PERFIL DO CONSUMO DE PRODUTOS NATURAIS E A ANÁLISE DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS POR USUÁRIOS DA CLÍNICA DA PESSOA  IDOSA DO MUNICÍPIO DE OLINDA

CONSUMPTION PROFILE OF NATURAL PRODUCTS AND ANALYSIS OF DRUG INTERACTIONS BY USERS OF THE CLINIC FOR THE ELDERLY PEOPLE IN THE MUNICIPALITY OF OLINDA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410091356


Thiago Marques Brito1, Ana Paula Fernandes da Silva2, Raquel Lira Lustosa Carvalho3, Fernando Luiz Silva Filho4, Karla Enoska Misael Camino Furtado5, Renata Fernandes Fialho Cantarelli, Pedro Cantarelli Primo de Carvalho7, Júlia Maria da Silva Pereira8, Alfredo Manoel Ramiro Basto de Barros Costa9, Maria Eduarda Cavalcante Amorim10, Roberta Barbosa de Araújo Pacheco11, Maria da Conceição de Albuquerque Cordeiro Serra12


RESUMO

INTRODUÇÃO: A  fitoterapia,  que  consiste  na  utilização  de  plantas  ou  ervas  com  o  objetivo  de  tratar  e  prevenir  problemas  de  saúde,  tem  se  tornado  cada  vez  mais  comum  em  diversos  países.  Nos  Estados  Unidos,  por  exemplo,  25%  dos  indivíduos  com  mais  de  60  anos  utilizam  pelo  menos  quatro  tipos  de  fitoterápicos,  enquanto  nos  países  subdesenvolvidos  esse  número  pode  chegar  a  80%  da  população,  devido  à  acessibilidade,  crença  na  segurança  e  recomendações  de  conhecidos.  No  Brasil,  o  mercado  de  fitoterápicos  gera  valores  significativos  no  setor  farmacêutico.  Contudo,  apesar  da  crescente  popularidade,  ainda  faltam  estudos  científicos  que  comprovem  a  eficácia,  tolerância  e  segurança  destas  substâncias,  além  da  necessidade  de  mais  pesquisas  sobre  as  interações  entre  fitoterápicos  e  medicamentos.  O  uso  concomitante  dessas  substâncias  muitas  vezes  não  é  comunicado  aos  médicos,  aumentando  o  risco  de  complicações  como  interações  medicamentosas  prejudiciais,  principalmente  em  casos  de  uso  de  medicamentos  como  anticoagulantes  e  quimioterápicos.  OBJETIVOS:  O  objetivo  deste  artigo  é  analisar  o  uso  crescente  da  fitoterapia  e  suas  implicações  para  a  saúde  pública,  com  foco  na  eficácia,  segurança  e  potenciais  interações  entre  medicamentos  fitoterápicos  e  medicamentos  convencionais.  Além  disso,  buscamos  destacar  a  importância  de  estudos  científicos  que  avaliem  o  perfil  de  uso  dessas  substâncias  e  a  necessidade  de  educação  em  saúde  dos  usuários.  METODOLOGIA:  O  estudo  utilizou  modelo  observacional  descritivo  com  delineamento  transversal,  realizado  no  Ambulatório  do  Idoso  de  Olinda/PE,  com  coleta  de  dados  por  meio  de  entrevistas  estruturadas  com  idosos,  conduzidas  pela  estudante  pesquisadora.  Para  garantir  a  consistência  dos  dados  foram  utilizados  formulários  padronizados,  que  foram  organizados  em  gráficos  e  tabelas  com  auxílio  dos  programas  Excel  e  Google  Docs.  A  análise  das  variáveis  e  correlações  estatísticas  foi  realizada  de  acordo  metodologicamente  com  orientação  do  orientador,  permitindo  a  interpretação  dos  resultados  com  base  na  literatura  existente  sobre  o  tema.  A  coleta  de  dados  ocorreu  às  sextas-feiras,  visando  otimizar  o  número  de  pacientes  e  garantir  uma  amostra  representativa  do  perfil farmacoepidemiológico  do  uso  de  fitoterápicos  entre  idosos.  RESULTADOS:  O  estudo  analisou  o  uso  de  fitoterápicos  em  uma  amostra  de  55  participantes,  divididos  por  sexo,  mostrando  que  as  mulheres  utilizam  significativamente  mais  plantas  medicinais  que  os  homens.  A  análise  estatística  indicou  associação  significativa  entre  sexo  e  uso  de  fitoterápicos.  As  plantas  mais  utilizadas  foram  o  boldo,  a  erva-cidreira  e  o  capim-limão,  reconhecidos  pelas  suas  propriedades  terapêuticas.  Porém,  diversas  plantas  utilizadas,  como  o  chá  verde  e  a  canela,  podem  apresentar  interações  medicamentosas  importantes,  principalmente  com  anticoagulantes  e  medicamentos  metabolizados  pelo  fígado.  O  estudo  destaca  a  necessidade  de  monitoramento  e  orientação  sobre  o  uso  seguro  de  medicamentos  fitoterápicos,  dado  o  potencial  de  interações  adversas  com  medicamentos  convencionais.  CONCLUSÃO:  A  pesquisa  concluiu  que  o  uso  de  plantas  medicinais  é  uma  prática  comum  entre  a  população,  com  destaque  para  o  maior  consumo  entre  as  mulheres.  Porém,  o  uso  indiscriminado  desses  fitoterápicos,  sem  orientação  profissional,  traz  riscos  significativos  à  saúde,  como  reações  adversas  e  interações  medicamentosas,  principalmente  em  grupos  vulneráveis,  como  idosos  e  gestantes.  A  pesquisa  reforça  a  necessidade  de  promover  ações  de  educação  em  saúde  para  conscientizar  a  população  sobre  o  uso  responsável  de  plantas  medicinais,  ressaltando  a  importância  de  consultar  os  profissionais  de  saúde  e  fornecer  informações  sobre  o  uso  de  fitoterápicos para evitar complicações.

