PERFIL DOS/AS USUÁRIOS/AS ATENDIDOS/AS NA UNIDADE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE CARUARU: UM OLHAR SOCIAL SOBRE A CLÍNICA DO CUIDADO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11003029


Helison Cleiton dos Santos Ferreira1
Ana Carla Pereira Chaves da Silva2
Karoline Raquel Pontes de Souza do Amaral3
Diogo Rogério Carlos 4
Maria da Conceição Carvalho Maciel 5


RESUMO

INTRODUÇÃO: O perfil dos/as usuários/as atendidos/as na Unidade de Atenção Psicossocial (UAP) de Caruaru é um tema de grande importância para entendermos como a saúde mental é abordada nesse contexto específico. Nos últimos anos, a saúde mental tem recebido uma atenção especial, principalmente após a pandemia, e compreender quem são os/as indivíduos que buscam cuidado na UAP pode fornecer insights valiosos para melhorar os serviços oferecidos. OBJETIVO: O objetivo foi levantar informações sobre o perfil dos/as usuários/as atendidos/as na UAP e mapear as condições de manifestação desse objeto de estudo. METODOLOGIA: A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo, adotada uma abordagem qualiquantitativa, utilizando como inspiração a pesquisa exploratória. na qual foram analisados prontuários de atendimento da UAP. Através dessa análise, foi possível caracterizar as pessoas atendidas na unidade, levando em consideração aspectos como gênero e localização geográfica. RESULTADOS: Um dos principais resultados obtidos foi a predominância do gênero feminino entre os/as usuários/as atendidos/as. Além disso, observou-se que muitos desses indivíduos residem em áreas vulneráveis, com necessidades específicas de acolhimento. É importante ressaltar que o contexto social em que essas pessoas vivem desempenha um papel fundamental no atendimento prestado pela UAP. A forma como elas vivem e se relacionam influencia diretamente a abordagem clínica do cuidado. Portanto, é essencial considerar não apenas os aspectos individuais, mas também as condições sociais e territoriais ao planejar e oferecer serviços de saúde mental. CONCLUSÃO: Em conclusão, essa pesquisa permitiu uma visão mais ampla do perfil dos/as usuários/as atendidos/as na UAP de Caruaru. Compreender quem são essas pessoas e as particularidades de suas vidas é fundamental para melhorar a qualidade e efetividade dos serviços de saúde mental oferecidos pela unidade. Essas informações podem orientar ações e políticas públicas voltadas para o cuidado psicossocial, visando uma abordagem mais completa e adequada às necessidades da população atendida.

Palavras-chave: UAP, Saúde Mental, Perfil, Público Atendido, Psicossocial.

ABSTRACT

INTRODUCTION: The profile of the users served at the Psychosocial Care Unit (UAP) in Caruaru is a topic of great importance to understand how mental health is addressed in this specific context. In recent years, mental health has received special attention, especially after the pandemic, and understanding who the individuals seeking care at the UAP are can provide valuable insights to improve the services offered. OBJECTIVE: The objective was to gather information about the profile of the users attended at the UAP and map the conditions of manifestation of this study subject. METHODOLOGY: The methodology used was field research, adopting a quali-quantitative approach, drawing inspiration from exploratory research, in which medical records from the UAP were analyzed. Through this analysis, it was possible to characterize the individuals attended at the facility, considering aspects such as gender and geographical location. RESULTS: One of the main results obtained was the predominance of females among the users attended. Additionally, it was observed that many of these individuals reside in vulnerable areas with specific needs for support. It is important to highlight that the social context in which these individuals live plays a fundamental role in the care provided by the UAP. The way they live and relate directly influences the clinical approach to care. Therefore, it is essential to consider not only individual aspects but also social and territorial conditions when planning and offering mental health services. CONCLUSION: In conclusion, this research provided a broader view of the profile of the users attended at the UAP in Caruaru. Understanding who these individuals are and the particularities of their lives is essential to improve the quality and effectiveness of the mental health services provided by the unit. This information can guide actions and public policies focused on psychosocial care, aiming for a more comprehensive and suitable approach to the needs of the population served.

Keywords: UAP; Mental Health; Profile; Served Public; Psychosocial.

  1. INTRODUÇÃO

É comum na contemporaneidade observar que houve um aumento significativo acerca do adoecimento mental da população, principalmente póspandemia. Muitos referem o aumento apenas à pandemia da COVID-19, no entanto, é sabido pelos estudiosos que esse crescente fato, já estava em evolução.

A Organização Mundial da Saúde – OMS já sinalizou em 2022 a necessidade de transformar a sociedade pela Saúde Mental. Ela faz um alerta com a informação de que em 2019, mais de um bilhão de jovens tiveram algum tipo de transtorno, potencializando a necessidade de nos atentar no tocante ao processo de acolhimento dessa demanda tão episteme (OPAS, 2022). A saúde mental é um aspecto fundamental do bem-estar humano. Refere-se ao estado emocional, psicológico e social de uma pessoa. Uma boa saúde mental envolve a capacidade de lidar com o estresse, manter relacionamentos saudáveis e ter uma perspectiva positiva da vida. Cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física, e envolve práticas como buscar apoio emocional, praticar atividades relaxantes e buscar ajuda profissional quando necessário.

No entanto, a saúde mental muitas vezes é negligenciada ou estigmatizada na sociedade. Problemas como ansiedade, depressão e estresse crônico afetam milhões de pessoas em todo o mundo. É essencial promover a conscientização sobre a importância da saúde mental e garantir que haja acesso adequado a serviços de apoio.

Promover a saúde mental também envolve criar ambientes saudáveis e favoráveis em casa, no trabalho e na comunidade. Isso inclui reduzir o estigma associado às doenças mentais, fornecer apoio emocional e incentivar práticas saudáveis de autocuidado. Ao reconhecer a importância da saúde mental e tomar medidas para cuidar dela, podemos melhorar nossa qualidade de vida e bem-estar geral.

