CHARACTERIZATION OF PSYCHIATRIC EMERGENCIES IN A GENERAL EMERGENCY SERVICE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410201222
Mitsuê Silva Lagares; Mariana Evelyn Cavalcanti de Lima; Lukas Marcula Cabral de Lima1; Leonardo Rodrigo Baldaçara2
Resumo
Objetivo: Este estudo investiga a ocorrência e a natureza das emergências psiquiátricas em um serviço de emergência. Local: Hospital Geral de Palmas (HGPP), Estado do Tocantins, Brasil. Métodos: De novembro de 2022 a julho de 2023, por meio de uma análise observacional dos registros de pacientes, avalia-se a frequência de visitas, os dados demográficos e as avaliações clínicas para construir um perfil epidemiológico, que informará o desenvolvimento de protocolos de gerenciamento aprimorados e a disseminação do conhecimento. Resultados: Nesta amostra de 24.697 visitas ao pronto-socorro durante 9 meses, 6,4% dos casos foram emergências psiquiátricas. Esses casos foram mais frequentes entre adultos jovens e mulheres. As situações mais comuns envolveram risco de suicídio, sintomas psicóticos e agitação psicomotora, sendo que os diagnósticos mais frequentes foram transtornos psicóticos, transtornos por uso de substâncias e transtorno depressivo. O número de admissões pela psiquiatria no Serviço de Emergência do HGPP foi de 1.139 casos, sendo 704 (44,6%) para observação e 435 (27,6%) para internação. Nossos dados foram semelhantes aos de outros estudos, com algumas diferenças. Conclusão: Estudos futuros com amostras maiores e mais detalhadas poderão não só traçar o perfil das emergências psiquiátricas, mas também prever os casos mais frequentes, o que é essencial para o planejamento de políticas públicas e treinamento de profissionais de saúde.
Palavras-chaves: Emergências. Transtornos mentais. Epidemiologia. Serviços médicos de emergência. Hospitais gerais.
Abstract
Objective: This study investigates the occurrence and nature of psychiatric emergencies at an emergency service. Setting: Hospital Geral de Palmas (HGPP), State of Tocantins, Brazil. Methods: From November 2022 to July 2023, through an observational analysis of patient records, it assesses visit frequency, demographic data, and clinical assessments to build an epidemiological profile, which will inform the development of improved management protocols and knowledge dissemination. Results: In this sample of 24,697 emergency room visits over 9 months, 6.4% of the cases were psychiatric emergencies. These were more frequent among young adults and women. The most common situations involved suicide risk, psychotic symptoms, and psychomotor agitation, with the most frequent diagnoses being psychotic disorders, substance use disorders, and depressive disorder. The number of admissions by psychiatry in the Emergency Service of HGPP was 1,139 cases, with 704 (44.6%) for observation and 435 (27.6%) for hospitalization. Our data were like other studies with some differences. Conclusion: Future studies with larger and more detailed samples could not only outline the profile of psychiatric emergencies but also predict the most frequent cases, which is essential for public policy planning and training of healthcare professionals.
Keywords: Emergencies. Mental disorders. Epidemiology. Emergency medical services. General hospitals.
1 INTRODUÇÃO
As Emergências Psiquiátricas (EPs) são condições críticas que podem representar um dano significativo ou risco de morte para os indivíduos e para outros, necessitando de uma ação médica rápida para garantir a segurança. (PERICO et al., 2022) (BALDACARA et al., 2021) (da SILVA et al., 2020) ((BALDACARA et al., 2019). Estes incluem agitação grave, comportamento violento, tendências suicidas, sintomas de abstinência, episódios psicóticos agudos ou depressivos graves. (PERICO et al., 2022) (BALDACARA et al., 2021) (da SILVA et al., 2020) ((BALDACARA et al., 2019)
No Brasil, a mudança de instalações psiquiátricas especializadas para salas de emergência gerais ressaltou a complexidade das EPs como um problema de saúde pública (da Silva et al. 2020; Baldaçara et al. 2019; Garriga et al. 2016; Associação Brasileira de Psiquiatria et al. 2020; Baldaçara, Fidelis, et al. 2022). Os desafios incluem a falta de treinamento especializado para profissionais de saúde e o estigma social em torno da doença mental, o que dificulta a identificação e o manejo adequado das EPs (da Silva et al. 2020; Baldaçara et al. 2019; Garriga et al. 2016; Associação Brasileira de Psiquiatria et al. 2020; Baldaçara, Fidelis, et al. 2022).