Palavras-chave:  Fitoterapia, Estatística, Interações  Medicamentosas, Saúde.

ABSTRACT

INTRODUCTION:  Phytotherapy,  which  consists  of  the  use  of  plants  or  herbs  with  the  aim  of  treating  and  preventing  health  problems,  has  become  increasingly  common  in  several  countries.  In  the  United  States,  for  example,  25%  of  individuals  over  60  use  at  least  four  types  of  herbal  medicine,  while  in  underdeveloped  countries  this  number  can  reach  80%  of  the  population,  due  to  accessibility,  belief  in  safety  and  recommendations  from  acquaintances.  In  Brazil,  the  herbal  medicine  market  generates  significant  values  in  the  pharmaceutical  sector.  However,  despite  the  growing  popularity,  there  is  still  a  lack  of  scientific  studies  that  prove  the  effectiveness,  tolerance  and  safety  of  these  substances,  in  addition  to  the  need  for  more  research  on  the  interactions  between  herbal  medicines  and  medicines.  The  concomitant  use  of  these  substances  is  often  not  reported  to  doctors,  increasing  the  risk  of  complications  such  as  harmful  drug  interactions,  especially  in  cases  of  use  of  medications  such  as  anticoagulants  and  chemotherapy  drugs.  OBJECTIVES:  The  objective  of  this  article  is  to  analyze  the  growing  use  of  herbal  medicine  and  its  implications  for  public  health,  focusing  on  efficacy,  safety  and  potential  interactions  between  herbal  medicines  and  conventional  medicines.  Furthermore,  we  seek  to  highlight  the  importance  of  scientific  studies  that  evaluate  the  profile  of  use  of  these  substances  and  the  need  for  health  education  for  users.  METHODOLOGY:  The  study  used  a  descriptive  observational  model  with  a  cross-sectional  design,  carried  out  at  the  Clinic  for  the  Elderly  in  Olinda/PE,  with  data  collection  through  structured  interviews  with  elderly  people,  conducted  by  the  student  researcher.  Standardized  forms  were  used  to  ensure  data  consistency,  which  were  organized  into  charts  and  tables  with  the  help  of  Excel  and  Google  Docs  programs.  The  analysis  of  variables  and  statistical  correlations  was  carried  out  in  methodological  accordance  with  the  advisor’s  guidance,  allowing  the  interpretation  of  results  based  on  existing  literature  on  the  topic.  Data  collection  took  place  on  Fridays,  aiming  to  optimize  the  number  of  patients  and  guarantee  a  representative  sample  of  the  pharmacoepidemiological  profile  of  herbal  medicine  use  among  the  elderly.  RESULTS:  The  study  analyzed  the  use  of  herbal  medicines  in  a  sample  of  55  participants,  divided  by  gender,  showing  that  women  use  medicinal  plants  significantly  more  than  men.  Statistical  analysis  indicated  a  significant  association  between  gender  and  the  use  of  herbal  medicines.  The  most  used  plants  were  boldo,  lemon  balm  and  lemongrass,  recognized  for  their  therapeutic  properties.  However,  several  plants  used,  such  as  green  tea  and  cinnamon,  may  have  important  drug  interactions,  especially  with  anticoagulants  and  medications  metabolized  by  the  liver.  The  study  highlights  the  need  for  monitoring  and  guidance  on  the  safe  use  of  herbal  medicines,  given  the  potential  for  adverse  interactions  with  conventional  medicines.  CONCLUSION:  The  research  concluded  that  the  use  of  medicinal  plants  is  a  common  practice  among  the  population,  with  emphasis  on  greater  consumption  among  women.  However,  the  indiscriminate  use  of  these  herbal  medicines,  without  professional  guidance,  poses  significant  health  risks,  such  as  adverse  reactions  and  drug  interactions,  especially  in  vulnerable  groups,  such  as  the  elderly  and  pregnant  women.  The  research  reinforces  the  need  to  promote  health  education  actions  to  raise  awareness  among  the  population  about  the  responsible  use  of  medicinal  plants,  emphasizing  the  importance  of  consulting  health  professionals  and  providing  information  about  the  use  of  herbal  medicines  to  avoid  complications.