Nesse trilho, buscou-se apresentar através de documentos de triagem, prontuários e demais documentos necessários o perfil dos usuários atendidos pela Unidade de Atenção Psicossocial (UAP) em Caruaru-PE. A ideia foi proporcionar a visão acerca dos pacientes atendidos e de como estes chegam para o acompanhamento no ambulatório.

Cada pessoa atendida, em qualquer área da saúde necessita ter acesso a tudo o que se dispõe a saúde pública, como garantia de proteção e cuidado para com a qualidade de vida. Sem ela, fica mais difícil lidar com situações alheias ao cuidado e a uma boa saúde.

Esta Pesquisa se propôs a mostrar possibilidades de cuidados para além do consultório, para além das paredes que, em muitos momentos, têm sido limitadoras para o ampliamento da liberdade cognitiva no âmbito da Saúde Mental. Debruçamo-nos na construção de uma proposta de acolhimento na perspectiva da singularidade do sujeito, algo tão discutido. Para tanto, temos a seguinte questão norteadora dessa produção: Qual o perfil dos/as usuários/as atendidos/as na Unidade de Atenção Psicossocial de Caruaru- PE?

  • METODOLOGIA
  • Inspiração metodológica

Esse material se propôs a um estudo quali quantitativo, tomando como inspiração a pesquisa exploratória que, segundo Severino (2014, p. 107) ”busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto”.

Habitar um território sem pretensão de concluir, iniciar, muito menos testar, mas mergulhar no processo no entre as afetações, cultivando e refinando as subjetividades emergidas (Alvarez & Passos, 2015). Assim, pensar o perfil dos/as usuários/as atendidos/as não é apenas verificar números, mas conseguir visualizar o que eles nos trazem enquanto sentido ético social.

Sendo a pesquisa cartográfica uma experimentação da realidade e a partir dela, podemos acrescentar ainda que

A realidade cartografada se apresenta como mapa móvel, de tal maneira que tudo aquilo que tem aparência de “o mesmo” não passa de um concentrado de significação, de saber e de poder, que pode por vezes ter a pretensão ilegítima de ser centro de organização do rizoma (Passos et al., 2015, p. 10).

Os geógrafos apontam que a cartografia é uma proposta que acompanha, no próprio movimento da paisagem, entendendo que as paisagens também podem ser cartografadas. “A cartografia acompanha e se faz ao mesmo tempo em que o desmanchamento de certos mundos – sua perda de sentido e a formação de outros mundos que se criam para expressar afetos contemporâneos, em relação aos quais os universos vigentes tornam-se obsoletos” (Rolnik, 2011, p. 23).

A escolha pelo método qualitativo surge como um modo de pensar e agir na realidade contribuinte no processo de construção das identidades constituídas do que seja importante para viabilizar a compreensão do que se pesquisa, pondo em alvo, tudo o que possa surgir e sumir durante a experimentação da vida através da vivência de cada participante.

A pesquisa mergulha num oceano das incertezas cognitivas que não se consegue expor, de forma organizada, o que os modos de vida querem expressar. E a proposta é perceber de que modo o atendimento consegue viabilizar uma forma mais presente, mais junto, mais humana. Observar o contexto do qual estamos tratando, dos pronomes de tratamento que muitas vezes não garante o acolhimento dos sujeitos.

Dentro das possibilidades existentes e do que propõe a pesquisa, percebemos que a prática de um psicólogo surge como ponte entre os pontos de intercessão na lógica territorial pulsante e com afetações outras que mobiliza o desejo de criar novas costuras sociais entre os dispositivos e o indivíduo em situação de sofrimento psíquico.

A construção de mapas a partir da utilização dos encaminhamentos propõe fortalecer uma rede afetiva no território, buscando produzir caminhos e fluxos que possibilitem às pessoas em situação de sofrimento aproximação e possibilidades de inserção, já que na maioria das vezes, essa produção não tem sido efetiva. Não se pretende fixar uma forma de abertura para com o serviço, mas propiciar a reflexão singular e de criação de seus mapas no tocante ao que mais se aproxima da realidade de cada pessoa. Já que o trabalho do psicólogo e a pesquisa não se constroem no sobrevoo, mas na experimentação do processo e no envolvimento com a realidade (Alvarez & Passos, 2015).

  • Disparadores da produção de dados

Foram observados prontuários/encaminhamentos realizados pela rede para o atendimento no período de junho de 2022 a junho de 2023.

  • Da construção de mapas

Os mapas dos quais estão sendo apresentados foram produzidos a partir de gráficos, mapas territoriais, imagens e outros itens necessários para apresentar de forma fundamentada e subsidiada.

  • Área da pesquisa
  • Participantes

Não haverá envolvimento de pacientes no desenvolvimento desta pesquisa, uma vez que o trabalho será aproveitado em sua forma integral em documentos já sinalizados anteriormente. Não se apresenta um quantitativo exato de prontuários a serem estudados, mas que possa garantir um percentual satisfatório no desenvolvimento desta pesquisa.

  • Critérios de inclusão

Prontuários e encaminhamentos dentro do período de 12 meses, entre junho de 2022 a junho de 2023, totalizando 100 prontuários examinados; Literaturas em português e/ou inglês num prazo de 2013 a 2023, podendo incluir textos que perpassem esse período devido a relevância textual.

2.4.3. Critérios de exclusão

Prontuários e encaminhamentos fora do período de junho de 2022 a junho de 2023 e sem correlação com o temário, com recoort de até 100 prontuários;

Relatos de pacientes e/ou profissionais;

Outros documentos que estejam fora do contexto observado nesta pesquisa.

