PERFIL DO USO DE MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS PELOS ESTUDANTES DE MEDICINA DO ITPAC PORTO NACIONAL NO SEGUNDO SEMESTRE DE 2024

PROFILE OF THE USE OF PSYCHOTROPIC DRUGS BY MEDICAL STUDENTS AT ITPAC PORTO NACIONAL IN THE SECOND SEMESTER OF 2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410242253


Ana Clara Fernandes Mascarenhas1
Karoline Marinho Ferro2
Samira Lacerda Costa Marinho3
Cristiano da Silva Granadier4
Fabrícia Amaral Gonçalves Pontes5
Astério Souza Magalhães Filho6


Resumo

Introdução: O uso de psicotrópicos refere-se à ingestão de substâncias que afetam a atividade mental, alterando percepção, humor, pensamento ou comportamento. A sociedade lida com questões éticas e legais relacionadas ao uso recreativo de algumas dessas substâncias, destacando a importância de uma abordagem equilibrada que leve em consideração tanto os benefícios terapêuticos quanto os riscos associados ao uso. Este uso entre estudantes de medicina é uma preocupação crescente, muitas vezes ligada às demandas acadêmicas e ao estresse inerente ao curso. Alguns estudantes podem recorrer a estimulantes ou ansiolíticos na busca por melhor desempenho acadêmico e para lidar com a pressão. Essa prática levanta questões éticas, e de saúde mental. Desta forma, este estudo se propõe a identificar e analisar o perfil do uso dos medicamentos psicotrópicos pelos acadêmicos de medicina do ITPAC Porto Nacional – TO. Metodologia: A metodologia adotada para este estudo contém caráter de levantamento, descritivo, com abordagem qualitativa, quantitativa e de natureza aplicada. Esta pesquisa foi realizada através da coleta de dados, por meio de um questionário, aplicados aos estudantes de medicina no segundo semestre de 2024. O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética. Discussão e resultados: o maior número dos indivíduos que fazem uso de medicamentos psicotrópico foi do sexo masculino e adultos, que pode ser explicado por fatores desencadeantes. A maioria dos indivíduos faz uso regular e acompanhamento quanto ao tratamento, e o medicamento mais utilizado é o venvanse. Esses medicamentos são utilizados para diversas patologias, mas destaca-se o Transtorno de Ansiedade Generalizada. A regularidade das consultas é até o último 6 meses, dependendo da condição clínica de cada paciente. Considerações finais: o uso de medicamentos psicotrópicos é um tema repleto de nuances, portanto, medidas de prevenção primária devem ser instituídas naqueles portadores de condições clínicas que alteram a integridade física e mental.

Palavras-chave: Medicamentos. Psicotrópicos. Estudantes. Medicina. Automedicação.

1   INTRODUÇÃO

Medicamentos psicotrópicos são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que quando ingeridas podem alterar o comportamento mental – excitando, deprimindo ou provocando perturbações – sendo indicados para tratamento psiquiátrico. O uso abusivo e indevido destes medicamentos pode causar dependência física e psíquica. O consumo elevado se deve ao crescente número de transtornos psiquiátricos diagnosticados, sendo possível propor estratégias como mudanças no estilo de vida, para que ocorra o uso apropriado destes medicamentos (OLIVEIRA et al., 2020).

O uso indevido se dá pela facilitação das farmácias na compra de fármacos psicotrópicos, receitas passadas por profissionais sem formação para prescrição desta medicação e compartilhamento medicamentoso entre pessoas, causando assim, uma influência ao uso de medicamentos sem necessidade, sendo comum no campo da saúde (RODRIGUES et al., 2019).

As razões pelos quais levam os estudantes de medicina a recorrer a medicamentos psicotrópicos, ocorre, devido as longas horas de trabalho e a intensa pressão que caracterizam a educação médica, dessa forma, a utilização de substâncias psicotrópicas como mecanismo de enfrentamento tornou-se um tema de preocupação crescente. Sendo assim, acredita-se, que este uso se deve ao atual estilo de vida do estudante, demonstrando ser passageiro de acordo com o tempo após a formação acadêmica (NASSAR, PIRES & SILVA, 2020).