1 INTRODUÇÃO

 A  fitoterapia  consiste  no  uso  de  plantas  ou  ervas  com  o  objetivo  de  tratar  e  prevenir  agravos  de  saúde  (FALZON;  BALABANOVA,  2017).  A  utilização  desse  método  terapêutico  tem  se  tornado  cada  vez  mais  comum  no  mundo.  Nos  Estados  Unidos  da  América  (EUA),  por  exemplo,  25%  dos  entrevistados  acima  de  60  anos  utilizava  pelo  menos  4  tipos  de  fitoterápicos  (SOUZA-PERES  et  al.,  2023).  No  Brasil,  o  comércio  de  fitoterápicos  movimenta  grandes  valores,  sendo  responsável  por  aproximadamente  25%  dos  ganhos  obtidos  pelo  setor  da  indústria  farmacêutica  dentro do Brasil (FERREIRA et al., 2014).

Segundo  Odebunmi  et  al.  (2022),  o  uso  dessa  modalidade  terapêutica  em  países  subdesenvolvidos  pode  chegar  a  80%  da  população.  De  acordo  com  Wahab  et  al.  (2022),  esse  fato  se  deve  ao  preço,  acessibilidade,  crença  na  segurança  por  ser  algo  natural  e  por  muitas  vezes  ser  indicado  por  um  amigo  próximo  ou  parente.  O  grande  problema  diz  respeito  ao  seu  uso  crescente  nos  últimos  anos  aliado  à  falta  de  comprovação  científica  de  eficácia,  tolerância  e  segurança  para  seus  usuários  (TAGNE  et  al.,  2019).  Além  disso,  ainda  é  carente  os  estudos  sobre  interações  entre  fitoterápicos  e  medicamentos.  Outro  agravante  é  uso  concomitante  desconhecido  por  parte  dos  médicos,  uma  vez  que  poucos  pacientes,  por  desconhecimento  dos  riscos,  informam  sobre  as  substâncias  naturais  que  fazem  uso  (NEGA  et  al.,  2019).  A  partir  dessa  problemática  surge  a  necessidade  de  se  definir  o  perfil  do  uso  de  fitoterápicos  para  que  posteriores  estudos  sobre  segurança,  tolerância,  eficácia  e  interação  fitoterápico-medicamento  das  plantas/ervas  mais  utilizadas  sejam  realizados, além da educação em saúde dos usuários.