  • Materiais e instrumentos

Foi utilizado como material de apoio, papel e caneta para preenchimento do caderno para escrita do diário de campo. Foi utilizado também um questionário via google forms através do aparelho celular do pesquisador.

  • Produção de dados

A produção de dados se deu a partir das respostas obtidas tanto nas anotações manuais, bem como nas respostas obtidas pelo formulário. Entendemos que durante a pesquisa não há segregação das informações, tudo será levado em conta, compreendendo a importância objetiva dos dados e que possibilitam informações dentro da perspectiva cartográfica (Barros & Kastrup, 2015).

Assim como nos mostra a cartografia, não há o observador apenas no processo de pesquisa, mas os participantes onde o cartógrafo e os demais estão inseridos na mesma experimentação, produzindo novos fluxos e caminhos. Será estabelecido junto aos profissionais do campo de pesquisa que, a partir da disponibilidade, ter no mínimo um momento semanal para apresentação e leitura dos prontuários/encaminhamentos, para fortalecer a hermenêutica, proporcionando ao tempo do acompanhamento que, a priori, pensou-se num período de três meses.

Como forma de não deixar escapar nenhum momento, foi utilizado o diário de campo como instrumento de anotações de tudo o que for possível registrar. O instrumento só será utilizado pelo pesquisador por conter conteúdos das impressões do mesmo. Esse instrumental tem um papel muito especial no processo, pois, além do registro, transforma as falas e visões em produção de conteúdo que são utilizados como modos de ser e fazer (Barros & Kastrup, 2015).

Todas as informações colhidas através dos instrumentos disponíveis como o diário de campo, observações e demais apontamentos realizados durante o processo, posteriormente, foi dinamizado na apresentação desta pesquisa com sua estrutura organizada, a partir da reflexão no tocante aos teóricos escolhidos para a construção de novos mapas.

  • Aspectos éticos

Não houve nenhum contato com pacientes, no sentido de lhe fazer questionamentos para produção de conteúdo, nem tampouco foi entregue formulário, nem qualquer outra espécie de intervenção junto aos usuários atendidos na Unidade de Atenção Psicossocial.

Portanto, não ferirá os termos da Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa foi submetida para análise própria de uma docente da própria instituição para avaliação e aprovação.

Após a avaliação e a aprovação da referida pesquisa, foi acordado com a gerência da Unidade, os objetivos e o que se pretende pesquisar, sendo entregue uma carta de compromisso, sigilo e ética na pesquisa, com o intuito de declarar as pressuposições indicados na pesquisa, sendo informada a participação voluntária do pesquisador, sem nenhum custo. Também será entregue o Termo de Anuência para assegurar a disponibilidade e autorização da referida pesquisa.

  • Riscos

A pesquisa em tela não ofereceu nenhum risco, já que a mesma foi desenvolvida diretamente com documentos autorizados. A observação cotidiana será apenas como fonte de anotações do pesquisador. Todos os dados coletados foram prontamente guardados em espaço de total confiança do pesquisador, bem como o seu descarte após a finalização da pesquisa, podendo em até 48 horas do fim desta, queimá-lo, triturá-lo e/ou outro fim que extermine de forma definitiva os dados obtidos.

  • Benefícios

Os benefícios desta pesquisa são inúmeros para identificação territorial do público atendido, já que não há registros oficiais acerca dos pacientes atendidos. Os eventuais benefícios são a compreensão das informações prestadas, o conhecimento sobre a importância da rede socioassistêncial no geral, possibilidades de ampliação da reflexão crítica sobre a UAP. É importante ressaltar que os resultados conseguem fornecer embasamento para repensar práticas e potencializar a rede de saúde e dos demais dispositivos com a proposta de ampliar os atendimentos.

  • Medidas de proteção à confidencialidade

Foi resguardado toda e qualquer informação prestada e o total anonimato dos dados obtidos.

  • Propriedades da informação e divulgação da pesquisa

Todas as informações fornecidas foram utilizadas, exclusivamente, para a referida pesquisa, respeitando a confidencialidade.

  • Responsabilidades do pesquisador

O pesquisador garante manter o sigilo das informações prestadas pelos documentos, bem como a segurança dos mesmos.

  • Responsabilidades da Instituição

A instituição garantiu a orientação e o acompanhamento da pesquisa.

  • Retorno à unidade

O pesquisador se compromete em expor os resultados obtidos para a unidade fornecedora dos dados.

  • CONSTRUÇÃO TEÓRICA
  • A unidade de atenção psicossocial e a saúde mental

O fornecimento da ideia de construir uma pesquisa na Unidade de Atenção Psicossocial não foi gerida a partir do desejo aleatório, mas uma fonte segura de compreender o perfil dos/as usuários/as como campo potente de intervenção entre aquele que fornece atendimento e àquele que recebe o atendimento. Observar o termômetro dessa relação como um dado importante para ampliar a discussão acerca da humanização do atendimento.

Não é à toa que se evidencia a importância de pensarmos uma estrutura de atenção que contemple a luta social sobre os direitos das pessoas com algum tipo de transtorno, independente do seu grau de afetação, pois, assim como os movimentos sociais, como exemplo, o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental que nada temeram no tocante a buscar caminhos para endossar ainda mais a luta contra um sistema de opressão e exclusão (Vasconcelos, 2010).

Desde a Reforma Psiquiátrica, surgiu um questionamento nas discussões que é: de que reforma estamos tratando?. Se o desejo era cuidar em liberdade, no território, já que “as ações são desenvolvidas em um território geograficamente conhecido, possibilitando aos profissionais de Saúde uma proximidade para conhecer a história de vida das pessoas e de seus vínculos com a comunidade/território onde moram, bem como com outros elementos dos seus contextos de vida” (Brasil, 2013, p. 19), entretanto, podemos informar que a ideia do cuidador em território sofreu algumas fragilidades gritantes e que não podem ser refutadas como qualquer outra coisa.