A necessidade da realização da pesquisa deu-se através do conhecimento comum acerca do uso de psicotrópicos pelos universitários, sobretudo pelos estudantes da área da saúde em especial do curso de medicina da cidade de Porto Nacional – TO, uma vez que devido ao fácil acesso aos estudantes, o seu uso é indiscriminado.

O uso de medicamentos psicotrópicos é um tema que ainda necessita de esclarecimentos, especialmente quando relacionado aos estudantes de medicina. Devido ao estilo de vida imposto pela vida acadêmica, esses estudantes muitas vezes utilizam esses medicamentos de forma indiscriminada. Nesse sentido, busca-se entender o perfil do uso de medicamentos psicotrópicos pelos estudantes de medicina do Itpac Porto, sobretudo os medicamentos utilizados e as motivações para seu uso, bem como faixa etária, sexo, idade e período acadêmico.

2   FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

Os psicotrópicos são substâncias que atuam no sistema nervoso central promovendo mu- danças psicológicas, de sentimento, e de comportamento. São medicamentos de substâncias químicas, sintéticas ou naturais, que atuam no cérebro deprimindo ou excitando o funciona- mento fisiológico mental do corpo. Esses medicamentos são usados na área da saúde psi- quiátrica com fins terapêuticos de maneira imediata, e com efeito redutor dos processos pa- tológicos mentais, proporcionando uma melhora na qualidade de vida dos pacientes com reso- lução mais eficaz dos seus problemas, quando, outros métodos terapêuticos não são capazes de solucionar, por exemplo: atividades físicas e psicoterapias, sendo preferencialmente associadas concomitantemente com o tratamento farmacológico para que haja sucesso do tratamento e bom prognósticos dessas doenças (PRADO et al., 2017).

Os medicamentos psicotrópicos são classificados quanto ao seu uso como: lícitos e ilícitos, sendo os lícitos aqueles medicamentos que são prescritos por especialistas, ou seja, com orien- tação médica e são determinados como substâncias de uso restrito. Já os ilícitos são substâncias criminalizadas por lei, as quais não há permissão de comércio das mesmas. Quanto as suas classes e efeitos farmacocinéticos existem diferentes tipos, podendo ser depressores, estimu- lantes, perturbadoras e alucinógenos (MARIANO; CHASIN, 2007).

Entre os principais perfis epidemiológicos, destaca-se que há um aumento do uso dos psi- cotrópicos prevalente entre os jovens com idade entre 18 a 24 anos, principalmente após o in- gresso às universidades. Os estudantes da área da saúde encontram-se no topo da lista dos usuários desses medicamentos, sendo os homens apresentando maior tendência para a utili- zação desses fármacos, comparado com as mulheres (MELO; JÚNIOR, 2020).

Desta forma, especialmente os profissionais e estudantes da área da saúde, possuem o in- tuito de transformar os conflitos e o sofrimento psíquico dentro do meio acadêmico através da intervenção frequente desses fármacos, tendo como fatores causais a exaustão física e psi- cológica, longas horas de estudo, a pressão do trabalho e faculdade, bem como problemas fa- miliares, emocionais e sentimentais. Essa sobrecarga na realidade dos atuantes da área de saúde leva à indiscriminalização do uso dos fármacos psicotrópicos, que por sua vez, ocorre pelo fato do conhecimento à respeito desses medicamentos, fácil acesso, bem como o manuseio das dro- gas dentro do âmbito diário da vida acadêmica (RIBEIRO et al., 2020).

Ademais, é importante salientar que os atuantes da área da saúde possuem um importante papel perante seus pacientes, com o dever de identificar, tratá-los em situações de abuso de fármacos psicotrópicos e além disso, servir de exemplo para os mesmos, devendo então, haver um olhar minucioso perante os casos de uso indiscriminado dessas drogas pelos profissionais. Observa-se que esses grupos encontram-se vulneráveis a diversos fatores prejudicais, não so- mente a sua vida física,psicológica, como também profissional, quando em um uso abusivo e em longo prazo a utilização desses medicamentos pode causar dependência e resultar em um declínio de sua vida como um todo (LUCAS et al., 2006).