A escassez de dados epidemiológicos abrangentes sobre EPs em nível nacional impede a alocação de recursos para instalações adequadamente equipadas e pessoal treinado (Perico et al. 2022; Calegaro et al. 2016). Este estudo aborda essa lacuna avaliando a incidência e as caraterísticas das EPs no HGPP ao longo de nove meses, analisando o perfil epidemiológico dos pacientes, os diagnósticos e o manejo desses casos para desenvolver estratégias eficazes de saúde pública.
2 METODOLOGIA
Esta pesquisa trata-se de um estudo observacional, transversal, que avaliou dados do Serviço de Emergência em Psiquiatria do Hospital Geral de Palmas (HGPP) (Governo do Tocantins 2024) durante o período de nove meses. O objetivo principal do estudo é avaliar quantitativamente e correlacionar o fluxo e as caraterísticas das emergências psiquiátricas em relação às internações do pronto-socorro geral.
Para a coleta de dados foram analisados os prontuários do Pronto-socorro do Serviço de Psiquiatria do Hospital Geral Público de Palmas no período de novembro de 2022 a julho de 2023 e comparados ao número de atendimentos do Pronto-socorro geral, no mesmo período.
O conjunto de dados selecionados engloba as seguintes variáveis: o número agregado de consultas e EP catalogadas por intervalos temporais (diários e mensais), variáveis demográficas (idade, sexo), apresentações clínicas, avaliações diagnósticas e diretivas clínicas subsequentes (incluindo observação, internação, alta após observação, encaminhamento ao CAPS, encaminhamento ao ambulatório, evasão e solicitação de interconsulta).
A consolidação dos dados e as análises estatísticas foram efetuadas através do software IBM SPSS Statistics 29 para Windows (IBM® 2023). Foi adotada uma abordagem analítica em duas vertentes, começando por uma avaliação estatística descritiva para estabelecer distribuições de frequência e proporções. Seguiu-se com a análise por regressão logística para identificar os fatores de risco associados ao processo de decisão clínica, os determinantes da observação, da internação e do tempo de permanência no serviço de urgência.
Os dados no texto, tabelas e figuras estão expressos em números absolutos e percentagens. As taxas de proporção das variáveis foram comparadas usando o teste do quiquadrado. O Odds Ratio (OR) foi calculado usando o modelo de regressão logística multivariada, fornecendo um intervalo de confiança de 95% (IC 95%). A significância estatística foi indicada quando p<0,05.
Não houve necessidade de termo de consentimento, pois foram utilizados dados secundários (prontuários médicos). Mesmo assim, as informações foram protegidas por senha quando registradas, e não foram coletados dados de identificação dos pacientes (como nome, endereço e telefone). Além disso, este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com o número do CAAE 54203121.7.0000.5519.
3 RESULTADOS
Entre novembro de 2022 e julho de 2023, o pronto-socorro do Hospital Geral de Palmas (HGPP) registrou 24.697 atendimentos. Desses, 1.577 foram identificados como emergências psiquiátricas, representando 6,4% do total de atendimentos. Os dados revelam que as emergências psiquiátricas representaram, em média, 6,4% do total de atendimentos do pronto-socorro durante todo o período do estudo. Essa porcentagem variou entre 3,9% e 9,2% nos diferentes meses.
Tabela 1. Número de todas as emergências e emergências psiquiátricas por mês no Serviço de Emergência do Hospital Geral de Palmas de novembro de 2022 a julho de 2023.
Figura 1. Número e proporção de emergências psiquiátricas no Hospital Geral de Palmas entre novembro de 2022 e julho de 2023 por mês e todos os períodos.
Em relação ao perfil demográfico e clínico dos pacientes submetidos à avaliação psiquiátrica (EP), a média de idade foi de 32,1 anos (IC 95%: 31,7 – 32,4). A distribuição por sexo consistiu em aproximadamente 44,9% (708 indivíduos) do sexo masculino e 55,1% (869 indivíduos) do sexo feminino, conforme detalhado na Tabela 2. A causa predominante para a procura de cuidados psiquiátricos foi o risco de suicídio, com 470 ocorrências (29,8% dos casos). Em seguida, as psicoses representaram a segunda maior causa, com 391 casos documentados (24,8%), e a agitação psicomotora ocupou o terceiro lugar, com 275 avaliações. Mais informações podem ser encontradas na Tabela 2 e ilustradas na Figura 2.