A cada encarceramento pelo viés psiquiátrico, surgem perguntas sem respostas e entre elas, está, onde falhamos. Parece-nos que a proposta inicial foi retirada como algo inexistente. Uma rede de trabalhadores em saúde, em assistência social e tantas outras áreas não conseguiu reduzir o sofrimento social das pessoas vinculadas ao acompanhamento psiquiátrico. Seria o esgotamento laboral a causa das falhas no sistema, ou na rede, como muitos profissionais gostam de referir os problemas sociais.

A narrativa de que a rede é “furada”, realmente, é real. Esse discurso é uma furada e perigosa, já que a rede é feita de linhas, mas no nosso caso, a rede é feita de pessoas, que, ao longo de suas funções, precisam pensar enquanto mobilizadoras para efetivação de Políticas Públicas para a Saúde Mental voltadas para as pessoas em território.

Quando nos referimos à Saúde Mental, ampliamos o aspecto dos conhecimentos envolvidos, de uma forma tão rica e polissêmica que encontramos dificuldades de delimitar suas fronteiras, de saber onde começam ou terminam seus limites. Saúde Mental não é apenas psicopatologia, semiologia, não pode ser reduzida ao estudo e tratamento das doenças mentais (Amarante, 2007, p. 15-16).

A partir do que nos traz Amarante, podemos refletir que em muitas ocasiões a configuração do termo usuário reflete na pessoa atendida, uma referência pejorativa da palavra e dependendo de quem a trate, de fato, será. Mas é nesse processo que precisamos pensar o campo da Saúde Mental como um espaço transitado por pessoas que constroem e desconstrem para poder produzir algo ainda melhor.

  • Composição do acolhimento

É comum ouvir que é necessário uma equipe completa para atender as demandas de forma satisfatória. Concordamos que é necessário, no entanto, assim como muitos espaços de contexto da Saúde Mental, a realidade pode ser diferente. Vale expor que antes de 2018 já havia muita dificuldade na manutenção, evolução e investimento nos equipamentos que lidam diretamente com a população, usuária do Centro de Atenção Psicossocial, Ambulatórios, etc., sendo que,

o campo da atenção psicossocial no Brasil vive atualmente uma crise sem precedentes na história da reforma psiquiátrica. Por mais de trinta anos, o modelo de cuidado em saúde mental, pautado na liberdade, respeito e autonomia das pessoas com transtornos mentais, avançou lenta, porém ininterruptamente, como aponta Cruz, Gonçaives & Delgado (2020, s/p).

Mesmo com toda dificuldade, os trabalhadores da Saúde Mental continuam na luta. Compreendemos a importância de manter o mínimo necessário para atender a população com algum tipo de transtorno, que necessitam dos atendimentos em grupo, individuais e comunitários. E assim, foi-se ofertando dentro da estrutura da Rede de Atendimento Psicossocial – RAPS e não diferente, estava a UAP.

Atualmente a UAP conta com uma equipe composta por profissionais de psicologia, serviço social, psiquiatria, recepcionistas, uma gerente e com uma estrutura física mais acolhedora. É válido expor que recentemente a unidade em tela, foi transferida para um prédio maior, compreendendo também outros equipamentos. As salas desse novo espaço tem demonstrado um território acolhedor, potencializando o atendimento individual com melhores condições e uma sala para atendimento em grupo com melhor funcionamento.

  • Rede de atenção psicossocial de Caruaru – PE

O município de Caruaru possui uma área de 923,150 km2, sendo a maior do Agreste, com uma população estimada de 378.052 habitantes. É a quarta cidade mais populosa do interior pernambucano, antecedido dos municípios de Petrolina, Jaboatão dos Guararapes e Recife e a terceira mais populosa do interior nordestino, ficando atrás de Feira de Santana (BA) e Campina Grande (PB) (IBGE, 2023).

A assistência primária à saúde da rede municipal de Caruaru é de 67 unidades, sendo elas, Unidades Básicas de Saúde – UBS, Estratégia de Saúde da Família – ESF, Estratégia de Atenção Primária – EAP e os Programa de Agentes Comunitários de Saúde – PACS. Todas as unidades desenvolvem suas atividades com base na Política Nacional de Atenção Básica – 2012.

A atenção básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (Brasil, 2012, p. 19).

Caruaru é composta por uma rede estruturada e que consegue atender minimamente às demandas da população. Entretanto, não consegue viabilizar a contento as situações específicas de pessoas em crise, a não ser o urgenciamento realizado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

A RAPS é composta pelas unidades do Centro de Atenção Psicossocial, Ambulatórios, UPAs, SAMU, etc. Como é possível perceber, é uma rede extensa e que precisa de atenção para atender os usuários que necessitam do atendimento. O município conta com quatro UPAs, sendo elas situadas nos bairros do Salgado, Vassoural, Rendeiras e Boa Vista. No tocante a Unidades Básicas de Saúde – UBS, temos até o momento sessenta e cinco unidades. Tem-se também uma unidade ambulatorial infantojuvenil, entre outras unidades ambulatoriais adulto.

De acordo com o Ministério da Saúde – MS (2001), a Política Nacional de Saúde Mental busca consolidar um modelo de atenção aberto e de base comunitária. A proposta é garantir a livre circulação das pessoas com problemas mentais pelos serviços, pela comunidade e pela cidade. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) estabelece os pontos de atenção para o atendimento de pessoas com sofrimento psíquico, incluindo os efeitos nocivos do uso de crack, álcool e outras drogas. A Rede integra o Sistema Único de Saúde (SUS). A Rede é composta por serviços e equipamentos variados, tais como: os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); os Centros de Convivência e Cultura, as Unidades de Acolhimento (UAs), e os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos CAPS III). Faz parte dessa Política o programa de Volta para Casa, que oferece bolsas para pacientes egressos de longas internações em hospitais psiquiátricos. (Brasil, 2013). A seguir tem uma imagem retirada do próprio MS.