3   METODOLOGIA

O presente estudo contém caráter de levantamento, descritivo, de estudo transversal, com abordagem qualitativa e quantitativa e de natureza aplicada. Identificou-se o perfil do uso dos medicamentos psicotrópicos pelos acadêmicos de medicina do ITPAC Porto Nacional– TO, por meio da coleta de dados aplicadas aos estudantes do instituto através de um questionário no segundo semestre de 2024. O público-alvo foram os estudantes de medicina, do primeiro ao décimo segundo período, do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, na cidade de Porto Nacional – TO. Os critérios de inclusão foram os acadêmicos matriculados no segundo semestre, e o de exclusão os não matriculados. As variáveis consideradas foram medicamentos psicotrópicos, automedicação indiscriminada, faixa etária, sexo e período matriculado. Os resultados coletados foram coletados em tabela e posteriormente discutidos. Os estudantes que responderam o questionário foram divididos por ciclos cursados na faculdade: ciclo básico – primeiro ao quarto período; ciclo clínico – quinto ao oitavo período; internato – nono ao décimo segundo. A faixa etária foi dividida de acordo com a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): jovens – nascimento aos 19 anos; adultos – 20 a 59 anos; idosos – 60 anos ou mais. O projeto foi aprovado no Comite de Ética com o parecer 7.061.398 e CAAE 82276024.5.0000.8075.

4   RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Figura 01 – Gráfico dos estudantes que usam medicamentos psicotrópicos.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Figura 02 – Gráfico do uso de medicamentos psicotrópicos segundo sexo.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Figura 03 – Gráfico do uso de medicamentos psicotrópicos segundo faixa etária.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Figura 04 – Gráfico dos estudantes que usam medicamentos psicotrópicos segundo indicação.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Figura 05 – Gráfico do uso de medicamentos psicotrópicos segundo período matriculado.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Figura 06 – Gráfico do uso de medicamentos psicotrópicos segundo acompanhamento médico.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Figura 07 – Gráfico do uso de medicamentos psicotrópicos segundo o tipo de medicamento.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Figura 08 – Gráfico do uso de medicamentos psicotrópicos segundo uso da medicação.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Figura 09 – Gráfico do uso de medicamentos psicotrópicos segundo regularidade das consultas.

Fonte: Próprios Autores, 2024.

Neste estudo, foram obtidas 162 respostas entre os estudantes de medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, demonstrou-se que 57,70% usam medicamentos psicotrópicos (figura 1) no Instituto analisado. Em relação ao gênero, a maioria do uso foi em homens com 69,10% (figura 2), sobretudo em adultos com 88,58% (figura 3) dos indivíduos totais. Isso pode ser explicado, segundos dados da literatura, devido a fatores expositores ao estresse e ciclo de vida, respectivamente. Homens são mais expostos a situações estressantes ao trabalho e em ambientes sociais, o que leva a um maior consumo desses remédios. A idade em especial sofre uma série de desafios como demanda profissional e/ou estudantil (SILVA, 2023).

Observou-se no estudo que o maior número do uso dos medicamentos psicotrópicos é em pacientes com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) com 33,60% (figura 04). O TAG é uma patologia enraizada presente nos últimos séculos, justificando o maior uso nessa condição, devido principalmente a fatores desencadeantes como estresse trabalhista e/ou estudantil, condições financeiras, experiencias traumáticas, entre outros (OLIVEIRA, 2021).

Quanto ao período matriculado mais acometido destacou-se o ciclo clínico com 53,20% (figura 5). Sendo explicado, devido a exaustão e desafios encontrados nessa fase, como alto nível de estresse e carga horária intensa. Em relação aos indivíduos que usam medicamentos psicotrópicos e fazem acompanhamento, obteve-se que 56% acompanham com o profissional de saúde (figura 6). Contradizendo a literatura, uma vez que muito do uso são de forma indiscriminada, a necessidade de apoio profissional é crucial para o tratamento das patologias que necessitam do seu uso (PEREIRA, 2022).

Dentre os medicamentos mais utilizados entre os indivíduos do Instituto analisado, o venvanse foi mais utilizado dos indivíduos estudados com 13% (figura 7). Pode ser explicado devido o maior número de diagnóstico Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), bem como para fins de aproveitamento estudantis indiscriminadamente. Além disso, o uso desses medicamentos é de maioria regular com 54,40% dos dados totais (figura 8). Isso pode ser explicado, segundo dados da própria pesquisa, que afirma que a maioria faz acompanhamento médico. Assim como, a regularidade das consultas obteve-se maior em até nos últimos 6 meses com 51,10% (figura 9). Esse dado varia, segundo a literatura, de acordo com a gravidade, condição e o estágio do tratamento medicamentoso (LUCAS, 2023).