Os  fitoterápicos  fazem  parte  de  um  grupo  de  abordagens  dentro  do  que  conhecemos  como  medicina  complementar  ou  medicina  tradicional.  Os  métodos  dentro  desse  grupo  têm  a  concepção  por  parte  da  população  como  medicina  natural  e  devido  a  isso  teriam  menos  efeitos  adversos  e  colaterais.  No  entanto,  não  são  novos  ou  poucos  os  estudos  que  mostram  relativo  potencial  de  danos  causados  pelo  uso  indiscriminado  de  fitoterápicos,  desde  hepatotoxicidade  até  carcinogênese.  Além  disso,  a  falta  de  controle  de  qualidade,  pureza,  assim  como  clareza  e  veracidade  dos benefícios  dos  produtos,  são  questões  importantes  que  precisam  ser  levantadas  e  investigadas (RAHMAN; AZIZ, 2020).

Outro  ponto  importante  é  o  risco  de  interação  fitoterápico-medicamento,  em  muitos  casos  ainda  desconhecidos.  Por  exemplo,  segundo  Lam  et  al.  (2022),  o  uso  da  erva  de  São  João  quando  feito  por  3  pacientes  oncológicos  em  tratamento  vigente  com  quimioterápicos  pode  comprometer  a  linha  de  cuidado.  Isso  ocorre  pois  o  fitoterápico  citado  reduz  os  níveis  de  drogas  como  o  docetaxel.  Ainda  nesse  contexto,  entra  a  grande  quantidade  de  plantas  e  ervas  medicinais  que  apresentam  interações  com  anticoagulantes.  Estudos  já  identificaram  30  espécies  que  poderiam  interagir  com  anticoagulantes como a Varfarina, como o alho, gengibre, ginkgo e ginseng.

No  Brasil,  um  estudo  avaliou,  especificamente,  a  interação  entre  folhas  verdes  (ricas  em  vitamina  K)  e  a  Varfarina.  O  resultado  foi  que  esses  pacientes  apresentavam  INR  maiores  ou  menores  que  os  alvos  terapêuticos.  Portanto,  os  indivíduos  estavam  em  subtratamento  de  suas  enfermidades  ou  em  maior  risco  de  eventos  hemorrágicos  devido essa interação (LEITE et al., 2018).

2 METODOLOGIA

O  estudo  foi  conduzido  utilizando  um  modelo  observacional  de  caráter  descritivo  com  delineamento  transversal.  A  coleta  de  dados  foi  realizada  pelo  aluno  pesquisador  através  de  entrevistas  estruturadas  com  os  pacientes  idosos  da  Clínica  da  Pessoa  Idosa,  localizada  em  Olinda/PE.  Durante  as  entrevistas,  foram  utilizados  formulários  padronizados  para  garantir  a  consistência  e  a  precisão  dos  dados coletados.

Os  dados  coletados  foram  organizados  e  distribuídos  em  quadros  e  tabelas,  utilizando  os  programas  Excel  e  Google  Docs,  facilitando  a  visualização  e  a  análise  subsequente.  A  análise  dos  critérios  de  inclusão  e  exclusão  dos  participantes  foi  realizada  em  conjunto  com  a  orientadora,  garantindo  a  conformidade  metodológica  e  a adequação dos dados às necessidades do estudo.

As  variáveis  foram  analisadas  em  suas  correlações  estatísticas,  empregando  técnicas  apropriadas  para  descrever  e  interpretar  os  padrões  observados.  A  interpretação  dos  resultados  foi  realizada  com  base  em  literatura  relevante  previamente  produzida  sobre  o  tema,  permitindo  uma  comparação dos achados  com  estudos  existentes  e  uma  melhor  compreensão  do  perfil  farmacoepidemiológico  do  uso de fitoterápicos entre os idosos da clínica.

As  condições  para  a  realização  do  projeto  foram  amplamente  favoráveis,  permitindo  a  execução  das  atividades  conforme  planejado.  A  coleta  de  dados  foi  realizada  todas  as  sextas-feiras,  dia  de  maior  fluxo  de  atendimento  na  Clínica  da  Pessoa  Idosa  em  Olinda/PE.  Essa  estratégia  foi  essencial  para  maximizar  o  número  de  pacientes elegíveis e garantir uma amostra representativa da população alvo.