Imagem 1: Apresenta a composição da RAPS

Fonte: Ministério da Saúde, 2013

  • Perfil dos usuários atendidos pela Unidade de Atenção Psicossocial – UAP

A UAP tem atendido diversos campos territoriais de Caruaru, incluindo nesse percurso, a periferia, zona rural e bairros com maior poder aquisitivo. Entretanto, é sabido pelos estudiosos, profissionais e demais trabalhadores da Saúde Mental que, o público acolhido, é atendido de forma singular, utilizando de suas questões individuais para que haja um atendimento personalizado.

Traçar um perfil talvez seja algo ousado do ponto de vista social, todas as esferas são variáveis existentes aos que frequentam a unidade de acolhimento, mas dessa

forma, poderemos pensar um caminho viável para ampliar ainda mais as potencialidades do fazer profissional, dos atendimentos, dos grupos terapêuticos, da escuta qualificada, dos encaminhamentos, da entrega da medicação, entre outros recursos disponíveis no tocante a tecnologia leve, como aponta (Guattari & Rolnik, 1986).

O distanciamento do servidor público e aquele que busca o serviço está no processo de acolhimento que cada pessoa realiza. É importante reforçar que, cada pessoa atendida carrega um pouco do atendimento prestado por todos os servidores da UAP, desde a portaria, passando pela recepção e por fim, a farmácia, psicólogas e psiquiatras.

Não será exposto dados para não menosprezar um grupo populacional em detrimento de outro, mas, conseguir expor que a UAP tem um nível altíssimo de responsabilidade com a qualidade do serviço prestado em decorrência de tudo o que uma pessoa com algum tipo de adoecimento tenha passado ou passa para estar naquele ambiente em busca de ajuda cognitiva, de um acolhimento humanizado – tão discutido na rede socioassistencial – com a tentativa de possibilitar alternativas de cuidado, que não seja apenas a medicação e o hospital, como bem preconiza a Reforma Psiquiátrica (Amarante, 2007).

A seguir serão expostos dados coletados e que não se limitam ao que foi possível produzir, mas ao subjetivo que constrói e amplia novas reflexões sobre o acesso, ao cuidado e a forma de inclusão de cada sujeito nessa produção.

  • Sobre o indicador gênero

No Brasil há uma discussão bastante fervorosa sobre a questão de gênero. Muito se discute e muito se sabe sobre o lugar de homem, lugar de mulher ou de qualquer outro lugar, podemos informar que nessa produção cabe toda forma de identidade de gênero, sem muros, mas com pontes extremamente potentes.

Vale destacar que os indicadores nacionais mostram a preocupação ainda com a violência contra a mulher e, também, contra a mulher trans. Os números tratados pelo Fórum de Segurança Pública em 2023 nos mostra que “33,4% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais experimentou violência física ou sexual provocada por parceiro íntimo ao longo da vida”[1](Fórum Segurança Pública, 2023 [on line]).

O mesmo Fórum informou que “os resultados globais indicam que 27% das mulheres com idade entre 15 e 49 anos experimentaram violência física ou sexual provocada por parceiro ou ex-parceiro íntimo” resultando, na maioria dos casos, a produção de algum transtorno mental (Fórum Segurança Pública, 2023 [on line]).

Não diferente dos dados apresentados acerca da mulher cis, temosa situação preocupante sobre a violência no tocante a mulher trans, cabendo aqui, um espaço reflexivo, pois, a violência contra essa população não pode ser invisibilizada, já que, ao longo da história, conquistaram pequenos espaços de participação.

Segundo informações publicadas em 2023 pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil – ANTRA informa que Pernambuco é o sexto Estado que mais assassina pessoas trans, conforme o gráfico abaixo.

Gráfico 1: Estados que mais assassinaram pessoas trans (2017-2022)

Fonte: ANTRA, 2023

Os dados apresentados nos remontam a uma questão de viabilização de algum tipo de sofrimento mental por parte desta população que vivencia cotidianamente, o preconceito, exclusão e humilhação. Portanto, vale a pena pensar sobre o acompanhamento psiquiátrico e/ou psicológico e da importância do acolhimento sensível, compreender as necessidades e, principalmente, respeitar.

Abaixo, será possível visualizar que os atendimentos realizados na UAP a partir do recoort de 100 prontuários, temos um contexto de atendimento maior para o público feminino.

Gráfico 2: População atendida na UAP, recorte de gênero.

Fonte: Arquivo pessoal

Conforme aponta o gráfico, o número de mulheres sobrepõe o do atendimento para população masculina. Não estamos tratando de casos aleatórios, mas de uma sequência de estímulos provocados para o adoecimento mental. Muitas vezes, essas mulheres atendidas permeiam por uma vida sustentada pela invisibilidade e por tantas outras questões possíveis. E sobre as mulheres trans, onde estão? Será que o não acesso se dá por não optarem por esse cuidador ou o distanciamento ainda no território.

  • Sobre o indicador etário

Este indicador é importante ser sinalizado por permitir compreender o perfil social dos sujeitos que iniciam o uso de algum tipo de medicamento, para controle de alguma patologia. Sabe-se que na construção social, houve diversas mudanças no tocante à questão etária, sobre o uso de medicamentos, o uso de aparelho público, e de outros interesses e necessidades que se alterou durante o tempo.

Evidencia-se através dos dados coletados pelo Ministério do Desenvolvimento Social que a população jovem entre 18 anos ou mais tem maior indicador para o diagnóstico de depressão, conforme o gráfico abaixo. Informamos que na UAP são atendidas pessoas a partir dos 18 anos.