5   CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como visto, dos indivíduos analisados, o maior número de indivíduos que usam medicamentos psicotrópicos foram homens e jovens principalmente relacionados a fatores externos, como o estresse. O seu uso é especialmente relacionado ao TAG uma vez que é uma patologia repleta de nuances. O ciclo clínico da faculdade de medicina foram os que mais utilizaram esses medicamentos devido principalmente a cobrança e a carga horária ntensa. Quanto ao acompanhamento e uso regular da medicação, a maioria demonstrou-se eficaz. Em relação a preferência do uso de medicamentos, venvase destacou-se. Quanto a regularidade das consultas, até nos últimos 6 meses foi o maior número de classificação, variando de acordo com a necessidade clínica de cada paciente. Com isso, é necessário instituir atividades de prevenção primária para reduzir os principais transtornos relacionados ao uso desses medicamentos, como momentos de lazer e prática de atividade física. Além disso, é crucial a realização do diagnóstico precoce com profissionais qualificados para obter-se um bom prognóstico da doença.

REFERÊNCIAS

COSTA, Lucas. Medicamentos psicotrópicos e TDAH: uma abordagem clínica. Revista Brasileira de Psicopatologia, Brasília, v. 30, n. 4, p. 302-310, 2023. Disponível em: <URL>. Acesso em: 14 out. 2024.

LUCAS, A. C. DOS S. et al. Uso de psicotrópicos entre universitários da área da saúde da Universidade Federal do Amazonas, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 22, n. 3, 2006.

MARIANO, T. O.; CHASIN, A. A. M. Drogas Psicotrópicas E Seus Efeitos Sobre O Sistema Nervoso Central. Ciencias da Saúde, v. 8, n. 1, 2007.

MELO, A. P. M.; MIRANDA JÚNIOR, R. N. C. Avaliação do consumo de substâncias psicotrópicas por estudantes da área da saúde: Retrato de uma década. Research, Society and Development, v. 9, n.12, 2020.

NASSAR, Y. L.; PIRES, A. M. DA S.; SILVA, I. M. CASTRO E. Uso de psicotrópicos entre os estudantes de medicina: um olhar na educação médica. ID online Revista de Psicologia, v. 14, n. 49, 2020.

OLIVEIRA, J. R. F. DE . et al.. Descrição do consumo de psicofármacos na atenção primária à saúde de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, n. 1, p. e00060520, 2021.

OLIVEIRA, Maria. O impacto dos psicotrópicos no tratamento da ansiedade. Jornal de Saúde Mental, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 123-130, 2021. Disponível em: <URL>. Acesso em: 14 out. 2024.

PEREIRA, Ana. Uso regular de medicamentos psicotrópicos no tratamento da ansiedade. Revista de Psicologia Clínica, Curitiba, v. 28, n. 1, p. 89-95, 2022. Disponível em: <URL>. Acesso em: 14 out. 2024.

PRADO, M. A. M. B. DO et al. Uso de medicamentos psicotrópicos em adultos e idosos residentes em Campinas, São Paulo: um estudo transversal de base populacional*.Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 26, n. 4, p. 747–758, nov. 2017.

RIBEIRO, Í. A. P. et al. CONSUMPTION OF PSYCHOACTIVE SUBSTANCES BY NURSING WORKERS: AN INTEGRATIVE REVIEW. Texto & Contexto – Enfermagem,v. 29, 2020.

RODRIGUES, P. S. et al.. Uso e fontes de obtenção de psicotrópicos em adultos e idosos brasileiros. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 11, p. 4601–4614, nov. 2020.


1 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional. e-mail: anaclaramascarenhas50@gmail.com

2 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional. e-mail: karolmferro@gmail.com

3 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional. e-mail: samiracostamarinho@gmail.com

4 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional. Mestre em Ciências (IPEN-USP). e-mail: granadiercristiano@hotmail.com

5 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional. Mestre em Letras (UFT). e-mail: fabricias2@live.com

6 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional. Mestre em Ciências (IPEN-USP). e-mail: asterio.filho@itpacporto.edu.br