3  RESULTADOS

A  pesquisa  foi  conduzida  com  uma  amostra  de  55  participantes,  divididos  em  dois  grupos:  mulheres  e  homens.  Os  dados  coletados  revelaram  informações  importantes  sobre o perfil de uso de plantas medicinais entre esses grupos.

A distribuição  dos  participantes  foi  de  38  mulheres,  onde  36  faziam  utilização  de  plantas medicinais; 17 homens, no qual 3 faziam uso regular de plantas medicinais.  Para  análise  estatística,  foi  aplicado  o  teste  Qui-quadrado  de  Pearson  para  verificar  se há uma associação significativa entre o gênero e o uso de plantas medicinais.

Os  resultados  da  análise  indicam  uma  associação  significativa  entre  o  gênero  e  o  uso  de  plantas  medicinais.  O  valor  do  Qui-quadrado  ( χ2 )  de  30.20  é  significativamente  maior  que  o  valor  crítico  para  1  grau  de  liberdade,  e  o  p-valor  3.89×10−8    é  muito  menor  que o   nível  de significância   de 0.05 . Portanto,   rejeitamos  a  hipótese  nula  de  que  não  há  associação  entre  o  gênero  e o   uso de   plantas  medicinais.  Este  resultado sugere   que  as mulheres  são  significativamente   mais propensas   a  usar  plantas  medicinais  em  comparação  aos  homens  nesta  amostra.  Esse achado   é crucial   para  direcionar  futuras pesquisas   e  políticas de   saúde pública  focadas  na   promoção  do  uso  seguro  e  eficaz de   fitoterápicos  entre  diferentes  grupos  populacionais.

Observamos  que  a  faixa  etária  dos  64-74  anos  apresenta  um  baixo  número  de  homens  usando  produtos  naturais,  com  apenas  1  homem  (5.9%  dos  homens).  Em  contrapartida,  10  mulheres  (23.3%  das  mulheres)  nessa  faixa  etária  utilizam  produtos  naturais,  indicando  uma  maior  predisposição  entre  as  mulheres  nessa  faixa  etária para o uso de fitoterápicos.

 Em  contrapartida,  há  um  aumento  no  uso  de  produtos  naturais  na  faixa  etária  dos  75-85  anos  entre  os  homens,  com  2  homens  (11.8%  dos  homens)  nesta  faixa  etária,  entretanto  as  mulheres  também  mostram  um  aumento  significativo,  com  20 mulheres  (46.5%  das  mulheres)  usando  produtos  naturais.  Esta  faixa  etária  tem a  maior concentração de usuários de fitoterápicos.

Quando  analisamos  a  faixa  etária  >85  anos,  não  há  homens  usando  produtos  naturais,  enquanto  6  mulheres  (14%  das  mulheres)  fazem  uso  desses  produtos.  A  ausência  de  homens  pode  indicar  uma  menor  predisposição  ou  outros  fatores  relacionados à saúde e ao uso de produtos naturais em idades mais avançadas.

É  importante  destacar  que  uma  mesma  pessoa  pode  utilizar  mais  de  uma  planta  medicinal, refletindo na soma dos percentuais que pode ultrapassar 100%.

A planta  mais  utilizada  é  o  Boldo,  com  71.43%  dos  usuários  relatando  seu  uso,  devido  às  suas  propriedades  digestivas.  Em  seguida,  a  Erva-cidreira  é  utilizada  por 59.52%  dos  participantes,  conhecida  por  suas  propriedades  calmantes  e  ansiolíticas.  O  Capim  santo,  utilizado  por  47.62%  dos  participantes,  é  valorizado  por  suas  propriedades  relaxantes  e  digestivas.  Hortelã  graúda  é  usada  por  35.71%  dos  usuários, principalmente por suas propriedades digestivas e refrescantes.

A Camomila  é  utilizada  por  23.81%  dos  usuários,  sendo  reconhecida  por  suas  propriedades  calmantes  e  anti-inflamatórias.  Erva-doce,  usada  por  19.05%,  é  conhecida  por  aliviar  gases  e  cólicas.  O  mastruz,  com  11.90%  de  utilização,  é  valorizado  por  suas  propriedades  expectorantes  e  vermífugas. Salgueiro é utilizado por 9.52% dos usuários devido às suas propriedades analgésicas e  anti-inflamatórias.