Gráfico 3: Pessoas com 18 anos ou mais de idade que referem diagnóstico de depressão por profissional de saúde mental, por grupos de idade – Brasil, 2013 e 2019 (%)

Fonte: MDSDH, 2022.

Ao analisar os dados nacionais obtidos pelo Ministério do Desenvolvimento Social percebemos que a população adulta tem apresentado aumento e esse aumento tem demonstrado que a sociedade tem ficado cada vez mais adoecida. Isso reforça sobre as informações coletadas na UAP, conforme aponta a seguir.

Gráfico 4: Faixa etária das pessoas atendidas na UAP.

Fonte: Arquivo pessoal

De acordo com os dados apresentados acima, percebe-se que a população adulta tem apresentado um fator de adoecimento bastante significativo. Os dados tem muita vinculação com o período pandêmico em que direcionou de forma bem atenuante diante da realidade apresentada.

Muitas questões podem estar relacionadas ao dado, como, por exemplo, o desemprego. Muitas famílias sofreram para além da perda de algum parente, por está vivenciando questões sociais bastante emblemáticas, o uso excessivo de medicamentos por ordem variadas.

  • Sobre o indicador territorial

O que é o território, se não, um campo de construção coletivo, de potência, de produção de subjetividade. O território fala o tempo todo sobre os seus habitantes, sobre as formas, sobre os relacionamentos, sobre as inclusões e exclusões. Falar de território nesta produção, viabiliza a reflexão sobre as intercessões ocorridas entre a rede que, durante todo o percurso de produção do conhecimento, foi evidenciado que a rede se faz de gente e não de linhas (Koga, 2011).

Abaixo será possível vislumbrar sobre os territórios que mais apresentam pessoas em acompanhamento na UAP. Vale salientar que os dados obtidos, vieram dos prontuários e que, ao longo do processo, esses mesmos prontuários, podem ter sofrido mudanças, como, por exemplo, mudança de endereço por parte das pessoas atendidas, o que não ocasionará mudança no relatório apresentado.

Gráfico 5: Territórios com maior número de pessoas atendidas na UAP

Fonte: Arquivo pessoal

O gráfico 5 apresenta um recorte importante para se pensar ações que promovam saúde e qualidade de vida para a população exposta. São unidades territoriais que contém, maior índice de vulnerabilidade por diversos motivos, sendo possível pontuar, o tráfico, violência doméstica, trabalho excessivo e informal, entre outros apontamentos que nos permite refletir sobre a real situação.

Diante desse quadro, podemos sinalizar a importância da Unidade Básica de Saúde na intervenção desse contexto, contribuindo assim, para a atenção necessária para a redução de pessoas em uso de medicamentos controlados, como os ansiolíticos e os das famílias do “pan”.

  • Sobre o indicador HD (Hipótese Diagnóstica)

A hipótese diagnóstica é uma suposição inicial feita pelos profissionais de saúde com base nos sintomas e informações coletadas durante a avaliação do paciente. Vale export que a hipótese não define o sujeito, mas por onde caminhar no processo de cuidado. É importante ressaltar que a hipótese diagnóstica não é definitiva e pode ser modificada ao longo do processo de investigação médica, conforme novas informações surgem. A precisão da hipótese diagnóstica é crucial para um tratamento adequado e eficaz (Neto, 1998).

É essencial que a hipótese diagnóstica seja baseada em evidências clínicas, como histórico médico, exame físico e resultados de exames laboratoriais. Além disso, o profissional de saúde deve considerar os sintomas apresentados pelo paciente, bem como suas características específicas. Uma hipótese diagnóstica bem formulada ajuda a orientar o tratamento desde o início, evitando atrasos e proporcionando melhores resultados.

No entanto, é importante ressaltar que a hipótese diagnóstica não deve ser confundida com um diagnóstico definitivo. É apenas uma suposição inicial que requer confirmação através de exames mais específicos. O processo de diagnóstico envolve uma análise cuidadosa das informações disponíveis e a exclusão de outras possíveis causas dos sintomas. Somente após essa investigação minuciosa é possível chegar a um diagnóstico preciso e estabelecer um plano de tratamento adequado ao paciente (McWilliams, 2014).

A seguir será apresentado sobre as Hipóteses mais citadas nas abordagens dos registros nos respectivos prontuários.

Gráfico 6: Hipóteses Diagnósticas coletados nos prontuários da UAP

Fonte: Arquivo próprio

O resultado obtido é demonstrado no gráfico acima, nos dando a informação de que a Depressão ainda é um fator preocupante para o adoecimento da população, muito embora, tenhamos discutido muito sobre o fator, mas não o fez reduzir o número dos diagnósticos para a patologia citada.

É uma preocupação que precisa ser notificada junto ao sistema público como uma forma de viabilizar políticas de cuidado e atenção para com quem sofre com a depressão. Para a pessoa em sofrimento psíquico precisa ter ao seu redor pessoas que propiciem o bem estar, o acolhimento, a empatia e nunca a rejeição e diminuição da dor (Rios, 2009).

A depressão é um transtorno mental que afeta profundamente o humor, os pensamentos e o comportamento de uma pessoa. Caracteriza-se por uma tristeza persistente, perda de interesse em atividades antes prazerosas, dificuldade de concentração, alterações no sono e apetite, fadiga e baixa autoestima. Além disso, a depressão pode levar a pensamentos negativos e até mesmo a ideações suicidas. É uma condição séria que requer atenção médica e tratamento adequado para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do indivíduo afetado (DSM-5, 2014).

A depressão pode ser causada por diversos fatores, como predisposição genética, eventos traumáticos, estresse crônico, desequilíbrios químicos no cérebro, entre outros. O diagnóstico é feito por um profissional de saúde mental e o tratamento pode incluir psicoterapia, medicamentos antidepressivos e mudanças no estilo de vida, como prática regular de exercícios físicos e alimentação saudável. É importante buscar ajuda assim que os sintomas surgirem para evitar que a depressão se agrave e afete ainda mais a vida da pessoa.