Adicionalmente, os principais diagnósticos relacionados com as emergências psiquiátricas foram os transtornos psicóticos e o transtorno depressivo grave. Mais detalhes são apresentados na Tabela 2 e na Figura 3.
O tempo médio de internação foi de 2,1 (IC 95% 2,0-2,3). O processo de tomada de decisão clínica após a avaliação psiquiátrica conduziu a vários desfechos. A observação foi considerada necessária em 44,6% dos casos (704 indivíduos), enquanto a internação, em 27,6% (435 indivíduos). Cerca de 12,6% (199 indivíduos) dos pacientes tiveram alta após um período de observação. O encaminhamento para tratamento em ambulatório e para os Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS) foi efetuado em 9,5% dos casos (150 indivíduos). Consultas com outras especialidades médicas foram solicitadas em 2,6% dos casos (41 indivíduos). Além disso, registaram-se 48 casos de evasão da observação no período do estudo. Estes dados demonstram a diversidade das apresentações psiquiátricas e a correspondente variedade de intervenções e resultados em contextos psiquiátricos agudos.
Tabela 2. Principais caraterísticas das emergências psiquiátricas avaliadas no HGPP ao longo de nove meses.
Figura 2. Gráfico de funil das causas de atendimento em Emergências Psiquiátricas no HGPP ao longo de 9 meses.
Figura 3. Gráfico de funil dos diagnósticos de emergências psiquiátricas no HGPP de novembro
de 2022 a julho de 2023.
Figura 4. Gráfico de funil das decisões tomadas pelos psiquiatras para as emergências
psiquiátricas no HGPP ao longo de nove meses.
Na regressão linear, observou-se uma correlação positiva entre a idade e o tempo de internação (Beta=0,017, t=3,547, p<0,001). Na regressão logística multinomial, observou-se que a alta após observação foi mais frequente quando o motivo da internação foi por sintomas ansiosos Beta=3,551, OR=34,846 (IC 95% 1,995-608,533) p=0,015.
Para a hospitalização, o surto psicótico foi mais frequente Beta=2,101, OR=8,176 (IC95% 1,311-50,986) p=0,024; risco de suicídio Beta=2,310, OR=10,073 (IC95% 1. 49867,712) p=0,018; intoxicação aguda Beta=2,484, OR=11,985 (IC95% 1,382-103,918) p=0,024; episódio de mania Beta=2,220, OR=9,206 (IC95% 1,237-68,497) p=0,030.
A maior chance de encaminhamento para o Centro de Atenção Psicossocial foi encontrada para os motivos dependência de substâncias Beta=3,099, OR=22,169 (IC95% 1,550-316,963) p=0,022 e intoxicação aguda
4 DISCUSSÃO
Conhecer a epidemiologia dos serviços de saúde é fundamental para o planejamento de políticas públicas, aprimoramento dos protocolos dos serviços e melhoria da formação de acadêmicos e profissionais para o enfrentamento eficaz das grandes emergências psiquiátricas (Baldaçara et al. 2021; Associação Brasileira de Psiquiatria et al. 2020).
Diante do número de pacientes atendidos por emergências psiquiátricas durante o período analisado, é fundamental destacar o número mensal em um Hospital brasileiro localizado na Região Norte (Governo do Tocantins 2024). O HGPP apresentou 6,4% de emergências psiquiátricas, proporção inferior a outras unidades brasileiras (8,8%) (Perico et al. 2022). Entretanto, essa proporção varia de 3,9% a 9,2% em diferentes meses. Em um serviço de saúde de Campinas, entre 25 de maio de 2010 e 31 de maio de 2011, foram atendidos 70.137 casos, com 189 atendimentos por dia, em média. Desses, 1.835 (2,6%) foram consultas psiquiátricas, correspondendo a 1.465 pacientes (Padilha et al. 2013). Por outro lado, uma metanálise identificou 18 estudos que, em conjunto, sugerem que 4% dos atendimentos de emergência são feitos por causa de um transtorno de saúde mental ou comportamental. (Barratt et al. 2016). Em outro estudo, na Austrália, encontrou-se a proporção média de 4,7%.(Knott et al. 2016)
Em relação ao perfil demográfico e clínico dos doentes submetidos a avaliação psiquiátrica (AP), a média de idades foi de 32,1 anos (IC 95%: 31,7 – 32,4). A distribuição por gênero foi de aproximadamente 44,9% (708 indivíduos) do sexo masculino e 55,1% (869 indivíduos) do sexo feminino. Em outro estudo brasileiro, a idade média foi de 37 anos e os doentes eram predominantemente mulheres (53,7%) (Padilha et al. 2013). A idade e o sexo foram semelhantes entre os dois estudos. Na Austrália e na Inglaterra, a média de idade também foi semelhante, 32-33 anos (Barratt et al. 2016; Knott et al. 2016; Cassar et al. 2018).
