: I) urgência: 457 (97,2%) II), eletivo: 13 (2,8%). Enquanto em São Paulo foi: 1) Urgência: 1.366 (94,3%) e 2) Eletivo: 82 (5,7%). E por fim, no Rio de Janeiro: 1) Urgência: (90,6%), 2) Eletivo: (9,4%) (Tabela 3).
Tabela 3. Frequência das internações da HPP com relação ao caráter de atendimento no Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro entre 2013 a 2023. Fonte: Datasus.
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DISCUSSÃO
Segundo Sibalsky (2024) entre os anos de 2019 a 2023, no Brasil houve 10.746 internações na urgência devido à HPP. Segundo o autor, a região Sudeste possui a maior prevalência de tal morbidade no país, sendo São Paulo como a cidade com maior relevância (19,7%). Corroborando com o achado no presente trabalho, que apresentou São Paulo como a cidade mais prevalente das três avaliadas.
Além disso, o trabalho de Medeiros (2018), apontou Brasília como uma localização pouco prevalente às internações causadas por HPP. Também concordante com o presente estudo, que apontou Brasília como a menos prevalente das três cidades.
De uma forma geral, o ano com maior ocorrência foi 2021 (11,6%), seguido de 2020 (10,6%) e 2017 (9,6%). Em 2021, foi mais prevalente a internação por HPP nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto em 2020 e 2017 foi mais prevalente nas cidades de São Paulo e Brasília.
A distribuição dos pacientes internados devido à HPP em relação à raça, se deu: 1) Branca: 630 (26,1%) , 2) Preta: 208 (8,6%), 3) Parda: 840 (34,8%), 4) Amarela: 19 (0,8%), 5) Sem informação: 713 (29,7%). A raça branca e parda apresentou-se como maior ocorrência nas três cidades. Segundo Rollemberg (2023), em seu estudo a raça mais acometida foi a parda (56,59%), concordante com o presente trabalho que apresentou 34,8% das raças acometidas.
Além disso, realizou-se o teste do qui-quadrado entre as duas raças mais acometidas (branca e parda), observou-se p<0,05, indicando assim, uma relação entre a ocorrência dessa morbidade com a cor. Além disso, o teste Odds Ratio=0,73, indica que as pessoas da raça branca têm uma chance ligeiramente menor de ter a doença em comparação com as da categoria parda. Em outras palavras, a presença da doença é 27% menor entre pessoas brancas em comparação com pardas, conforme o presente estudo (Tabela 1).
Segundo Sibalsky (2024), as faixas etárias mais acometidas com HPP são acima de 35 anos e abaixo de 15 anos. No presente trabalho, observou-se discordância do trabalho mencionado, uma vez que a faixa etária mais prevalente foi a de 20 a 29 anos.
Em relação à faixa etária, realizou-se teste qui-quadrado e observou-se p<0,05 indicando uma alta associação entre as proporções da doença entre as faixas etárias. A análise da regressão logística não encontrou uma relação estatisticamente significativa entre idade e a proporção da doença, tendo p = 0,993. Portanto, o teste do qui-quadrado confirma uma diferença nas proporções da doença entre as faixas etárias, mas a regressão logística não aponta uma tendência clara de aumento ou diminuição com a idade.
Os atendimentos foram feitos na forma de dois caráter, em urgência e eletivo. A distribuição das internações ocorreu da seguinte forma: 1) Urgência: 2.278 (94,1%), 2) Eletivo: 142 (5,9%). Concordante com os dados do trabalho, Sibalsky (2024) e Rollemberg (2023) trazem o atendimento emergencial como mais frequente na morbidade estudada.
CONCLUSÃO
Os resultados permitiram concluir que nas três cidades avaliadas, as mulheres entre 20 a 29 anos e pardas foram as que apresentaram a maior prevalência de internação por HPP. Sendo o ano 2021 com o maior número de internações. Também destaca-se que não houve relação da da faixa etária com a internação devido à HPP, porém as mulheres pardas mostraram-se com 73% maior chance de acometimento. Destaca-se a importância da análise desses dados secundários, pois é por meio destes dados epidemiológicos que é capaz de se elaborar estratégias com o objetivo de diminuir de forma significativa a internação e a mortalidade materna devido à HPP.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ESMERALDO, A. G. et al. MORBIDADE DA HEMORRAGIA PÓS-PARTO NO BRASIL: ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO. Hematology, Transfusion and Cell Therapy, v. 45, p. S970, 2023.
FREITAS, STHEPHANINE MOURÃO et al. HEMORRAGIA PÓS-PARTO: CARACTERÍSTICAS, TRATAMENTO E PREVENÇÃO. Brazilian Journal of Surgery & Clinical Research, v. 37, n. 3, 2021.
MEDEIROS, Lidiane Tavares et al. Mortalidade materna no estado do Amazonas: estudo epidemiológico. Revista Baiana de Enfermagem, v. 32, 2018.
MICHELS, Bruna Depieri; MARIN, Daniela Ferreira D.’Agostini; ISER, Betine Pinto Moehlecke. Análise temporal da letalidade materna hospitalar no pós-parto segundo risco gestacional e via de parto, nas regiões do Brasil, 2010-2019. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 31, n. 3, p. e2022461, 2022.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Brasileiro de 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2022.
Organização das Nações Unidas. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (Internet). Brasília: Organização das Nações Unidas; 2015. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/91863-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentável>. Acesso em 17 de outubro de 2024.
ROLLEMBERG, Carlos Eduardo Vieira et al. HEMORRAGIA PÓS-PARTO E A MORTALIDADE MATERNA: PERFIL EPIDEMIOLÓGICO. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 9, n. 10, p. 6820-6833, 2023.
SIBALSZKY, Sophia Queiroz Chaves; CAIXETA, Maria Clara Silveira; CAIXETA, Cátia Aparecida Silveira. Análise do perfil epidemiológico brasileiro por hemorragia pós-parto. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 8, p. 1323-1328, 2024.
1Discente do curso de Medicina da Universidade Nove de Julho, São Paulo – SP.
Ligia Luana Freire da Silva: ligialuanafreire@gmail.com