  • ARCABOUÇO SUBJETIVO DO ATENDIMENTO E DO CUIDADO

Tratar sobre a atenção centrada na pessoa, conforme aponta Carl Rogers é um desafio para qualquer ambiente. Não é uma tarefa fácil compreender todas as vias de possibilidades para atender ao que se espera por parte do paciente e dessa maneira, faz- se necessário lançar mão ao que nos espera na ordem do atendimento humanizado e personalizado.

Pensar em um atendimento que consiga abarcar a humanização de um humano para outro, não caminha, senão, lado a lado. Por esta razão, precisamos discutir sobre o Ser que chega na UAP e daquele que vai embora para seu respectivo território. Problematizar a forma como chega e de como vai embora, reflete justamente na forma como conduzimos o dia a dia (Rios, 2009).

O bom atendimento em saúde mental é de extrema importância para o bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Em primeiro lugar, um atendimento acolhedor proporciona um ambiente seguro e organizado, o que é essencial para que os indivíduos se sintam confortáveis em compartilhar seus problemas e dificuldades. Isso contribui para a produção de uma relação terapêutica sólida e confiável entre o profissional de saúde mental e o paciente (Amarante, 2007).

Além disso, um bom atendimento em saúde mental envolve uma abordagem personalizada, levando em consideração as necessidades individuais de cada pessoa. Cada indivíduo possui experiências, traumas e desafios únicos, e um atendimento personalizado permite que essas particularidades sejam compreendidas e consideradas no plano de tratamento. Isso aumenta as chances de sucesso do acompanhamento e melhora os resultados a longo prazo.

Por fim, o bom atendimento também desempenha um papel importante na sua condução diante das demandas apresentadas. Ao oferecer suporte adequado e tratamento eficaz, os profissionais de saúde mental ajudam a desmistificar a ideia de que problemas emocionais são sinais de fraqueza ou falta de controle. Isso encoraja as pessoas a buscar ajuda sem medo de serem julgadas, promovendo assim uma sociedade mais inclusiva e compassiva em relação à saúde mental.

A qualidade do atendimento do profissional psiquiatra é fundamental para garantir um tratamento eficaz e qualificável para os pacientes. Em primeiro lugar, um bom psiquiatra deve possuir um alto nível de conhecimento na área da saúde mental. Isso inclui uma compreensão profunda das diferentes condições psiquiátricas, suas causas e tratamentos disponíveis, permitindo ao profissional tomar decisões embasadas e individualizadas em relação ao tratamento de cada pessoa (Neto, 2007).

Além disso, a empatia e a capacidade de estabelecer uma relação terapêutica são características essenciais para um psiquiatra que atente para o perfil dos usuários. Deve ser capaz de ouvir atentamente os pacientes, compreender suas preocupações e emoções, e mostrar interesse genuíno em ajudá-los. Essa conexão empática contribui para o fortalecimento da confiança entre o paciente e o profissional, facilitando a colaboração no processo terapêutico (Rios, 2009).

Por fim, a qualidade também pode ser medida pela sua capacidade de oferecer um tratamento abrangente. Isso inclui não apenas a prescrição adequada de medicamentos, quando necessário, mas também a oferta de terapias complementares, como a psicoterapia, o acompanhamento territorial junto às equipes multiprofissionais. Reconhecer a importância da abordagem multidisciplinar no cuidado da saúde mental e buscar oferecer aos seus pacientes uma gama de opções terapêuticas para melhorar seu bem-estar geral tem tornado um atendimento diferenciado.

O acolhimento da/o psicóloga/o desempenha um papel crucial no suporte emocional e no desenvolvimento pessoal dos pacientes. Em primeiro lugar, o profissional de psicologia deve possuir habilidades de escuta ativa e empática, permitindo que ela compreenda profundamente as preocupações, experiências e emoções dos pacientes. Essa capacidade de conexão emocional cria um ambiente seguro e acolhedor, onde os pacientes se sentem à vontade para compartilhar suas dificuldades e desafios (Ribeiro & Nascimento, 2017)

Além disso, a forma do atendimento está relacionada à sua competência técnica e ao conhecimento das diferentes abordagens terapêuticas. Uma boa prática deve ser capaz de utilizar estratégias terapêuticas eficazes, adaptando-as às necessidades individuais de cada pessoa atendida. Isso inclui a aplicação de técnicas baseadas em evidências científicas, bem como a capacidade de criar um plano de tratamento personalizado que aborde as questões específicas enfrentadas pelo paciente.

Por fim, se reflete na sua ética profissional. Deve manter a confidencialidade dos pacientes, respeitando sua privacidade e garantindo um ambiente de confiança. Além disso, ela deve seguir os princípios éticos estabelecidos pela profissão, agindo com integridade, imparcialidade e respeito pelos valores e crenças dos pacientes. Esses aspectos éticos contribuem para um relacionamento terapêutico saudável e efetivo.

Sobre o atendimento do Assistente Social é de suma importância para garantir suporte e assistência efetiva aos indivíduos, famílias e comunidades em situação de vulnerabilidade. Em primeiro lugar, um atendimento de qualidade envolve a escuta atenta e empática do Assistente Social, permitindo que ele compreenda as necessidades, demandas e dificuldades enfrentadas pelos usuários. Essa abordagem centrada no indivíduo contribui para o estabelecimento de uma relação de confiança e respeito mútuo.

Além disso, está relacionada à sua capacidade de fornecer informações precisas e orientações adequadas sobre os direitos e recursos disponíveis para os usuários. Deve ter conhecimento atualizado das políticas sociais, leis e regulamentos que impactam a vida das pessoas em situação de vulnerabilidade, a fim de oferecer suporte efetivo na busca por soluções e acesso aos serviços necessários.