Em um Serviço de São Paulo houve 5 atendimentos por dia (Padilha et al. 2013), enquanto neste estudo a média de atendimentos foi de 5,8. Em outro estudo, em diferentes serviços no Brasil, a média diária de consultas médicas em psiquiatria foi de 8,8 (Perico et al. 2022). Já em Londres a média foi de 6,3 por dia em três meses (Cassar et al. 2018).
Considerando as principais condições reportadas como emergências psiquiátricas, encontramos o risco de suicídio (29,8%), psicose (24,8%), agitação psicomotora (17,4%), perturbações por uso de substâncias (11,0%) e outras 17%. Nos vários estudos, repetiu-se as mesmas situações com proporções diferentes. Em Londres, as ocorrências mais comuns foram transtorno por uso de substância (principalmente álcool) (20%), psicose (17%) e distúrbio de humor (15%) (Cassar et al. 2018). Outro estudo encontrou como principais causas: suicídio, automutilação, esquizofrenia e depressão (Barratt et al. 2016). Num estudo realizado na Índia, as principais queixas foram agitação psicomotora (19,5%), transtornos por uso de substâncias (14,6%), estados dissociativos (14,6%), humor irritável e exaltado (14,6%), psicose (8,5%), delírio (8,5%) e outros (19,7%) (Patil et al. 2019).
Por outro lado, os principais diagnósticos foram transtornos psicóticos (34,8%), transtorno por uso de substâncias (17,4%), transtorno depressivo (12,7%), transtorno da personalidade (9,1%), reação aguda ao estresse e transtorno de ajustamento (7,9%) e outros (18,1%). Em comparação com outros estudos, na Índia foi relatado transtorno por uso de substâncias (21,9%), transtorno dissociativo (18,3%), transtorno bipolar (mania) (17,1%), transtorno depressivo (14,6%) e outros (11%) (Patil et al. 2019). Outro estudo refere que as enfermidades mais diagnosticadas foram a esquizofrenia e a depressão (Barratt et al. 2016).
Em relação às situações e diagnósticos, é importante fazer algumas considerações. Primeiro, em relação ao risco de suicídio como principal motivo de procura por atendimento, este dado coincide com a informação de que o número de casos de suicídio elevaram na América Latina (Baldaçara, Meleiro, et al. 2022; Dávila-Cervantes 2022). Da mesma forma, tanto as situações quanto os diagnósticos relacionados ao uso de substâncias estão entre as principais causas, seja intoxicação aguda, síndrome de abstinência ou dependência (Castaldelli-Maia et al. 2023). Os transtornos relacionados ao uso de drogas são cada vez mais reconhecidos como uma das principais causas de problemas de saúde pública em todo o mundo (Shen et al. 2023). É fundamental que a gestão pública considere tais frequências, pois sua presença no pronto-socorro representa a falência de medidas preventivas e de outros componentes do sistema público, como ambulatórios e Centros de Atenção Psicossocial (Castaldelli-Maia et al. 2023; Associação Brasileira de Psiquiatria et al. 2020; Shen et al. 2023).
A integração efetiva de um serviço de urgência psiquiátrica com os outros serviços de cuidados de saúde mental disponíveis em cada área é um fator crucial para o bom funcionamento da unidade de urgência e do sistema de cuidados psiquiátricos (Del-Ben e Teng 2010). Numa rede articulada de serviços de saúde mental, a urgência psiquiátrica tem um papel importante na tomada de decisões relacionadas com a definição do tratamento adequado a cada caso, desempenhando simultaneamente a função de triagem de novos casos, seu efeito na rede de serviços disponíveis, possuindo a função de apoio aos outros serviços, no caso de doentes já incluídos na rede de cuidados de saúde mental (Del-Ben e Teng 2010).