Canela  e  louro  são  usados  por  7.14%  dos  participantes  cada,  devido  às  suas  propriedades  antimicrobianas,  antioxidantes  e  digestivas.  Chá  verde  e  Romã,  utilizados  por  4.76%  dos  participantes  cada,  são  conhecidos  por  suas  propriedades  antioxidantes  e  estimulantes.  Por  fim,  a  Marcela  é  usada  por  2.38%  dos  usuários,  conhecida por suas propriedades calmantes e anti-inflamatórias.

Entre  as  plantas  mais  utilizadas,  o  Boldo  (Peumus  boldus)  está  presente  na  RENAME  e  é  amplamente  utilizado  devido  às  suas  propriedades  digestivas,  sendo  recomendado  para  o  tratamento  de  dispepsia  e  outros  distúrbios  gastrointestinais  leves.  A  Camomila  (Matricaria  recutita)  também  é  incluída  na  RENAME,  valorizada  por  suas  propriedades  calmantes  e  anti-inflamatórias,  sendo  utilizada  para  aliviar  sintomas  de  insônia,  ansiedade  e  problemas  digestivos  leves.  A  Hortelã  (Mentha  spp.)  está  listada  na  RENAME  e  é  reconhecida  por  suas  propriedades  digestivas  e  refrescantes, sendo utilizada no tratamento  de  dispepsia  e  como  carminativo.  A  erva-doce  (Pimpinella  anisum) ,  igualmente  incluída  na  RENAME,  é  conhecida  por  suas propriedades carminativas, eficaz no alívio de cólicas e gases.

No entanto, outras plantas populares  e  amplamente  utilizadas  como  Erva-cidreira  (Melissa  officinalis) ,  Capim-santo(Cymbopogon  citratus), Mastruz(Chenopodium  ambrosioides),  Salgueiro(Sambucus  nigra) Canela(Cinnamomum  zeylanicum) ,  Louro(Laurus  nobilis) ,  Chá  verde(Camellis  sinensis),  Romã(Punica  granatum)  e  Marcela(Achyrocline  satureoides)  não  estão  atualmente  incluídas  na  RENAME.  Apesar  disso,  essas  plantas  continuam  sendo  amplamente  utilizadas  na  medicina  tradicional  e  popular  devido  aos  seus  benefícios  terapêuticos  bem  documentados  e  aceitos.

A inclusão de  plantas medicinais na RENAME  reflete  o  reconhecimento  oficial  de sua eficácia e  segurança  para  o  tratamento  de  condições  específicas  de  saúde.  As  plantas  Boldo,  Camomila,  Hortelã  e  Erva-doce  são  exemplos  de  fitoterápicos  que  têm  seu  uso  tradicional  e  benefícios  validados  por  essa  listagem.  Embora  outras  plantas  populares  não  estejam  na RENAME,  sua  utilização  persistente  entre  os usuários  de fitoterápicos  evidencia  a  importância  de  continuar  a  pesquisar e  documentar  os  benefícios  dessas  plantas  para  potencial  inclusão  futura  na  lista  de  medicamentos essenciais.

O uso  de  plantas  medicinais  pode  levar  a  interações  medicamentosas  importantes,  especialmente  quando  utilizados  concomitantemente  com  medicamentos  convencionais.  Entre  as  plantas  listadas  na  pesquisa,  várias  têm  potencial  para  interações  que  podem  afetar  a  eficácia  dos  tratamentos  ou  aumentar  o  risco  de  efeitos adversos.

Boldo  (Peumus  boldus): Pode interagir  com  medicamentos  hepatotóxicos,  aumentando  o  risco  de  danos ao fígado. Também pode afetar a metabolização de fármacos metabolizados pelo fígado devido à  inibição de enzimas hepáticas, como o citocromo P450.

Erva-cidreira  (Melissa  officinalis): Pode  potencializar  o  efeito  sedativo  de  medicamentos  ansiolíticos  e  hipnóticos,  como  benzodiazepínicos  e  barbitúricos,  aumentando  o  risco  de  sedação  excessiva.  Também  pode  interagir  com  medicamentos tireoidianos, reduzindo sua eficácia.