Por fim, envolve a habilidade de articular e coordenar redes de apoio e serviços, visando garantir uma abordagem integrada e abrangente para as necessidades dos usuários. Isso inclui o trabalho em parceria com outros profissionais e instituições, buscando soluções colaborativas que promovam a autonomia e o empoderamento dos indivíduos. O atendimento com qualidade desempenha um papel fundamental na promoção da justiça social, igualdade de oportunidades e na melhoria da qualidade de vida das pessoas mais vulneráveis da sociedade.

Outro fator que não pode deixar de fazer parte desse material é a importância do grupo terapêutico na construção de novas possibilidades de intervenção psicossocial, pois os grupos terapêuticos são uma forma eficaz de terapia para pacientes da saúde mental. Eles são compostos por um grupo de pessoas que compartilham experiências e desafios semelhantes, e são liderados por um profissional treinado em terapia de grupo. Os grupos terapêuticos podem ser especialmente úteis para pacientes que sofrem de ansiedade, depressão, transtornos alimentares e vícios (Zimerman & Osório, 1997).

Um dos principais benefícios dos grupos terapêuticos é o senso de comunidade e apoio que os pacientes podem sentir. Participar de um grupo pode ajudar os pacientes a se sentirem menos sozinhos em suas lutas e a desenvolver um senso de pertencimento. Os grupos também podem oferecer uma oportunidade para os pacientes praticarem habilidades sociais e emocionais, como a comunicação eficaz, o trabalho em equipe e a resolução de conflitos.

Além disso, os grupos terapêuticos podem ser uma opção mais acessível para pacientes que não têm recursos para sessões individuais de terapia. Eles também podem ser uma forma mais eficaz de terapia para alguns pacientes, já que o feedback e o apoio do grupo podem ser mais poderosos do que apenas a interação com um terapeuta individual. Em resumo, os grupos terapêuticos são uma opção valiosa para pacientes em saúde mental que buscam apoio e tratamento eficazes (Zimerman & Osório, 1997).

  • CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção dessa produção nos possibilitou enxergar sob à luz do processo de humanização no atendimento clínico. Dando estímulos outros no tocante a vida de cada pessoa que chega para atendimento. Vale reforçar que não são numeros, mas vidas cheias de sonhos e desejos de uma realidade diferente.

O perfil das pessoas atendidas na UAP apresenta características específicas e que merecem destaque, pois, tomamos como base, os prontuários observados. Podemos mensurar a situação social das pessoas que, em sua maioria, são de regiões periféricas e por este motivo, necessitam de visibilidade em todos os quesitos para que o atendimento ocorra da melhor forma, como, por exemplo, a prescrição médica correta.

O impacto causado por uma simples anotação errada no receituário do paciente, consegue fazer com que toda a família seja mobilizada, pois, já não se consegue viabilizar que mais uma vez a pessoa procure a unidade para “tentar” a modificação na receita, ou seja, torna-se mais viável a conferência da escrita.

O suporte territorial é um importante fator no acompanhamento, a partir da atenção básica é possível dar maior atenção a necessidade clínica daquela pessoa, dando suporte, inclusive emocional. Seja o atendimento da Agente Comunitária de Saúde – ACS, seja da enfermeira, da equipe multiprofissional ou de qualquer outro professional que compõe a equipe de atenção básica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ribeiro, Carlos & Nascimento, João. O fazer psicológico: uma narrativa sobre o acolhimento terapêiutico. Brasília: Nossa Escrita, 2017.

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[1] Relatório produzido pelo Fórum de Segurança Pública. VISÍVEL E INVISÍVEL: A VITIMIZAÇÃO DE MULHERES  NO       BRASIL.           Disponível        em:<chrome- extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://forumseguranca.org.br/wp- content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf>. Acessado em: 08 set. 2023.

[1] Mestre em Psicologia (2021) pela Universidade de Pernambuco, Especialista em Gestão Pública (2015) pelo Instituto Federal de Pernambuco, Graduação em Serviço Social pela Universidade Anhanguera, Psicanalista pelo Instituto de Pernambucano de Psicanálise, Concluinte de Psicologia (2024) pelo Centro Universitário Maurício de Nassau. Professor universitário do Centro Universitário Maurício de Nassau. E-MAIL: helisoncaruaru@gmail.com.

[2] Ana Carla Pereira Chaves da Silva.Pós-graduação em Recursos Humanos, Faculdade Metropolitana de São Paulo , FAMESP, São Paulo, Brasil (2022). Discente em Especialização em Intervenção ABA Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista, Faculdades Metropolitanas de São Paulo , FAMESP, São Paulo, Brasil (2024). Discente em Psicologia, Centro universitário Maurício de Nassau – Caruaru PE, UNINASSAU, (2024). anachavespsi@gmail.com

[3] Professora do Centro Universitário Maurício de Nassau – Caruaru PE, Especialista em Psicologia Clínica na perspectiva fenomenológica existencial pela UNICAP (2020), Psicóloga Clínica pela Faculdade de Ciências Humanas ESUDA (2018).

[4] Professor do Centro Universitário Maurício de Nassau – Caruaru-PE, Mestrando em Psicologia Social – UFLO, Buenos Aires – ARG (2024), Especialista em Análise Existencial e Logoterapia pela FACEAT-UNILIFE (2021), Graduação em Psicologia pela Unifavip (2012).

[5] Doutora em Educação Contemporânea (2022) pela UFPE, Mestre em Saúde Coletiva e Gestão Hospitalar (2015), Especialista em Saúde Pública, Graduação em Serviço Social pela Universidade Católica de Pernambuco (1995), Professora do Centro Universitário Maurício de Nassau – Caruaru-PE.