Um estudo realizado na Suíça comparou as emergências psiquiátricas antes e durante a pandemia de COVID-19. Observou-se uma diminuição das admissões durante o período pandêmico (Ambrosetti et al. 2021; Bodini et al. 2023). Antes, os principais diagnósticos eram depressão e ansiedade (44,2%), comportamento suicida (11,7%), transtorno de comportamento em adultos e idosos (11,4%), psicose (11,0%) e outros (21,9%) (Ambrosetti et al. 2021). Durante o período pandêmico, verifica-se um aumento do comportamento suicida para 21,1%, e dos transtornos de personalidade para 19,3% e a agitação psicomotora de 1,7 para 6,6%. Os episódios psicóticos, os transtornos por uso de substâncias, depressão e ansiedade diminuíram (Ambrosetti et al. 2021).
Este fato realça a complexidade do impacto do acesso à saúde mental e das condições ambientais nas emergências psiquiátricas (Ambrosetti et al. 2021; Perico et al. 2022; da Silva et al. 2020). A dificuldade de acesso aos serviços de saúde mental pode levar a uma procura reprimida, em que os indivíduos que necessitam de tratamento não conseguem recebê-lo a tempo. Isso pode resultar em crises agudas, aumentando a frequência de emergências psiquiátricas (Ambrosetti et al. 2021; Perico et al. 2022; da Silva et al. 2020).
Com isso, condições ambientais específicas, como crises econômicas, desastres naturais, ou mesmo fatores sociais como o isolamento e o estresse, podem exacerbar determinados problemas psiquiátricos, levando a um aumento das emergências relacionadas com estas condições (Ambrosetti et al. 2021; Perico et al. 2022; da Silva et al. 2020).
Essa dinâmica indica a necessidade de políticas públicas de saúde que não apenas melhorem o acesso aos serviços de saúde mental, mas também considerem os efeitos das condições ambientais na saúde mental da população (Ambrosetti et al. 2021; Perico et al. 2022; da Silva et al. 2020). As abordagens que integram o apoio psicológico e psiquiátrico nos planos de resposta a emergências e catástrofes podem ser particularmente eficazes. Além disso, programas de conscientização e desestigmatização da saúde mental são essenciais para incentivar mais pessoas a procurar ajuda antes que ocorra uma crise (Ambrosetti et al. 2021; Perico et al. 2022; da Silva et al. 2020).
O número de admissões por psiquiatria no Serviço de Urgência do HGPP foi de 1139 casos, desses 704 (44,6%) seguiram para a observação e 435 (27,6%) para a internação. Isso representa 4,2 internações por dia, contrastando com o número médio de 2,8 nos outros hospitais (Perico et al. 2022). Em Londres, um estudo relatou que trinta por cento das consultas resultaram em admissão hospitalar em três meses (Cassar et al. 2018).
Ressaltamos a importância de um serviço de emergência psiquiátrica bem estruturado como mecanismo essencial para o bom funcionamento do sistema público de saúde. A observação foi utilizada em 44,6% dos casos, alguns pacientes foram internados, outros encaminhados para o CAPS ou Ambulatório. Houve uma taxa de evasão de 3%, que não deve ser subestimada. Essas fugas ocorreram com pacientes que deixaram o ambiente sozinhos ou acompanhados.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta amostra de 24.697 atendimentos em um pronto socorro geral, durante 9 meses, 6,4% dos casos eram emergências psiquiátricas. Estas foram mais frequentes nos adultos jovens e nas mulheres. As situações mais comuns envolveram risco de suicídio, sintomas psicóticos e agitação psicomotora, sendo os diagnósticos mais frequentes os transtornos psicóticos, os transtornos por uso de substâncias e o transtorno depressivo.
O número de admissões por emergências psiquiátricas no Serviço de Urgência do HGPP foi de 1.139 casos, sendo 704 (44,6%) encaminhados para observação e 435 (27,6%) para a unidade de internação. Os nossos dados foram semelhantes aos encontrados em outros estudos, porém com diferenças em alguns aspectos. Estudos futuros com amostras maiores e mais detalhadas poderão não só traçar o perfil das emergências psiquiátricas como também predizer os casos mais frequentes, corroborando para o planejamento de políticas públicas e o treinamento de profissionais de saúde.
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1Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Palmas e-mail: mitsue.lagares@mail.uft.edu.br
2Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Palmas. Pós Doutor em Psiquiatria. e-mail: nome@provedor.com.br