Capim  Santo  (Cymbopogon  citratus): Pode  interagir  com  anticoagulantes,  como  a  varfarina,  aumentando  o  risco  de  sangramento.  Também  pode  potencializar  o  efeito  de diuréticos, levando à desidratação e desequilíbrio eletrolítico.

Hortelã  Graúda  (Mentha  spp.): Pode  interagir  com  medicamentos  para  a  pressão  arterial,  como  inibidores  da  enzima  conversora  de  angiotensina,  bloqueadores  dos  canais  de  cálcio  e  diuréticos,  potencializando  seus  efeitos  hipotensivos.  Também  pode interferir com medicamentos metabolizados pelo citocromo P450.

Camomila  (Matricaria  recutita): Pode  interagir  com  anticoagulantes  e  antiplaquetários,  aumentando  o  risco  de  sangramento.  Pode  potencializar  o  efeito  de  sedativos  e  hipnóticos,  bem  como  interferir  com  a  metabolização  de  fármacos  pelo  citocromo P450.

Erva-doce  (Pimpinella  anisum): Pode  interagir  com  medicamentos  anticoagulantes,  como  a  varfarina,  e  aumentar  o  risco  de  sangramento.  Também pode  interferir com  medicamentos  hormonais,  como  anticoncepcionais  e  terapia  de  reposição hormonal, devido à sua atividade estrogênica.

Mastruz (Chenopodium  ambrosioides): Pode  interagir  com  medicamentos  hepatotóxicos,  aumentando  o  risco  de  danos  ao  fígado.  Também  pode  potencializar  o efeito de medicamentos anti-helmínticos, podendo aumentar o risco de toxicidade.

Salgueiro  (Salix  alba): Pode  interagir  com  anticoagulantes,  aumentando  o  risco  de  sangramento.  Também  pode  potencializar  o  efeito  de  outros  anti-inflamatórios  não  esteroides (AINEs), aumentando o risco de úlceras gástricas e nefrotoxicidade.

Canela  (Cinnamomum verum) :  Pode  interagir  com  medicamentos  antidiabéticos,  potencializando  seu  efeito  e  aumentando  o  risco  de  hipoglicemia.  Também  pode  interferir com anticoagulantes, aumentando o risco de sangramento.

Louro (Laurus  nobilis) :  Pode  interagir  com  anticoagulantes  e  antiplaquetários,  aumentando  o  risco  de  sangramento.  Também  pode  potencializar  o  efeito  de  medicamentos sedativos.

Chá Verde (Camellia  sinensis) :  Pode  interagir  com  anticoagulantes,  como  a  varfarina,  e  aumentar  o  risco  de  sangramento.  Pode  interferir  com  a  absorção  de  ferro  e  outros  minerais.  Também  pode  reduzir  a  eficácia  de  certos  medicamentos,  como o nadolol, um betabloqueador.

Romã (Punica  granatum) :  Pode  interagir  com  anticoagulantes  e  antiplaquetários,  aumentando  o  risco  de  sangramento.  Pode  inibir  enzimas  do  citocromo  P450,  afetando  a  metabolização  de  vários  medicamentos,  como  estatinas  e  anticoagulantes.

Marcela  (Achyrocline  satureioides):   Pode  interagir  com  anticoagulantes,  aumentando  o  risco  de  sangramento.  Pode  potencializar  o  efeito  de  medicamentos  sedativos e hipnóticos.

4 CONCLUSÃO

Através  de  pesquisas  como  esta,  observamos  que  o  uso  e  a  indicação  de  plantas  medicinais  são  práticas  comuns  entre  a  população.  Muitas  pessoas  recorrem  a  essas  plantas  para  tratar  uma  variedade  de  condições,  confiando  nas  suas  propriedades  terapêuticas  tradicionais.  No  entanto,  esta  prática  generalizada  também  revela  uma  lacuna  significativa  no  conhecimento  da  população  sobre  os  riscos potenciais associados ao uso indiscriminado dessas plantas.

As  plantas  medicinais,  embora  naturais,  não  estão  isentas  de  riscos.  Elas  contêm  compostos  bioativos  que  podem  interagir  com  o  organismo  de  maneiras  variadas,  podendo  causar  efeitos  orgânicos  indesejáveis,  tais  como  reações  alérgicas,  toxicidade  hepática  ou  renal,  e  interações  adversas  com  medicamentos  convencionais.  Esses  efeitos  adversos  são  frequentemente  subestimados  ou  desconhecidos  pelo  público  em  geral,  o  que  reforça  a  necessidade  de  uma  abordagem cautelosa e informada.

Diante  disso,  é  fundamental  que  se  articulem  ações  de  educação  em  saúde  direcionadas  ao  uso  seguro  de  plantas  medicinais.  Essas  ações  devem  incluir  campanhas  informativas,  programas  educativos  e  a  integração  de  informações  sobre  fitoterapia  em  consultas  médicas  e  atendimentos  farmacêuticos.  O  objetivo  é  garantir  que  as  pessoas  compreendam  que,  embora  as  plantas  medicinais  possam  oferecer  benefícios  terapêuticos,  elas  devem  ser  utilizadas  com  discernimento  e  sob  orientação  profissional  adequada.  Programas  de  educação  em  saúde  voltados  tanto  para  pacientes  quanto  para  profissionais de  saúde   podem aumentar   significativamente  o  conhecimento  sobre os  riscos   e  benefícios  da  fitoterapia.  Materiais  educativos,  como  folhetos,  vídeos  e  workshops, podem  ser  utilizados  para   disseminar informações importantes e corrigir concepções errôneas.

Campanhas  de  conscientização  pública  podem  enfatizar  a  importância  de  informar  os  profissionais  de  saúde  sobre  o  uso  de  fitoterápicos,  prevenindo  interações  medicamentosas  perigosas  e  promovendo  um  uso  mais  responsável.  Além  disso,  a  educação  em  saúde  deve  enfatizar  que  o  uso  de  plantas  medicinais  não  é  apropriado  para  todas  as  pessoas  ou  para  todas  as  condições.  Grupos  específicos,  como  crianças,  gestantes,  idosos  e  indivíduos  com  condições  crônicas  ou polifarmácia,  devem  ser  particularmente  cautelosos.  A  automedicação  com  fitoterápicos  pode  ser  especialmente  perigosa  nesses  grupos,  aumentando  o  risco  de efeitos adversos graves.

Portanto,  a  realização  de  pesquisas  e  a  disseminação  de  informações  são  passos  essenciais  para  promover  o  uso  consciente  e  seguro  das  plantas  medicinais.  Somente  através  de  uma  abordagem  informada  e  responsável  podemos  maximizar  os  benefícios  dessas  terapias  naturais,  minimizando  os  riscos  e  protegendo  a  saúde  da população.

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1Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Ciências Médicas Afya Campus Jaboatão dos
Guararapes e-mail: thiagomarquesb@hotmail.com

2Docente  do  Curso  Superior  de  medicina  da  Afya  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes.  Mestre  em  Patologia  (PPGBAS/UFPE).  Doutora  em  Patologia  (LIKA/UFPE).
e-mail: anap.fernandes@afya.com.br 

3Bacharel  em  Medicina  pela  Afya  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes 
e-mail: raquellustosamed@gmail.com

4Bacharel em Medicina pela Faculdade Federal de Pernambuco Campus Recife e-mail:  fernandolsilvaf@gmail.com

5Discente  do  Curso  Superior  de  medicina  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Afya  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes e-mail:  enoska.karla@gmail.com

6Discente  do  Curso  Superior  de  medicina  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Afya  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes e-mail: cantarelli.renata@gmail.com

7Discente  do  Curso  Superior  de  medicina  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Afya  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes e-mail: pedrocantarelli3@gmail.com

8Discente  do  Curso  Superior  de  medicina  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Afya  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes e-mail: juliamaria201025@hotmail.com

9Discente  do  Curso  Superior  de  medicina  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Afya  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes e-mail: alfredocosta.adv@hotmail.com

10Discente  do  Curso  Superior  de  medicina  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Afya  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes e-mail: amorim.meca@gmail.com

11Discente  do  Curso  Superior  de  medicina  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas  Afya  Campus  Jaboatão  dos  Guararapes e-mail: robertabarb@hotmail.com

12Discente do  Curso  Superior de medicina da Faculdade  de  Ciências Médicas  Afya  Campus  Jaboatão 
dos  Guararapes e-mail: mconserra@gmail.com